― Então porque não desiste desta condição vergonhosa e assume seu lado masculino?
― Você fala como se fosse algo fácil de fazer
― Pode não ser fácil, mas com certeza não é impossível, basta esforço. A homossexualidade é apenas uma declinação psicológica, uma falha moral que vem na bagagem ao nascermos e que, ao não ser praticada desaparece por completo de nossas vidas, é apenas um desejo contido na sexualidade do homem ou da mulher que deve ser combatida com veemência
― Você parece ter mesmo nascido para ser uma psicóloga, sabe convencer seus pacientes de que realmente podem mudar o rumo de suas vidas
― Não estou tentando apenas convencê-lo desta verdade, mas também lhe fazer entender que todos nós, seres humanos, temos poder de mudar aquilo que somos, independentemente do que venha a ser, há meios possíveis de trocar nossas fraquezas por grandes virtudes. Um criminoso, por exemplo, já nasceu com tendência a cometer crimes?
Claro que não, ele pode adquirir tal condição, através das influências externas, pelo convívio com más amizades que o conduzem às drogas e, posteriormente, para a marginalização?
― Pelo amor de Deus, Karla, que comparação mais cruel, não somos criminosos pelo simples fato de nascermos assim
― Concordo, mas o que somos hoje está diretamente ligado aos fatores externos pelos quais fomos influenciados. Você pode ter nascido com características afeminadas, mas isto não te faz ser um gay de forma obrigatória, somente será um deles se escolher esta opção de livre e espontânea vontade. Tomemos como exemplo o fato de você ter praticado sexo com outro homem, me diga seriamente se fez isto forçado de alguma maneira por alguém ou foi uma decisão própria, uma livre escolha?
― Eu desejei ser possuído por ele e aquela vontade foi maior do que eu, não deu para segurar!
― Mas você falou que na primeira vez sentiu nojo ― Pois é, acontece que com o Júlio foi diferente, eu quis me entregar
― Certo, e como explica o fato de ter terminado tudo com ele, assim de repente? Perdeu o prazer que te despertou para a prática deste ato?
― Pois aí é onde me perdi, já não sei ao certo se quero continuar me relacionando com pessoas do mesmo sexo, pois ando sentindo-me atraído pelo sexo oposto
― Ah, é? Quem???
― Você...
― Eu??? Jura? Mas sempre me rejeitou!
― Rejeitava só aparentemente, mas no fundo sempre quis ser mais do que um simples amigo para você
― Mas já somos como dois irmãos!
― Sei disso, mas refiro-me a ser mais que um irmão
― Está me convencer que está interessado por mim como mulher, depois de tantos foras que levei de você estes anos todos?
― Percebi o quanto é importante para mim, quando te vi naquela UTI à beira da morte, somente naquele momento entendi que não poderia te perder, então meus sentimentos ficaram confusos, olhava para Lúcio e me perguntava o porquê de estar invertendo a ordem natural das coisas e indo para a cama com outro homem e não com você, que me amava tanto
― Correção, meu lindo, eu ainda te amo!
― Jura? Então quero viver este amor a seu lado para experimentar qual o prazer de possuir uma mulher, quando já não serei eu a me entregar na cama, ela fará isso e eu assumirei o papel de homem, ficarei no comando, quero sentir isso!
― Pois saberá ainda hoje, dormiremos juntos
― No meu ou no seu apartamento?
― Em nenhum dos dois, esta ocasião única merece uma comemoração antes do prazer, vamos jantar no melhor restaurante que existe nesta cidade, em seguida quero dançar coladinha com você e, somente depois dessas preliminares, ser toda sua pelo resto da noite num lugar bem luxuoso e confortável
― Iremos a um dos meus restaurantes?
― Sim, não é o melhor que existe por aqui?
— Sem a menor dúvida
— Então não há mais o que discutir, iremos para conhecer a qualidade de sua cozinha
— Então, essa é a razão de tanto interesse em ir a um dos meus restaurantes?
— Para ser sincera, sim. Quero ver se é mesmo um chef tão bom como diz ser
Naquela noite, após um jantar romântico à luz de velas, num dos mais requintados restaurantes de Belém, dirigiram-se em seguida a uma pousada, onde passaram momentos agradáveis. Ali, André pôde experimentar o prazer de fazer sexo com uma mulher e se sentir homem pela primeira vez. Aquela nova experiência causou profundas transformações em sua vida, porque percebeu que, apesar de ser um efeminado, ainda assim existia dentro de si um ser masculino.
E este "eu interior" estava querendo ser percebido, gritando para sair e ser percebido pelo mundo exterior, como se fosse ele mesmo querendo se libertar daquela armadura do homossexualismo que lhe prendia numa forma estranha, na mistura de sexos que o tornava uma aberração para muitos.
