– MAS O QUE ESTÀ FAZENDO AQUI??!!
Aquilo só podia ser algum tipo de piada doentia. Só podia!
– D-Dante? Você é o irmão do amigo do Rodrigo?
– Claro que sim – falou como se fosse obvio – Meu irmão falou que o Rodrigo tinha recomendado você para ser meu tutor e eu concordei.
– E porque maldição você aceitou?! – fez a pergunta, consternado. Em resposta, só recebe um sorriso perverso do outro, o que fez um arrepio percorrer por sua espinha. Agora podia entender perfeitamente o motivo de Dante ter o observado na escola quase que o tempo todo, o porquê de ele parecer o analisar por inteiro. Dante não veio para a aula só por interesse em estudar ou fazer lição de casa.
Mas sim um plano calculista para foder com sua vida de vez!
– Filho de uma...
– O que houve?! Aconteceu algo? – devido ao grito que Abel deu, Patrícia, que estava fazendo o almoço tranquilamente na cozinha, sai correndo assustada até a porta da frente e fala apavorada – Está todo mundo bem?
– ... – Abel não respondeu logo de cara, não sabia ao certo o que fazer nessa situação. Não podia simplesmente voltar atrás na proposta que fez com Rodrigo, pois ele era seu amigo de longa data. E, por sua personalidade generosa, ele se recusava a deixar alguém na mão, mesmo que essa pessoa seja Dante Martinez, o cara mais estupido que já conheceu. Então, apesar de receoso, ele responde à pergunta de sua prima – Está sim. Está tudo bem... É só o Dante que veio para a aula...
– Tem certeza?
– Tenho. Fica tranquila.
A mulher pode ficar um pouco mais tranquila com a frase dita por Abel, mas o mesmo sentia uma ansiedade e um nervosismo de que, a qualquer momento, o outro adolescente pudesse aprontar consigo, e sentia que ele não pegaria leve com um simples novato. Já Dante, estava estranhamento calmo com toda aquela situação, sorrindo largo pelo menor concordar, mesmo que relutante, em ser seu tutor. Arqueando a sobrancelha, ele responde ao menor:
– Interessante. Mas acho que você vai ter um desafio bem complicado em suas mãos – ele ri, na esperança de o outro desistir.
– Sem problemas. Já encarei coisas piores – ele estava, ou ao menos tentava parecer, confiante diante do mais velho.
– Bem então, seja bem-vindo a nossa casa Dante! – cumprimentou Patrícia, amigável e abraçando o ruivo, que corresponde surpreendentemente educado – Vou fazer o almoço de vocês agora. Gosta de lasanha Dante?
– Claro senhorita. Obrigada – disse sorrindo, usando de sua personalidade carismática. A morena sorri e volta à cozinha, mas Abel, no entanto, ainda permaneceu parado no mesmo lugar, um tanto perdido com as coisas que acabaram de acontecer. Sem perceber que estava paralisado como uma estátua, ele sente Dante segurar seu ombro.
– Hey.
– Ah?
– Vamos estudar, senhor professor?
– Ah claro. Tudo bem... Por aqui.
Ele guia o colega para a sala de estar, onde eles se sentam e se ajeitam no sofá grande. Todo o material que Abel iria usar para as suas aulas estava em cima da mesa de centro, mas ele não movia nem um músculo. Estava sentado, ereto e um tanto afastado do outro. Não queria ficar muito próximo do ruivo, pois temia que ele o fizesse alguma brincadeira de mau gosto, ou ficasse perigosamente colado a ele, o que, possivelmente, resultaria em vergonha, medo e excitação. Essa era a última coisa que Abel precisava em uma situação dessas: ficar sem jeito na frente do cara mais barra pesada do colégio e ser ridicularizado na escola por isso.
De qualquer modo, ficou, por um breve momento, sem saber o que fazer. Até que Dante, impaciente com tudo aquilo, falou para o mais novo:
– Isso é perda de tempo.
– O que?
– Você aqui, querendo me ensinar alguma coisa. Você só fica aí parado sem fazer nada. Como espera me ensinar algo?
– Olha, eu sei que talvez seja estranho isso... Mas eu realmente quero te ajudar. Faz parte do meu trabalho de tutor e parte de quem eu sou, na verdade.
– Comovente. Mas meu irmão já contratou vários tutores... Uns velhos chatos, se quer saber. E nenhum deles conseguiu me ensinar algo.
– Eles eram ruins?
– Digamos que eu era um tanto.... Espirito livre – ele se encosta no sofá, como se morasse ali e esboçava um sorriso de deboche no rosto.
– Em outras palavras, você não fazia porra nenhuma.
– Encare como quiser. Eu acho estudos uma perda de tempo. Eu sei cozinhar, me vestir e tomar banho. Já basta para eu sobreviver.
– Mas precisa saber mais que isso, se quiser ter um emprego.
– Emprego? – ele começou a rir escandalosamente.
– É sério! Não pode viver apenas vagabundeando por ai! Precisa levar as coisas a sério!
