Nazli Ylmaz A noite tinha sido uma sucessão de emoções e sustos. Eu ainda estava tentando controlar a adrenalina que corria pelo meu corpo quando o Doutor Ferman entrou na sala de cirurgia, trazendo com ele aquela calma autoritária que sempre impunha respeito. — Nazli, preciso que me ajude com este paciente — ele disse, sem perder tempo. A voz dele, firme e controlada, trouxe-me de volta ao momento, e eu imediatamente me concentrei na tarefa. Trabalhamos juntos para estabilizar o paciente, cada movimento era preciso, e a sala estava imersa em uma concentração absoluta. Quando terminamos, eu estava exausta, mas aliviada por ter feito tudo o que era possível por aquela vida. Doutor Ferman se aproximou e, de uma maneira que me pegou de surpresa, colocou a mão no meu ombro. — Você fez um bom trabalho hoje, Nazli. Vá para casa e descanse. Pode tirar o dia de folga — ele disse, com um sorriso breve, mas sincero. Assenti, agradecendo pela compreensão, mas, ao sair da sala, perce
Nazli Ylmaz Essas palavras me atingiram com uma intensidade inesperada. Eu havia ouvido declarações antes, mas nada como aquilo. Não havia promessas vazias, nem juras exageradas. Apenas uma determinação serena, uma promessa de alguém que estava realmente disposto a lutar por mim, a lutar para ser melhor, não apenas para conquistar o que queria, mas para ser digno de algo maior. — Lion… — comecei, mas as palavras escaparam, se misturando em uma confusão de sentimentos que não sabia como expressar. Eu estava tão acostumada a me proteger, a erguer muralhas ao meu redor, que agora, diante daquela vulnerabilidade dele, sentia as minhas próprias defesas desmoronarem. Ele continuava me observando, o sorriso diminuindo, dando lugar a um olhar mais profundo, quase triste. — Sei que você carrega feridas, e que o medo de confiar em alguém é enorme — ele disse em voz baixa. — Mas eu não vou desistir. Vou te provar, de um jeito ou de outro, que sou mais do que a imagem que você tem de mim.
Lion Collins Duas semanas que passaram em um piscar de olhos, mas que também pareceram uma eternidade. Desde o dia em que Nazli me deu aquele pequeno, mas significativo beijo na bochecha e me permitiu um espaço no coração dela, algo dentro de mim começou a mudar. Não era mais sobre a conquista ou sobre provar algo a alguém, era sobre merecer o que Nazli representava, um futuro que eu mal ousava sonhar antes.Naquela noite, enquanto me preparava para o encontro, sentia um misto de ansiedade e euforia. Tinha convencido Ferman a trazer Zeynep junto para que fosse um encontro duplo. Sabia que Nazli ficaria mais à vontade assim, menos pressionada, e por mais que quisesse um momento a sós com ela, estava disposto a tudo para que ela se sentisse segura e confortável.Quando cheguei ao restaurante, Nazli já estava lá, radiante em uma simplicidade que a tornava ainda mais encantadora. Seu sorriso ao me ver me deixou sem palavras por um instante, e senti que todo o meu esforço estava valendo a
Lion Collins Eu levei Nazli para casa depois do jantar, e, apesar do incidente com Zeynep, senti que a noite havia sido um sucesso Estacionei o carro um pouco longe da casa dela e caminhamos lado a lado em silêncio por um tempo, eu queria prolongar ao máximo a noite ao lado dela e a brisa fresca pairando ao nosso redor. A presença dela tinha um efeito calmante, e, por algum motivo, eu me sentia mais eu mesmo ao seu lado, como se ela me visse além das aparências, além do que eu tentava mostrar. Quando nos aproximamos do prédio dela, Nazli quebrou o silêncio com uma voz suave, quase melancólica. — Sabe, Lion, nem sempre fui tão fechada… mas a vida tem um jeito de nos tornar mais cautelosos, não é? — Ela olhou para mim, os olhos refletindo uma vulnerabilidade que raramente mostrava. — Eu e minha irmã Leyla… perdemos nossa mãe há pouco tempo. Ela era tudo para nós, sabe? Ela nos criou sozinha por um tempo, mas sempre carregava um peso que nunca compartilhava, até que um dia, acordamos
