Capítulo 4

Rafaela esperou o dia seguinte para tentar pedir desculpas para Marília, achava que assim de cabeça mais fria, as duas poderia se entender. Se sentia culpada por tê-la deixado sozinha, sabia o quanto a amiga prezava por sua honra e a havia abandonado sozinha na primeira oportunidade que teve.

Bateu na porta e a jovem atendeu ainda com a escova de dentes na boca e vestida de pijama...

– Por favor, me desculpa! – Ela implorou com lágrimas no olhar.

Marília ficou revoltada ao vê-la em sua porta tão cedo.

– Me desculpa? Rafaela você não tem noção do que fez. Como pode sair assim tranquilamente e me largar com dois homens em um bar?

– Eu fui idiota, me perdoa… por favor.

– Sai da minha casa, por gentileza… me presenteie com a sua ausência. Em outro momento podemos conversar, mas não agora!

Marília fechou a porta, mesmo que um dia possa desculpar pelo que a amiga fez… havia sido demais deixá-la daquela forma e coisas horríveis poderiam ter acontecido se não fosse a intervenção de Vinícius.

Aqueles homens a levariam para algum lugar e certamente abusariam dela sexualmente, acarretando um trauma que ela levaria para o resto da vida. Ela não queria sequer fechar os olhos e se lembrar daquela noite, precisava passar uma borracha em tudo.

Marília

Fui para o trabalho, entrei naquele ônibus lotado como sempre e nada parecia me incomodar mais do que a vontade e necessidade de ocupar a mente, tentar me esquecer de tudo isso. Assim que cheguei no restaurante vi um carro diferente, meu chefe estava todo contente recebendo o filho dele, que havia chegado de viagem para passar umas férias por aqui. Ele era um rapaz muito bonito e eu diria que chamaria bastante atenção com o público feminino.

– Esse é Diogo, meu filho. – Ele me apresentou o belo rapaz todo contente.

Nos cumprimentamos com um aperto de mão, ele ficou o tempo todo me olhando trabalhar e parecia flertar comigo, enquanto eu passeava com as bandejas para lá e para cá. É só o que faltava, ter o pai e o filho me assediando no trabalho, tentei não ficar olhando para ele...

Nunca gostei de misturar profissão e sentimento, sei que raramente acaba bem. Algumas colegas me alertavam sobre os olhares do filho e do patrão para mim, não posso dar ouvidos a isso e vou seguir fazendo o meu trabalho como se eu fosse cega e surda. Não tenho interesse nesse garoto e não há por que me envolver ao dar combustível a essas fofocas.

Alguns dias passaram e nada fora do comum havia acontecido, a não ser os olhares maliciosos de Diogo que só cresciam sobre mim. Ele é mais novo alguns anos, isso não seria problema caso eu correspondesse ao seu interesse, mas eu não tenho olhos para esse menino. Quero juntar dinheiro para comprar a minha casa própria e não depender de aluguel, ficar sem emprego não era uma opção agora.

– Porque não topa sair comigo, vai gostar tenho certeza!

– Eu não quero sair com ninguém, Diogo, estou mantendo o foco no meu trabalho. Não e nada pessoal, apenas uma decisão minha e que quero que você respeite!

– Deixa de ser boba, as minhas intenções são as melhores com você.

– Vamos continuar como amigos, vai ser melhor assim para todos.

Eu ia sair do depósito, mas ele me segurou com força e apertou-me contra a parede.

– Eu tentei Marília, se você não concordar em ser minha “amiga” eu te juro que mando meu pai te demitir. Em dois segundos você estará no olho da rua!

Eu não quis dar uma má resposta para ele e deixá-lo ainda mais furioso comigo, ele me soltou e voltei para atender os outros clientes, para piorar eu vi Vinícius e Yasmin e um dos garçons veio em minha direção. Não tive tempo de digerir a ameaça de um estúpido e agora terei que lidar com outro ainda pior.

– Ele disse que não renuncia a ser atendido por você, vá Marília e evite problemas com o chefe! Tente ser amável e sorria!

– Sim, eu vou! – Suspirei com o cardápio na mão e caminhei até lá devagar, como se não quisesse chegar ao meu destino e eu não sei se quero.

– Por que sumiu assim, não se lembra da promessa que fez a Yasmin? Que decepção tão grande te afastou?

Ele sabia muito bem, mas já que queria jogar com as palavras eu ia entrar na dele.

– Eu tive muito trabalho a fazer Vinícius, ando sem tempo para fazer visitas aos clientes!

– Mas você prometeu para mim, Marília.

