André era o caçula de uma família radicalmente religiosa, composta por quatro pessoas: Sua mãe, uma assistente social de amplo reconhecimento pelos serviços públicos prestados em favor dos menores infratores, por quem não media esforços para libertá-los das drogas e do mundo do crime, onde viviam às margens da sociedade.
Seu pai, um pastor evangélico ortodoxo, extremamente rígido quanto a moralidade e os costumes litúrgicos de sua igreja, e Rogério, seu irmão mais velho que o desprezava por causa de sua homossexualidade. Os dois filhos do casal foram desde cedo educados de acordo com a doutrina cristã pentecostal imposta pelo líder religioso.
Preparando-os para no futuro darem continuidade a seu ministério pastoral. Porém, ele jamais foi totalmente aceito e amado pelo pai, devido seu jeito afeminado que lhe tornava diferente do outro irmão. Os desentendimentos eram constantes entre o casal por conta disso e o clima familiar era quase sempre insuportável:
― Você precisa deixar esse preconceito de lado e aceitar nosso filho da maneira como ele é, pois não tem culpa alguma de ter nascido assim!
― Não se trata de preconceitos, apenas defendo aquilo que é certo, como poderei ensinar na minha igreja que Deus condena o homossexualismo se existir um dentro da minha casa?
― Deus não despreza ninguém, ele pode até não concordar com aquilo que praticamos, mas não nos desprezará por nossas fraquezas, antes fará de tudo para ajudar-nos a superá-las
― Você e seus conceitos humanitários, sempre achando que o ser humano é uma vítima da situação em que vive. Entenda de uma vez por todas que Deus não pensa como o homem, ele possui sua própria maneira de agir e seus conceitos não se baseiam nos nossos pontos de vistas, mas na sua própria justiça. Esquece que por causa da imoralidade das antigas civilizações ele destruiu cidades inteiras?
― É isso que vivo procurando entender a vários anos e não cheguei a nenhuma conclusão óbvia: Que Deus é esse que condena e destrói pessoas por causa de situações nas quais ele mesmo as colocou? Afinal, ninguém se torna um homossexual por opção, já se nasce assim!
― Agora você vai lançar sobre Deus a culpa de seu filho ser gay? ― Paulo Borges, você não chame nosso filho de gay!
― Esta coisa ridícula não é meu filho! — A porta do quarto onde o casal se encontrava naquele momento não foi devidamente fechada.
O adolescente de treze anos pôde ver e ouvir o desentendimento dos pais, que falavam alterados a seu respeito:
― Como você ainda tem coragem de subir num púlpito e ensinar a respeito do amor de Deus a seus fiéis, agindo desta maneira dentro de casa? Deste jeito as coisas entre nós não darão mais certo, ou procura parar com esse preconceito e aprende a aceitá-lo da forma como ele é, ou peço o divórcio!
― Você ficou louca, mulher, tem ideia do desastre que irá causar ao meu ministério com essa atitude?
― Sei sim, no mínimo perderá o direito de exercer a função de pastor, e ao meu ver é isso que você merece por agir assim com tanto preconceito. O Deus que você serve não reflete o Jesus Cristo amoroso que conheci na bíblia, ele age como um bom samaritano, cuidando das pessoas ao invés de condená-las por causa de suas fraquezas. Este que nos mostra com suas atitudes é impiedoso e preconceituoso!
― O Deus que conheço é amor, mas também justiça! Ele não criou o homem para viver escravizado pelo pecado, tão pouco para a prática da imoralidade!
A homossexualidade é uma dominação maligna e deve ser contestada pela igreja, os verdadeiros filhos do Senhor devem desprezar estas coisas!
― Mas foi o mesmo Deus que nos fez quem deu a vida a estas pessoas que hoje você despreza!
― Não fale tamanha blasfêmia, Sueli, essas aberrações não vieram de Deus!
Ele se afasta irritado, abandonando a discussão, percebendo ser impossível convencê-la do contrário. Depois que Paulo passa pelo estreito corredor em direção a uma das três salas da casa, André sai do esconderijo e mostra-se a mãe. Ela que percebe ter o filho visto e ouvido a conversa que teve com seu pai e, abraçando-o tenta confortá-lo:
― Tenha calma, meu menino, um dia tudo vai se ajeitar, seu pai ainda vai acabar compreendendo o tamanho do erro que está cometendo e deixará todo esse preconceito de lado
Como sempre, ao ouvir os conselhos da mãe permanecia em silêncio, pois sabia que ela estava ciente da impossibilidade daquela situação acabar bem entre os dois, jamais seria aceito como filho por seu pai, sua condição naquela família seria sempre de repúdio e desprezo por causa de seu jeito estranho, delicado demais. Estas características sempre existiram, mas tornaram-se cada vez mais perceptíveis em seu comportamento após a chegada da adolescência, o que lhe deixou exposto as zombarias.