E que por longo tempo o fez acreditar na ideia de ter nascido para assumir tal identidade e se entregar a outro homem, como se fosse uma mulher. Porém, coube ao destino mais uma vez conduzi-lo a um novo estágio de sua existência. Agora podia olhar-se no espelho e enxergar o verdadeiro André, que um dia foi motivo de alegria a seu pai.
Quando disse em alta voz que Deus o havia abençoado com dois filhos "machos", decepcionando-se logo em seguida ao perceber nele as marcas do homossexualismo. Sempre foi seu maior sonho conquistar o amor do pai e o respeito do irmão mais velho, mas parecia impossível diante do preconceito existente nos dois quanto ao fato dele ser gay.
Ali, ainda deitado na cama, ao lado de Karla depois de horas invadindo seu corpo com uma fúria sexual indescritível, sentindo um prazer jamais imaginado. Ele sabia que dali em diante venceria suas fraquezas e seria num breve espaço de tempo o filho "macho" que Alberto Borges, seu pai, tanto quis ter. Iria se esforçar para se libertar totalmente das amarras do homossexualismo, mudaria sua postura vergonhosa e retornaria a sua casa, depois de tantos anos afastado por causa do repúdio que causava na família.
Na igreja e em todos que o conheciam. Para mostrar que assim como debaixo de uma pele negra há uma pele branca, como provou ao mundo seu ídolo Michael Jackson. Assim também há um homem dentro do corpo de cada gay, que se obter ajuda, como ele acabava de ter ao lado de Karla, poderá reverter assumir seu verdadeiro papel diante da sociedade.
Ele sabia que não estava vivendo plenamente o que sentia existir dentro de seu ser, percebia ser alguém preso numa forma, sendo outra. Decidiu assumir seu lado feminino pelo fato de todos afirmarem não ser ele um homem de verdade, e esta pressão psicológica que recebeu desde adolescente fez com que acreditasse naquilo que diziam a seu respeito. "Sim, eu sou gay mesmo, nasci para desejar o sexo oposto!" — pensava ele
Naquela noite, ao ter seu lado masculino despertado por Karla, percebeu que nada superaria o prazer de ter um gozo no corpo de uma mulher, principalmente quando é linda, carinhosa e amada. Na manhã seguinte retornou para seus afazeres nos restaurantes, e no final dia foi visitar seus tios, bastante idosos.
Para surpresa encontrou ali sua mãe que visitava a irmã. Fazia bastante tempo que não se viam, pois ela e seu pai tinham ido morar no estado do Mato grosso, a serviço da convenção da igreja evangélica que presidia. Teve notícias de seu irmão, Rogério, que seguiu os passos de Alberto e se tornou pastor, era vice-presidente da convenção estadual de uma importante denominação cristã.
Desde que saiu de casa, devido o preconceito pelo que foi vitimado desde a adolescência, nunca mais voltou na casa da família e nem voltou a revê-los, mantinha contato apenas com Sueli que jamais o criticou nem deixou de exercer seu papel de mãe e amiga. No entanto, passaram vários meses sem se ver por ela ter ido morar noutra região.
Soube do casamento de Rogério dois anos atrás, mas sequer foi convidado. Deixou claro sua insatisfação, porém não guardava nenhum rancor. Entendia que por ser um homossexual não poderia servir de escândalo num momento tão especial como aquele. Sueli contou-lhe todas as novidades enquanto conversavam na ampla sala de estar. Horas depois se despediram e André retorna a seu apartamento localizado no centro da cidade e logo que chega liga de imediato para Karla, demonstrando imensa saudade e mais uma vez os dois saíram para curtir a noite.
Se divertindo nas baladas, aproveitando cada minuto da nova experiência que decidiram viver juntos, mas nem tudo na vida do casal seria perfeito. Durante a madrugada, quando o efeito da bebida lhes embriagada sob o suor da dança no embalo de musicais do passado, surge no cenário ninguém mais que o ciumento Lúcio, criando problemas e estragando a noite dos dois. Ao ver André dançando com Karla, demonstrando paixão, ardia em seu peito um ciúme incontrolável. Aquele sentimento estranho o fez partir para a violência no intuito enlouquecido de separá-los a qualquer preço.
Já mais maduro e capaz de defender-se de seus agressores e ao ser agredido pelo adversário revidou à altura, lhe socando violentamente o estômago. Seu adversário caiu no piso da boate e ficou contorcendo-se de dor, enquanto o casal retirava-se do cenário. Todos os presentes testemunharam que André agiu em legítima defesa e nada lhe foi cobrado pelos seguranças quanto a briga, mas seu oponente foi de imediato expulso do local. Estando os três fora do recinto recomeçou a discussão, Lúcio ainda ardia em ciúmes:
― Então você me trocou por ela? Desde quando vinham mantendo este caso amoroso às escondidas?
