Rafaela foi até a casa de Marília no dia seguinte, estava se consumindo de vontade de saber as novidades. Elas não moram relativamente próximas, mas sempre que podia ela estava ali para baterem um bom papo.
– E aí, me conta o que aconteceu? Ontem sua voz parecia diferente e achei até um pouco tensa.– Foram tantas coisas, meu chefe como sempre tornando minha vida um inferno naquele restaurante. Acho que nunca tive um patrão pior do que ele!– Se eu fosse você já teria pedido demissão desse lugar, Marília, aquele homem não aceita que você não o quer!– Não posso ficar desempregada. Rafa eu moro de aluguel. E mais, quando eu estava indo para o trabalho, um imbecil me deu um banho com o esbarrão do carro em uma poça de lama. Cheguei feito um periquito molhado, levei uma bronca do mala sem alça e logo chegaram uns clientes.– E?– Tinha um cara e uma menina de uns oito anos em uma mesa, eu fui ser gentil e acabei sendo forçada a me sentar com eles para agradar à menina! O homem era um pastel de tão manipulável.– Pelo menos era gato?Marília sorriu.– Sim, era muito e para piorar eu vi a placa do carro dele… era justamente o tonto que me sujou mais cedo.– Isso parece roteiro de filme!– Mas não é, ele está bem longe de ser um príncipe. Não tem personalidade e é muito bobo.– Sei! – As duas sorriram. – Vamos sair para beber alguma coisa á noite, depois do seu trabalho.– Não sei se é boa ideia, Rafaela.– É boa ideia sim Marília, vamos deixa de ser careta.– Está bem, passe aqui as 22:00.Marília trabalhou normalmente, Adalberto não disse nada sobre o que havia acontecido no dia anterior e ela agradeceu a Deus por isso. Saiu a tempo de chegar em casa, tomar um banho e se arrumar para sair com Rafaela, no horário combinado ela passou para que a levasse. Chegaram a um barzinho no centro da cidade, tudo o que Marília queria era relaxar um pouco e se esquecer do que havia acontecido nos últimos dias.Ela nunca foi de curtir farras e baladas, mas ocasionalmente precisava descarregar a rotina.– Não fica pensativa desse jeito amiga, você tem que sorrir, Marília.– É difícil sorrir quando não temos muitos motivos para isso.Ela olhou ao seu redor, alguns casais em mesas mais afastadas e alguns rapazes que olhavam para elas insistentemente, até que eles se atreveram a conversar com elas.– Olá, podemos nos sentar com vocês? – Um deles perguntou enquanto os outros dois esperavam sentados na mesa deles, pela resposta das garotas.– Claro! – Apenas Rafael respondeu, Marília não concordaria em dividir a mesa com desconhecidos, mas já que a amiga queria, ela teve que acatar.Eles se sentaram com elas, começaram a perguntar sobre a vida das duas. Rafaela contava tudo sobre si mesma, mas Marília não… ela sempre tinha mais cuidado e precaução.– Você parece meio desanimada. – Um dos homens perguntou para Marília percebendo a inquietação dela.– Me desculpe por eu não ser uma boa companhia essa noite.– Qual é o seu nome?– Marília.– Lindo nome. – Ele percebeu que ela estava tomando uma cerveja, tinha intenção de curtir a noite com ela.Rafaela estava interessada em um deles, acabou indo dançar e foi para casa com ele.MaríliaEu não posso acreditar que Rafaela me deixou aqui com esses caras, vou pedir um Uber e ir para casa agora mesmo. Eu ia me levantar e pagar a parte da minha conta, mas um deles me segurou impedindo que eu me levantasse. Fiquei assustada, mas tentei manter a calma...– Onde você pensa que vai princesa?– Eu quero ir embora agora. – Olhei furiosa para os olhos dele, sem demonstrar o medo que eu sentia naquele momento.– Você vai ficar e beber conosco. – O outro disse levando um copo de cerveja até mim, empurrei com tudo derramando na roupa dele.Senti algo frio me tocar a lateral da barriga, era um estilete que estava em poder do outro.– Bebe essa cerveja e quantas mais nós pedirmos!Eu fiquei desesperada, o bar não estava cheio e ninguém passaria perto o bastante para perceber o meu medo. Eles me obrigaram a beber muito, eu estava ficando tonta e meus reflexos estavam comprometidos, o medo começou a diminuir e isso é um mau sinal.