Lobos do asfalto
Mulheres do caminho
Meia noite. Olhei o relógio de pulso. Tudo estava embaçado pela viseira suja do meu capacete e eu precisava parar a minha Harley. Foi nesse momento em que me recordei de momento semelhante há mais de cinco anos atrás. Estávamos em uma trip pelo país, eu e os White wolves. Lembro bem quando Bill olhou para trás enquanto eu comia a poeira cor de barro da sua menina, uma Harley Own linda, toda metalizada. Bill “Lobo velho” estava quente aquela noite. Ele não parava por nada. Eu já sentia sede e “Mad Max” sinalizava para mim que deveríamos parar. Mad Max era o apelido carinhoso do Caio, porque ele só queria mais velocidade, era um ás do asfalto, mas o cara mais louco que eu já conheci. As manobras mais arriscadas e ultrapassagens mais loucas eram as realizadas por Caio “Mad Max”. Aquele grupo era grande, nunca foi tão grande quanto naquela viagem. Estávamos em vinte e dois motoqueiros. Todos sempre trajados com a jaqueta de couro preta dos White wolves, nosso clube. Bill diminuiu a velocidade e encostou a sua menina, como ele chamava. Logo todos encostaram na estrada escura.
Eu já calculava que estávamos no Espírito Santo àquela altura. Bill olhou o GPS do seu celular e, de fato, estávamos no Estado vizinho ao nosso depois de quase doze horas de moto. Minha bunda já estava quadrada quando finalmente pude acender um cigarro e desligar o rock do meu celular que estava com a bateria a dez por centro. Eu não pilotava minha “esposa” sem ouvir um bom e velho rock. Era dos caras do grupo o mais novo. Estava com vinte e cinco naquela época. Bons tempos em que eu não precisava me enfiar em terno e gravata e cuidar de assuntos de escritório que antes eram exclusivos do meu pai. Sentia falta daquela época. Logo o sinal abriu e eu parti para casa com a minha Harley mas com todas aquelas memórias na mente. Memórias de dias felizes como agora.
Bill nos olhou descendo da moto e tirando o capacete. Quando voltou a olhar o GPS, em seguida olhou o céu e naquele momento ele parecia ter descoberto onde estávamos como um beduíno do deserto que se guia pelas estrelas.
- Estamos perto de uma cidadezinha chamada .... - Ele olhava o seu celular. - Cachoeiro do Itapemirim mas podemos ir direto para Vila Velha, votação?
- Vila velha, Bill! Vamos pro “Bate e fica”*! - Gritou Mad Max.
- Melhor, velho!
Ele me olhou, sabendo que minha decisão, mesmo de mais jovem do grupo era importante por ser quem eu era, o cara mais rico do grupo e o que pagava bebida para todo mundo.
- Bora, velho! Eu to com a bunda quadrada já e vontade de tomar uma gelada!
- Então, bora Vila Velha! Vamos chegar “no sapatinho” para não assustar a mulherada da cidade!
- Ihháaa! - Gritei terminando por jogar fora meu cigarro quando a decisão do grupo já cansado foi tomada.
O chão até a cidade foi de mais uma hora mais ou menos e adentramos a cidade sem pedir passagem, com ar de mau encarados, fedendo a cigarro e suor, com as olheiras fundas de tanto dirigir. Se eu capotasse minha moto, certamente culparia Bill por fazer a gente pilotar tantas horas só com duas paradas. Vila Velha é realmente uma cidade muito bonita, assim como quase todas do país, e o que eu mais amava era poder conhecer todas elas somente com o combustível da minha moto e minha persistência. Era óbvio que o dinheiro da minha família ajudava mas de alguma forma eu sempre tentei mostrar aos outros que era capaz de me virar sem ele. Eu fazia minha própria comida, pedia poucos recursos ao meu pai apesar de poder utilizá-los, me virava sozinho, afinal meu pai mesmo havia me ensinado que um homem deve se virar e não esperar que os outros estendam a mão pois nem sempre isso acontece. Desde novo eu tinha esse mesmo pensamento.
Quando paramos nossas motos em frente a um bar, meu corpo todo doía mas como um típico macho que era, mal reclamei diante dos outros velhos do grupo que estavam bem piores do que eu. Acendi novo cigarro e ajeitei meu colete do White wolves no corpo, guardei o capacete e entrei junto com os demais para pedir informações e beber algo. O bar era rústico mas acontecia um show intimista naquela noite, voz e violão. A cantora parecia bem novinha mas era dona de uma voz poderosa e de uma beleza incomum para cantoras da noite e eu conhecia algumas delas. As pessoas ao nosso redor nos olharam, afinal chamávamos atenção. Estávamos em um grupo grande invadindo o local, todos de colete de couro, bandanas e botas. Ajeitei o cabelo comprido que sempre cultivei com devoção em um coque samurai e me sentei virando a cadeira para sentar de frente para o encosto. Bill ria de alguns caras mais velhos do grupo que estavam se queixando das costas quando a garçonete se aproximou de nosso grupo perguntando o que iríamos querer. Ela demorou o olhar no meu peito sob o colete e em seguida nos meus olhos. A fumaça me fazia cerrar os olhos enquanto o cigarro estava pendurado na boca para que eu pudesse acessar minha carteira no bolso de trás da calça e por isso não achei ela tão bonita mas aquela olhada foi o suficiente para tirarem sarro de mim o resto da noite.