― Deixe de agir como um idiota, ninguém aqui vivia te enganando, somente depois de separados eu percebi o quanto Karla era importante para mim como mulher
― Mas que irônico, agora você virou homem e decidiu amar uma mulher?
― Sempre fui um homem, simplesmente estava confuso quanto a minha sexualidade
― Cara, deixa de ser cínico, nós dois dormimos juntos inúmeras vezes e você agora vem dá uma de macho?
― Quer saber, acho melhor você ir embora daqui antes que eu perca a paciência e te dê outra surra!
― Pois então vai ter que me encarar como o macho que resolveu ser!
— Então que seja!
O agressor novamente lançou-se contra André que não hesitou em revidar a afronta, a luta corporal dos dois homens estendeu-se da parte externa do estabelecimento onde antes se encontravam e acabou na via pública, onde dezenas de curiosos acompanharam o duelo. Passou de um jovem magro e raquítico de antes, para um verdadeiro atleta.
Agora aos vinte e cinco anos e após bastante tempo malhando em academias, resultou num homem forte, com um perfil atlético que lhe garantiu total vitória na disputa contra seu adversário. A situação ficou pior quando Lúcio decidiu agir violentamente contra Karla que tentava apartar os dois, a ira de André foi tamanha que lançou o oponente ao chão e quebrava-lhe a face, quando foi detido por policiais que prenderam os dois brigões e os conduziram a delegacia mais próxima.
Após aquele episódio Karla levou André para ser medicado de alguns hematomas e retornaram para sua casa, onde puderam novamente passar juntos várias horas de intensa paixão. Nos meses que seguiram o casal mantinha uma relação amorosa satisfatória, ela dedicava a maior parte de seu tempo livre esforçava-se para corresponder a altura.
Se sentia cada vez mais liberto da inclinação aos desejos homossexuais. Aqueles que o conheciam estavam admirados com a mudança, recebia muitos elogios e incentivos dos preconceituosos para que continuasse com a decisão de deixar a promiscuidade e se mantivesse firme sua masculinidade.
Certo dia decidiu visitar a família e levou junto a namorada. Era uma atitude precipitada, visto que seu pai e o irmão, ambos agora pastores evangélicos, o desprezavam por ser gay.
Mesmo assim acreditava que com sua mudança e postando-se agora dignamente, seria melhor aceito. O voo até Mato Grosso foi cansativo, porém valeria a pena se seus planos dessem certo. A primeira decepção foi ver que somente Sueli estava à sua espera no aeroporto. Alberto e Rogério optaram em m****r indiretamente o recado.
Através da ausência, advertindo-lhe que não era aceito ali. A recepção ao chegar em casa também não seria das melhores, o pai ainda o odiava:
― O que este imoral está fazendo em minha casa?
― Calma, Alberto, respeite seu filho!
― Quantas vezes terei de dizer que este maldito não é meu filho? Retire este ser abominável daqui, Sueli, ou não serei responsabilizado pelo que possa vir acontecer!
Testemunhando a atitude preconceituosa daquele homem, Karla decidiu intervir a favor de André:
― O senhor deveria se envergonhar desta postura preconceituosa contra seu filho, André hoje possui um caráter incontestável e não merece qualquer discriminação, principalmente vinda de alguém que se diz representante de Deus e deveria dar exemplo de amor e compreensão!
― E você, quem é para vir a minha casa me afrontar em defesa desta abominação, advogada dele?
― Não, senhor, sou a namorada de seu filho, e não o estou aprontando, apenas lhe falando certas verdades
― Namorada? Sei, então devemos acreditar que este imoral finalmente decidiu ser homem?
― Alberto Borges, isso é jeito de falar a respeito de nosso filho?
― O único filho macho que tenho está morando aqui ao lado, casado com uma grande mulher e que já me deu uma neta maravilhosa, este sim é meu filho de verdade, mas esta assombração não faz parte de minha família!
Até aquele exato momento André apenas ouvia calado as ofensas do pai, mas daquele momento diante dedicou tomar a palavra em defesa própria:
― Não irei chamá-lo de pai, porque você não merece este título. Irei me dirigir a você, Alberto, como o estranho que sempre fui. Talvez eu não seja mesmo o filho que você esperava ter, um homem com as mesmas atitudes preconceituosas, as mesmas ignorâncias e aptidões para humilhar, desprezar e escarnecer aqueles que vivem sob seu jugo miserável de pastor, representante de um Deus orgulhoso, impiedoso e egocêntrico, bem diferente daquele que a Bíblia nos mostra...
― Cale-se, como ousa criticar meu caráter dentro de minha própria casa, seu insolente!?
