No dia seguinte logo depois que retornou ao Brasil, Daniela saiu para procurar emprego. Amanheceu um dia lindo e ensolarado na capital baiana. Ela desceu a ladeira feita de paralelepípedos quase correndo até chegar ao cruzamento da avenida principal. Naquela manhã ela usava calça jeans, blusa de tecido fino sem mangas e sapatilhas. Gostava do verão, do calor, do sol e principalmente do estado onde nasceu; ela adorava a Bahia e a cultura do lugar.No momento em que atravessava uma praça viu um amontoado de pessoas batendo palmas e no meio um grupinho usando roupas brancas. À medida que se aproximava percebeu que era um grupo de capoeira. Ela juntou-se ao grupo e começou a bater palmas também. Havia várias pessoas tocando o berimbau, inclusive algumas mulheres.No meio da roda estavam dois homens, um mais velho e outro muito jovem, quase adolescente. Ambos eram negros, estavam descalços, sem camisa e com as calças arregaçadas. Começaram com a ginga, um movimento repetitivo de colocar a
Daniela naquele momento estava diante do espelho grande do quarto examinando o seu visual. Usava um vestido longo de verão e sandálias rasteiras. Ao sair do quarto encontrou Angélica e Carlos esperando na sala. Carmem que estava sentada no sofá vendo televisão não deixou de fazer um elogio:— Você está muito bonita! Vê se arruma um namorado para alegrar mais essa cara.Em quinze minutos de carro chegaram ao local da festa. Na verdade não era bem uma festa e sim uma reunião de amigos na praia, com fogueira acesa, cervejas e petiscos. A maioria das garotas usavam short e camiseta e os rapazes bermuda.Daniela tirou as sandálias e caminhou na areia ao lado de Carlos e Angélica. Viu Rafael conversando em um grupo de rapazes; ele usava bermuda surfista escura e camiseta branca e assim que a viu se aproximou e a cumprimentou com um beijo no rosto. — Que bom que você veio!Depois cumprimentou Angélica e Carlos e os encaminhou para perto da fogueira. Do lado direito depois da fogueira havia
O celular tocou várias vezes enquanto Antonino enfrentava o trânsito matinal na rodovia. Eram ligações de Francesco, mas ele não atendeu nenhuma. Encarou um congestionamento estressante até alcançar o Parque da Cidade, rodou pelas ruas laterais por mais de dez minutos e finalmente encontrou uma vaga para estacionar. Atravessou um caminho de árvores e foi seguindo em frente. Aquele Parque era um magnífico cenário verde destinado para aqueles que queriam passar um tempo longe dos arranha-céus da cidade. Era o lugar preferido dos turistas, e naquela manhã não era uma exceção. Ele caminhou entre a multidão. Os eucaliptos sussurravam e chacoalhavam lá em cima enquanto o vento passava pelas pessoas, apressado. Ouvia os gravetos secos se quebrando debaixo dos seus pés e o vento chicoteando os galhos nas árvores. O sol estava alto e forte abrindo caminho entre ocasionais brechas nos galhos.Uma pesada gota de suor escorreu para dentro do seu olho e ele a secou, de forma automática.Mais adi
Aquele foi um dia exaustivo para Antonino Goldacci. Depois de três reuniões em lugares diferentes, ele estava totalmente consumido.Naquela noite ao sair da empresa Antonino estava entediado e mal humorado. Precisava de uma diversão senão ficaria louco. Pensou em ir até o bar Nuevo, mas naquele momento queria algo diferente. Então seguiu direto para o Clube Felicitá, lugar adequado para assistir as strippers dançarem antes de ter sexo bom e prazeroso.O clube estava lotado: despedidas de solteiros, universitários curiosos e grupos de homens maduros amontoados em volta do palco. Havia também uma multidão no balcão do bar. Antonino se dirigiu para lá, pediu uma bebida e viu um pequeno grupo de empresários sentados em uma mesa próxima, todos conhecidos. Ele ergueu a mão e os cumprimentou, mas permaneceu no seu lugar como um lobo solitário.Ficou analisando os homens casados que estavam ali e se perguntou: porque casavam, se uma hora daquelas estavam em um clube de strip-tease em vez de es