– E quem é você pra dizer como devo viver minha vida? – disse, agora aborrecido.
– Sou seu colega de classe, seu tutor e o cara a quem estão me pagando 100 pratas para ajudar um moleque estupido e imaturo a se tornar um aluno esperto e razoavelmente decente! Agora cala a boca e vamos estudar!
Dante queria muito pular no pescoço desse garoto agora. Se não fosse o fato de não estarem sozinhos ali, ele encheria o outro de porrada. Como ele podia falar desse jeito com ele? Claro que nenhum de seus tutores... Aliás, não havia ninguém que falasse desse jeito com ele, a não ser seu irmão. Esse Abel era talvez a única pessoa que conhecia que não tinha medo de enfrenta-lo. Isso o deixou com raiva, ao mesmo tempo que intrigado. Mas, apesar da raiva, ele se conteve e deu uma baforada. Se ajeitou melhor no sofá e esperou que aquilo terminasse logo.
Abelardo, vendo que o outro estava mais obediente, sorriu vitorioso e pegou um livro de História e começou a folhear algumas páginas.
– Se aproxima mais – disse Dante.
– O que?
– Vem mais para cá – falou, nervoso – Desse jeito não consigo ver nada do que está escrito.
O mais novo sentiu seu rosto ficar um pouco avermelhado. Era verdade que tinha que estar com o livro bem perto do aluno, mas... Ficar tão perto do outro era um problema. No entanto, ele tinha que seguir com a aula, ou Rodrigo o mataria. Então, mesmo envergonhado, ele se aproximou mais do ruivo, ficando a poucos centímetros dele e com o livro no colo de ambos. Abel sentia, conforme lia cada parágrafo do livro, seu coração bater mais e mais rápido. Ele estava tão perto de Dante... Aquilo era complicado.
Ele realmente estava se sentindo atraído por um cara arrogante, estupido e grosso como ele? Inadmissível isso!
Mas era verdade, infelizmente.
Abel tentou se manter firme, enquanto mostrava a matéria ao outro que, para sua surpresa, estava calmo e prestativo. O mais novo ficou surpreso que Dante estivesse se comportando desse jeito, até imaginou que aquilo fosse apenas fingimento, ou que aquilo fosse parte de alguma trama maligna do ruivo. Mas não, o ruivo realmente estava lendo aquele livro junto a si.
Aquilo era estranho demais. Impulsionado pela desconfiança, ele perguntou:
– Está prestando a atenção?
– Sim.
– Sim? Tem certeza?
– Claro né? Estou aqui para isso.
– Humm tudo bem. Então... Qual é o nome do imperado romano mais jovem a ocupar o posto de governante de Roma?
– Julio Cesar.
– Qual era o nome da cidade grega que levava o nome da Deusa da Sabedoria?
– Atena.
– Fale o nome de três semideuses que nasceram do sangue de Zeus.
– Perseu, Hércules e Teseu.
Inacreditável.
Abelardo ficou sem palavras para isso. Então ele realmente estava prestando a atenção. Acertou todas as questões, e nem parecia ter tido muito esforço para responde-las. Era incrível, tinha que admitir. Talvez Dante não fosse tão desleixado e desatento como ele o havia imaginado.
E o ruivo, vendo que o outro parecia surpreso por ele ter respondido corretamente as perguntas, sorriu arrogante.
Ele, apesar de ir mal nas provas, não era nem um pouco burro. Ao contrário, ele era muito inteligente! Seu único problema era talvez encontrar alguma motivação para estudar, pois não via graça nisso e não via sentido a forma como os professores queriam empurrar a matéria goela baixo dos alunos, então não conseguia se concentrar direito. Mas isso não o tornava menos inteligente, e queria provar isso ao outro, que parecia subestima-lo um pouco. Achava isso irritante, o fato de as pessoas terem essa má impressão dele logo de cara, embora concordasse que parte da culpa era dele.Mas, ainda sim, acha isso um saco.O de cabelos bicolores parecia ser igual aos outros. E, com sua personalidade destrutiva, não demoraria para ele se cansar do ruivo e manda-lo embora.Era sempre assim.Dei
Quando a refeição acabou, os dois rapazes voltaram para a sala.– Bom... – disse Abel – Acho que por hoje já está bom. Por que não aproveitamos e nos conhecemos melhor?– Tá me chamando pra um encontro? É isso? – disse brincado e rindo da cara de vergonha e raiva do menor.– Não idiota! Eu quis dizer....conversar e....– Hahahahaha! Eu sei bobo! Só estava brincando! – ele então se senta no sofá de novo, despretensioso como sempre – Começa você.– O que?– Me faça uma pergunta, eu respondo e depois eu te faço uma pergunta, e por aí vai. Entendeu o jogo?– Ah sim... Er... Pois bem, o que você gosta de fazer?– Gosto de futebol, vídeo games e de ir a festas. E você?– Eu gosto de desenhar, ler, escrever... E cozin