Tanto dos amigos de escola como das outras crianças de sua idade que residiam no mesmo bairro. E, com o passar do tempo, até os adultos passaram a lhe fazer duras críticas e taxá-lo de gay ou outras palavras de baixo escalão. Rogério, o irmão mais velho, sentia vergonha do seu jeito efeminado e, contando com o apoio do pai, lhe menosprezava. Os garotos da escola tinham prazer em lhe tratar com desrespeito e seu irmão via tudo com bons olhos, pois o odiava.
Todos os dias, sempre ia deixar o colégio, assegurava-se de tê-lo por perto como garantia de que estaria seguro da implicância dos outros alunos, mas não adiantava porque ele sequer lhe dava atenção. Como morava nas proximidades não era necessário ir de carro com a mãe, apesar de toda a rejeição vinda de todas as partes por onde passava. Porque ainda encontrava forças para acreditar num futuro melhor.
Onde seria possível conquistar o respeito das pessoas, quando isso acontecesse finalmente poderia ser aceito por elas sem ter que usar máscaras ou fingir ser o que na verdade nunca foi interiormente. Mas, antes de alcançar tamanha vitória teria muitos obstáculos a superar na sua caminhada.
Certo dia, após a aula de educação física que durou além do tempo normal, andava pela rua deserta, com bastante árvores frutíferas plantadas no canteiro central, entre as duas vias, debaixo do sol escaldante daquela manhã, quando foi abordado por cinco rapazes que passaram a ridicularizá-lo por causa de seu jeito diferente. Por mais que evitasse aa afrontas, mantendo-se em silêncio o tempo todo, eles insistiam em humilhá-lo ainda mais.
Cansado de ouvir as palavras torpes que lhe eram desferidas pelos agressores, André reagiu devolvendo-lhes respostas a altura de suas injúrias, e com isso despertou neles grande fúria contra si mesmo, resultando num brutal espancamento que lhe rendeu um olho roxo e vários hematomas pelo corpo. Ao chegar em casa com suas roupas rotas de ser agredido a chutes e pontapés pelos rapazes.
E por ter rolado tantas vezes pelo chão, escapando da surra com ajuda de algumas pessoas que passavam no exato momento pelo local, Maria, a empregada, entra em desespero e procura dar assistência ao adolescente o mais rápido possível. Sendo notificada do ocorrido, Sueli retorna do trabalho para casa de imediato e procura conversar com o filho para tentar entender o que de fato aconteceu:
― Afinal, o que houve, André? ― Como sempre, diante das indagações da mãe mantinha-se em silêncio ― Por favor, meu filho, você precisa me explicar o que houve!
― Acho que está óbvio, mãe, fui espancado na rua! ― Sim, mas quem fez essa barbaridade com você
― De que importa, mesmo que eles sejam punidos e parem de me perseguir, virão outros e farão o mesmo ou talvez até pior. A verdade, é que meu pai parece ter razão, eu sou mesmo uma aberração que desperta ódio nas pessoas!
― André Borges, nunca mais fale isso, eu lhe proíbo de se expressar desta maneira sobre si mesmo! Saiba que você é uma pessoa normal como qualquer outra, não permita que ninguém lhe faça se sentir inferior, pois não é!
― Não se trata de inferioridade e sim de ser diferente, sou um menino com características de menina e as pessoas não conseguem aceitar isso. Não tenho culpa de ser assim, na verdade até gostaria de ser como os outros garotos, mas não consigo!
― Meu filho, você não precisa mudar seu jeito de ser pela imposição daqueles que são incapazes de aceitar o que suas mentes não conseguem compreender.
As pessoas costumam atirar pedras em tudo que lhes causa espanto, e a homossexualidade ainda é motivo de assombro para a grande maioria delas
― Às vezes pergunto a Deus porque ele me fez assim, será que ele sente prazer em me ver sofrer, sendo renegado por todos que me cercam?
― Meu amor, pare de se martirizar com estas indagações, as vezes se torna difícil encontrar respostas para tantas dúvidas
― Resumindo: Ele me faz um ser que causa pavor nas pessoas e não se compromete a dar qualquer explicação á respeito disso?
― Não nos convém contestar as obras de suas mãos
― Que Deus injusto é este que faz uns para escarnecer e outros para serem escarnecidos, será que se diverte vendo suas criaturas sendo escarnecidas e humilhadas por aqueles que ele deu o mérito de serem perfeitos?
― Filho, procure descansar um pouco, está muito exausto e depressivo
― Depressivo, mãe, eu acabei de levar uma tremenda surra de uns caras que simplesmente discordam de minha sexualidade e a senhora acha que eu deveria estar conformado com tudo o que me aconteceu?
― Calma, não quis insinuar isso!
― Mas foi o que entendi!
― Seja mais paciente, aos poucos tudo vai acabar se resolvendo
― Você me pede paciência porque sabe que meu caso é algo sem jeito, estou condenado a ser motivo de escárnio para sempre!
