Rafaela esperou o dia seguinte para tentar pedir desculpas para Marília, achava que assim de cabeça mais fria, as duas poderia se entender. Se sentia culpada por tê-la deixado sozinha, sabia o quanto a amiga prezava por sua honra e a havia abandonado sozinha na primeira oportunidade que teve.
Bateu na porta e a jovem atendeu ainda com a escova de dentes na boca e vestida de pijama...– Por favor, me desculpa! – Ela implorou com lágrimas no olhar.Marília ficou revoltada ao vê-la em sua porta tão cedo.– Me desculpa? Rafaela você não tem noção do que fez. Como pode sair assim tranquilamente e me largar com dois homens em um bar?– Eu fui idiota, me perdoa… por favor.– Sai da minha casa, por gentileza… me presenteie com a sua ausência. Em outro momento podemos conversar, mas não agora!Marília fechou a porta, mesmo que um dia possa desculpar pelo que a amiga fez… havia sido demais deixá-la daquela forma e coisas horríveis poderiam ter acontecido se não fosse a intervenção de Vinícius.Aqueles homens a levariam para algum lugar e certamente abusariam dela sexualmente, acarretando um trauma que ela levaria para o resto da vida. Ela não queria sequer fechar os olhos e se lembrar daquela noite, precisava passar uma borracha em tudo.MaríliaFui para o trabalho, entrei naquele ônibus lotado como sempre e nada parecia me incomodar mais do que a vontade e necessidade de ocupar a mente, tentar me esquecer de tudo isso. Assim que cheguei no restaurante vi um carro diferente, meu chefe estava todo contente recebendo o filho dele, que havia chegado de viagem para passar umas férias por aqui. Ele era um rapaz muito bonito e eu diria que chamaria bastante atenção com o público feminino.– Esse é Diogo, meu filho. – Ele me apresentou o belo rapaz todo contente.Nos cumprimentamos com um aperto de mão, ele ficou o tempo todo me olhando trabalhar e parecia flertar comigo, enquanto eu passeava com as bandejas para lá e para cá. É só o que faltava, ter o pai e o filho me assediando no trabalho, tentei não ficar olhando para ele...Nunca gostei de misturar profissão e sentimento, sei que raramente acaba bem. Algumas colegas me alertavam sobre os olhares do filho e do patrão para mim, não posso dar ouvidos a isso e vou seguir fazendo o meu trabalho como se eu fosse cega e surda. Não tenho interesse nesse garoto e não há por que me envolver ao dar combustível a essas fofocas.Alguns dias passaram e nada fora do comum havia acontecido, a não ser os olhares maliciosos de Diogo que só cresciam sobre mim. Ele é mais novo alguns anos, isso não seria problema caso eu correspondesse ao seu interesse, mas eu não tenho olhos para esse menino. Quero juntar dinheiro para comprar a minha casa própria e não depender de aluguel, ficar sem emprego não era uma opção agora.– Porque não topa sair comigo, vai gostar tenho certeza!– Eu não quero sair com ninguém, Diogo, estou mantendo o foco no meu trabalho. Não e nada pessoal, apenas uma decisão minha e que quero que você respeite!– Deixa de ser boba, as minhas intenções são as melhores com você.– Vamos continuar como amigos, vai ser melhor assim para todos.Eu ia sair do depósito, mas ele me segurou com força e apertou-me contra a parede.– Eu tentei Marília, se você não concordar em ser minha “amiga” eu te juro que mando meu pai te demitir. Em dois segundos você estará no olho da rua!Eu não quis dar uma má resposta para ele e deixá-lo ainda mais furioso comigo, ele me soltou e voltei para atender os outros clientes, para piorar eu vi Vinícius e Yasmin e um dos garçons veio em minha direção. Não tive tempo de digerir a ameaça de um estúpido e agora terei que lidar com outro ainda pior.– Ele disse que não renuncia a ser atendido por você, vá Marília e evite problemas com o chefe! Tente ser amável e sorria!– Sim, eu vou! – Suspirei com o cardápio na mão e caminhei até lá devagar, como se não quisesse chegar ao meu destino e eu não sei se quero.– Por que sumiu assim, não se lembra da promessa que fez a Yasmin? Que decepção tão grande te afastou?Ele sabia muito bem, mas já que queria jogar com as palavras eu ia entrar na dele.