– Me desculpe por isso, linda...

– Por que não deixa esse emprego e vem trabalhar comigo, cuidando de Yasmin? Poderia ser a babá dela e ter um salário bem melhor do que te pagam!

Eu fiquei surpresa com a oferta, Diogo passava por lá e não gostou de ouvir.

– O senhor veio jantar ou fazer ofertas de emprego aos nossos empregados?

– E você quem é? Dono daqui não deve ser, nem idade para isso tem.

A expressão furiosa de Vinícius deixou Diogo se argumentos e Adalberto percebeu e se aproximou.

– É um prazer tê-lo aqui novamente. – Os dois se cumprimentaram, claro que Adalberto esperava mais dinheiro como na vez passada.

– Já que veio falar conosco, eu quero contratar a companhia de Marília mais uma vez essa noite. – Vinícius me quer por perto para controlar, só pode ser isso.

Diogo achou um absurdo, mas o velho ambicioso concordou mais uma vez. Lá vou eu me sentar novamente com pai e a filha, pedimos o jantar, Yasmin falou de coisas da escola e pelo menos, ouvíamos uma voz naquela mesa que parecia um cemitério de tão silenciosa.

– Sabe, eu não fico feliz em ver que você não tem mais voltado para casa tarde, como naquela noite.

Dei uma revirada de olhos, deixei que ele falasse até sair todo o veneno e eu estava furiosa. Comemos e ele me pediu que os acompanhasse até o carro...

– Tchau Yasmin e vê se não dorme tarde!

Demos um beijo no rosto, ele abriu a porta do carro para a filha e depois me olhou alternando os meus olhos e lábios.

– Posso te oferecer uma carona para casa? – Vinícius insistiu em oferecer.

– Ainda tenho que trabalhar.

– Fico preocupado com você, Marília.

– Não precisa ficar, talvez o movimento possa ser mais tranquilo mais tarde e seremos liberados para ir para casa.

– Está bem, boa noite.

Ele entrou no carro e foram embora, seja como for, ele parecia de verdade, preocupado comigo. Ainda no trabalho, Rafaela me telefonou para dizer que o cara com quem ficou não atendia mais as ligações dela, estava em prantos se sentindo usada e me pedindo perdão.

– Tá, está bem. Claro que perdoo, mas vê se não se humilha para esse cara… vocês nem se conheciam direito.

Vergonha alheia de tanto drama devido a um ficante, Rafaela tem sérios problemas de carência e falta de amor-próprio.

Desliguei o telefone, o restaurante fechou tardiamente e eu peguei uma carona com meu colega de trabalho. Cheguei em casa, tomei um banho e pendurei as pernas para relaxar um pouco após caminhar tanto, havia uma mensagem no meu W******p e era de Vinícius.

“Em casa?”

“Sim, acabei de chegar.”

“Me preocupo de que você chegue assim tão tarde.”

“Agora está tudo bem, tenha bons sonhos Vinícius.”

“Você também!”

Não posso negar que mesmo ele sendo chave de cadeia é tão bonito e sabe envolver alguém com suas palavras, quem sou eu para julgar Rafaela se estou me apaixonando por ele assim tão facilmente.

Talvez seja a falta que eu sinto dos meus pais que se foram tão cedo, me sinto muito sozinha desde sempre e não posso permitir que a solidão crie armadilhas para mim. Olhando nos olhos de Yasmin, eu acho que ela sente o mesmo que eu, pelo menos posso ser uma amiga e lhe fazer companhia.

Resolvi sair um pouco no quintal de casa, tenho um vizinho que vive sozinho como eu. Um senhor de idade e sempre que estamos sem sono nos encontramos na frente um da janela do outro.

– Essa preocupação deve ser das grandes, para tirar o seu sono assim...

Eu sorri.

– Seu Antônio, tem acontecido tantas coisas que o senhor até perderia os cabelos se ainda os tivesse.

– Você é jovem demais para se preocupar tanto Marília, a vida ainda vai te mostrar muitas coisas… não se embriague com elas antes da hora!

– Não sei o que pensar, queria ter os meus pais aqui comigo agora.

– Onde estiverem estão olhando por você, agora entre e tente dormir. Amanhã você tem um dia novo pela frente.

– O senhor tem razão, tenha uma boa noite também.

Entrei e tranquei a porta, por que eu teimo tanto em não aceitar minha solidão? São muitos anos e eu deveria entender que essa é a minha vida e tudo o que eu posso ter dela. Deitei-me abraçando o travesseiro e pensando em coisas aleatórias até dormir finalmente.

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