― Calma, Alberto, deixe-o falar, tenha postura homem!
― Não perca tempo, minha mãe, este homem com quem a senhora decidiu se casar um dia pode ter tudo, menos humildade para saber ouvir certas verdades
― Muito bem, na Bíblia um profeta deu ouvidos a uma jumenta, então também posso ouvi-lo! ― André reage e lhe dá uma resposta à altura da afronta recebida — Pouco importa se me considera uma pessoa oi um animal, o que de fato importa é que ouça o que tenho a te dizer: Eu não nasci afeminado e com inclinação a gostar de pessoas do mesmo sexo por opção, não escolhi ser assim, e nem pedi para nascer na família que você formou, tão pouco desejei ser teu filho.
Coube a este Deus que te vejo servindo-o desde criança, que assim acontecesse. Se de alguma forma isso te deixa decepcionado, recomendo que faça as devidas reclamações a ele, que por algum motivo decidiu colocar dentro de sua casa um ser desprezível que rejeitas e consideras abominável. No entanto, esta abominação veio aqui hoje para dizer que não guarda rancor por causa deste desprezo com a qual sempre foi tratada desde que passou a entender a vida.
Pelo contrário, é grata pela forma desprezível como sempre foi vista, afinal, isso lhe foi benéfico. Visto que lhe fez com que alcançasse todas as conquistas das quais hoje desfruta, entre elas a possibilidade de abandonar antigas tendências e ser o homem que todos duvidavam ser impossível me tornar.
E esta mulher aqui de meu lado, a quem sequer teve a educação de cumprimentar, pois grande é a tua insensatez. É a pessoa que Deus tem usado para me ajudar nesta mudança, não este Deus preconceituoso que se diz servir. Mas outro que conheci fora da tua casa, onde me fez acreditar ser odiado por tudo o quanto fosse sagrado. Não se preocupe, vim aqui só para dizer que a abominação que tanto despreza está bem e aos poucos deixando de ser sua maior vergonha
― Está certo, já disse tudo o quanto tinha o direito de falar dentro do limite de minha paciência, agora faça-me o favor de sair da minha casa, e leve junto esta lésbica imunda que você chama de namorada!
― Olhe aqui, seu Alberto, por favor me respeite!
― Estou na minha casa e aqui eu decido a quem devo respeitar, agora saiam imediatamente da minha casa ou terei que agir com mais rigor!
― Alberto, suas atitudes me envergonham!
― Cale-se, Sueli, não me obrigue a colocá-la para fora também, junto com estes imorais!
― Pois saiba que farei isto com muito gosto, já estou farta de seus preconceitos contra nosso filho, chegou a hora de tomar uma posição quanto a isto
― O que está querendo dizer com isso, mulher?
― Que me cansei de tentar fazer você entender
— Entender o quê?
— Que André não tem culpa de ter nascido assim e que ele é nosso filho,
independentemente da sua opção sexual. Se você, mesmo conhecedor do amor e das misericórdias de Deus insiste em desprezá-lo, tratando-o desta maneira. Então me negarei a permanecer de seu lado. Partirei agora mesmo dessa casa, esse momento em diante estarei do lado de meu filho!
― Está louca, Sueli, deseja destruir meu ministério?
Sabe que se nos separarmos estarei impedido de continuar exercendo o meu cargo de pastor diante da minha igreja!
― Então mude seu comportamento com André, se não o aceita como filho, pelo menos aprenda a respeitá-lo como ser humano, porque ele não nenhum monstro!
Alberto se viu pressionado pela esposa que decidiu romper o silêncio diante dos seus atos injustos para com o filho e retirou-se ofegante para seus aposentos enfurecido, porém derrotado pelas ameaças de uma mãe decidida a defender sua cria a qualquer preço.
Depois que Alberto desvaneceu de suas forças e deixou de agredi-los verbalmente, André e Karla foram conduzidos ao interior da imensa casa. O lugar era bastante confortável e com vários cômodos, onde receberam um amplo quarto para seu merecido descanso. Na manhã seguinte acordaram cedo com a chegada de Rogério enfurecido.
Irritado ao saber da chegada do irmão caçula na casa dos pais. Também do desentendimento entre ele e Alberto. Com o passar dos anos e da idade sua brutalidade era a mesma, além do visível preconceito:
― Onde está aquele afeminado e companheira lésbica dele?
― Bom dia, meu filho, perdeu a educação que te dei?
― Não começa, dona Sueli, eu vim aqui para ter uma conversa séria com aquele imoral, onde ele está?
― Pelo visto teu pai deve ter te envenenado contra André
― E a senhora como sempre, defendendo esse desclassificado!
― Rogério Borges, você me respeite!