– Eu tive muito trabalho a fazer Vinícius, ando sem tempo para fazer visitas aos clientes!– Mas você prometeu para mim, Marília.– Me desculpe por isso, linda...– Por que não deixa esse emprego e vem trabalhar comigo, cuidando de Yasmin? Poderia ser a babá dela e ter um salário bem melhor do que te pagam!Eu fiquei surpresa com a oferta, Diogo passava por lá e não gostou de ouvir.– O senhor veio jantar ou fazer ofertas de emprego aos nossos empregados?– E você quem é? Dono daqui não deve ser, nem idade para isso tem.A expressão furiosa de Vinícius deixou Diogo se argumentos e Adalberto percebeu e se aproximou.– É um prazer tê-lo aqui novamente. – Os dois se cumprimentaram, claro que Adalberto esperava mais dinheiro como na vez passada.– Já que veio falar conosco, eu quero contratar a companhia de Marília mais uma vez essa noite. – Vinícius me quer por perto para controlar, só pode ser isso.Diogo achou um absurdo, mas o velho ambicioso concordou mais uma vez. Lá vou eu me sentar novamente com pai e a filha, pedimos o jantar, Yasmin falou de coisas da escola e pelo menos, ouvíamos uma voz naquela mesa que parecia um cemitério de tão silenciosa.– Sabe, eu não fico feliz em ver que você não tem mais voltado para casa tarde, como naquela noite.Dei uma revirada de olhos, deixei que ele falasse até sair todo o veneno e eu estava furiosa. Comemos e ele me pediu que os acompanhasse até o carro...– Tchau Yasmin e vê se não dorme tarde!Demos um beijo no rosto, ele abriu a porta do carro para a filha e depois me olhou alternando os meus olhos e lábios.– Posso te oferecer uma carona para casa? – Vinícius insistiu em oferecer.– Ainda tenho que trabalhar.– Fico preocupado com você, Marília.– Não precisa ficar, talvez o movimento possa ser mais tranquilo mais tarde e seremos liberados para ir para casa.– Está bem, boa noite.Ele entrou no carro e foram embora, seja como for, ele parecia de verdade, preocupado comigo. Ainda no trabalho, Rafaela me telefonou para dizer que o cara com quem ficou não atendia mais as ligações dela, estava em prantos se sentindo usada e me pedindo perdão.– Tá, está bem. Claro que perdoo, mas vê se não se humilha para esse cara… vocês nem se conheciam direito.Vergonha alheia de tanto drama devido a um ficante, Rafaela tem sérios problemas de carência e falta de amor-próprio.Desliguei o telefone, o restaurante fechou tardiamente e eu peguei uma carona com meu colega de trabalho. Cheguei em casa, tomei um banho e pendurei as pernas para relaxar um pouco após caminhar tanto, havia uma mensagem no meu W******p e era de Vinícius.“Em casa?”“Sim, acabei de chegar.”“Me preocupo de que você chegue assim tão tarde.”“Agora está tudo bem, tenha bons sonhos Vinícius.”“Você também!”Não posso negar que mesmo ele sendo chave de cadeia é tão bonito e sabe envolver alguém com suas palavras, quem sou eu para julgar Rafaela se estou me apaixonando por ele assim tão facilmente.Talvez seja a falta que eu sinto dos meus pais que se foram tão cedo, me sinto muito sozinha desde sempre e não posso permitir que a solidão crie armadilhas para mim. Olhando nos olhos de Yasmin, eu acho que ela sente o mesmo que eu, pelo menos posso ser uma amiga e lhe fazer companhia.Resolvi sair um pouco no quintal de casa, tenho um vizinho que vive sozinho como eu. Um senhor de idade e sempre que estamos sem sono nos encontramos na frente um da janela do outro.– Essa preocupação deve ser das grandes, para tirar o seu sono assim...Eu sorri.– Seu Antônio, tem acontecido tantas coisas que o senhor até perderia os cabelos se ainda os tivesse.– Você é jovem demais para se preocupar tanto Marília, a vida ainda vai te mostrar muitas coisas… não se embriague com elas antes da hora!– Não sei o que pensar, queria ter os meus pais aqui comigo agora.– Onde estiverem estão olhando por você, agora entre e tente dormir. Amanhã você tem um dia novo pela frente.