– Cuidado gatinha, assim vai acabar caindo da cadeira. Vamos te acompanhar até um lugar bem legal![...]Vinícius estava voltando para casa em seu carro, pensando nos problemas quando viu dois homens acompanharem de maneira suspeita uma jovem e tentavam colocá-la dentro de um carro. Assim que percebeu que ela não parecia bem e reconheceu os dois homens, ele resolveu intervir.– São o coiote e o lobo, dois dos nossos mais sanguinários integrantes do cartel!Ele parou o carro rapidamente.– Soltem essa mulher!Eles olharam para Vinícius e assim que o reconheceram a coisa ficou ainda pior.– Você não é mais o nosso capo, não se meta Leão, ou melhor… agora é Hades!A jovem tentava sair dos braços de um deles, logo Vinícius a reconheceu e não poderia deixá-la nas mãos daqueles dois.Partiu para cima de um deles que mostrou uma faca, Vinícius o desarmou com um chute na mão fazendo a faca cair, deu vários socos em seu rosto... Marília foi solta pelo outro que entrou na briga, apanhando de Vinícius assim como o primeiro.Feridos, eles correram para dentro do carro e saíram acelerando de lá.Marília não conseguia ficar de pé e acabou quase caindo, Vinícius a pegou nos braços e levou para dentro de seu carro, olhando para os lados para ter certeza de que ninguém os teria visto.Marília agarrava o braço de Vinícius e estava fora de si, mas tinha muito medo do que poderia ter acontecido com ela.– Não precisa ter medo, Marília, você está segura agora!– Vai me levar para casa? – Ela perguntou assustada.– Vou te levar comigo e amanhã quando estiver sóbria eu te levo em casa.– Eu quero ir para casa! – Ela insistiu, mas ele seguiu seu caminho até chegarem à casa dele.Marília tropeçava nas pernas e ele a levou para um dos quartos do andar de cima de sua mansão, Yasmin já estava dormindo e não o viu chegar com aquela moça. Isso havia sido providencial, certamente a menina perguntaria milhares de coisas e o pai não poderia responder mais da metade delas.Até que Marília teve um lapso de sobriedade.– Me solta, eu quero ir para casa. Você é um boboca e me deu um banho de lama!– Você está delirando garota.Ele a colocou na cama e a cobriu com um lençol.– Fica aqui então, estou com medo.– Está bem, apenas durma então.Vinícius sentou-se em uma cadeira e velou o sono dela por toda a noite, admirando a beleza daquela moça indefesa e que por pouco cairia nas mãos de homens cruéis, perversos como ele era no passado… ou nem tão passado assim.AmanheceuMarília se mexia na cama, Vinícius chegou mais perto e acabou levando um baita soco no rosto e afastou-se. Ela o olhou assustada...– Que cruzado de direita você tem! – Ele disse passando a mão no local da pancada.– Desculpe-me, eu sonhei estarem me sequestrando, você me sequestrou?– Pelo jeito a bebedeira deixou sequelas, não se lembra de nada mesmo?– Espera, eu saí com minha amiga e uns idiotas pediram para se sentarem conosco. Ela foi embora e me deixou, o de azul me mostrou uma faca e me forçou a beber...– Eles iam te levar á força, se lembra de mais coisas? – Ele queria se certificar de que ela não se recordava da conversa entre eles e de sua real identidade no mundo do crime.– São apenas flashs de coisas que vem á minha mente, te vi bater neles e acabei aqui na sua casa… é sua casa?Ela olhava curiosamente para o quarto de luxo.– Sim, está com fome? – Ele perguntou atencioso.– Sim, posso tomar um banho? Estou cheirando a álcool.– Pode, é claro, vou pedir que façam algo para comermos… vou te esperar lá embaixo.Ele ia sair do quarto, mas ela tinha algumas perguntas e queria agradecer.– Ei...Ele voltou e a olhou novamente.– Me chamo Vinícius!– Vinícius, muito obrigada pelo que fez por mim.