Capítulo 3

Marília

De repente tudo ficou bem claro para mim… uma dor de cabeça fazia minha visão ficar turva, Deus, eu estou na casa do bonitão e isso é real. Ele é um criminoso, eu me lembro do que disseram e de como o chamaram Hades… será que ele me matará pelo que eu ouvi?

Deixa de ser maluca, não posso entrar nessa roubada e tenho que fugir dessa casa antes que ele me mate e se livre do meu corpo. Esse filme eu já vi e não quero que encontrem meu corpo dentro da lata de lixo… levantei-me da cama, fui até o banheiro do quarto e que lugar lindo e bem decorado.

Tomei um banho demorado, mesmo com pressa de sair eu tinha que tirar o cheiro puro de etanol, não sei quanto vou ter um chuveiro desses a minha disposição. Lavei meus cabelos para ficar mais desperta, me vesti e ia descer as escadas para sair da casa de fininho.

– Parada!

Paralisei antes de descer o primeiro degrau e levantei as mãos feito uma bandida, era a pestinha filha dele.

– Oi! – Me virei com cara de boba certamente e ela sorriu.

– O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou com aquela cara de curiosa.

Pensei em qual desculpa eu poderia dar, nenhum delas convenceria, essa menina não é nada boba. Espero que o pai dela não esteja em casa, quero sair daqui antes de encontrá-lo outra vez… deveria estar procurando uma saída, mas estou aqui batendo um papo cabeça com uma menininha.

– Eu… eu… seu pai me convidou para tomar um café da manhã com vocês. Vamos?

Ela simplesmente me deu a mão e descemos as escadas, era uma situação constrangedora e eu espero que ela não pergunte mais nada. Eu não queria me juntar a eles, só quero sair daqui.

Chegamos a uma sala de jantar linda, uma mesa enorme e que daria para pousar um avião, fiquei nervosa ao ver que ele nos esperava, abriu um sorriso lindo ao nos ver juntas, puxou a cadeira educadamente e eu até estranhei toda aquela cordialidade. Nem parecia o mesmo animal feroz que acabou com aqueles caras na noite passada, espero que o menu não seja carne humana.

Aquela mesa tinha tantas coisas gostosas que dariam para alimentar duas famílias, eu fiquei com muito medo de me atrapalhar com os talheres e ser alvo de piadas para os dois. Yasmin parecia estar adorando a minha presença, ela olhava para o pai como se quisesse perguntar algo… esse suspense não durou muito e logo ela se atreveu.

– Papai, por que não me disse estarem namorando?

– O quê? – Ele perguntou e nós dois nos olhamos surpresos.

– Você está entendendo as coisas de forma errada, Yasmin. – Eu não me esqueceria jamais o nome daquela pimentinha.

– Se você dormiu aqui e acordou com os cabelos molhados, é por que você e meu pai são namorados. Minha amiga da escola disse que a irmã dela sempre volta assim dos encontros com um rapaz...

– Xiii chega de falar tanta bobagem Yasmin e vamos comer em paz! – Pela primeira vez eu o vi repreendê-la, acho que muito mais por estar com vergonha de mim do que pelo que ela havia dito.

Comemos, sem muita conversa e eu tinha que ir para casa..... Eu queria mais do que tudo sair desse lugar, apesar de linda essa não é a minha casa e eu tenho muito o que fazer bem longe daqui. Ainda não confio em nenhum deles e já vi muitos filmes de terror antes.

Fiquei com medo do convite, mas espero que ela me leve até a porta.

– Pode vir comigo um momento? – Yasmin queria me comover para ficar um pouco mais e sem saber que tudo o que eu mais quero é sair daqui, fomos para o quarto dela, tudo cor de rosa e bom gosto.

Me lembrei da infância simples que tive ao lado apenas da minha vó, ela nunca me deixou faltar nada, mas um quarto como o que essa gatinha tem faria sonhar qualquer uma! Isso me fez realmente pensar em mim ainda criança, cheia de perguntas sobre o passado, algumas delas ainda não tem resposta até hoje, Yasmin tem muita sorte de ter um pai milionário e coisas tão lindas para aproveitar.

– Seu quarto é muito lindo, você que escolheu a decoração? – Perguntei olhando algumas prateleiras com ursos de pelúcia enormes e lindos.

– Ele tem muitas coisas bonitas, mas eu sinto falta de ter uma mãe ou uma madrasta, como as minhas amigas tem para conversar e falar de coisas de meninas.