- Eu ainda não sei porque a gente pilota com o “Lobo louco”, ele ganha todas as mulheres onde chega. - Disse um dos motoqueiros, Fred “Pantera” batendo no meu ombro. O apelido dele, fiquei sabendo tempo depois se referia a banda que ele mais gostava, Pantera.
- Fale por você, Pantera, eu tô mais que satisfeito com a atenção que eu ganho. - Respondeu Bill olhando a cantora em cima do palco.
- Ah mas eu aposto que o “Louco” leva ela para cima da moto hoje mesmo.
Todos gargalharam com a referência dele sobre “para cima da moto” sem qualquer conforto. Como alguém consegue trepar em cima da moto? Ta certo que eu já tinha feito, mas não foi com nenhuma cantora de bar bonita como aquela.
- Ah parem de apostar coisas sobre mim, minha bunda tá doendo! - Reclamei pedindo uma água e uma cerveja a garçonete.
- Estão de passagem? - Perguntou ela olhando para todos para disfarçar - Motoqueiros?
- Sim, madame - Respondeu Bill se levantando para estender a mão a ela e todos demos risada.
- Eu saio à uma hora, queria dar uma volta de moto! - Ela olhou para mim.
Isso não se faz com um homem que passou mais de nove horas em cima da moto com apenas duas paradas de quarenta minutos para comer e ir ao banheiro. A minha vontade era de m****r ela se lascar porque meu pau não iria subir com a dor no pescoço que eu estava mas olhei os demais que esperavam que eu me posicionasse como um lobo branco dos mais selvagens.
- Em cima de qual moto quer sentar? - Perguntei, tirando o cigarro da boca e o apoiando sobre o cinzeiro da mesa. Ficava bastante sem paciência quando sentia fome e sono.
- Ah Vitor! Claro que ela sentar na tua moto! - Mad Max atacou e olhou a moça, cruzando os braços. Todos esperavam a resposta dela.
- O moço ai com o cigarro, de colete sem camisa! - Ela sorria.
De fato era eu. Precisava urgentemente parar de andar de colete sem camisa por baixo.
- Eu venho te buscar. - Respondi sob livre e espontânea pressão.
Capítulo 2A cantora do bar de rockNaquele momento passei a observar a cantora do bar. Era uma gata que parecia novinha, estava vestida toda de jeans e salto alto e começou a me olhar insistentemente. Se não fosse pelo meu colete, eu poderia até achar que ela estava me “dando mole”. Era um fato, eu tinha o costume de me vestir sem camisa por baixo daquele colete dos White wolves e aquilo chamava a atenção das mulheres. Era visível que eu frequentava a academia e todos os meus músculos ficavam a mostra daquele jeito. Pena que eu estava bem cansado para transar naquela noite. Era um tédio ter que ficar fingindo para os amigos que era durão o tempo todo, o “comedor”da turminha de motoqueiros. Era enfadonho até porque eu não tinha me colocado nessa posição e sim eles. Toda roda masculina conta vantagem
Capítulo 3O hálito da morteOuvi alguns dos amigos saírem do bar e fazerem alguma observação sobre mim que nem prestei atenção. Eu estava com a cantora e sabia que seria alvo das piadinhas deles.Não fazia muito tempo que estávamos ali sobre a moto e ela já gemia baixinho diante da minha destreza. Então puxei os cabelos da menina com delicadeza para trás, expondo o pescoço e beijei a pele macia e perfumada. Deslizei a língua hábil até a orelha e lambi, depois deslizei a língua até a boca. Eu sempre queria a mulher em ponto de colisão com as estrelas quando estivesse comigo. O meu beijo era demorado, gostoso, mordido, lambido. Eu me demorava muito beijando e deslizando as mãos pelo corpo da garota. Seg
Capítulo 4O perfeito cafajesteAo voltarmos a cidade, fomos diretamente para o hostel pesquisado para nossa estadia, Green yard hostel. Era, de fato, muito bonito e simples. Os White wolves não procuravam luxo ou sofisticação. A estrada era o prazer principal e não as hospedagens. Mas confesso que o lugar era luxuoso para um hostel e a localização de frente para o mar me fez abrir um sorriso largo. Eu estava morto de cansaço e fome e só queria jantar e descansar. Estava pilhado da adrenalina e da raiva e não sabia se conseguiria dormir. Fui levado até meu quarto por uma simpática dona do hostel que se apresentou, nos recepcionando com muito zelo. Era uma mulher madura, de talvez uns quarenta e alguns anos e muito bonita. Fiquei impressionado, mas evitei dizer isso aos amigos já que não fazia nem duas
