Capitulo2
LAIKA

Cinco anos depois...

— Esfregue o chão! Sua cadela preguiçosa! — Gritou Madame Theresa, minha supervisora, jogando uma toalha em mim. A toalha bateu no meu rosto e caiu no chão. — Quero o chão brilhando! Você não fez nada até agora, e o Alfa e seu grupo vão chegar a qualquer momento. Mexa essa bunda preguiçosa de volta ao trabalho!

Ela pisou no chão que eu já havia esfregado, deixando marcas enquanto saía pisoteando forte.

Peguei no esfregão e voltei ao trabalho. Cinco anos atrás, eu teria chorado se ela me jogasse a toalha e me chamasse por aqueles nomes horríveis. Mas eu havia sobrevivido a aquilo. Já, não doía tanto. Na verdade, quase nada doía mais.

Minha supervisora nunca tinha gostado de mim desde o primeiro dia. Ela não me via como uma rival, mas como alguém indigno de estar na mesma sala que ela. Eu não passava de uma Ômega fraca. Ela sempre me dizia que eu era feia, que a filha era muito mais bonita do que eu e que ela seria a escolhida para ser companheira do Alfa que estava voltando.

O Alfa e seu grupo estavam retornando ao bando naquele dia, depois de muitos anos longe. No bando Titã, quando os futuros Alfas completavam dezoito anos, eles eram levados para longe do bando com alguns guerreiros para um lugar desconhecido, onde passavam por um treinamento rigoroso. Lá, eles eram privados de qualquer prazer e não podiam ter companheiras, pois estas eram consideradas como distrações. Eles só voltavam ao bando quando o Alfa anterior morria. E isso havia acontecido cinco dias antes.

Depois de terminar de limpar a área que minha supervisora havia designado para mim, fui até a cabana da Madame. Ela era responsável pelas lobas que estariam disponíveis para o Alfa Lycan e seu grupo. Eu não estava interessada nas instruções, mas a cultura exigia que todas as lobas solteiras do bando soubessem como eram os guerreiros.

As garotas estavam enfileiradas em quatro filas quando cheguei. Fiquei no fundo, tentando não chamar atenção. Mas eu nunca passava despercebida naquele bando desde que havia chegado.

— Hmm, sinto o cheiro de uma Ômega amaldiçoada aqui. — Comentou uma das garotas, tapando o nariz. As outras garotas riram e fizeram o mesmo.

Eu as ignorei. Já estava acostumada a aquele tipo de comentário. Eles já não me feriam profundamente; apenas permaneciam na superfície, me fazendo sentir feia e suja.

— Ela deveria estar aqui? Nosso Alfa e seus guerreiros nunca olhariam para uma Ômega fraca e amaldiçoada como ela. — Disse outra garota.

— Silêncio! — A voz da Madame ecoou pelo lugar, e todas se calaram imediatamente. — Como sabem, nossos guerreiros Lycans estão voltando hoje.

As garotas começaram a murmurar e rir, mas a Madame logo as silenciou.

— Sei que estão animadas para agradar vossos primeiros guerreiros, mas há regras que devem seguir. Primeiro, se você já encontrou seu companheiro, saia daqui.

O silêncio tomou conta das filas. Todas se entreolhavam. Eu mantive o olhar fixo no chão, sem coragem de olhar para ninguém.

— Se você já descobriu quem é seu companheiro, precisa sair agora. Este exercício não é para você. Se for encontrada aqui, haveram consequências graves. — Quando ninguém se mexeu, ela continuou: — Segundo, vocês serão designadas aos seus mestres. Por enquanto, trabalharão para eles. Vocês limparão as tendas deles, atenderão às ordens e os farão o que eles pedirem. Mas lembrem-se, o mestre não é vosso dono. Vocês podem se deitar com quantos guerrilheiros vocês quiserem. Se um guerrilheiro se aproximar de vocês e vocês não estiverem interessados, podem falar abertamente, eles não vos podem forçar a se deitar com eles.

