ANTÔNIAEssa beleza toda me faz pensar sobre a ironia da vida, sobre o quanto o destino é caprichoso.Quando eu desci daquele pau de arara, saindo de Santa Bárbara com uma trouxa nas costas em direção a Quijingue, o estômago dolorido de tanta fome, eu nunca poderia imaginar que estaria ao lado de uma rainha árabe, em seus últimos dias de vida, comungando de uma beleza única, em um momento tão divino.Anusha quebrou o silêncio com a voz embargada, segurando a minha mão.— Obrigado menina, eu sou filha do deserto, foi no meio das dunas que eu nasci e me criei, mas eu nunca pude ver o quanto era bonito o mundo que estava a minha volta. Foi preciso uma ajnabi, uma estrangeira, para eu rir nesses meus últimos dias. Que allah abençoe a sua vida e a de suas crianças, Antônia Hassan, obrigada minha neta!ANTÔNIA HASSAN, eu hoje não era menina, a garota insolente, a bunda grande e gorda, ela reconhece-me nesse momento como um
ANTÔNIA— Então você deixou de se comportar como um idiota e veio buscar a sua mulher. Fico feliz, não criei imbecis.Recebi uma mensagem de Malika no celular, então disfarço e saio de fininho, deixando Hafiq com Anusha conversando sobre o mau caráter do Farid e vou com Kaled até o quarto dela. Ela me aguarda sentada na cama, segurando um buquê de flores e toda chorosa.— O que houve Malika?Mesmo aborrecida, ela parece rejuvenescida, os cabelos cortados em camadas, acho que deu uma mudada no visual, sentei-me em sua cama e ela confidenciou-me timidamente.— Recebi essas flores de Graham.Eu quase posso me ouvir dando graças a Deus por não serem de Farid. Acho que ele cumprirá o que prometeu a Anusha e vai sumir no mundo.Mas se Graham, aquele deus loiro, deu-lhe flores, por que afinal ela está chorando?— Isso é bom, ele é um cara legal, atraente, por que você esta chorando? Ela abaixa a cabeça envergonhada, como uma adolescen
HAFIQEstou sentado na cama olhando Tônia desfazer as mala, fazendo de tudo para conter o sorriso, mas não consigo.No instante em que ela botou os pés novamente em casa, este espaço elegante e luxuoso, tornou-se mais uma vez um LAR.Sem ela e Kaled, essas paredes só servem pra deitar, dormir, comer e vegetar.O aconchego e calor de uma casa, só existem com a presença deles dois, barulhentos e arruaceiros, aminha família.Tônia grita a todos os pulmões para Kaled tirar o dedo da tomada e o danadinho abre um sorrisão, mostrando os dentinhos branquíssimos fazendo aquela carinha inocente. Eu caio na risada e ela me olha de cara feia, jogando-me um travesseiro no rosto.Ela está tensa por que hoje é o aniversário de Anusha e minha avó exigiu a nossa presença em um jantar em sua casa. A última vez que estivemos em família foi desastroso, aquele ordinário drogou Tônia, evito em pensar naquela noite, não me lembro de me sentir
HAFIQDuas pequenas pedras de brilhantes adornam singelamente as suas orelhas.Um brilho suave dourado nos lábios e sandálias altíssimas do tipo “ Me come que eu gosto’’ arrematam o pacote delicioso de mulher a minha frente.Tônia estende a mão para mim, piscando os cílios longos e sorri toda moleca.— Estou bem, Hafiq?Eu enlaço a sua cintura e arrasto o nariz por todo o caminho do seu pescoço, sentindo o seu cheiro indefectível de canela.— Tão bem que se me olhar desse jeito novamente, eu te arrasto para o quarto.Ela me jogou um beijo e uma piscadela com os seus olhinhos de gato e eu como um bobo por essa mulher, deixo-a passar na frente para apreciar a sua bunda redondinha mover-se sinuosamente enquanto ela caminha.Antes de entrar no carro, eu ajeito o volume da virilha, consciente de que a noite será longa.Tônia segue todo o percurso até a casa de Anusha em silencio, o rosto retesado e aquela mania de