Nazli YlmazAo abrir a porta de casa, um aperto tomou conta do meu peito. Havia algo diferente na atmosfera. Eu dei dois passos para dentro e parei. Lá estava Leyla, sentada no sofá com os olhos vermelhos e chorando, segurando algo nas mãos, perdida em pensamentos. —Leyla?—sussurrei, aproximando-me dela, mas minha voz saiu trêmula. Ela levantou a cabeça lentamente, e no instante em que nossos olhares se encontraram, entendi que, por alguma razão, estávamos ambas prestes a desabar.Sem dizer nada, nos abraçamos, e eu senti o calor das lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto ela soluçava baixinho. Depois de alguns instantes, Leyla se afastou um pouco, com os olhos cheios de saudade, e estendeu as mãos para me mostrar dois pequenos embrulhos.—Enquanto arrumava as caixas no quarto dos fundos, encontrei isso.— ela disse, a voz embargada. —Dois presentes de Natal. A mamãe os deixou para nós.Por um momento, o chão pareceu sumir sob meus pés. Aquela tradição… nossa mãe adorava esconder
Nazli Ylmaz Ao deitar ao lado de Leyla naquela noite, observei sua respiração suave, o rosto sereno. Era raro vê-la assim, sem as linhas de preocupação ou tristeza que tantas vezes marcavam seu semblante desde que nossa mãe se foi. Eu fiquei ali, no escuro, admirando minha irmã com o coração cheio de um misto de orgulho e dor. Ela era tão forte… muito mais do que ela própria imaginava.Minha mente então me levou de volta no tempo, ao dia em que conheci o pai dela. Eu era uma criança, e ele surgiu em nossas vidas de forma repentina, trazendo alegria e uma energia diferente para nossa casa. Minha mãe parecia tão feliz ao lado dele. Aqueles primeiros tempos foram como um sonho; ele me tratava bem, e eu, que nunca conheci meu pai verdadeiro, comecei a vê-lo como alguém que poderia preencher aquele vazio. Eu até cheguei a chamá-lo de “pai”, sem nem precisar de permissão, porque ele me fez sentir que eu podia.Lembro-me de quando minha mãe anunciou que estava grávida de Leyla. A felicidade
Lion Collins Na manhã seguinte, estava no consultório de Ferman, revisando alguns prontuários enquanto ele organizava alguns papéis na mesa. Era raro termos um momento para conversar fora da correria do hospital, então aproveitamos para atualizar um pouco a vida um do outro. Depois de alguns minutos de silêncio, Ferman fechou uma pasta e olhou para mim com um sorriso casual, mas que carregava algo mais.— Terminei com a Zeynep — ele disse de repente, como se fosse uma constatação banal, mas conhecendo Ferman, eu sabia que significava mais do que ele deixava transparecer.Levantei a cabeça, surpreso. — Sério? Mas você parecia tão tranquilo com ela…Ferman deu de ombros, desviando o olhar por um momento. — Zeynep é linda, mas... não faz meu tipo. Percebi que ela nunca foi alguém que despertou em mim o tipo de sentimento que me tira da zona de conforto. Sabe, aquele tipo de pessoa que faz você querer ser ousado, ultrapassar limites. E quando não existe essa faísca, acho que não vale a
Luna Collins Haviam se passado meses ao lado de Kerem e tinham sido os melhores da minha vida. A relação que construímos era tão sincera, tão cheia de amor e cumplicidade, que qualquer receio ou dúvida parecia ter se dissipado. Éramos só nós dois, um apoiando o outro. Mesmo no trabalho, ele fazia questão de valorizar minha presença, e me sentia respeitada e protegida. Mas, naquele dia, algo inesperado mudou tudo. Eu estava no escritório quando comecei a sentir uma tontura leve, seguida por uma náusea que me pegou de surpresa. Corri até o banheiro e, assim que cheguei, vomitei, sentindo-me ainda mais fraca. Olhei meu reflexo no espelho e vi meu rosto pálido. Aquele não era um simples mal-estar; algo diferente estava acontecendo. Kerem estava fora da empresa, ocupado com um dos seus projetos de arquitetura. Sabendo que não conseguiria me concentrar no trabalho, decidi voltar para casa. Tomei um remédio para o enjoo e me deitei. O sono veio rápido, mas o desconforto não passava. Hor