HAFIQ— Por que você não me disse a verdade Tônia? Eu passei todo esse tempo me sentindo culpado por desejar a mulher do meu irmão e você nunca foi dele.— Eu honrei a promessa que fiz a Zie, e eu não me arrependo. Aziz me conheceu quando eu tinha treze anos, em um banco de praça de uma cidadezinha pequena. Naquele dia eu estava com tanta fome que eu bebia água pra disfarçar a dor no estomago. Eu vou fazer pra você a mesma pergunta que eu fiz pra Zie naquele dia. Você já sentiu fome? Sede? Você já chorou por falta de comida? Eu era uma menina, não sabia nada sobre trono, Qatar? Nunca ouvi falar esse nome. Eu nem sabia escrever direito. Aziz me convidou pra viver com ele e me salvou da fome, da sede, do abuso, ele era tudo pra mim, o meu anjo salvador. Por isso que eu não quis falar, ele não queria esse olhar de censura de vocês por ele ser como era.Meu pai aponta o dedo pra Antônia, acusando-a de trair a confian
HAFIQMeu pai não deu uma palavra sequer, de onde eu estava pude ver seus olhos marejados. O sempre tão forte sheikh Karim engoliu em seco, procurando as palavras sem achar. Levantou-se calado, em direção à vovó e beijou-lhe a mão, balbuciando baixinho.— Poderia me dar uma cópia mamãe?Anusha afaga o rosto do meu pai e responde-lhe no mesmo tom, como se aquilo fosse um segredo só deles.— Claro meu filho. Karim, você terá a chance de fazer diferente, você vai ser avô de novo, veja o milagre que a vida te traz.Papai e eu nos viramos em direção a Malika e ela nega com a cabeça. Nossos olhos pousam em Antônia e ela me encara pálida, desviando o olhar tenso.Eu olho para Tônia e para a sua barriga ainda lisa, demorando de absorver o que minha avó acabou de dizer.Minha avó se aproxima de mim e pega minha mão, me puxando para próximo de Antônia.A minha voz sai quase inaudível, pelo nó que tranca a minha garganta.
HAFIQUma chuva de verão começa a cair lá fora e está cada vez mais difícil dirigir com o mau tempo, mas eu sigo lentamente pelas ruas de Pearl Qatar, a música suave agora cede lugar a Joss Stone cantando It’s a Mans world.Tônia me fita lentamente, viajando na música e eu sei muito bem o que se passa em sua cabeça.Ela me fode em seu pensamento a mesma quantidade de vezes que eu arranco a sua roupa e gozo em seu corpo, sem sequer tocá-la.O silêncio e a angústia se dissipam e um desejo palpável nos arrebata sem que consigamos ignorá-lo.Eu vagueio por seus olhos castanhos-esverdeados, as suas pupilas se dilatam, ela passeia a língua pelos lábios devagar e em fração de segundos eu tomo consciência do inchaço entre minhas pernas.A chuva continua a açoitar lá fora e o pulsar de cada nota musical e do meu sexo, tomam- me em uma enxurrada avassaladora.Tônia suspira profundamente e enquanto o sinal está f
HAFIQDepois que entramos em casa e arrancamos as roupas molhadas e imprestáveis, eu encho a banheira pra nós dois e Tônia senta-se na outra ponta, pensativa e calada, arfando de satisfação com a massagem que eu faço em seus pés.Observo a expressão tensa de Tônia e a sua alma tão facilmente decifrável se revela.Antônia é uma mulher do grito, do arrebatamento. Ela é exacerbada e o seu silêncio só confirma que há algo muito sério que a incomoda.— Hafiq, eu preciso te contar uma coisa e eu não sei por onde começar.Massageio a sola do seu pé e puxo-lhe os dedões, o seu olhar é de súplica, em minha mente lê— se somente que o motivo da sua agonia é merda feia, então estendo a mão e ela arrasta os quadris até enganchar as pernas na minha cintura.— Você tá me assustando Tônia, respira fundo e fala de uma vez.As imagens que passam na minha cabeça são as mais desastrosas possíveis, Tônia jogando dinheiro em cima de d