A fúria daquele homem contra seu irmão era tamanha que não se conteve e adentrou a casa na direção dos dormitórios.
Onde ele acreditava poder encontrá-lo, como se fato ocorreu. Ainda no corredor da casa ambos se encontraram e deu início a troca de ofensas:
― Que diabos veio fazer aqui, sua bicha, envergonhar novamente papai diante da igreja como fez antes?
― Deixe de ser tão grosso, meu irmão, faz tanto tempo que não nos vemos e é assim que me recebe?
― Pare de frescura, André, sabe muito bem que sua presença aqui só irá causar desconforto a papai diante de seus fiéis.
E para mim também, pois diferente de você eu segui os passos dele e hoje sou um pastor e cuido de um rebanho de Deus. Como acha que nossos congelados irão agir conosco ao saberem que temos um gay na família, sendo nós representantes da igreja de Cristo e de seu evangelho?
― Representantes de uma igreja preconceituosa sem qualquer semelhança com Deus!
Pregam o amor e a misericórdia, mas o que praticam é a indiferença e o desprezo para com aqueles que consideram imperfeitos e indignos de sua atenção e respeito. Mas fique tranquilo, meu irmão, estou me esforçando para ficar liberto do homossexualismo que nasci preso, e esta jovem aqui, que você e Alberto insistem em chamar de lésbica, é a grande responsável por esta transformação em minha vida, pois é através dela que estou vivendo e agindo como o homem que vocês desejam que eu fosse
― Mas o que é isto, André, agora vai querer nos convencer de que foi capaz de vencer tuas frescuras e se tornará num homem de verdade? Tenha santa paciência, rapaz, desde quando uma bicha safada como você e outros de tua laia possuem a capacidade de reverter essa condição vergonhosa em que vivem?
Ouvindo as ofensas proferidas contra André, Karla apresenta-se diante dos dois e é agredida verbalmente por Rogério, que é golpeado fortemente no rosto pelo irmão que sai em defesa da amiga e namorada, a luta entre os dois é iniciada no corredor onde se encontravam e alcança a sala.
Fazendo uma tremenda bagunça na casa e isso acaba chamando a atenção de Sueli que estava na cozinha. Ela, então, apressou-se em separar os dois filhos que se agrediram fisicamente. E quando ela e Karla buscavam evitar mais danos, ocorre o pior. No meio daquela violência desnecessária, foi vítima de um forte soco que Rogério desferiu contra o irmão mais novo, e desmaiou. Ainda mais irado, ao ver tal cena,
André passou a espancar sem piedade o oponente. Golpeando-o sequencialmente em várias partes do corpo, deixando-o nocauteado. Devido um disciplinado treinamento nas variadas modalidades de lutas para defesa pessoal nas academias, o rapaz que antigamente era magro e frágil, tornou-se um hábil lutador, com porte físico invejável.
Isto facilitou sua vitória na luta contra o adversário, que veio a nocaute. Sueli foi socorrida pelo filho e a nora, levada às presas para um hospital, onde foi devidamente medicada e restaurada da agressão. Em contrapartida, Rogério ficou desacordado por alguns minutos e em seguida desperto por Ana, sua esposa.
Ela que havia sido avisada da confusão pela sogra e chegou ainda em tempo de vê-la sendo socorrida e ficou na casa para ajudar o marido. Alberto também se dirigiu ao hospital e ficou ao lado da esposa, solicitou, no entanto, que o filho fosse embora. Lançando sobre ele a culpa de tudo. Seu retorno a residência da mãe foi apenas o tempo necessário para pegar seus pertences e seguir em direção ao aeroporto.
Mas teve que aguardar longas cinco horas para adquirirem passagens de volta a Belém. A tristeza tomou conta do coração do jovem empresário. Ele que mesmo se tornando próspero na vida profissional e pessoal, não conseguia conquistar o amor e a admiração de seus familiares. Eles o consideravam uma aberração. Ao lembrar da luta travada com o irmão e de como o golpeou com grande fúria. Machucando-o pela força do ódio que sentiu, amargou um intenso remorso que o fez chorar arrependido.
Apesar das incontáveis injúrias sofridas por ele e pelo pai, ainda os amava. Karla permaneceu ali, sempre a seu lado, curando-lhe os ferimentos físicos e, também, apoiando-o moralmente, ela teve a brilhante ideia de convidar seus tios para virem confortá-lo. O que prontamente concordaram em fazer, e lhe falaram palavras de profundo incentivo, o que ele muito agradeceu e reconheceu ser de grande valia, naquele momento de intensa desmotivação:
― Obrigado, meus tios, vocês como sempre presentes, quando mais preciso
― Pare com isso, meu rapaz, como poderíamos nos recusar a vir a seu encontro a esta hora?
