Capítulo 26Amanheceu um sábado ensolarado. O céu estava azul e havia algumas nuvens branquinhas enfeitando a imensa cortina celestial. Naquele momento Daniela e Valentina, cada uma com uma sacola na mão, acompanhavam dona Marina na feira e ouviam as suas reclamações sobre os preços dos alimentos, que segundo ela estava altíssimos.A praça dos feirantes formigava de gente. Homens e mulheres atendiam os fregueses falando apressadamente e as crianças corriam brincando no meio da feira como se estivessem em um parque de diversões. Quando dona Marina parou numa barraca de frutas e verduras, Daniela segurou nas mãos um melão bonito e suculento. Subitamente recebeu da feirante um tapinha na mão e em seguida a mulher pegou a fruta e colocou no lugar.Ela olhou assustada para Valentina que foi logo explicando:— Jamais toque nos produtos com as mãos. Isso não se faz aqui na Itália, porque essa é uma prática não muito bem vista.Segundo Valentina o costume nas feiras funcionava assim: o clien
Capítulo 27Na manhã seguinte Daniela acordou meia hora atrasada. Pulou da cama como um furacão, fez sua higiene matinal às pressas, se vestiu e saiu sem tomar o café da manhã. Justo naquele dia o trânsito parecia conspirar contra ela e seu atraso seria notado por seu chefe.O roubo da moto ainda martelava na sua cabeça. Como pôde concordar com semelhante coisa? Pegar a moto escondida de um hóspede era no mínimo uma atitude infantil e ela estava muito envergonhada consigo mesma.Ficou novamente sem um centavo na conta, mas estava feliz em ajudar, afinal de contas, ela também participou daquilo tudo. O importante foi que Klaus Stein retirou a queixa contra dona Marina, comprou outra moto e foi embora da pensão. Assim que chegou à sua sala, jogou a bolsa num canto, sentou-se à mesa e ligou o computador. Olhou as mensagens e respondeu as mais urgentes; as que pudessem esperar ficariam para depois.E naquele momento Francesco apareceu na porta e disse:— Bom dia, Daniela.— Bom dia, Fran
Capítulo 28Barbarella é uma ilha que fica numa encosta ao sul da Itália. É um destino de férias muito conhecido pela marginal com seixos e as ruas íngremes e estreitas repletas de boutiques e cafés.Antonino e Daniela chegaram à Barbarella um pouco antes do meio-dia. Assim que o iate particular parou encostado ao píer, eles foram recebidos por dois empregados do hotel que foram buscar as suas bagagens.Quando caminhavam pela areia quente, Daniela observou muitos hóspedes se banhando. Enquanto alguns se torravam no sol escaldante deitados em toalhas outros até dormiam deitados em cadeiras debaixo dos guarda-sóis. No terraço imediatamente acima havia grupos sentados certamente comentando sobre o tempo, a paisagem, as últimas noticias dos telejornais e diversos outros assuntos.Ela olhou para cima e viu o hotel luxuoso de três andares. Subiram uma encosta feita de pedras e logo chegaram à recepção. Ela parou na porta e olhou para baixo. Quando se saia do hotel pela fachada sul os terra
Capítulo 29Antonino estava diante do espelho, dando o nó na gravata. Enquanto se vestia pensava no negócio lucrativo que fecharia naquela noite e pensava também em uma maneira de descobrir quem eram os seus inimigos infiltrados. Viveu a vida inteira apostando que o traidor era Luciano, mas agora estava começando a se preocupar de verdade com aquela situação.Olhou as horas no relógio de pulso, vestiu o paletó e enquanto o ajeitava mandou mensagem para Daniela. Depois saiu do quarto e foi esperá-la no corredor. Em poucos minutos ela abriu a porta. Estava divinamente linda com os cabelos presos em um coque, deixando alguns fios livres. Usava um vestido preto de alças finas com a saia rodada na altura do joelho.Entraram no elevador e em poucos minutos ele e Daniela chegaram ao restaurante elegante do hotel. Numa mesa discreta há um canto estava Fernando Barbosa que sorriu para eles formando rugas ao redor dos olhos e levantou para cumprimentá-los. Estava sozinho e Antonino observou que