A mulher abraça o adolescente com a ternura que somente uma mãe poderia lhe dar naquele instante, percebe nele o incômodo pelos hematomas causados em seu corpo. Machucado pelas pisaduras de seus inimigos, e evita um carinho mais forte. Ela compreende sua necessidade de ficar sozinho e se afasta, deixando-o isolado em seu quarto.
Jamais antes tinha visto nele tamanha amargura, era visível o ódio que ardia nos seus olhos, a revolta pela vida de rejeição finalmente o dominava. Sueli segue em direção a sala, onde Rogério e alguns amigos assistiam um jogo de futebol, sem qualquer remorso pelo que havia feito. Depois de pedir educadamente as visitas que se retirassem, pede explicações ao filho por sua omissão em proteger o irmão mais novo:
― Sua atitude é vergonhosa, Rogério, como permitiu que seu irmão fosse vítima de uma violência dessas?
― E o que eu devo fazer para proteger seu filhinho do coração, andar de mãos dadas com ele para que ninguém toque nele?
― Rogério Borges, você me respeite!
― A senhora agora vai me culpar por tudo o que acontecer com este fedelho?
― Você é tão preconceituoso quanto seu pai, critica seu irmão como se ele fosse um ser inferior, apenas porque é diferente
― Esse moleque anda por aí se comportando como uma bicha, envergonhando a família dele e temos que rancor dar com tudo como se fosse a coisa mais natural do mundo?
― André é de sua família
― Ele não precisa ser compreendido e sim corrigido, ele tem que assumir a postura do homem que é e parar de andar por aí como uma vadia!
― Pare, Rogério, não fale dessa maneira à respeito de seu irmão!
― Me desculpe, mas não posso me expressar de outra forma, pois me envergonho grandemente de tê-lo como irmão!
― Ele não tem culpa de ter nascido afeminado, meu filho, ninguém escolhe ser assim!
― Concordo plenamente, mas só permanecemos numa determinada condição se quisermos, temos a opção de não ser aquilo que nascemos predestinados. Se ele lutar contra esse defeito moral vai conseguir se libertar
― A homossexualidade não pode ser vista como um defeito na moralidade das pessoas, trata-se de uma condição humana que precisa ser melhor aceita e compreendida
― Está certo, vejo que meus argumentos não lhe convencem do contrário, mas nem espere que eu ou meu pai apoiamos essa tal "condição humana" no André.
Para nós isto não passa de uma dominação satânica em que ele vive escravizado, algo que deve ser combatido à luz da Palavra de Deus, pois para o Senhor a homossexualidade é uma abominação!
O jovem encerra seus argumentos e sai daquela sala com clara insatisfação, o ódio estampado no rosto muito lembrou a mesma atitude do pai a respeito deste assunto dias antes. Sueli sabia que não seria fácil convencê-los. Conscientizá-los de que André era vítima do destino e não culpado por ter tais características. O adolescente permaneceu em casa o restante da semana sem ir à escola, devido ainda serem visíveis os sinais do espancamento.
Passou a maior parte do tempo trancado no quarto, lendo seus livros. Ouvindo suas músicas e assistindo seus filmes preferidos. E evitando ter por perto quem o ofendesse por ser diferente dos outros meninos. Verdade, o que de fato buscava era encontrar respostas para sua condição, precisava entender porque havia nascido daquela maneira estranha.
Sua alma era de um homem, mas seu corpo, porquanto também fosse masculino, reagia como o de uma mulher. Era isso que irritava seu pai e o irmão mais velho, quanto mais se aproximava sua juventude, cada vez mais sentia efeitos maiores de sua homossexualidade.
Sentia-se atraído pelo sexo oposto e sabia que se seus críticos percebessem isso a coisa iria se complicar mais ainda para o seu lado dentro daquela casa. Era difícil demais ter que conviver com seus medos e suas dúvidas em silêncio, conversando consigo mesmo.
Sem ter com quem dividir suas confusões da alma que vivia atormentada dentro dele, precisava falar sobre os incompreendidos desejos que começavam crescer dentro de si, semelhante a uma chama que lhe queimava cada parte do corpo, como se o próprio inferno lhe tragasse vivo.
Os meses se passaram e chegou o Natal, ocasião em que as famílias se reuniam. Os vizinhos se mostravam mais afetuosos uns com os outros, boa oportunidade para tentar fazer novas amizades. Bem, pelo menos para as pessoas "normais", todos os anos era a mesma coisa: As mulheres preparavam uma grande ceia onde moravam e ali reuniam-se com seus parentes para festejar a noite natalina, antes da meia noite os jovens saiam em busca de garotas para curtirem na madrugada.
E ele, recalcado, passava o tempo todo sentado num canto qualquer olhando o movimento. Os casais que namoravam ou conversavam sobre qualquer coisa e riam-se sem parar e confraternizavam-se naquela ocasião importante. As pessoas ali não costumavam lhe dar atenção, era visto como uma assombração pelos vizinhos.