– Você tem o seu pai e ele parece ser muito legal e dá para ver que cuida bem de você.

– Ele é, sim, pode fazer uma trança nos meus cabelos? Papai não sabe fazer isso!

– Claro, claro que faço!

Fiz uma trança e ela ficou muito feliz e linda se olhando no espelho. Yasmin é super vaidosa, acho que eu era do mesmo jeito no passado.

– Gostei de você, acho que seria uma boa esposa para o meu pai.

– De novo falando absurdos. – Dei um beijo no rosto dela e fui descendo as escadas para ir embora e dessa vez eu tenho que ir mesmo.

Vinícius estava na sala e assim que me viu, ele sorriu ao nos ver.

– Papai eu me decidi!

– Decidiu? – Ele perguntou interessado e levantando-se do sofá.

– Eu a quero para ser minha mãe.

– Mãe? – Eu fiquei perplexa, Deus me livre de ganhar o pacote completo assim do nada.

– Yasmin, depois falamos sobre essa sua mania de querer as coisas do seu jeito. Agora pedirei ao motorista que leve Marília para casa!

– Só se ela prometer que virá me ver um dia desses!

– Filha!

Eu não tive escolha, queria tanto ir para casa que mais uma vez cedi ao capricho da garota. Acho que eu prometeria que ela quisesse só para ir para casa descansar um pouco, confesso que fiquei com um pouco de pena de mentir para ela.

– Sim, eu prometo que virei te ver de novo.

Saí e Vinícius me acompanhou, antes que eu fosse ele me tocou no braço e olhou dentro dos meus olhos. Me senti um pouco intimidada e ao olhar para ele eu tive a certeza de que essa era a real intenção

– Me diga do que se lembra de ontem à noite?

Fiquei tensa e comecei a me atrapalhar toda na fala.

– Na… droga! Eu ouvi o que aqueles homens disseram sobre você.

Ele chegou mais perto ainda e com o olhar ameaçador...

– Agora quem vai te exigir uma promessa sou eu, jure que não dirá nada do que ouviu para ninguém! Vamos, jure!

Tentei me afastar dele, mas ainda não me soltou.

– Juro e agora chega, preciso ir para casa!

– Quero o seu contato pessoal. – Passei meu número de W******p, ele anotou e eu entrei no carro.

Finalmente cheguei em casa depois daquela noite e manhã terrível, ainda estava cansada de tudo o que havia acontecido. Queria me esquecer daquele homem, aquela casa e até daquela menina...

O mal é que logo vi uma notificação de mensagem e era dele...

“Não se esqueça da promessa que me fez Marília.”

Não respondi e nem me importei, não quero ver essas pessoas nunca mais e nem pensar no que aconteceu ou poderia ter acontecido. Chega de tantos problemas e eu preciso de paz… só isso importa para mim.

[...]

Vinícius ficou pensando e com medo de que ela contasse para alguém sobre sua real identidade, pensava nas consequências que poderia trazer essa revelação para a vida da filha dele.

Também misturava o imenso desejo de ver aquela moça de novo, ela parecia tão frágil e assustada em seus braços. Ele foi até o quarto em que ela dormiu, cheirou o lençol procurando por seu doce perfume e lembrou-se do pedido inusitado de Yasmin.

– Marília não poderia ser sua nova mãe, mas é uma moça muito linda!

Como poderia negar a si mesmo que já estava envolvido e com muita vontade de descobrir mais sobre ela, havia aquela promessa feita a sua filha, ela terá que cumprir e voltar a vê-los. Em simultâneo, em que se sentia nas mãos dela devido a seu segredo...

– Estou perdido se ela resolver contar para alguém, preciso mantê-la sob vigilância e isso significa por perto.

Rafaela passou a noite com aquele homem desconhecido e dormiu o dia quase inteiro após mandá-lo embora dali, acordou com uma forte ressaca de sono e álcool, pensou no que havia feito com Marília ao deixá-la com dois desconhecidos naquela mesa. Uma imensa culpa tomou seu coração e ela caiu na real...

– Ela deve ter ficado furiosa comigo e com toda a razão.

Preparou algo para comer mesmo estando com o amargor da bebida ainda em seu paladar, olhou suas mensagens e não havia nada dela. Nem mesmo uma mensagem xingando-a ou condenando pelo que havia feito e isso era o que mais preocupava.

Sabia o quanto Marília sempre foi puritana e certinha, nunca beberia com estranhos por sua própria vontade...

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