HAFIQEu levanto-me puto da vida e os xingamentos são geral, um verdadeiro pandemônio se instaura, até que Anusha faz todos nós estremecermos com uma chibatada estridente na mesa.— Todos calados agora. Jamal venha aqui e me traga o que eu pedi.Jamal, o motorista de Anusha, surge ressabiado na sala de estar e entrega dois envelopes para minha avó, se retirando em seguida.Quando eu faço menção de levantar-me com Antônia, a minha avó faz um sinal para que eu me sente novamente.— A propósito, enquanto eu falar, todos vocês fiquem calados, eu ainda estou viva e sou a chefe dessa família, fui clara?Eu tremo de raiva e olho em direção a porta, louco para pegar a minha mulher e ir embora desse inferno, Anusha abre os envelopes e se dirige a Farah.— Agora me diga Farah, quem é você para se intitular uma mulher virtuosa, com quem você pensa que está falando? Eu pareço ser o idiota do Karim?— Minha sogra, eu me sinto
HAFIQ— Por que você não me disse a verdade Tônia? Eu passei todo esse tempo me sentindo culpado por desejar a mulher do meu irmão e você nunca foi dele.— Eu honrei a promessa que fiz a Zie, e eu não me arrependo. Aziz me conheceu quando eu tinha treze anos, em um banco de praça de uma cidadezinha pequena. Naquele dia eu estava com tanta fome que eu bebia água pra disfarçar a dor no estomago. Eu vou fazer pra você a mesma pergunta que eu fiz pra Zie naquele dia. Você já sentiu fome? Sede? Você já chorou por falta de comida? Eu era uma menina, não sabia nada sobre trono, Qatar? Nunca ouvi falar esse nome. Eu nem sabia escrever direito. Aziz me convidou pra viver com ele e me salvou da fome, da sede, do abuso, ele era tudo pra mim, o meu anjo salvador. Por isso que eu não quis falar, ele não queria esse olhar de censura de vocês por ele ser como era.Meu pai aponta o dedo pra Antônia, acusando-a de trair a confian
HAFIQMeu pai não deu uma palavra sequer, de onde eu estava pude ver seus olhos marejados. O sempre tão forte sheikh Karim engoliu em seco, procurando as palavras sem achar. Levantou-se calado, em direção à vovó e beijou-lhe a mão, balbuciando baixinho.— Poderia me dar uma cópia mamãe?Anusha afaga o rosto do meu pai e responde-lhe no mesmo tom, como se aquilo fosse um segredo só deles.— Claro meu filho. Karim, você terá a chance de fazer diferente, você vai ser avô de novo, veja o milagre que a vida te traz.Papai e eu nos viramos em direção a Malika e ela nega com a cabeça. Nossos olhos pousam em Antônia e ela me encara pálida, desviando o olhar tenso.Eu olho para Tônia e para a sua barriga ainda lisa, demorando de absorver o que minha avó acabou de dizer.Minha avó se aproxima de mim e pega minha mão, me puxando para próximo de Antônia.A minha voz sai quase inaudível, pelo nó que tranca a minha garganta.
HAFIQUma chuva de verão começa a cair lá fora e está cada vez mais difícil dirigir com o mau tempo, mas eu sigo lentamente pelas ruas de Pearl Qatar, a música suave agora cede lugar a Joss Stone cantando It’s a Mans world.Tônia me fita lentamente, viajando na música e eu sei muito bem o que se passa em sua cabeça.Ela me fode em seu pensamento a mesma quantidade de vezes que eu arranco a sua roupa e gozo em seu corpo, sem sequer tocá-la.O silêncio e a angústia se dissipam e um desejo palpável nos arrebata sem que consigamos ignorá-lo.Eu vagueio por seus olhos castanhos-esverdeados, as suas pupilas se dilatam, ela passeia a língua pelos lábios devagar e em fração de segundos eu tomo consciência do inchaço entre minhas pernas.A chuva continua a açoitar lá fora e o pulsar de cada nota musical e do meu sexo, tomam- me em uma enxurrada avassaladora.Tônia suspira profundamente e enquanto o sinal está f