Traições e mentiras

Aquele homem continuava intratável como sempre. Talvez menos tolerante. Só que a intenção de Garro não era negociar. As ordens de James eram para que os irmãos Morgans estivessem ocupados com o paradeiro de Faith. E ainda havia a questão do dinheiro. Aqueles olhos de ametista eram raros. Valeriam uma fortuna considerável entre os orientais.

-Olhe, seja razoável. - o taberneiro defendia-se muito apressado. - Não toquei em sua mulher. Sou um homem de palavra.

Richard rosnou, franzindo a testa ao enfrentar o homem assombrado por lembranças. Tinham revirado tudo: taberna, prisão e todo oporão sem nada encontrar. Meneou a cabeça irredutível.

-Onde Garro? – rugiu implacável. - Onde está Cassie?

Garro suava profusamente.

- Ela... ela está viva. Juro a você! - ele falava aos tropeções.

A declaração não trouxe qualquer alívio. Richard queria desesperadamente a mulher. Ao inferno a m*****a diplomacia. Somente detivera o ataque dos canhões do Gaia com receio de atingirem o cativeiro da garota. Voltou a praguejar.

-Perguntei. Onde. Esta. Minha Mulher? - ele literalmente rosnava furioso como um animal. – Acho que não ouvi a resposta.

Garro contraiu a boca. O rumo da conversa não era nada promissor. Os navios começariam a chegar no máximo em dois dias. Geralmente aqueles mercadores eram desconfiados. Precisava de tempo. Seu nervosismo não tinha limites.

-Se me matar, não vai acha-la. Isto é uma promessa!

Richard xingou em alto e bom som. Ah, mandaria os canhões atacarem a taberna. E depois um agradável passeio pela prancha. As ideias do que podia fazer com Garro era sugestivas. Seu olhar queimou ao fixar a corrente de ouro branca que o homem trazia pendurado ao pescoço. A pedra de esmeralda reluzia... a mesma cor dos olhos de Cassie.

Esqueceu-se completamente da adaga. Estava perplexo. Aquela joia... Seus olhos reluziam duros como pedra. Deus! Apesar de tudo- e a lista de seu erros parecia não ter fim- ela havia guardado a pedra?

Não havia melhor senso. Negociações mais agressivas sempre funcionavam. Mesmo porque Richard duvidava que a Armada tolerasse qualquer insubordinação de um antigo comandante. Ao inferno o salvo conduto. Aquele miserável mantinha sua mulher em algum lugar aprisionada. Pouco lhe importava o comando da Armada e ele percebia perplexo o tudo que havia mudado. Queria Cassie. E não tinha a menor pretensão de voltar à vida antiga. Levantou-se com agilidade inacreditável.

Noventa centímetros de aço se ergueram a frente de um surpreso taberneiro. A ponta afiada do metal ergueu com extremo cuidado a corrente ao fazer escorrer uma única gota e sangue na camisa de Garro.

O homem gritou com raiva. Richard nunca negociava. Em geral atacava e depois perguntava. O olhar dele fixo na joia fez Garro resmungar. Agh, as negociações não iam de fato bem.

-Se é o que deseja, pode ficar! - reclamou desnorteado.

Garro começava a duvidar do bom êxito daquela barganha. Normalmente Richard era mais contido. Sentiu um calafrio na espinha ao lembrar-se do estoque de pimenta e canela. Havia um apequena fortuna ali.

-Vá embora! - gritou com raiva.

As sobrancelhas de Richard se uniram em desagrado.

-Quero minha mulher! E talvez- sibilou ao estreitar os olhos após uma pausa significativa- Talvez eu esteja inclinado a poupar dessa vez o seu precioso galpão de especiaria. Ou quem sabe não incendiar a seda.

Garro arregalou os olhos engasgado.

-Não vai chegar perto de minha seda. Sabe quanto vale um punhado daquela pimenta/ E a canela, então! Estou avisando...

Richard fingiu que não ouvia.

-...mas já quanto aos tablados... - ele era irredutível. - Pensando bem...

O olhar de Garro congelou de medo. Ele... Ele não falava sério!

-Depois da amanhã, Ri... Richard. - Ele suava bastante tenso. - Tem minha palavra. Entrego o paradeiro da garota a você.

Richard suspirou ao balançar a cabeça. Pensando bem a ideia mais atraente era colocar Garro no tronco. Podia muito bem esquecer o detalhe que detestava castigos físicos. Arqueou a sobrancelha.

-Você tem até amanhã à noite. O primeiro local que mando explodir é o porto com seus preciosos e lucrativos clientes- vociferou sério.

Garro podia ser um covarde sem escrúpulos mais ainda assim era ganancioso. E Richard tinha homens disfarçados perambulando pelas ruas repletas de barracas coloridas. Os boatos corriam.

Falavam que os navios traziam emissários de sultões árabes. Garro não entregaria a mulher se acreditasse que poderia lucrar uma pequena fortuna. Levantar aquela quantia tinha custado mais tempo do que ele podia esperar para o navio zarpar. Concordou vagamente.

-Até amanhã à noite! - repetiu.

Em algum lugar daquela m*****a ilha tinha colocado sua mulher prisioneira à espera dos lances.

Alguns feiticeiros tinham o dom da visão. Kassuim era uma feiticeira. Resignado decidiu voltar ao navio e procurar pelos irmãos.

Sombriamente ele recordava de outro festival. Tanto havia acontecido desde então.

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