Que proibiam seus filhos até de aproximarem dele, de tão preconceituosos que eram chegavam a agir de maneira ridícula ao pensar que um simples contato verbal poderia contaminá-los com sua feminilidade.
Mas naquela noite tudo seria diferente, porque um novo personagem passaria a fazer parte de sua vida.
― Olá, sou o Henrique, moro na casa ao lado
— Surpreso com a aproximação repentina do vizinho, responde intimidado
― Olá, sou André...
― Vai passar a noite inteira sentado aí?
― Sem muitas opções...
― Acabou de ter uma, venha, vamos até minha casa jogar um pouco
― Desculpe, não sou muito bom de games, meu irmão Rogério é que entende bem disso, vive jogando com os amigos
― Não estou interessado em jogar com seu irmão, mas com você, deixe de timidez r me acompanhe!
― Preciso avisar minha mãe!
― Quantos anos você tem?
― Treze...
― E nessa idade ainda tem que avisar a mãe que vai na casa ao lado?
― Tudo bem, vamos...
Daquele momento em diante se tornaram grandes amigos, Henrique era um rapaz alegre, espontâneo e sem qualquer preconceito com seu jeito estranho de ser e isto fez com que pela primeira vez ele não se sentisse excluído. Porém, aquela amizade daria o que falar. Ela geraria muitas polêmicas, principalmente por parte daqueles que o julgavam um pervertido. Os pais do novo amigo eram bem diferentes dos seus familiares e dos demais moradores, totalmente modernos, não limitavam o filho quanto as amizades.
Eram enfermeiros e passavam a maior parte do tempo ausentes, uma tia viúva e sem filhos cuidava da casa e do adolescente de dezesseis anos, durante todo o dia. No novo ano letivo, Henrique e André passaram a estudar na mesma escola e a amizade dos dois passou a incomodar muita gente, inclusive os mesmos que tempos atrás o espancaram.
Na tarde de quinta-feira os dois seguiam a pés rumo bairro onde moravam, na periferia, quando um grupo de rapazes e moças passaram a zombar deles, acusando-os de serem um casal gay. Aos poucos as agressões verbais passaram a se transformar em físicas, atiravam pedras, e qualquer coisa que estivesse ao alcance, contra os dois adolescentes e os atingiram, causando-lhes sérios hematomas. Alguns populares, indignados com a cena que presenciaram, decidiram intervir e afugentaram os agressores.
Com ferimentos no corpo e na cabeça, foram levados a um posto de emergência para medicarem- se. Os últimos acontecimentos levaram os pais a adotarem medidas mais drásticas contra os agressores e os denunciaram às autoridades, que colocaram viaturas policiais nas proximidades da escola. A amizade deles só aumentava e viviam juntos a todo momento, despertando comentários maldosos até em casa:
― Parece que agora ele se assumiu de vez
― Deixe a vida dos outros em paz, Laércio!
― Era só o que faltava, um pastor com um filho gay dentro de casa, que moral ele vai ter para doutrinar a igreja ou repreender os erros dos fiéis?
― Pare de cuidar da vida alheia e comece a se preocupar mais com Roberto!
― Nosso filho é um menino ajuizado, não vai se envolver com essa gente!
― Nunca sabemos o que pode acontecer no amanhã, com certeza nosso vizinho nunca imaginou ter que viver essa situação vergonhosa na família
― Pois para mim isso é falta de pulso forte na criação dos filhos, passaram a mão demais neles e olha aí o resultado, se transformaram em dois imorais!
― Gays, homem, hoje em dia se chama gays! Que nada, podem até modernizar o nome que dão a estas aberrações, mas vão continuar sendo as mesmas imundícies de sempre!
― Homem preconceituoso!
― Não tenho preconceito algum, é nojo mesmo dessa raça imunda! E vou logo te avisando, mulher, nem pense em voltar a frequentar a igreja daquele pastorzinho fuleira com meu filho. Não quero ele metido com essa gente!
― Deixe de ser chato, homem, a igreja não tem culpa do pastor ter um filho gay!
― Tem sim, a bíblia não ensina que Deus condena estas coisas, porque, então, aceitam isso sem tomar qualquer providência?
― E o que acha que deveríamos fazer?
― Expulsar esse maldito com a família dele de lá!
― Ficou louco? Não se pode expulsar um pastor assim de uma igreja!
― Deixe de besteira, Filomena, se expulsa até presidente corrupto do poder, quanto mais um pastor! Ora, tenha paciência!
O homem sai enraivecido com o rumo da conversa e sua esposa apenas o observa, discordando de suas conclusões. Mas, não apenas Laércio, como vários outros pais começaram a não concordar com a ideia de admitir a permanência de seus familiares na mesma igreja onde André se congregava. No meio dos cristãos não deveriam existir preconceitos, mas parecia ser o local de maior rejeição a ele, agora aos quatorze anos.