– O senhor tem razão, tenha uma boa noite também.Entrei e tranquei a porta, por que eu teimo tanto em não aceitar minha solidão? São muitos anos e eu deveria entender que essa é a minha vida e tudo o que eu posso ter dela. Deitei-me abraçando o travesseiro e pensando em coisas aleatórias até dormir finalmente.Marília não se importou com o aviso e muito menos, levou a sério a mensagem de Vinícius. Não podia ficar pensando nisso o tempo todo e com medo de tudo e todos… eram muitas coisas em sua mente e agora ter que lidar com o filho insuportável do patrão, estava lhe tirando o sono. Foi para a sala, nenhum programa na televisão prendia sua atenção ou conseguia distraí-la, ficou de um lado para o outro apenas tentando encontrar uma saída para seus problemas.Já havia se submetido a empregos com chefes terríveis para se manter, mas nenhum deles envolvia se atrevido a manter tanto aproximação e um assédio descarado.MaríliaNão sei o que tem acontecido comigo, eu procuro uma saída e não encontro, tantos problemas e agora mais esse e justo no trabalho. Preciso manter o foco e conseguir suportar o que está acontecendo, não posso ficar sem esse emprego e tenho que engolir tudo isso sem reclamar… ela olhou mensagens em suas redes sociais, mas não havia nada de importante.Tomou um banho quente par
Marília acordou bem cedo como sempre fazia, vestiu-se e foi direto para o ponto de ônibus partir em direção ao trabalho. Foi pensando no que o filho do patrão poderia ter dito, claro que sua recusa não o deixou nada feliz.Chegando lá, foi surpreendida por más notícias.– Pegue suas coisas e não volte mais, você está oficialmente demitida!Ela ficou sem chão, ficar sem trabalho era terrivelmente preocupante para alguém que não tinha nenhum apoio financeiro. Marília apenas podia procurar outro trabalho, naquela mesma manhã ela saiu para procurar algo, caminhou pelo centro da cidade até seus pés criarem bolhas dolorosas. Odiava a ideia de ter sido prejudicada por recusar um flerte, se sentiu diminuída e muito revoltada com a situação.– Deus, me ajude a achar alguma coisa! – Ela encostou-se um momento para descansar, com o jornal do dia nas mãos.MaríliaVoltei para casa, não posso me deixar abater por causa disso, apesar de que a vontade de sair desesperada é enorme. Cedo ou tarde, vai
Marília começou a trabalhar na casa de Vinícius mesmo contra sua vontade, não tinha outra alternativa a não ser ceder a imposição daquele homem poderoso. A raiva por ter sua vida manipulada a estava deixando cega, não queria descontar tudo na garota e fazer um mau serviço.Arrumou sua bolsa, passou um suave batom nos lábios e mandou uma mensagem para Rafaela dizendo que iria começar no trabalho e pediu que a desejasse muita sorte: ela iria precisar.A jovem chegou na casa grande e a garota correu para os braços dela... Marília tinha que manter o sorriso, afinal a menina não tinha culpa de o pai ser tão autoritário com ela.Yasmin estava adorando ter uma companhia feminina e estava cada vez mais empolgada em ter alguém com quem conversar. Naquela mansão ela tinha muito luxo, mas apenas isso e fazia falta para ela ter uma amiga, Marília ficou encantada com as coisas belas que ela tinha e seu material escolar muito provavelmente custava o valor de um mês de seu aluguel.– Eu não gosto de
MaríliaAcordei e tomei um banho para ir ao trabalho, espero que Vinícius já tenha saído de casa para que não me veja chegar e descarregue todo o seu estresse em mim. Acho que ele deveria trocar de trabalho comigo por um dia e com direito a um patrão tão exigente e mandão quanto ele.Entrei no ônibus sem muita empolgação e cheguei na casa grande, assim que uma das empregadas abriu a porta para mim a cara dele… foi a primeira coisa que vi e ele não parecia nada contente em me ver. Eu também não estava disposta a dar nenhuma desculpa, simplesmente fui para minha casa por que me deu vontade!– Por que não fez o que eu te mandei fazer? Custava tanto assim pernoitar aqui?Ele agia como se fosse a coisa mais simples do mundo querer me manipular dessa forma.– Eu… eu...– Não quero ouvir sua voz, apenas trate de fazer o seu trabalho e nunca mais se atreva a desafiar as minhas ordens!Ele sempre desconta as frustrações em mim e pelo visto ele estava muito descontente com alguma outra coisa, i
