Marília não se importou com o aviso e muito menos, levou a sério a mensagem de Vinícius. Não podia ficar pensando nisso o tempo todo e com medo de tudo e todos… eram muitas coisas em sua mente e agora ter que lidar com o filho insuportável do patrão, estava lhe tirando o sono. Foi para a sala, nenhum programa na televisão prendia sua atenção ou conseguia distraí-la, ficou de um lado para o outro apenas tentando encontrar uma saída para seus problemas.
Já havia se submetido a empregos com chefes terríveis para se manter, mas nenhum deles envolvia se atrevido a manter tanto aproximação e um assédio descarado.MaríliaNão sei o que tem acontecido comigo, eu procuro uma saída e não encontro, tantos problemas e agora mais esse e justo no trabalho. Preciso manter o foco e conseguir suportar o que está acontecendo, não posso ficar sem esse emprego e tenho que engolir tudo isso sem reclamar… ela olhou mensagens em suas redes sociais, mas não havia nada de importante.Tomou um banho quente para relaxar o corpo e mente, colocou as pernas para cima aliviando a dor de caminhar tanto todos os dias em busca de uma nova chance, adoraria ter a oportunidade de descansar muito mais do que a vida lhe permitia.Pensou que se tivesse uma família para dar apoio talvez não estaria sofrendo tanto quanto agora, amaldiçoou as circunstâncias de sua morte. De todas as dores do passado aquela era a que mais castigava e a deixava revoltada com os rumos que a vida havia dado ao seu futuro.[...]No dia seguinte, ela se arrumou bem cedo e preparou seu café da manhã e foi trabalhar normalmente, mesmo sem sentir muita vontade de fazer isso depois dos últimos dias, mas o filho do gerente deu seu jeito de mantê-la mais tempo no trabalho. Estava muito interessado nela e não podia perder a chance de se aproximar sempre que podia.A viu organizando alguns guardanapos e cardápios sobre as mesas antes da chegada da freguesia, seu corpo era belo e ele estava em chamas com aquela jovem tão amável.– Eu preciso que você fique até mais tarde essa noite, meu pai quer que eu confira algumas coisas e eu preciso da sua ajuda.– Sou apenas garçonete Diogo! – Ela respondeu prontamente, na esperança de que ele desistisse de mais essa tentativa de aproximação com ela.– Isso não te impede de ter a obrigação de me ajudar Marília, estarei te esperando depois do expediente e não aceito não como resposta!Ela detestou ter que fazer hora extra no trabalho e claro que isso parecia um desculpa para prendê-la mais tempo naquele lugar, sempre saía dali tão cansada e ter que prolongar isso ainda mais, seria terrível. Evitou ficar trocando olhares com ele, não queria ser confundida com uma alpinista social que estaria disposta a ceder a um flerte para ter privilégios no trabalho.Ela fez seu trabalho e serviu as mesas tentando manter um sorriso no rosto ainda que estivesse exausta, após o término e de arrumar todas as mesas desocupadas, revisou o estoque com o filho do gerente até altas horas… odiava os olhares dele para ela e que nunca foram nada inocentes.– Acho que por hoje é tudo Marília!Ela suspirou com aquele “finalmente”, saiu dali e arrumou sua bolsa, passou pelo salão do restaurante onde alguns ainda estavam, despediu-se dos colegas da cozinha e foi para casa já muito cansada.MaríliaEu nunca gostava de voltar para casa sozinha quando trabalhava até tarde e quando isso acontecia, sempre havia alguém de carro por lá para me oferecer uma carona segura, mas dessa vez não havia carona nenhuma e eu não tinha dinheiro para um Uber. A vontade de cair na minha cama e encerrar esse dia de uma vez por todas me fez apressar.Sempre tive vontade de ter uma oportunidade melhor, mas aquele restaurante estava se tornando a cruz da minha vida. Como se não bastasse a rotina desgastante e dura, ainda tenho que me desfazer daquele moleque o tempo todo.Andei algumas esquinas e tive uma sensação estranha de estar sendo seguida por alguém… olhava para trás a cada três passos e me sentia em um filme de terror naquela rua escura. Fiquei com receio de andar com o celular nas mãos e que isso atraísse ainda mais o olhar de uma pessoa mal intencionada, tudo o que eu podia fazer era continuar indo em frente e torcendo para que nada de ruim acontecesse.