A comemoração de ente aquele que todos diziam ser seu namorado. Foi uma reunião rápida e contou apenas com Henrique e os pais dele, sua família não compareceu e sua mãe, a única que acreditava se fazer presente, foi impedida de comparecer. Foi detida pela implicância do marido, revoltado com os comentários sobre um possível envolvimento dele com o filho do vizinho.
Rogério passou a desprezar mais ainda o irmão depois destes comentários e aconselhava o pai para que o expulsasse de casa. Alertando-lhe que caso contrário poderia perder o respeito de sua igreja. A ideia agradava o Pastor, pois já percebia os sinais negativos que a presença de seu filho caçula causava no seu ministério, tanto por ver reduzir cada dia mais o número de fiéis no templo.
Como pelas insinuações ouvidas da parte de outros obreiros, durante as reuniões mensais realizadas nas convenções, ocasião em que era indiretamente acusado de ser conivente com o pecado dentro da congregação. E, devido aos muitos falatórios, a liderança da denominação deu um ultimato ao pastor.
Informou-lhe fosse mais enérgico com os dois jovens, acusados da prática do homossexualismo. Que fossem imediatamente impedidos do convívio com os demais membros no templo cristão. Em casa, diante da pressão pela qual passava, o líder religioso e sua esposa passaram a viver em constantes desentendimentos:
― Tudo é culpa desse maldito, me esforcei tanto para construir uma boa reputação diante da minha igreja e de meus superiores para agora me ver numa situação vergonhosa como esta!
― Ele é nosso filho, precisam entender que não podemos abandoná-lo. Você esquece como funciona o ministério, eles impõem suas próprias regras e temos que seguir à risca!
― Deus deixou claro na sua Palavra que abomina a homossexualidade. A partir disso é dever de um cristão manter-se longe desta prática
― Não vou virar minhas costas para meu filho para agradar ninguém, nem mesmo a este Deus preconceituoso que vocês dizem servir!
Mesmo diante de tantos problemas André continuava feliz em viver plenamente sua primeira amizade, ao lado de alguém que compreendia e aceitava sua condição. Como uma pessoa que trazia em si características diferenciadas dos outros adolescentes de sua mesma idade. E, na verdade, por estar demasiadamente envolvido na sua nova fase de vida sequer percebia toda a confusão. Mesmo com tudo acontecendo ao seu redor, até que Rogério decidiu cobrar do irmão caçula uma atitude mais responsável diante do problema:
― Com toda essa confusão acontecendo e você permanece alheio a culpa que tem, pouco se importando em evitar que o nome de nosso pai seja criticado pelos descrentes e ele possa até mesmo perder sua igreja?
― De que culpa você está falando?
― Não se faça de rogado, sua bichinha cínica, sabe muito bem que toda essa confusão com nosso pai acontece por causa dessa tua mania de querer ser mulher! Agora a igreja inteira está se voltando contra nós e querem puni-lo por coisas que ele não tem nada a ver
― Mas não fiz nada a essas pessoas, porque me odeiam tanto?
― Te odeiam porque nasceu homem e escolheu viver como o safado de um gay, namorando outro igual a ti!
― Enlouqueceu? Não namoro ninguém, eu e o Henrique somos apenas amigos!
― Pensa que me engana, todos aqui no bairro não comentam outra coisa a não ser o fato de que o filho do pastor vive de caso com outro cara!
― Minha nossa, mas que maldade dessas pessoas, vivem me acusando de coisas que não faço, isso não está acontecendo!
― Então, para variar, porque não procura namorar uma garota ao invés de ficar o dia inteiro colado nesse moleque aqui do lado?
― Não vou desfilar por aí com uma garota só para agradar você ou quem quer que seja!
― Mas é claro que não, seria impossível um imoral da tua marca querer qualquer envolvimento com uma mulher!
— Olhe que você pode se surpreender
As palavras de Rogério, apesar de verdadeiras, causaram indignação em André Que, sentindo-se humilhado, tenta agredir o irmão sem êxito, pois com um porte físico muito inferior e sem qualquer habilidade para lutas, mal conseguia fazer movimentos que aumentava ainda mais a zombaria do irmão:
― Bichinha desajeitada, olha só como ela luta, parecendo uma menina!
― Seu grosso, só me trata assim porque sabe que não tenho forças para te enfrentar!
― Quem manda querer ser um boiola ao invés de assumir o papel de macho?
As duras críticas do irmão causaram-lhe mágoas profundas e estas cicatrizes levariam décadas para sarar. Apesar de realmente ter nascido gay e afeminado, o adolescente ainda era completamente puro, virgem e nunca havia praticado qualquer tipo de intimidade, que fosse com pessoas do mesmo sexo ou oposto. Logo, sentiu-se extremamente ferido com os termos vulgares usados por Rogério.