— Não se apeguem aos guerrilheiros que não são vossos companheiros. Vocês não são nada para eles senão parceiras sexuais. Eles não estão apaixonados por vocês, então se controlem. Não lutem por nenhum guerreiro, seja ele Alfa Lycan ou Beta, quem quer que seja que vocês achem atraente. Eles basicamente não têm emoções nenhumas, então melhor agir com cuidado ao redor deles, porque eles podem vos machucar numa fração de segundos.

—Eles foram feitos para lutar e não entendem nada menos do que atacar, e é isso que fazem quando provocados. Eles não são vossos amigos e amam os próprios egos mais do que as próprias vidas. Se você manchar o ego deles, eles lhe darão mais medo do que você jamais viu antes. Você deve ser discreto com eles e os respeitar tanto quanto eles quiserem. Fui clara?

— Sim. Madame. — As mulheres responderam em uníssono.

Aquelas palavras não me atingiram. Eu sabia que nenhum guerreiro me escolheria pois eles não me achariam digna. Eu não estava preparada para me entregar nas mãos de um guerrilheiro bruto. Depois do que o Alfa Khalid havia feito comigo, eu não estava pronta para me envolver com um outro lobisomem Alfa cruel. Nos fomos designadas as nossas tendas e de seguida dispensadas.

Quando o dia estava terminando, acabei de limpar a tenda do meu mestre e fui até o riacho para me lavar. O pôr do sol tingia as nuvens com tons dourados sobre as montanhas. O riacho era o único lugar onde eu encontrava paz. Embora dissessem que alguns bandidos vagassem por lá e tentando sequestrar lobisomens mais fracos, achei o espaço refrescante e calmante. Eu nunca tinha sido confrontado por nenhum deles antes.

Eu poderia correr nua, eu podia nadar na corrente do riacho, que levava toda a minha dor enquanto passava por mim. Examinei o local mais uma vez e quando não vi ninguém, continuei minha jornada mais profundamente na floresta. Logo, ouvi a água correndo. Isso me acalmou e empurrei a ideia de perigo para trás. Cheguei ao riacho, sentei-me à beira dele, tirei os sapatos e as meias e mergulhei as pernas na água, estudando a beleza da floresta. A água rolando das rochas criou um som silencioso e gotejante que me embalou com uma sensação de serenidade. Aquilo era o que a paz representava para mim. Ao chegar ao riacho, sentei-me na margem, tirei os sapatos e mergulhei os pés na água fria, com o som tranquilo da correnteza acalmando minha mente.

Talvez eu só estivesse impaciente por causa do retorno dos novos mestres. Não posso dizer que não estava curiosa sobre eles. Eu queria saber como eles eram. Eles serão bons ou maus? Meu mestre anterior, sempre me tratava com severidade ou me odiava porque eu era uma Ômega amaldiçoada? Ele tinha ficado irritado por eu ter sido designado para ele, assim como Madame Theresa ficou quando fui designada para ela como o escravo dela? Será que esse novo mestre iria pensar que eu fosse um azar para ele?

Meus pensamentos foram interrompidos por um rosnado alto. Minha cabeça se virou na direção em que pensei ter ouvido o som, mas não vi nada. Tirei meus pés da água e me levantei. Meus olhos dispararam de um canto a outro da floresta, mas não havia nada lá e o rosnado havia parado. Peguei meus sapatos e meias e decidi voltar para o meu bando. Eu não deveria estar lá de qualquer maneira. Eu deveria voltar para a matilha e esperar pelo meu novo mestre.