― Karla não devia tê-los incomodado com meus problemas
― Seus problemas, também, são nossos, André, somos uma família!
― Obrigado, tia Luci!
― Quando aquela cobra venenosa de seu pai decidiu lhe expulsar de casa por causa do preconceito.
Quem te recebeu de braços abertos e durante muito tempo te deu amor e carinho, não fomos eu e sua tia? Você foi a melhor coisa que Deus nos deu, éramos um casal sem filhos, vazios e sem esperanças. Aí surge você de repente, ganhamos um presente dos céus. Um herdeiro para quem poderíamos deixar nossos bens que adquirimos com tanto trabalho e sacrifícios. Você mudou nossas vidas, filho!
― Que nada, tio, eu é que devo agradecer a Deus por ter sido aceito por vocês, do contrário nem sei como estaria vivendo agora
― Ah, sempre tão humilde nosso garoto!
― Eu amo vocês, demais
Passaram-se meses após aqueles acontecimentos e numa certa manhã de primavera chega a um de seus restaurantes, onde prestava rotineira inspeção na gerência do local, recebeu uma visita inesperada de Henrique, um velho amigo de infância. Depois de uma longa conversa em que relembraram antigas aventuras juntos, matando a saudade de tantos anos separados, ficou combinado um novo encontro no apartamento de André.
Na noite do dia seguinte, o que de fato aconteceu, e o papo entre os dois amigos se estendeu por toda a madrugada, saboreando um bom whisky escocês. No alto nível de embriaguez em que se encontravam, Henrique ousou fazer uma pergunta indiscreta:
― Mas, me fala seriamente: Você tinha aquele jeito afeminado na época em que nos conhecemos por acaso ou era para valer mesmo?
― Está querendo saber se eu era gay ou se ainda sou?
― Exatamente!
― Sim, eu era e ainda sou, porém com uma diferença, hoje eu luto com todas as minhas forças para inibir essa inclinação maligna do meu corpo
― E está tendo êxito?
― Bastante, até estou namorando sério uma garota maravilhosa, uma velha amiga da adolescência, como você
― Mas, certamente, ainda deve ter desejos reprimidos aí dentro?
― Te confesso que sim, as vezes fica difícil lutar contra essa vontade louca de me entregar aos desejos que ardem em meu corpo, mas Deus e Karla me ajudam superar
― Suponho que Karla é a namorada de quem me falou agora a pouco?
― Isso mesmo. Sabia que naquela época em que brincávamos juntos na sua casa, eu era louco por você?
― Está me dizendo que se apaixonou por mim?
― Sim
― E porque nunca me disse nada?
― Você enlouqueceu? Não correria o risco de perder sua amizade!
― Não perderia!
― Como assim? Lembro-me de ter apenas tocado num assunto a respeito de casos homossexuais e você foi logo expondo suas ideias contrárias
― Sim, meu amigo, é verdade, mas no fundo eu apenas guardava por detrás daquela falsa aparência de marxismo, um adolescente frágil e sensível com você
― Está querendo dizer que também é um gay?
― Sempre, desde que me entendo como gente
― Mas, o que te levou a esconder isso de mim e de seus pais, se já deixava transparecer quem eu era e eles eram pessoas modernos e liberais?
― A vergonha de decepcioná-los, não queria ser motivo de humilhação p ara nenhum dos dois
― Eu a conheci muito bem e sei que jamais teriam vergonha de você
― André, eu via a luta que você enfrentava em casa com teu pai e o Rogério, na escola e nas ruas por onde andava, uma vez até briguei com uns caras para te defender, lembra?
― Claro que sim, e foi por essa perseguição toda que fui morar com meus tios e hoje me tornei um vencedor. Também é por todo esse preconceito do qual decidi me libertar do homossexualismo e ser um homem normal, como deveria ter sido desde o princípio
― Pois aí está a explicação sobre o porquê de eu ter me mantido no armário todos estes anos
― Espere lá, quer me convencer de que nunca fez sexo com um cara antes?
― Sim, nem com homens ou com mulheres!
― Está brincando, não é? Com esta idade e ainda é virgem???
― Dos dois lados!
― Nossa!
― Pensei que poderia mudar essa minha triste situação aqui, com você
― Como assim, comigo?
― Você sempre foi meu melhor amigo, é gay como eu, sem dúvida não me criticaria e saberia me iniciar sexualmente, eu não teria tanta vergonha de me entregar
― Está pedindo para que eu faça sexo com você?
― Sim, eu preciso me realizar!
― Mas justo comigo que estou tentando me libertar?
― Você negará que ainda sente desejos por mim?
― Claro que sinto, não sabe o quanto gostaria de me entregar todo para você, agora, mas preciso ser forte e resistir. Se eu ceder a essa vontade louca que arde dentro de mim estarei perdido!