– Hoje não é o meu dia, aliás essa não foi a minha semana! – Resmunguei quase de boca fechada.Apressei o passo e tirei rapidamente as chaves de dentro da minha bolsa cheia de milhares de coisas inúteis, quando consegui enfiar a chave na fechadura, uma sombra encobriu a minha e eu quase infartei de pavor. Era Diogo, que chegou de repente deixando-me muito assustada… respirei profundamente e olhei em seus olhos.– Você não pode me abordar desse jeito na minha casa, ficou maluco?Ele sorriu, não sei como conseguia achar divertido me dar um susto tão grande como esse.– Deixa de ser boba Marília, me deixa entrar e te fazer companhia. – Diogo insistiu.Tentei fazer aquele paspalho sair de perto e desistir dessa bobagem enquanto eu tentava me controlar do pavor que tive segundos atrás, mas ele era muito mais forte e eu fiquei com muito medo do que poderia fazer comigo, ali altas horas da noite e na frente da minha casa. Se era safado o bastante para me cercar na frente de todos, não faltaria coragem para tentar algo pior aqui, onde estamos apenas nós dois.Eu achei que estava perdida, mas de uma forma ou de outra ele me pagaria caro se tocasse em mim.A coisa mais inesperável desse mundo aconteceu, Vinícius apareceu e deu um baita empurrão em Diogo que por pouco não caiu.– Não ouviu a moça te pedir para sair? – Ele tinha tanta voracidade no olhar e na fala, que Diogo até quis revidar, mas sabia que não ganharia essa. – Vá para casa, aliás levem-no da minha frente!Vinícius pediu aos seus motoristas que levassem Diogo para casa, ele e eu ficamos nos olhando alguns segundos. Vi os dois homens o colocarem dentro do carro e eu achei que Vinícius me perguntaria se eu estava machucada ou ainda temia, mas tudo o que ele sabe fazer ao me ver e me salvar é dar bronca.– Eu não posso te salvar o tempo todo garota! Você parece não me ouvir ou faz isso de propósito, acho até que mereceu passar por isso por tamanha imprudência!Já que estava disposto a me repreender, eu tratei de dar uma resposta à altura.– E você como sempre só sabe criticar tudo o que eu faço, por acaso anda me seguindo ou quê? – Eu perguntei e ele meio que desviou o olhar, orgulhoso e turrão.– Mas é claro que não é isso, seria um absurdo completo. Por que eu seguiria uma sonsa como você?– Quem me deve explicação é você, por que está aqui na porta da minha casa a essa hora da noite… veio ouvir os grilos cantarem? – Coloquei a mão na cintura, Vinícius nunca admitiria isso e eu estava perdendo o meu precioso tempo com aquela discussão.Aquele barulho na porta da minha casa estava se tornando um palco e os vizinhos já acendiam as luzes para saber o que estava acontecendo comigo. Sei que seria fofoca para a semana inteira. Eu estava louca para entrar e descansar finalmente.Vinícius suspirou e tomou as chaves da minha mão que ainda tremia e abriu a porta, me senti injustiçada pelo sermão dele mais uma vez. Mas o que posso fazer, parece que a vida sempre dá um jeito de colocar esse homem no meu caminho e me salvar, mesmo que eu não queira.Entrei em casa e ele foi embora, simples assim e sem ao menos esperar agradecer pelo que fez por mim. Acho que ele ficou com medo das minhas perguntas e tratou de cair fora bem rápido, fez bem… eu iria perguntar tudo o que está aqui martelando na minha cabeça.– O que diabos ele fazia aqui a essa hora? Não quero nem pensar na resposta!Tenho que ser mais esperta e evitar caminhar sozinha de volta para casa, espero que amanhã ninguém invente de me pedir para trabalhar até tarde, depois dessa acho que só mesmo, uma boa noite de sono para desfazer. Isso se eu conseguir apagar depois de tanto medo e esse dia conturbado.[...]Vinícius seguiu de volta para casa depois do que havia acontecido, precisava pensar em uma forma de evitar que Marília voltasse sozinha para casa ou que algo assim voltasse a acontecer com ela. Com aquele jeito duro e perseverante dela, seria muito difícil conseguir que o obedecesse e justamente isso o estava deixando inquieto.