Carregava dentro de si o grande segredo de estar apaixonado pelo melhor amigo, que também era heterossexual. Mas nunca deixou transparecer a ele nem a ninguém este sentimento. Pois existia no seu interior uma confusão constante de emoções que às vezes não conseguia compreender. E não tinha certezas de muitas coisas a seu próprio respeito.
Uma delas seria entender, como sendo afeminado poderia ter sentido desejos por sua nova professora de matemática, que possuía um corpo malhado de causar loucura em qualquer homem.
Ela adorava se exibir usando roupas coladas para despertar a atenção. Por outro lado, todas as vezes que estava ao lado do amigo sentia-se atraído por ele, adorava admirar seus bíceps volumosos e suas pernas musculosas.
Disfarçava o máximo que podia para disfarçar sua maligna vontade de atirar nos seus braços. Certa ocasião eles estavam jogando games e sentados bem próximos um do outro no sofá da sala. Sentia queimar seus membros tamanha era a vontade de se entregar ao rapaz, que passou a insinuar-se através de uma conversa repentina e meio sem nexo:
― Um amigo meu me confessou ser gay
― Que amigo, André? Pensei que só tivesse a mim como amigo...
― Um cara com quem converso sempre nas redes sociais
― Há, entendi...
― Ele disse estar enfrentando um inferno em casa, com a família
― Pois se eu fosse gay jamais revelaria isto a alguém!
― E como iria viver?
― Vivendo, ora, olhava num espelho e falava para mim mesmo: Cara, você pode até ter nascido com jeito de mulher.
Gostar de homens, mas dá uma olhada na tua aparência e vê que tens um corpo de homem, logo, seja macho! A resposta de Henrique diante de sua indagação confundiu-lhe a mente e retraíram seus sentimentos em relação a ele. Ao perceber que, mesmo não demostrando preconceitos ao seu jeito afeminado, o rapaz demonstrava repúdio a simples ideia de ser gay, imagine o que responderia se lhe perguntasse algo. Sobre a possibilidade de um suposto relacionamento homo entre ambos. Houve um breve silêncio, até que Henrique retomou a conversa
― Passei de fase, até que enfim!
― Nossa, cara, você me assustou!
― Está parecendo uma menina, André, se assustando à toa!
Ele, apesar de mais velho, parecia ter menor maturidade que André. Afinal, não percebia que seu amigo era uma menina dentro de um corpo de menino. Em seguida ficaram por horas ouvindo as músicas de sua banda favorita e repetindo a estrofe da canção predileta, que dizia: "Nem ainda se eu falasse a língua dos homens, e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria, é só o amor, é só o amor, ele é a paz e não se enraivece!..."
― Ninguém canta e toca como esses caras!
― Verdade, são os melhores!
Existia uma afinidade enorme entre eles, gostavam praticamente das mesmas coisas e concordavam em quase tudo, era uma amizade perfeita.
Mas o destino, quem escreveu suas histórias, tramava em secreto separá-los, e num certo dia veio a triste notícia:
― Vim me despedir de você, amigo, meus pais foram transferidos para outra cidade e tenho que partir
― Está falando sério?
― Muito sério, partimos amanhã mesmo!
― Mas que droga, logo você, meu único amigo vai ter que ir embora?
― Fica frio, tem internet para gente ficar ligados
― Não é a mesma coisa...
Na manhã seguinte estavam reunidos no ponto de partida, e com lágrimas os dois amigos abraçaram-se na triste despedida que mudava radicalmente os rumos daquela amizade, ao voltar para casa com a visível expressão de tristeza estampada no rosto, trancou -se no quarto e novamente encontrou sua antiga companheira das horas vazias, a solidão. Que prontamente concordou em lhe dar toda a atenção que precisava. Inclusive trazendo com ela a saudade para lhe atormentar com as lembranças do amigo que se foi.
Desde aquele dia em diante a vida de André voltou a ser somente desalento e perseguições. Devido sua aparente homossexualidade, e os comentários maldosos dos preconceituosos que o acusavam de ter mantido um caso íntimo com Henrique, sua permanência no templo foi negada pela igreja.
Seu pai, teve de acatar a decisão da maioria para não perder o cargo de pastor. Sendo imediatamente afastado do ministério eclesiástico. Os próprios fiéis cobravam dele uma postura mais enérgica contra o profano, no propósito de evitar maiores escândalos. Porém vinha se esforçando para contornar a situação sem ter que punir o filho com rigor, expulsando-o da igreja.
Mas chegou um dado momento em que não deu mais para protegê-lo da ira dos demais cristãos e até dos descrentes que frequentavam o local e faziam protestos contra sua permanência na casa de oração.