― Pare de lutar contra si mesmo, você e eu somos gays, nós nos desejamos, vamos viver esse momento.
E deixemos que o destino se encarregue do resto!
André levanta, afastando-se alguns metros de Henrique, e toma uma decisão que no fundo não era o que gostaria de ter feito:
― Desculpe, amigo, mas preciso pedir que vá embora
― Que é isso, André, está me expulsando de sua casa?
― Não, estou expulsando você da minha vida para evitar minha queda. Se permanecermos juntos por mais algumas horas vai acontecer o pior
― E o pior para você seria o quê, viver intensamente a paixão que sentimos um pelo outro?
― Seria eu ter uma grave recaída e nunca mais ser capaz de me levantar ou de olhar num espelho por ter vergonha do meu fracasso!
― Você está sendo egoísta, André!
― Talvez, mas é a única maneira de me libertar desse desejo imundo!
― O homossexualismo não é algo imundo, o amor que sentimos por pessoas do mesmo sexo é tão puro quanto o que um casal heterossexual sente um pelo outro
― Deixe de loucura, não é algo natural duas pessoas do mesmo sexo se darem ao sexo ou viverem uma paixão, isso não vem de Deus que criou homem e mulher para formarem uma família!
― Pois vou lhe dizer o que é de fato uma família:
É um grupo de pessoas que se respeitam e se amam. Se dois gays, como eu e você, decidissem adotar uma criança e descem a ela amor de verdade, carinho e atenção, além do que precisasse para crescer socialmente, tornando-se um cidadão de bem, não poderíamos afirmar que seríamos uma família?
― Que loucura, Henrique, lógico que não! Onde já se viu? Uma família é formada por pai, mãe e filhos. Um casal gay não formam uma família nem aqui nem na china, isso é um absurdo! Sem, também, falar nos constrangimentos que esta criança terá em todos os lugares por onde passar, diante daqueles que irão ridicularizá-lo por ser criado por dois homossexuais. Imagine o vexame nas reuniões de pais na escola, quando chegarem diante dos professores dois gays ou duas lésbicas ao invés de um homem com sua esposa?
― Mas isto só fará diferença para os preconceituosos
― Este é o problema, poucos neste país não são preconceituosos. Queira me desculpar, mas assim que amanhecer quero que se vá, meu amigo, infelizmente' nos reencontramos num período de mudanças em minha vida
― Tudo bem, eu farei isto, mas estarei sempre aguardando você mudar de ideia.
Na manhã seguinte Henrique partiu e André sentiu-se aliviado da possibilidade de uma recaída, foi forte e resistiu o que noutras ocasiões lhe seria algo impossível de recusar. Depois do trabalho foi visitar a namorada que o aguardava em casa.
― Bom que você veio, já estava morrendo de saudades. ―Também andei pensando muito em você, para mim isso é ainda muito estranho ― Porquê? ― Logo eu, um gay, parecendo está apaixonado pela melhor amiga? ― Você não é mais um gay, meu bem, é um homem normal como qualquer outro ― Agradeço o incentivo. Mas deixa eu te contar as novidades: Advinha quem apareceu de repente no restaurante hoje cedo? ― Nem faço ideia, me fala ― O Henrique! ― De quem você está falando? ― Daquele meu primeiro amigo, quando ainda morava na casa de meus pais ― Desculpe, não recordo se ter lhe ouvido falar algo a respeito ― Eu lhe falei dele algumas vezes. O que devo lhe contar é que ele surgiu do nada, conversamos e depois fomos para meu apartamento, onde ficamos relembrando os velhos tempos ― Que bom, amor, as vezes é bom relembrar o passado ― Mas acontec
Era uma belíssima tarde de verão, o sol se deitava sobre o rio e o olhar da moça descansava sobre o sereno movimento das águas, quando um desconhecido se aproxima da pequena orla às margens do Guajará e ao longe ela o observa, um homem elegante, pensativo e com um ar de tristeza que o deixava distante dali, mesmo estando presente a poucos metros de onde ela estava. Tudo indicava que aquele encontro não era nada casual, o destino traçava mais um de seus vários planos para levar a personagem da história que ele mesmo criou a viver mais uma grande aventura. O homem elegante e de semblante triste, que se manteve recostado no parapeito feito à base de massa e tijolos, cujos traços de expressões espalhados pelo olhar cansado e sem esperança chamava-se Vítor, e vinha de um passado feito de grandes decepções no amor. Ela observava em silêncio, admirando-o em segredo. Depois de algum tempo, percebendo que ele parecia distante em seus próprios pensamentos,