Antonino chegou ao aeroporto de Salvador no sábado um pouco antes do meio- dia. O calor o pegou desprevenido. Já tinha passado pela capital baiana uma vez, mas foi durante o inverno e não sentiu o impacto da mudança climática. Porém naquele momento enquanto o taxi se dirigia para o hotel estava sentindo que iria derreter. Nem o ar-condicionado do automóvel conseguia diminuir o calor escaldante e vulcânico que dominava toda aquela atmosfera.Assim que chegou à frente do hotel cinco estrelas, pagou ao motorista e saltou. Um funcionário do hotel veio buscar as suas malas e ele se dirigiu à recepção. Não levou Giorgio com ele. Ali não precisava de segurança, ninguém o conhecia.A recepcionista o atendeu com um largo sorriso no rosto e quando soube quem ele era, lhe entregou as chaves do quarto, dizendo um agradecimento atrás do outro.Antonino ficou na cobertura. Enquanto desarrumava as malas pensava no próximo passo. Ornella lhe deu com detalhes todas as informações sobre Daniela. Agora
Naquela noite em que estava saindo do prédio com Rafael e Antonino apareceu, Daniela ficou com os joelhos trêmulos e um suor gelado escorrendo pela testa e pescoço. Achava que nunca mais o veria e nem de longe passava pela sua cabeça que ele pudesse procurá-la. Vê-lo aquela noite trouxe à tona sentimentos que ela imaginou estarem mortos, porém só estavam adormecidos. Assim que o viu todas as emoções antigas ressurgiram, mais fortes e avassaladoras.E naquele momento após descer do carro dele, olhando para a expressão de dor nitidamente clara no rosto de Rafael, sentiu um misto de emoções confusas e contraditórias.Assim que Antonino partiu ela seguiu andando ao lado de Rafael. Ambos calados, pensando se o que diriam seria a coisa certa. Os dois pensavam que uma palavra apenas seria decisiva para modificar o destino deles.Dentro do portão de ferro, caminharam pelo cascalho, passaram pelos carros estacionados e pararam próximos à escada. Daniela percebeu que Rafael não a encarava. Ficou
Daniela acordou e sentiu o seu corpo flutuar no colchão macio. Espreguiçou-se, jogou o lençol para o lado e pulou da cama. Caminhou descalça até a varanda e ficou olhando a vista, pensando nos últimos acontecimentos desde que Antonino apareceu no Brasil para buscá-la.Assim que desembarcaram na Itália, Antonino a deixou no apartamento dele e lhe entregou as chaves antes de ir embora. Segundo ele, não era bom que a namorada de um magnata morasse em uma pensão, por isso ela ficaria no apartamento dele até que resolvessem as coisas e chegassem a um acordo.Sentou na poltrona acolchoada e alisou a barriga. Com toda aquela loucura até esqueceu que estava grávida. Mas não contaria nada para Antonino por enquanto, porque na verdade ela nem sabia ainda que decisão tomar. Ultimamente vivia confusa, cheia de sentimentos contraditórios e não se sentia bem-vinda em lugar algum.Depois da morte da mãe sentia que no universo não havia um lugar para ela. Estava perdida dentro de si mesma. Sabia que
Enquanto Daniela estava na pensão visitando os amigos, Antonino parava o carro na frente do Restaurante Bambino. O seu segurança parou atrás e ficou aguardando. Antonino ajeitou os óculos escuros, se aproximou da enorme porta de vidro que se abriu automaticamente e atravessou os aposentos a passos largos.Era um salão grande e espaçoso. Ele viu de longe onde estavam os “amigos” e se dirigiu para lá. A mesa tinha lugar para quatro pessoas. Já havia três homens sentados: Carletto, Damiani e Pellegrino. Antonino sentou ocupando o lugar que sobrava.Na verdade, o Restaurante Bambino funcionava como ponto de encontro da hierarquia mafiosa. Estavam naquela mesa os lideres de maior grandeza e importância da máfia italiana e Antonino era o maior deles.Assim que sentou, Antonino tomou a palavra:— Não precisam se preocupar, porque a policia não vai mais me investigar e jamais chegarão até vocês.Carletto, homem careca, baixinho e barrigudo, um dos mais nervosos e pavio curto do grupo se pronu