– Garota teimosa, marrenta… eu disse para tomar cuidado, mas ela não me escuta. Tenho que dar um jeito em você Marília e bem rápido!Marília acordou bem cedo como sempre fazia, vestiu-se e foi direto para o ponto de ônibus partir em direção ao trabalho. Foi pensando no que o filho do patrão poderia ter dito, claro que sua recusa não o deixou nada feliz.Chegando lá, foi surpreendida por más notícias.– Pegue suas coisas e não volte mais, você está oficialmente demitida!Ela ficou sem chão, ficar sem trabalho era terrivelmente preocupante para alguém que não tinha nenhum apoio financeiro. Marília apenas podia procurar outro trabalho, naquela mesma manhã ela saiu para procurar algo, caminhou pelo centro da cidade até seus pés criarem bolhas dolorosas. Odiava a ideia de ter sido prejudicada por recusar um flerte, se sentiu diminuída e muito revoltada com a situação.– Deus, me ajude a achar alguma coisa! – Ela encostou-se um momento para descansar, com o jornal do dia nas mãos.MaríliaVoltei para casa, não posso me deixar abater por causa disso, apesar de que a vontade de sair desesperada é enorme. Cedo ou tarde, vai
Marília começou a trabalhar na casa de Vinícius mesmo contra sua vontade, não tinha outra alternativa a não ser ceder a imposição daquele homem poderoso. A raiva por ter sua vida manipulada a estava deixando cega, não queria descontar tudo na garota e fazer um mau serviço.Arrumou sua bolsa, passou um suave batom nos lábios e mandou uma mensagem para Rafaela dizendo que iria começar no trabalho e pediu que a desejasse muita sorte: ela iria precisar.A jovem chegou na casa grande e a garota correu para os braços dela... Marília tinha que manter o sorriso, afinal a menina não tinha culpa de o pai ser tão autoritário com ela.Yasmin estava adorando ter uma companhia feminina e estava cada vez mais empolgada em ter alguém com quem conversar. Naquela mansão ela tinha muito luxo, mas apenas isso e fazia falta para ela ter uma amiga, Marília ficou encantada com as coisas belas que ela tinha e seu material escolar muito provavelmente custava o valor de um mês de seu aluguel.– Eu não gosto de
MaríliaAcordei e tomei um banho para ir ao trabalho, espero que Vinícius já tenha saído de casa para que não me veja chegar e descarregue todo o seu estresse em mim. Acho que ele deveria trocar de trabalho comigo por um dia e com direito a um patrão tão exigente e mandão quanto ele.Entrei no ônibus sem muita empolgação e cheguei na casa grande, assim que uma das empregadas abriu a porta para mim a cara dele… foi a primeira coisa que vi e ele não parecia nada contente em me ver. Eu também não estava disposta a dar nenhuma desculpa, simplesmente fui para minha casa por que me deu vontade!– Por que não fez o que eu te mandei fazer? Custava tanto assim pernoitar aqui?Ele agia como se fosse a coisa mais simples do mundo querer me manipular dessa forma.– Eu… eu...– Não quero ouvir sua voz, apenas trate de fazer o seu trabalho e nunca mais se atreva a desafiar as minhas ordens!Ele sempre desconta as frustrações em mim e pelo visto ele estava muito descontente com alguma outra coisa, i
No dia seguinte, Marília acordou bem cedo, resolveu ir para casa e lavar algumas roupas. Na casa grande ela não tinha liberdade para fazer essas coisas, sentia falta de casa e de sua privacidade. Não quis pedir carona ao motorista de Vinícius, afinal, ela era uma empregada assim como ele.– Vai sair dona Marília?– Sim, mas não se preocupe, eu vou de ônibus!Ele estranhou que a moça que podia usufruir de regalias não estava aproveitando isso, as empregadas já comentavam sobre ela e o patrão, mas aquela atitude demonstrava o oposto. Ele nunca quis mostrar qualquer sinal de vulnerabilidade, estar ali já era o bastante.Marília entrou em um ônibus lotado, percorreu trinta minutos e chegando lá, teve uma grande surpresa ao ver boa parte das suas coisas sendo retiradas da casa e colocadas do lado de fora, correndo o risco de serem danificadas caso chovesse. O medo tomou conta dela, não podia pensar que o que ela tanto temia estava acontecendo.– Espere, por que estão retirando minhas coisa