Naquela manhã, quando Karla chegou ao seu consultório, foi-lhe anunciado que uma visita lhe aguardava desde bem cedo. Tratava-se de Vitor que estaria ali para esclarecer algumas questões de ordem pessoal, visto que depois do último desentendimento em razão de suas constantes ausências ficaram incomunicáveis e, apesar dos muitos telefonemas, não foi por ela atendido. A presença inesperada do namorado pareceu incomodá-la: ― Eu poderia saber qual a razão desta visita ao meu local de trabalho, assim tão cedo? ― Bom dia, minha querida! A resposta é bem simples: Se a montanha não vai até Maomé, ele irá até ela ― Pois então que sejas breve em seu discurso, Vitor, pois tenho muito o que fazer por aqui! ― Pelo que me consta você confiou a mim a responsabilidade de dar prosseguimento a administração deste instituto porque queria se dedicar mais ao atendimento direto ao público nas comunidades mais carentes, fazendo um trabalho social que admito considerar impor
Na noite daquele mesmo dia Roberta ousou visitar Karla para tentar se redimir de suas atitudes que a levaram a envolver-se sexualmente com ela, reconhecendo que fez proveito de seu momento de carência afetiva, usando suas experiências de conquista para influenciá-la neste sentido. Porém, o resultado não foi o esperado e ao bater à porta do apartamento da amiga foi surpreendida com seu brusco rompante: ― Como ainda ousa vir aqui depois do que me fez? Por favor, retire-se e não me procure mais! ― Calma, amiga, vamos conversar! ― Você se aproveitou de meu momento de fraqueza para usar nossa amizade afim de despertar em mim desejos imundos que eu abomino, e por fraqueza me deixei dominar, mas não quero mais voltar a praticar tal coisa em minha vida, por isso fique bem longe de mim e leve com você essa maldição! Ao proferir estas palavras fechou a porta com grande ímpeto e a visita saiu dali envergonhada, seu olhar contemplava o piso em porcelanato e
Era um sábado, o calor da tarde naquela época do ano era intenso, principalmente numa região de clima árido, André e Karla retornavam à casa de Sueli e Alberto, era o filho pródigo buscando mais uma vez a paz com seus familiares. Foi sua mãe quem os avistou primeiro, correndo e os abraçando com muita ternura. Ao se aproximarem do pátio puderam avistar um homem idoso sentado numa cadeira de balanço, cuja estrutura era de ferro, mas revestida de material artesanal. Bastante confortável, ele movimentava-se nela lentamente, num balançar tranquilo, admirando as diversas plantas no quintal. Sueli avisou-lhes que se tratava de Alberto que a vários meses permanecia naquela situação depois de ser acometido de Alzheimer, parte de seu corpo paralisou e sequer conseguia falar. André se aproximou cauteloso, o homem tinha o olhar congelado, firmado nas arvores que dançavam com o suave soprar do vento, ele se ajoelha na frente do pai que parecia distante dali, e lhe fala carinhosam
André era o caçula de uma família radicalmente religiosa, composta por quatro pessoas: Sua mãe, uma assistente social de amplo reconhecimento pelos serviços públicos prestados em favor dos menores infratores, por quem não media esforços para libertá-los das drogas e do mundo do crime, onde viviam às margens da sociedade. Seu pai, um pastor evangélico ortodoxo, extremamente rígido quanto a moralidade e os costumes litúrgicos de sua igreja, e Rogério, seu irmão mais velho que o desprezava por causa de sua homossexualidade. Os dois filhos do casal foram desde cedo educados de acordo com a doutrina cristã pentecostal imposta pelo líder religioso. Preparando-os para no futuro darem continuidade a seu ministério pastoral. Porém, ele jamais foi totalmente aceito e amado pelo pai, devido seu jeito afeminado que lhe tornava diferente do outro irmão. Os desentendimentos eram constantes entre o casal por conta disso e o clima familiar era quase sempre insuportável:<
Na análise da futura psicóloga o homossexualismo é uma condição reversível do caráter humano, um estágio opcional da sua sexualidade que poderá ser mudada, no momento em que o homem ou a mulher decidem dizer "não" a este desejo contrário à sua própria natureza, e procura convencê-lo disso: ― Você, como outras pessoas, pode até ter nascido com tendência homossexual, mas isto não quer dizer que são obrigados a viverem em tais condições, é uma escolha, uma opção ― Mas como dizer não a um desejo que queima dentro de nós? Como ter forças para ir de encontro a essa vontade louca que sentimos de nos envolver a outras pessoas semelhantes a nós, ao invés do sexo oposto? Você não faz ideia do quanto é difícil lutarmos contra nós mesmos, é uma batalha na qual quase sempre perdemos ― André, já somos amigos a algum tempo, você hoje tem dezesseis anos e manteve-se esse tempo todo sem qualquer envolvimento sexual, seja como homossexual ou não, ainda está puro, virgem.