– Não tem que me agradecer, te espero lá embaixo.Ela sorriu discretamente, ele desceu as escadas para avisar haver mais uma visitante na casa. Queria surpreendê-la com um café da manhã especial e sabia que Yasmin gostaria de saber que aquela moça estava ali. Marília achou aquela casa lindíssima e não se lembrava como tudo era no andar debaixo, pensou no que poderia ter acontecido com ela se não fosse a ajuda desse homem que ela tanto odiou ao conhecer no restaurante.MaríliaEle não é tão imbecil quanto eu pensava e me sinto injusta nesse momento, quem sabe seja um cara legal? Minha cabeça ainda doía pelo efeito da bebida que fui forçada a provar, nunca mais quero passar por algo parecido!MaríliaDe repente tudo ficou bem claro para mim… uma dor de cabeça fazia minha visão ficar turva, Deus, eu estou na casa do bonitão e isso é real. Ele é um criminoso, eu me lembro do que disseram e de como o chamaram Hades… será que ele me matará pelo que eu ouvi?Deixa de ser maluca, não posso entrar nessa roubada e tenho que fugir dessa casa antes que ele me mate e se livre do meu corpo. Esse filme eu já vi e não quero que encontrem meu corpo dentro da lata de lixo… levantei-me da cama, fui até o banheiro do quarto e que lugar lindo e bem decorado.Tomei um banho demorado, mesmo com pressa de sair eu tinha que tirar o cheiro puro de etanol, não sei quanto vou ter um chuveiro desses a minha disposição. Lavei meus cabelos para ficar mais desperta, me vesti e ia descer as escadas para sair da casa de fininho.– Parada!Paralisei antes de descer o primeiro degrau e levantei as mãos feito uma bandida, era a pestinha filha dele.– Oi! – Me virei com cara de boba certamente e ela sorriu.
Rafaela esperou o dia seguinte para tentar pedir desculpas para Marília, achava que assim de cabeça mais fria, as duas poderia se entender. Se sentia culpada por tê-la deixado sozinha, sabia o quanto a amiga prezava por sua honra e a havia abandonado sozinha na primeira oportunidade que teve.Bateu na porta e a jovem atendeu ainda com a escova de dentes na boca e vestida de pijama...– Por favor, me desculpa! – Ela implorou com lágrimas no olhar.Marília ficou revoltada ao vê-la em sua porta tão cedo.– Me desculpa? Rafaela você não tem noção do que fez. Como pode sair assim tranquilamente e me largar com dois homens em um bar?– Eu fui idiota, me perdoa… por favor.– Sai da minha casa, por gentileza… me presenteie com a sua ausência. Em outro momento podemos conversar, mas não agora!Marília fechou a porta, mesmo que um dia possa desculpar pelo que a amiga fez… havia sido demais deixá-la daquela forma e coisas horríveis poderiam ter acontecido se não fosse a intervenção de Vinícius.
Marília não se importou com o aviso e muito menos, levou a sério a mensagem de Vinícius. Não podia ficar pensando nisso o tempo todo e com medo de tudo e todos… eram muitas coisas em sua mente e agora ter que lidar com o filho insuportável do patrão, estava lhe tirando o sono. Foi para a sala, nenhum programa na televisão prendia sua atenção ou conseguia distraí-la, ficou de um lado para o outro apenas tentando encontrar uma saída para seus problemas.Já havia se submetido a empregos com chefes terríveis para se manter, mas nenhum deles envolvia se atrevido a manter tanto aproximação e um assédio descarado.MaríliaNão sei o que tem acontecido comigo, eu procuro uma saída e não encontro, tantos problemas e agora mais esse e justo no trabalho. Preciso manter o foco e conseguir suportar o que está acontecendo, não posso ficar sem esse emprego e tenho que engolir tudo isso sem reclamar… ela olhou mensagens em suas redes sociais, mas não havia nada de importante.Tomou um banho quente par
Marília acordou bem cedo como sempre fazia, vestiu-se e foi direto para o ponto de ônibus partir em direção ao trabalho. Foi pensando no que o filho do patrão poderia ter dito, claro que sua recusa não o deixou nada feliz.Chegando lá, foi surpreendida por más notícias.– Pegue suas coisas e não volte mais, você está oficialmente demitida!Ela ficou sem chão, ficar sem trabalho era terrivelmente preocupante para alguém que não tinha nenhum apoio financeiro. Marília apenas podia procurar outro trabalho, naquela mesma manhã ela saiu para procurar algo, caminhou pelo centro da cidade até seus pés criarem bolhas dolorosas. Odiava a ideia de ter sido prejudicada por recusar um flerte, se sentiu diminuída e muito revoltada com a situação.– Deus, me ajude a achar alguma coisa! – Ela encostou-se um momento para descansar, com o jornal do dia nas mãos.MaríliaVoltei para casa, não posso me deixar abater por causa disso, apesar de que a vontade de sair desesperada é enorme. Cedo ou tarde, vai