Quando me virei para retornar para o lugar de onde vinha, fiquei cara a cara com um lobo gigante com olhos amarelos ardentes. Ele mostrou as presas para mim e soltou um rosnado ameaçador. Gritei de medo e Joy, minha loba, choramingou de medo. Dei alguns passos para trás e pisei em um galho espinhoso, que perfurou meu pé e eu gritei de dor. Naquele momento já não podia correr. O lobo era maior que eu e maior que Joy. Eu não pude me transformar porque minha loba estava fraca por causa de todo o acônito que Madame Theresa e sua filha Erika injetavam em mim cada vez que cometesse um erro. Quase já nem me transformava naqueles dias e até mal conseguia sentir minha loba.

O grande lobo abaixou-se, pronto para atacar. Eu sabia que era um bandido e que minha vida terminaria naquele momento. Ninguém estava lá para me salvar e mesmo que estivesse, ninguém se incomodaria em salvar uma Ômega amaldiçoada. Eu estava praticamente morta. O grande lobo se lançou sobre mim e eu caí de bunda no chão. Mas o lobo não chegou até mim porque outro lobo maior saltou sobre ele por trás de mim. Era um lobo branco, uma porra de um lobo branco.

Eu nunca tinha visto um lobo branco antes. Eles eram raros e especiais e eram em sua maioria Lycans. Fiquei colada ao lugar onde estava, observando os lobos lutarem entre si. Eu sabia que deveria interpretar aquilo como o meu sinal e correr de volta para a matilha, mas estava atordoada demais para pensar em fugir. O lobo branco já estava em cima do preto, ele abaixou a cabeça e afundou as presas no pescoço do lobo preto e tirou a vida dele. O sangue jorrou do lobo negro, que estremeceu quando a morte o cobriu e manchou o lobo branco. Quando o lobo teve certeza de que o lobo preto estava morto, ele saiu correndo, me deixando ali olhando, incrédula.

O feitiço que me prendia ali me deixou enquanto ele fugia. Levantei-me e bati palmas para remover a sujeira, ainda olhando na direção para onde o lobo branco correu. Porquê ele havia salvo a minha vida? Ele não tinha notado que eu era uma Ômega?

— Você não deveria estar sozinha no meio da floresta. — Uma voz profunda e rouca disse atrás de mim, e eu me virei e perdi o equilíbrio. Eu engasguei e tensionei meu corpo para me preparar para cair no chão, mas caí em braços musculosos e um perfume masculino invadiu meus sentidos. Nosso toque foi um tornado porque senti arrepios por todo o corpo. Olhei para cima e encontrei os olhos verdes mais perfeitos olhando para mim.

Companheiro.

Joy sussurrou, e eu a senti pular de excitação. Não sei quantas horas nos passaram naquela posição. Eu não conseguia tirar os olhos do rosto perfeito do estranho que me segurava com segurança me impedindo de cair no chão. Um novo corte estava em sua bochecha e sangue ainda escorria dele. Depois do que pareceu uma eternidade, ele me levantou e me estabilizou.

— Nunca venha para esta floresta sozinha. Tenho certeza que você ouviu falar que esse é um lugar assombrado.

Eu concordei como uma idiota, ainda olhando para ele. Seus bíceps eram poderosos e me interessei por ele. Eu me perguntei se ele também era um bandido porque nunca antes o tinha visto na matilha antes. Em sinal de agradecimento, tirei um pedaço da bainha do vestido e entreguei para ele.

— Obrigada por ter vindo em meu socorro. — Eu disse enquanto ele pegava o pedaço que eu o oferecia. Nossos dedos roçaram e causaram arrepios pelo meu corpo. Ele sabia que eramos companheiros? Será que ele também me iria rejeitar?

Eu enxuguei a bochecha dele com a peça. — Você deveria voltar para a matilha, não é seguro aqui.

— Qual o seu nome? — Eu perguntei.

— Karim.

Estendi minha mão. — Prazer em conhecer, Karim. Eu sou…

— Eu não me importo. Apenas volte para a matilha. — Ele se afastou, deixando-me ali com a mão estendida. Meu espírito caiu junto com meus sapatos e meias. Peguei minha palma com a outra mão.

— Eu sou Laika — Eu completei.
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