E, dali em diante, ficou impedido de participar dos cultos e cantar no coral de adolescentes, pois os pais dos meninos temiam que ele influenciasse negativamente seus filhos. Sueli, indignada com aquela injustiça praticada contra seu filho, decidiu pedir a palavra durante um culto de domingo à noite e aproveitou o ensejo para protestar: "Nesta noite encontram-se reunidos aqui, neste templo, homens e mulheres tidos como cristãos, pessoas consideradas salvas, através do sacrifício feito por Cristo na cruz do Calvário.
Pessoas que um dia foram encontradas por ele jogadas na sarjeta espiritual, completamente sujas por seus delitos e pecados, indignas da salvação divina Se não fosse pela incomparável misericórdia do Senhor ainda estariam na lama de onde foram tirados, mas por amor Deus lhes resgatou das sombras da morte e hoje andam de vestes brancas num mundo dominado pelo mal. Agora, depois de terem sido resgatado da condenação eterna, perdoados e limpos, se negam a agir com a mesma misericórdia da qual se beneficiaram.
Com a qual foi possível para Deus perdoar-lhes os pecados, afim de que depois pudessem, também, perdoar as falhas e suportar os defeitos dos seus semelhantes! Meu filho, André, também é um ser humano. Porém, assim como milhares de outros jovens e adolescentes no mundo inteiro.
Nasceu diferente dos meninos de sua idade. Sendo mais precisa, meus irmãos e irmãs, ele é afeminado desde seu nascimento, não se transformou nisso por opção nem escolheu ser assim. Mas é uma vítima daquilo que o mesmo. Deus que eu e vocês servimos, o mesmo que um dia nos encontrou jogados na imundície do pecado e mudou nossa sorte, permitindo-nos, hoje, o direito de sermos aceitos como seus herdeiros, escolheu para ele nesta vida! Sim, meus amados, porque todos nós. Seres humanos, somos suas criaturas, fomos todos, igualmente, criados sua imagem e semelhança.
Independentemente do que somos nesta terra como pessoas. Não importa se ricos ou pobres, brancos ou negros, salvos ou perdidos, fiéis ou infiéis. Mesmo assim, ainda seremos sempre suas criaturas e sua semelhança. Então, me expliquem: Porque os piores criminosos são perdoados de seus crimes e recebem oportunidades para viverem novamente na mesma sociedade onde um dia cometeram diversas atrocidades
. E alguém, por ser homossexual, merece ser penalizado? A tal ponto de não poder frequentar a casa de Deus e ter os mesmos direitos sociais como qualquer pessoa? Seriam eles piores do que criminosos?
Que crime André e todos os adolescentes de sua idade cometeram? Porque chegaram ao cúmulo de serem repudiados dessa forma tão cruel por esta igreja que se intitula a Noiva de Cristo? Não deveríamos dar ao mundo, lá fora, o mesmo exemplo de amor e piedade que Deus nos deu antes?"
O desabafo de Sueli no púlpito do templo comoveu alguns, que após o culto foram até ela pedir desculpas pela atitude preconceituosa que tiveram contra o adolescente, e causou indignação noutros. Que saíram da casa de oração murmurando contra a mensagem ouvida, acusando a mãe de estar apoiando a postura pecaminosa do filho ao invés de combatê-la. Houve, também, grande crítica contra a inércia do pastor diante da atitude de sua mulher, e isso rendeu-lhe severas punições.
Na análise da futura psicóloga o homossexualismo é uma condição reversível do caráter humano, um estágio opcional da sua sexualidade que poderá ser mudada, no momento em que o homem ou a mulher decidem dizer "não" a este desejo contrário à sua própria natureza, e procura convencê-lo disso: ― Você, como outras pessoas, pode até ter nascido com tendência homossexual, mas isto não quer dizer que são obrigados a viverem em tais condições, é uma escolha, uma opção ― Mas como dizer não a um desejo que queima dentro de nós? Como ter forças para ir de encontro a essa vontade louca que sentimos de nos envolver a outras pessoas semelhantes a nós, ao invés do sexo oposto? Você não faz ideia do quanto é difícil lutarmos contra nós mesmos, é uma batalha na qual quase sempre perdemos ― André, já somos amigos a algum tempo, você hoje tem dezesseis anos e manteve-se esse tempo todo sem qualquer envolvimento sexual, seja como homossexual ou não, ainda está puro, virgem.
