Teria de lidar com isso, mas, por hora, queria apenas relaxar.
– E o que aconteceu de novo?
– Nada de mais, entrou um aluno novo na escola.
– Um aluno novo?
– Sim, um tal de Abel... E eu acho que ele é gay.
– Dante! – disse repreendendo o caçula – Não pode ficar julgando as pessoas assim. Tem ideia do quanto isso pode ser ofensivo?
– Mas eu disse que só "Acho" que ele é gay. Ele tem cabelo tingido de duas cores diferentes, parece emo e tem cara de menina. Dá para se suspeitar um pouco, não acha?
– Mesmo assim. E mesmo que ele fosse gay, qual o problema?
– Nenhum. Não me importo com isso.
– Acho bom. Saiba que somos livres para sermos quem desejamos ser, não importa nossas escolhas. Deve-se respeitar a todos Dante, isso é o mais importante – disse sábio.
O ruivo revirou os olhos, já sabia daquilo de cabo a rabo. Realmente, nunca se importou em nada com as decisões dos outros, pois, afinal, suas amizades variavam bastante. Tinha amigos gays, amigas lésbicas, heteros, transgênicos... Dante não se importava com nada disso, apenas no caráter da pessoa, pois dava valor a aqueles que lhe respeitassem, e, dessa forma, os respeitava também.
Desviando do assunto, ele chama o garçom para fazer os pedidos. Os dois pediram o almoço do dia e dois sucos de laranja, esperando tranquilamente, enquanto conversavam sobre coisas triviais, rindo e brincando. Quinze minutos depois, a comida era trazida para eles, assim como os as bebidas. Mas, mesmo ambos estando comendo com calma, Simon ainda tinha seus pensamentos voltados a sua situação com o irmão.
Tinha que encontrar uma solução, seja ela qual fosse.
***
Ao chegar em casa, Abel e Patrícia saem do carro e vão até a porta da garagem para entrar dentro de casa.
O adolescente pensou em ir descansar um pouco no quarto, afinal, o dia tinha sido puxado, ainda mais depois de ter dado de cara com o valentão da escola. Ele anda pelo corredor e abre a porta de seu refúgio particular, fechando a porta e se jogando na cama de solteiro que tinha, tapando o rosto com o travesseiro. Não era só o fato dele sentir preocupação de arranjar encrenca com Dante, mas sim o fato de ele não conseguir deixar de se sentir atraído por ele.
Mesmo sendo bruto e idiota, ele era incrivelmente sensual...
Mas isso não era certo!
Ele era, de acordo com seus amigos, um valentão e mulherengo. Sem falar que ele, muito provavelmente, era do tipo machão. Com certeza sentiria nojo, se Abel começasse a olha-lo de outro modo que não fosse apenas como colega de classe. Essa era a parte mais difícil de ser você mesmo: Nem sempre as pessoas estarão a seu favor.
Sempre a um "porem" nas coisas, e esse "porem" era o que mais deixava o adolescente chateado.
Mas bem, não era como se ele de repente gostasse de Dante. Nem o conhecia! Colocou na cabeça de que era apenas atração física. Nada mais.
No mesmo instante em que ele estava divagando em pensamentos, o som da campainha se faz presente. Ele ouve também alguém na porta, conversando com sua prima e reconhece a voz. Devia ser Rodrigo Barbosa, o vizinho de vinte e cinco anos e seu único amigo igualmente gay. Então, apesar da preguiça, Abel se levanta e vai até a porta da frente.
– Rodrigo seu lindo! Não precisava trazer esses pães – disse Patrícia feliz.
– Não tem problema Patty! – disse Rodrigo, arrumando seu cabelo loiro perfeitamente escovado. Combinava perfeitamente com seus olhos azuis cristalinos – Você sabe que, com meu trabalho na padaria, sempre fica sobrando esses pães e doces. Então não precisa se preocupar.
– Você é mesmo um amor. E como vão as coisas?
– Normais e....Ah! Abel meu querido! – disse animado ao ver seu amigo adolescente – Como você está meu fofinho?! Como foi seu dia na escola nova?
– Foi legal, nada demais. E estou bem sim – disse sorrindo e rindo, não querendo mencionar Dante na conversa, apenas para não preocupar sua prima – E o que conta de novo?
– Bem, eu precisava de um grande favor seu Abel.
– Um favor?