Na volta para casa, Dante se perdia em pensamentos fantasiosos.Encostado a janelo do carro do irmão, estava a pensar nesse encontro de hoje com seu colega de classe tão peculiar. Esse tal de Abelardo Gonçalves era muito estranho, pensava ele. O garoto tinha toda aquela coragem e firmeza para repreende-lo e o chamar de vários nomes ruins, sem se intimidar com sua presença. E, ao mesmo tempo, ficava com vergonha ou raiva com muita facilidade, por causa de piadinhas bobas e provocações. O ruivo não negava por achar o outro extremamente fofo quando ficava com o rosto vermelho de vergonha."Parecia um moranguinho". Pensou com um sorriso."Mas o que?! De onde raios ele tirou esse pensamento?!Credo... Ele agora estava pensando que o outro era fofo? De onde tinha surgido isso?Mas, infelizmente, era verdade. E
E bem quando Simon pensava sobre o padeiro atraente, o bendito entrava pela porta com seu enorme sorriso.– Bom dia meu amor!– Já disse para não me chamar assim!– Ah relaxa um pouco! Sabe que eu só estou te provocando um pouquinho. A propósito, trouxe mais uns pães e rocamboles pra você e Dante.– Você e esses seus doces... Daqui a pouco vai querer nos engordar com eles para depois nos cozinhar no forno, não é?– Sabe que você não resiste aos meus rocamboles de chocolate e framboesa, admita – os dois adultos riram daquilo e se sentaram no sofá. O loiro deixou a sua cesta em cima da mesa de centro e ambos pegaram um rocambole quentinho, provando com muito prazer.– Tem razão, não resisto – Simon s
A vida não poderia estar melhor para Abel, naquele momento.Mesmo com os estranhos sonhos que teve com Dante, o adolescente estava decidido a se focar em outras coisas mais importantes.Danilo e Laura perceberam que o amigo estava bem focado nos estudos, sendo um aluno dedicado, fazendo amizade com os professores e sempre sendo o primeiro a entregar os deveres e atividades. E sempre com uma excelente qualidade. A maioria dos alunos nem se preocupava em dar atenção a tais detalhes, mas Abelardo surpreendia a todos com a sua facilidade em resolver problemas, escrever redações e responder as perguntas orais.Muitos já o chamavam de “Queridinho dos Professores”, mas o mesmo nem se importava.Seus dois amigos enamorados chegaram a perguntar se ele estava bem, se ele não estaria exagerando na dose de perfeccionismo dos deveres,
E, enquanto trabalhava, o mais velho se recordava de lembranças da época de faculdade, quando conheceu Rodrigo. Ele entrou para estudar advocacia, assim como o pai fizera quando tinha sua idade, antes dele se afogar na bebida com a partida de sua mãe. Simon era um jovem introvertido e, no começo, teve dificuldade em fazer amizade com os outros alunos. Seus pais estavam trabalhando muito, tendo de deixar Dante – que na época tinha três anos de idade – sob os cuidados da avó deles, para que o mesmo pudesse cursar a faculdade. Seu grande objetivo era, mais que tudo, ajudar a sua família com o que fosse possível e nunca deixou de frequentar um dia sequer das aulas, ou de entregar qualquer trabalho. Sempre dedicado, Simon tentava sempre deixar as tensões das brigas de suas pais em casa, se concentrando nos estudos.Então, certo dia, ele estava andando em um corredo
Simon se achava um louco, mas Rodrigo se culpar por seu momento de fraqueza– Ro... Rodrigo... – tentou se explicar.– Me perdoe... – disse Rodrigo em um sussurro arrastado, enquanto lagrimas começavam a escorrer por seu rosto – Me... Me desculpe eu... – ele nem terminou a frase. Saiu correndo da cozinha direto para a sala, sai pela porta e indo embora.– Rodrigo! – Simon tentou alcançar o outro, mas ele já se foi. Quando sai de seu apartamento, via a porta do elevador no final do corredor se fechar, e, com isso, Rodrigo sumira de sua vista.Meu Deus... O que ele fez!?Ele beijou seu melhor amigo e não sabia o motivo disso. Parecia que algo o moveu a fazer tal coisa, como que controlando seus impulsos. Se odiava tanto naquele momento! Ele ainda ficou parado na porta de entrada, pensand
Ele se odiava tanto agora.Depois do que aconteceu com Rodrigo, Simon não conseguia mais ficar tranquilo com as coisas. Desde domingo, sua mente estava a mil por hora!Se recriminava por ter beijado seu melhor amigo, por ter se deixado levar por um desejo estranho e repentino.Mesmo que Rodrigo tivesse lhe correspondido na mesma intensidade, e não o impedido, ainda assim se sentia muito culpado. Não importava nada disso, não havia motivo algum para que Simon beijasse outro homem, especialmente alguém que foi seu amigo a anos. Foi um erro e ele se sentia um lixo, se sentia um louco. No trabalho, não conseguia se concentrar tão bem quanto gostaria... Achava que o serviço na agencia pudesse lhe servir para esquecer daquele assunto tão constrangedor.Mas nem isso adiantou.Não querendo preocupar