No dia seguinte, Marília acordou bem cedo, resolveu ir para casa e lavar algumas roupas. Na casa grande ela não tinha liberdade para fazer essas coisas, sentia falta de casa e de sua privacidade. Não quis pedir carona ao motorista de Vinícius, afinal, ela era uma empregada assim como ele.– Vai sair dona Marília?– Sim, mas não se preocupe, eu vou de ônibus!Ele estranhou que a moça que podia usufruir de regalias não estava aproveitando isso, as empregadas já comentavam sobre ela e o patrão, mas aquela atitude demonstrava o oposto. Ele nunca quis mostrar qualquer sinal de vulnerabilidade, estar ali já era o bastante.Marília entrou em um ônibus lotado, percorreu trinta minutos e chegando lá, teve uma grande surpresa ao ver boa parte das suas coisas sendo retiradas da casa e colocadas do lado de fora, correndo o risco de serem danificadas caso chovesse. O medo tomou conta dela, não podia pensar que o que ela tanto temia estava acontecendo.– Espere, por que estão retirando minhas coisa
Marília se adaptou a viver na casa de Vinícius mesmo contra sua vontade, no dia seguinte como havia prometido a empresa de mudanças trouxe as coisas dela para a mansão. Ela arrumou tudo o que coube no quarto de hóspedes e o que não deu para ficar ali, foi guardado na despensa daquela enorme casa que agora era seu lar também.Alguns dias passaram, e Vinícius chegou do trabalho com um sorriso enigmático. Isso deixou a jovem muito mais preocupada do que antes.– Quero falar com você Marília e a sós!Ela arregalou os olhos, Yasmin foi para seu quarto deixando-os sozinhos na sala de estar, ela queria mais é que os dois se aproximassem e tivessem uma relação. Ele segurava uma caixa de tamanho médio e ela ficou muito curiosa com o que poderia ser aquilo...– Eu trouxe isso para você. – Ela achou estranho, mas foi até ele e pegou o pacote, abrindo-o delicadamente e com muita curiosidade.Era um lindo vestido de cor vermelha muito elegante, de bom gosto e tecido de cetim fino.– Por que está m
MaríliaApós ouvir o que eu havia dito no fracasso da minha noite com o patrão e dos problemas com o meu aluguel. O despejo repentino que me forçou a morar na casa do patrão e satisfazer as vontades da filha dele, até Rafaela percebeu quantas coisas estranhas e repentinas tem mudado a minha vida nos últimos dias e tudo me leva em direção a ele e seus mistérios.– Eu acho tudo isso muito estranho Marília, mas também acho que você deve esquecer esse cara e essa noite fracassada.– Eu não sei o que fazer e a minha cabeça não está ajudando nem um pouquinho!– Mas eu, sim, já volto e não se mexa.Forcei um sorriso e Rafaela foi até a cozinha, acabou voltando de lá com duas garrafas de vinho na mão e algumas taças.– Ficou maluca, acha que a essa hora da madrugada eu vou sair bebendo feito uma maluca com você? – Eu perguntei olhando a expressão tranquila dela.– Nada disso, essa sua revolta aí contra o patrão bonitão só vai passar com um bom porre, pense bem, Marília… é só uma diversão entr
No dia seguinte, Marília acordou com dor de cabeça e olhou ao seu lado... Vinícius já não estava na cama. Tentou se lembrar exatamente do que havia acontecido na noite anterior, mas vinham apenas alguns flashs em sua mente, lembrou-se da festa e de ter saído muito triste com o que aquela mulher havia dito para ela. Pensou na saída repentina de dentro do carro de Vinícius e que havia ido até à casa de Rafaela… lembrou-se das garrafas de vinho e tudo depois parecia desconexo, como estar nos braços dele e em seu carro.– Ele me salvou, outra vez. Não foi um sonho maluco… foi verdade!Lembrou-se de senti o cheiro dele, depois sentir o macio da cama sob seu corpo e o toque dele abraçando-a por trás, seu braço forte e pesado sobre sua cintura.Ela se levantou e tomou um banho demorado e lavou os cabelos para ficar mais desperta, quando havia terminado de secar os cabelos... Yasmin bateu na porta de seu quarto.– Eu preciso falar com você mamãe, posso entrar agora!– Entre Yasmin.A garotinh