Capítulo 30Daniela acordou cedo com o brilho do sol nascente entrando pela janela do quarto. Levantou da cama descalça e foi até a varanda. Que espetáculo maravilhoso presenciava naquele momento! O céu estava limpo e não tinha uma nuvem sequer, enquanto lá embaixo, as águas espumantes do mar azul batiam de encontro as rochas num vaivém que encantava a visão até dos mais distraídos.Voltou-se para dentro, entrou no banheiro fez sua higiene matinal depois vestiu um biquíni com estampa africana mesclando verde com vermelho e amarelo. Ela o havia comprado no Brasil um pouco antes de viajar para a Itália. Colocou uma saída de praia transparente também com cores mescladas combinando com o seu biquíni e desceu.Sentou numa cadeira de frente para o mar e ficou observando o cenário. Naquele momento a praia estava abarrotada. Parecia que todos os hóspedes haviam decidido tomar banho de mar ao mesmo tempo.Olhou para o lado esquerdo e um casal de idoso acenou para ela. Daniela sorriu e voltou a
Daniela naquele momento estava dentro do avião retornando para o Brasil. Depois que expulsou Antonino do seu quarto após voltarem do passeio na gruta, os dois não falaram mais sobre o assunto. E quando ele a deixou na frente da pensão, ela deu um boa noite seco e saltou do carro sem olhar para trás. Ela estava mesmo decidida a tirá-lo da sua vida. Depois que o conheceu seus dias ficaram simplesmente infernais. Quando chegou à Itália não imaginava que fosse se apaixonar daquele jeito. E o pior de tudo era que Antonino Goldacci não tinha sentimentos; era um homem totalmente frio e tratava as mulheres como objeto, só que ela estava sofrendo demais e por isso resolveu esquecê-lo para sempre. Não queria dormir e acordar tendo como pensamento principal um homem que não dava a mínima para ela.Assim que desceu do avião no aeroporto de Salvador pegou um taxi. Quando chegou ao condomínio se identificou na portaria e logo sua entrada foi liberada. Saltou do taxi e uma mulher alta e muito magra
No dia em que Antonino retornou da ilha Barbarella, logo depois de deixar Daniela na pensão, recebeu a ligação de Franco pedindo para que fosse imediatamente ao galpão onde a garota do bar estava amarrada.Ele deu a ordem para Giorgio, seu motorista e segurança, e seguiu direto para lá. Assim que chegou, saltou rápido do carro e entrou, encontrando Franco e os dois vigias tatuados de pé na frente do corpo da garota que estava caído no chão. Os braços dela ainda estavam amarrados para trás. Antonino se abaixou e constatou que ela estava morta. Havia recebido um tiro na testa.— Tive que fazer isso, primo — Franco se justificou. — Ela se recusou a dar as informações; não podia soltá-la. A mulher já estava há uma semana aqui e a coisa começou a ficar demasiadamente perigosa.Antonino se irritou.— Mas que droga, Franco! Se eu não estivesse viajando tenho certeza de que controlaria a situação.— Controlaria como? Pode me dizer? — Franco o desafiou.— Agora vou continuar sem saber quem a m
No dia seguinte logo depois que retornou ao Brasil, Daniela saiu para procurar emprego. Amanheceu um dia lindo e ensolarado na capital baiana. Ela desceu a ladeira feita de paralelepípedos quase correndo até chegar ao cruzamento da avenida principal. Naquela manhã ela usava calça jeans, blusa de tecido fino sem mangas e sapatilhas. Gostava do verão, do calor, do sol e principalmente do estado onde nasceu; ela adorava a Bahia e a cultura do lugar.No momento em que atravessava uma praça viu um amontoado de pessoas batendo palmas e no meio um grupinho usando roupas brancas. À medida que se aproximava percebeu que era um grupo de capoeira. Ela juntou-se ao grupo e começou a bater palmas também. Havia várias pessoas tocando o berimbau, inclusive algumas mulheres.No meio da roda estavam dois homens, um mais velho e outro muito jovem, quase adolescente. Ambos eram negros, estavam descalços, sem camisa e com as calças arregaçadas. Começaram com a ginga, um movimento repetitivo de colocar a