Marília se adaptou a viver na casa de Vinícius mesmo contra sua vontade, no dia seguinte como havia prometido a empresa de mudanças trouxe as coisas dela para a mansão. Ela arrumou tudo o que coube no quarto de hóspedes e o que não deu para ficar ali, foi guardado na despensa daquela enorme casa que agora era seu lar também.Alguns dias passaram, e Vinícius chegou do trabalho com um sorriso enigmático. Isso deixou a jovem muito mais preocupada do que antes.– Quero falar com você Marília e a sós!Ela arregalou os olhos, Yasmin foi para seu quarto deixando-os sozinhos na sala de estar, ela queria mais é que os dois se aproximassem e tivessem uma relação. Ele segurava uma caixa de tamanho médio e ela ficou muito curiosa com o que poderia ser aquilo...– Eu trouxe isso para você. – Ela achou estranho, mas foi até ele e pegou o pacote, abrindo-o delicadamente e com muita curiosidade.Era um lindo vestido de cor vermelha muito elegante, de bom gosto e tecido de cetim fino.– Por que está m
MaríliaApós ouvir o que eu havia dito no fracasso da minha noite com o patrão e dos problemas com o meu aluguel. O despejo repentino que me forçou a morar na casa do patrão e satisfazer as vontades da filha dele, até Rafaela percebeu quantas coisas estranhas e repentinas tem mudado a minha vida nos últimos dias e tudo me leva em direção a ele e seus mistérios.– Eu acho tudo isso muito estranho Marília, mas também acho que você deve esquecer esse cara e essa noite fracassada.– Eu não sei o que fazer e a minha cabeça não está ajudando nem um pouquinho!– Mas eu, sim, já volto e não se mexa.Forcei um sorriso e Rafaela foi até a cozinha, acabou voltando de lá com duas garrafas de vinho na mão e algumas taças.– Ficou maluca, acha que a essa hora da madrugada eu vou sair bebendo feito uma maluca com você? – Eu perguntei olhando a expressão tranquila dela.– Nada disso, essa sua revolta aí contra o patrão bonitão só vai passar com um bom porre, pense bem, Marília… é só uma diversão entr
No dia seguinte, Marília acordou com dor de cabeça e olhou ao seu lado... Vinícius já não estava na cama. Tentou se lembrar exatamente do que havia acontecido na noite anterior, mas vinham apenas alguns flashs em sua mente, lembrou-se da festa e de ter saído muito triste com o que aquela mulher havia dito para ela. Pensou na saída repentina de dentro do carro de Vinícius e que havia ido até à casa de Rafaela… lembrou-se das garrafas de vinho e tudo depois parecia desconexo, como estar nos braços dele e em seu carro.– Ele me salvou, outra vez. Não foi um sonho maluco… foi verdade!Lembrou-se de senti o cheiro dele, depois sentir o macio da cama sob seu corpo e o toque dele abraçando-a por trás, seu braço forte e pesado sobre sua cintura.Ela se levantou e tomou um banho demorado e lavou os cabelos para ficar mais desperta, quando havia terminado de secar os cabelos... Yasmin bateu na porta de seu quarto.– Eu preciso falar com você mamãe, posso entrar agora!– Entre Yasmin.A garotinh
Marília estava tentando se adaptar a situação, mas não se sentia à vontade. Ela se queixava repetidas vezes de que viver naquela mansão a deixava triste e intimidada, Rafaela pensou sobre isso por muitas vezes em seu trabalho e não podia permitir que aquela situação continuasse.Certo dia, Marília saiu com Rafaela e as duas passaram a conversar sobre o assunto que tanto a incomodava.– Você já conseguiu alguma casa para alugar?– Nada ainda Rafa, não sei o que pensar..., mas acho que a vida está me dando todos os dias uma rasteira maior que a outra.– Eu já disse que você pode ficar na minha casa, vamos Marília. Não quero te ver triste assim, não é hora para ter orgulho… exceto se algo mais te mantenha na casa dele. Ninguém é obrigado a dormir no trabalho se não quiser!MaríliaEu me sinto envergonhada em viver na casa de Vinícius e essa situação já passou da hora de terminar, seria muito menos constrangedor para mim, dever um favor para Rafaela do que para ele. Eu decidi aceitar e me