HAFIQ— Eu estava pegando água no poço, quando ele chegou bêbado tal qual um porco. Foi tudo tão rápido, minha mãe estava no quarto, como sempre fingindo que não ouvia nada, eu empurrei- o pra longe, com toda a força que eu podia, ele cambaleou e bateu a cabeça em um pedregulho. Eu corri pra casa e minha mãe tentou estancar o sangue, mas não conseguiu. Nós arrastamos o corpo dele até a soleira da porta, minha mãe lavou o chão para encobrir o sangue e me mandou ir embora, antes dos meus irmãos chegarem. Se alguém descobrisse que a morte de Pedro não foi acidental, eu seria presa, então me deixar ir embora, foi o meio que ela encontrou de me compensar por todos os anos que eu sofri nas mãos daquele infeliz. Peguei carona com um caminhoneiro, que me deixou em Quinjingue, uma cidade próxima da minha, Santa Bárbara. Zie me encontrou dois dias depois, era Festa de Reis, ele era a única pessoa que sempre soube de tu
ANTÔNIARodei de um lado para o outro na cama sentindo falta do idiota do Hafiq.Inferno de homem, depois de tantos anos sem tomar coragem, eu exponho os meus demônios para esse sujeito e o que eu ganhei? Um marido surtado, apático e cheio de neuras sobre o nosso relacionamento.Eu sei muito bem todas as idiotices que está passando por sua cabeça confusa. Hafiq é teimoso demais para que eu o convença que ele é o meu príncipe quente, o homem que me resgatou da solidão, enchendo-me de amor com os seus beijos e suas perversões.Kaled ainda está dormindo, sigo em direção à cozinha e passo pelo escritório. Paro na soleira da porta e Hafiq está sentado de costas, eu estou prestes a sair, mas suas palavras me arrastam para dentro do escritório e eu me pergunto agora: QUE PORRA É ESSA, HEIN?— Ela não pode saber ainda, espere eu ajeitar tudo e depois eu conto com calma. Fique tranquila, seu contato será
Hafiq desliza o corpo no meu, pairando em cima de mim, com medo de me machucar, eu trago os seus quadris contra as minhas coxas, apertando a sua bunda durinha, ele ri e afasta os meus cabelos do rosto.— Eu te faço feliz minha habibi?Os meus dedos enterram-se em seus cabelos e eu puxo-o pelo pescoço, lambendo a sua boca macia.— Muito, como eu nunca pensei que pudesse ser um dia.Hafiq me beija sem pressa, o jeans gasto roçando em meu clitóris, deixando a minha pele toda arrepiada, através das roupas.Será que é verdade o que ele disse? Eu vou bisbilhotar com Anusha, ai daquela velha se estiver compactuando com putaria de Hafiq, eu termino a amizade com ela.Mas até descobrir se o que ele disse é verdade ou mentira, ele não vai tocar em um fio sequer do meu cabelo. Não vai adiantar vir com historinha de Habibi e grunhir no meu ouvido, que eu não vou dar pra ele nem que a vaca tussa.Fecho os olhos, assim é melhor pra não cair em tentação, tento empurrar o peito dele, mas parece que e
TRÊS MESES APÓS EM DOHA HAFIQMeu pai toma um chaí, a xícara treme sem parar e ele seca as mãos na galabia imaculadamente branca, encarando-me por cima dos óculos de grau.— Sente-se, tenho dois assuntos para tratar com você.— Eu disse ao Senhor que o ajudaria no governo, contanto que deixasse a minha família em paz, não quero mais discussões sobre Antônia.Meu pai levanta-se e vai até o cofre, trazendo uma caixa e uma pasta de documentos.— Não sei como te dizer isso, eu pensei que nunca mais tocaria nesse assunto.Meu pai está tenso, assustado e sem saber como agir, essa postura para mim era tão nova quanto desconcertante. Estou acostumado com o grande chacal do Qatar, um homem genial, impassível, dotado de uma precisão cirúrgica em ir ao cerne de qualquer problema.O sujeito perdido e constrangido que e