― Então porque não desiste desta condição vergonhosa e assume seu lado masculino?― Você fala como se fosse algo fácil de fazer― Pode não ser fácil, mas com certeza não é impossível, basta esforço. A homossexualidade é apenas uma declinação psicológica, uma falha moral que vem na bagagem ao nascermos e que, ao não ser praticada desaparece por completo de nossas vidas, é apenas um desejo contido na sexualidade do homem ou da mulher que deve ser combatida com veemência― Você parece ter mesmo nascido para ser uma psicóloga, sabe convencer seus pacientes de que realmente podem mudar o rumo de suas vidas― Não estou tentando apenas convencê-lo desta verdade, mas também lhe fazer entender que todos nós, seres humanos, temos poder de mudar aquilo que somos, independentemente do que venha a se
― Bom que você veio, já estava morrendo de saudades. ―Também andei pensando muito em você, para mim isso é ainda muito estranho ― Porquê? ― Logo eu, um gay, parecendo está apaixonado pela melhor amiga? ― Você não é mais um gay, meu bem, é um homem normal como qualquer outro ― Agradeço o incentivo. Mas deixa eu te contar as novidades: Advinha quem apareceu de repente no restaurante hoje cedo? ― Nem faço ideia, me fala ― O Henrique! ― De quem você está falando? ― Daquele meu primeiro amigo, quando ainda morava na casa de meus pais ― Desculpe, não recordo se ter lhe ouvido falar algo a respeito ― Eu lhe falei dele algumas vezes. O que devo lhe contar é que ele surgiu do nada, conversamos e depois fomos para meu apartamento, onde ficamos relembrando os velhos tempos ― Que bom, amor, as vezes é bom relembrar o passado ― Mas acontec
Era uma belíssima tarde de verão, o sol se deitava sobre o rio e o olhar da moça descansava sobre o sereno movimento das águas, quando um desconhecido se aproxima da pequena orla às margens do Guajará e ao longe ela o observa, um homem elegante, pensativo e com um ar de tristeza que o deixava distante dali, mesmo estando presente a poucos metros de onde ela estava. Tudo indicava que aquele encontro não era nada casual, o destino traçava mais um de seus vários planos para levar a personagem da história que ele mesmo criou a viver mais uma grande aventura. O homem elegante e de semblante triste, que se manteve recostado no parapeito feito à base de massa e tijolos, cujos traços de expressões espalhados pelo olhar cansado e sem esperança chamava-se Vítor, e vinha de um passado feito de grandes decepções no amor. Ela observava em silêncio, admirando-o em segredo. Depois de algum tempo, percebendo que ele parecia distante em seus próprios pensamentos,
Naquela manhã, quando Karla chegou ao seu consultório, foi-lhe anunciado que uma visita lhe aguardava desde bem cedo. Tratava-se de Vitor que estaria ali para esclarecer algumas questões de ordem pessoal, visto que depois do último desentendimento em razão de suas constantes ausências ficaram incomunicáveis e, apesar dos muitos telefonemas, não foi por ela atendido. A presença inesperada do namorado pareceu incomodá-la: ― Eu poderia saber qual a razão desta visita ao meu local de trabalho, assim tão cedo? ― Bom dia, minha querida! A resposta é bem simples: Se a montanha não vai até Maomé, ele irá até ela ― Pois então que sejas breve em seu discurso, Vitor, pois tenho muito o que fazer por aqui! ― Pelo que me consta você confiou a mim a responsabilidade de dar prosseguimento a administração deste instituto porque queria se dedicar mais ao atendimento direto ao público nas comunidades mais carentes, fazendo um trabalho social que admito considerar impor
Na noite daquele mesmo dia Roberta ousou visitar Karla para tentar se redimir de suas atitudes que a levaram a envolver-se sexualmente com ela, reconhecendo que fez proveito de seu momento de carência afetiva, usando suas experiências de conquista para influenciá-la neste sentido. Porém, o resultado não foi o esperado e ao bater à porta do apartamento da amiga foi surpreendida com seu brusco rompante: ― Como ainda ousa vir aqui depois do que me fez? Por favor, retire-se e não me procure mais! ― Calma, amiga, vamos conversar! ― Você se aproveitou de meu momento de fraqueza para usar nossa amizade afim de despertar em mim desejos imundos que eu abomino, e por fraqueza me deixei dominar, mas não quero mais voltar a praticar tal coisa em minha vida, por isso fique bem longe de mim e leve com você essa maldição! Ao proferir estas palavras fechou a porta com grande ímpeto e a visita saiu dali envergonhada, seu olhar contemplava o piso em porcelanato e
Era um sábado, o calor da tarde naquela época do ano era intenso, principalmente numa região de clima árido, André e Karla retornavam à casa de Sueli e Alberto, era o filho pródigo buscando mais uma vez a paz com seus familiares. Foi sua mãe quem os avistou primeiro, correndo e os abraçando com muita ternura. Ao se aproximarem do pátio puderam avistar um homem idoso sentado numa cadeira de balanço, cuja estrutura era de ferro, mas revestida de material artesanal. Bastante confortável, ele movimentava-se nela lentamente, num balançar tranquilo, admirando as diversas plantas no quintal. Sueli avisou-lhes que se tratava de Alberto que a vários meses permanecia naquela situação depois de ser acometido de Alzheimer, parte de seu corpo paralisou e sequer conseguia falar. André se aproximou cauteloso, o homem tinha o olhar congelado, firmado nas arvores que dançavam com o suave soprar do vento, ele se ajoelha na frente do pai que parecia distante dali, e lhe fala carinhosam