Marília começou a trabalhar na casa de Vinícius mesmo contra sua vontade, não tinha outra alternativa a não ser ceder a imposição daquele homem poderoso. A raiva por ter sua vida manipulada a estava deixando cega, não queria descontar tudo na garota e fazer um mau serviço.Arrumou sua bolsa, passou um suave batom nos lábios e mandou uma mensagem para Rafaela dizendo que iria começar no trabalho e pediu que a desejasse muita sorte: ela iria precisar.A jovem chegou na casa grande e a garota correu para os braços dela... Marília tinha que manter o sorriso, afinal a menina não tinha culpa de o pai ser tão autoritário com ela.Yasmin estava adorando ter uma companhia feminina e estava cada vez mais empolgada em ter alguém com quem conversar. Naquela mansão ela tinha muito luxo, mas apenas isso e fazia falta para ela ter uma amiga, Marília ficou encantada com as coisas belas que ela tinha e seu material escolar muito provavelmente custava o valor de um mês de seu aluguel.– Eu não gosto de
MaríliaAcordei e tomei um banho para ir ao trabalho, espero que Vinícius já tenha saído de casa para que não me veja chegar e descarregue todo o seu estresse em mim. Acho que ele deveria trocar de trabalho comigo por um dia e com direito a um patrão tão exigente e mandão quanto ele.Entrei no ônibus sem muita empolgação e cheguei na casa grande, assim que uma das empregadas abriu a porta para mim a cara dele… foi a primeira coisa que vi e ele não parecia nada contente em me ver. Eu também não estava disposta a dar nenhuma desculpa, simplesmente fui para minha casa por que me deu vontade!– Por que não fez o que eu te mandei fazer? Custava tanto assim pernoitar aqui?Ele agia como se fosse a coisa mais simples do mundo querer me manipular dessa forma.– Eu… eu...– Não quero ouvir sua voz, apenas trate de fazer o seu trabalho e nunca mais se atreva a desafiar as minhas ordens!Ele sempre desconta as frustrações em mim e pelo visto ele estava muito descontente com alguma outra coisa, i
No dia seguinte, Marília acordou bem cedo, resolveu ir para casa e lavar algumas roupas. Na casa grande ela não tinha liberdade para fazer essas coisas, sentia falta de casa e de sua privacidade. Não quis pedir carona ao motorista de Vinícius, afinal, ela era uma empregada assim como ele.– Vai sair dona Marília?– Sim, mas não se preocupe, eu vou de ônibus!Ele estranhou que a moça que podia usufruir de regalias não estava aproveitando isso, as empregadas já comentavam sobre ela e o patrão, mas aquela atitude demonstrava o oposto. Ele nunca quis mostrar qualquer sinal de vulnerabilidade, estar ali já era o bastante.Marília entrou em um ônibus lotado, percorreu trinta minutos e chegando lá, teve uma grande surpresa ao ver boa parte das suas coisas sendo retiradas da casa e colocadas do lado de fora, correndo o risco de serem danificadas caso chovesse. O medo tomou conta dela, não podia pensar que o que ela tanto temia estava acontecendo.– Espere, por que estão retirando minhas coisa
Marília se adaptou a viver na casa de Vinícius mesmo contra sua vontade, no dia seguinte como havia prometido a empresa de mudanças trouxe as coisas dela para a mansão. Ela arrumou tudo o que coube no quarto de hóspedes e o que não deu para ficar ali, foi guardado na despensa daquela enorme casa que agora era seu lar também.Alguns dias passaram, e Vinícius chegou do trabalho com um sorriso enigmático. Isso deixou a jovem muito mais preocupada do que antes.– Quero falar com você Marília e a sós!Ela arregalou os olhos, Yasmin foi para seu quarto deixando-os sozinhos na sala de estar, ela queria mais é que os dois se aproximassem e tivessem uma relação. Ele segurava uma caixa de tamanho médio e ela ficou muito curiosa com o que poderia ser aquilo...– Eu trouxe isso para você. – Ela achou estranho, mas foi até ele e pegou o pacote, abrindo-o delicadamente e com muita curiosidade.Era um lindo vestido de cor vermelha muito elegante, de bom gosto e tecido de cetim fino.– Por que está m