Capítulo 5Ciúme e outras drogasA manhã me brindava com um raio de Sol forte batendo bem nos meus olhos. A cabecinha de Larissa estava sobre meu peito, descansando como um anjo. Caído. Eu já tinha conhecido garotas fogosas, mas como ela... Nem sabia como era sua família mas imaginava a desculpa que daria por ter passado a noite fora de casa. As amigas sempre costumavam ser as culpadas por essas travessuras. Eu a acordei com um beije leve nos lábios.-Princesa? Acorda, preciso ver como estão meus amigos e tomar o café.-Hummm -Ela resmungou cheia de preguiça -Não posso ficar mais um tempo? -Ergueu a cabeça para me olhar -Te amar mais um pouco?-Teremos tempo para isso, agora eu realmente preciso ver como estão as coisas. Eu te levo em casa
Capítulo 6O bad boyQuando acordei, tomei um banho e vesti uma calça jeans rasgada e o meu colete sem camisa por baixo, baguncei um pouco meus cabelos compridos e borrifei meu perfume no pescoço e braços. Olhei a hora pelo celular, não gostava de relógios de pulso. Eram vinte horas. Aquela hora tinha sido marcada pela dona do hostel em um terraço ali mesmo. Era óbvio para mim que nada mais estava marcado. Ao chegar ao saguão vi que ela estava deslumbrante com um vestido até a canela, vermelho, com brincos grandes e bonitos e batom vermelho. Se estava preparada para conversar comigo, tinha perdido seu tempo.-Boa noite. Até amanhã.-Que?!Eu me voltei para ela com um ar de seriedade, até de irritação.-Eu disse boa noite. Divirta-se com o Mad Max.O
Capítulo 7O acidenteEstávamos já há uma semana em Vila Velha, Espírito Santo.A quinta-feira chegava de novo, de mansinho, anunciando mais um final de semana em que eu sabia que os amigos iam querer beber até cair já que não podiam ir embora. Às cinco horas da tarde Bill recebeu um telefonema da delegacia informando que a sua Harley fora achada, mas que faltavam peças. A sua ira foi forte e justa. Bill jogou o celular longe, que por milagre saiu ileso daquele arremesso. Notei pelo canto do olhar que Simone viu o que tinha acontecido no restaurante de seu hostel e se aproximou devagar. Eu a olhei e me levantei para que não se aproximasse de Bill.-Vamos ali no canto, eu te conto.Ela me olhava com o olhar preocupado, porém sensua
Capítulo 8Um homem perigosoEla começou a se vestir para ir embora. Não resistindo, fui até ela e deixei a toalha cair para lhe abraçar fortemente. Não era raro que as mulheres quisessem namoro, mas era raro que fossem tão diretas quanto ela estava sendo. A beijei com tanto tesão que ela chegou a gemer na minha boca. O corpo pequeno desfaleceu de prazer nos meus braços e ela socou meu peito, frustrada, querendo mais, querendo tudo. Eu não podia dar tudo, só podia dar mais e daria enquanto eu estivesse na cidade.Ao descer junto com ela, Simone estava em seu restaurante e virou o olhar para nós dois enquanto fumava. As duas se encararam brevemente e eu podia jurar que o mundo ia desabar sobre a minha cabeça naquele momento. Caio e Bill conversavam do lado de fora e balançavam as cabeças n
Capítulo 9 Três é mesmo demais Simone observou a doutora Adriana olhar o soro pessoalmente e me falar sobre minha condição clínica. -Então, Vitor... -Ela pausou -Você não fraturou seu pé mas teve uma luxação e essa parte precisa ser imobilizada pois está frágil e pode piorar se não fizermos nada. Como está sua dor? -Bem forte mas quando mexo, se deixo parado, fica suportável. -Certo, -Ela buscou seu bloco de receitas no bolso do jaleco -Não pode ficar suportável, tem que passar, então vou te prescrever algo mais forte. Você sai do soro amanhã de manhã pois não tem nada quebrado ou infeccionado. Ta bem? -Certo, doutora. Ela olhou para Simone com curiosidade. -Você é a mãe dele? Simone sorriu levando a mão a boca enquanto baixava a cabeça. A médica se sentiu constra