– Vou deixar você conversarem, vou só guardar os pães. Já volto – disse Patrícia sorridente e levando a cesta de pães e bolinhos para a cozinha. Com certeza, conhecendo ela como conhecia, Abel presumia que era o jeito dela surrupiar um docinho sem ser flagrada. Espertinha!
Enfim, os dois rapazes concordaram e foram para a sala para conversarem mais tranquilamente. Eles se sentam no sofá e continuam de onde pararam.
– Então Abel, um amigo meu, que trabalha numa agencia de advocacia aqui na cidade, ele tem um irmão mais novo. Ele é da mesma escola que você.
– Serio? – aquilo deixou Abel curioso – E o que tem?
– Bem... Pelo que esse meu amigo me disse, o irmão dele está se saindo muito mal nas aulas e não se concentra em nada. O coitado está desesperado por um tutor para o menino.
– E qual o nome dele?
– Meu amigo se chama Simon. Eu falei de você para ele, que você é um rapaz muito inteligente e que até ajudou algumas crianças aqui na vizinhança em algumas aulas particulares. Ele pediu para que eu perguntasse a você... Se não estaria interessado em ser tutor do irmão dele.
– Humm Eu não sei....
– Ele disse que pagava.
– Pagava? Quanto?
– Ahhhhhh Seu danado! Ele disso que pagava umas 100 pratas.
– Opa! Eu topo!
– Só tá interessado no dinheiro né seu safado! – eles começam a rir como duas crianças bobas.
– Mas é brincadeira, eu ajudo sim. E quando vou conhece-lo?
– O Simon disse que traria o irmão dele aqui amanhã à tarde, depois da escola. Tudo bem?
– Tudo bem. Combinado então.
– Maravilha! O Simon vai ficar muito feliz!
Os dois então continuaram a conversar entre si e a trocar várias ideias sobre como seriam as aulas particulares de amanhã. O que Abel não sabia, era que Rodrigo tinha em mente mais do que uma ação generosa para Simon. A verdade, era que essa era uma tentativa de ser mais útil com o outro, pois ele sempre gostou do amigo de infância.
Podia ver que Simon estava estressado com a situação do irmão caçula, e decidiu que queria ajuda-lo, para que, dessa forma, ambos pudessem ter mais tempo livre para se verem e conversarem. Então, aquele poderia ser sua chance de deixa-lo feliz e, consequentemente, deixar Rodrigo feliz.
Ah amores platônicos eram sempre os mais belos na mente de Rodrigo.
Ao mesmo tempo, em que eram os mais difíceis.
***
No dia seguinte, as aulas seguiram como sempre.
Abel encontrou com seus amigos Danilo e Laura, foram para o refeitório almoçar juntos, assistiram as aulas e palestras dos professores e conversam, ora ou outra, como adolescentes normais. Tudo absurdamente normal.
O que não foi normal, foi a forma como Dante olhava para Abelardo durante as aulas.
Tinha vezes em que o mais novo estava escrevendo alguma coisa em seu caderno e, de repente, sentia um arrepio na espinha e se virava para olhar a sala. Então, ele percebe que Dante o olhava de vez em quando, o que o assustou no início. Mas, depois da oitava vez que ele o olhava, Abel já estava ficando frustrado, mas tentou ignorar o máximo que conseguia. Então, apesar de achar aquilo muito irritante, decidiu se manter focado nos estudos.
Enquanto isso, Dante, que não tirava os olhos no adolescente andrógeno, ficava cada vez mais centrado sobre o que aconteceu no dia anterior. Estava a revistar sua lista mental de ideias de como atormentar o novato. Mas... Havia algo mais além do desejo de se divertir. O fato de Abel tê-lo enfrentado, ao invés de ter medo dele? Era a primeira vez que isso acontecia. Claro que ele não ligou de o mais novo tê-lo chamado de estupido, mas apenas a questão de ele ter tido ousadia de encara-lo e o repreender daquele jeito, mexeu em algo dentro de Dante. Talvez seu orgulho? Quem sabe.
Mas uma coisa era certa: ele daria um jeito de tornar a vida desse garoto um inferno.
***
Mais tarde naquele dia depois da escola, Abelardo foi para casa junto com sua prima como combinado, se despedindo dos dois amigos enamorados na saída do prédio.
Recebeu uma mensagem de texto no seu celular de Rodrigo, dizendo que seu amigo Simon iria deixar o irmão na sua casa daqui uma hora. O mais novo respondeu e disse que estaria aguardando. Ao chegar em casa, ele decide que seria uma boa ideia arrumar as coisas, para dar uma boa impressão ao novo aluno. Deixava seus livros empilhados na mesa de centro da sala de estar, alguns lápis, folhas sulfites e seu laptop, caso precisassem pesquisar algo na internet.
Arrumava a casa também, pois odiava estudar com o ambiente todo desarrumado.
Enquanto arrumava as almofadas do sofá da sala, Abel houve o som da campainha tocando.
– Abel! Eu acho que seu novo aluno chegou!
– Tá! Já vou atender!
Ele deixa uma jarra de agua com dois copos na mesinha de centro, para ele e o outro aluno beberem depois, e corre até a porta de entrada da casa. Dava uma parada rápida em frente ao espelho perto da porta, apenas para arrumar o cabelo, as roupas e ver se estava com seu perfume em dia. Afinal, todo cuidado era pouco. Enfim, ele segurou a maçanete e abre a porta.
– Olá! Seja bem vindo...
Nessa hora, seu queixo quase foi parar no chão.
Não acreditava em quem ele estava vendo do outro lado da porta. De todas as pessoas desse maldito mundo, ele não esperava de jeito nenhum a pessoa que via a sua frente. E esse visitante não era ninguém menos que Dante Martinez! No mesmo segundo, chocados e consternados, apontavam os dedos um para o outro, completamente chocados, e gritam:
– MAS O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI??!!
– MAS O QUE ESTÀ FAZENDO AQUI??!!Aquilo só podia ser algum tipo de piada doentia. Só podia!– D-Dante? Você é o irmão do amigo do Rodrigo?– Claro que sim – falou como se fosse obvio – Meu irmão falou que o Rodrigo tinha recomendado você para ser meu tutor e eu concordei.– E porque maldição você aceitou?! – fez a pergunta, consternado. Em resposta, só recebe um sorriso perverso do outro, o que fez um arrepio percorrer por sua espinha. Agora podia entender perfeitamente o motivo de Dante ter o observado na escola quase que o tempo todo, o porquê de ele parecer o analisar por inteiro. Dante não veio para a aula só por interesse em estudar ou fazer lição de casa.Mas sim um plano calculista para foder com s
Ele, apesar de ir mal nas provas, não era nem um pouco burro. Ao contrário, ele era muito inteligente! Seu único problema era talvez encontrar alguma motivação para estudar, pois não via graça nisso e não via sentido a forma como os professores queriam empurrar a matéria goela baixo dos alunos, então não conseguia se concentrar direito. Mas isso não o tornava menos inteligente, e queria provar isso ao outro, que parecia subestima-lo um pouco. Achava isso irritante, o fato de as pessoas terem essa má impressão dele logo de cara, embora concordasse que parte da culpa era dele.Mas, ainda sim, acha isso um saco.O de cabelos bicolores parecia ser igual aos outros. E, com sua personalidade destrutiva, não demoraria para ele se cansar do ruivo e manda-lo embora.Era sempre assim.Dei
Quando a refeição acabou, os dois rapazes voltaram para a sala.– Bom... – disse Abel – Acho que por hoje já está bom. Por que não aproveitamos e nos conhecemos melhor?– Tá me chamando pra um encontro? É isso? – disse brincado e rindo da cara de vergonha e raiva do menor.– Não idiota! Eu quis dizer....conversar e....– Hahahahaha! Eu sei bobo! Só estava brincando! – ele então se senta no sofá de novo, despretensioso como sempre – Começa você.– O que?– Me faça uma pergunta, eu respondo e depois eu te faço uma pergunta, e por aí vai. Entendeu o jogo?– Ah sim... Er... Pois bem, o que você gosta de fazer?– Gosto de futebol, vídeo games e de ir a festas. E você?– Eu gosto de desenhar, ler, escrever... E cozin
Na volta para casa, Dante se perdia em pensamentos fantasiosos.Encostado a janelo do carro do irmão, estava a pensar nesse encontro de hoje com seu colega de classe tão peculiar. Esse tal de Abelardo Gonçalves era muito estranho, pensava ele. O garoto tinha toda aquela coragem e firmeza para repreende-lo e o chamar de vários nomes ruins, sem se intimidar com sua presença. E, ao mesmo tempo, ficava com vergonha ou raiva com muita facilidade, por causa de piadinhas bobas e provocações. O ruivo não negava por achar o outro extremamente fofo quando ficava com o rosto vermelho de vergonha."Parecia um moranguinho". Pensou com um sorriso."Mas o que?! De onde raios ele tirou esse pensamento?!Credo... Ele agora estava pensando que o outro era fofo? De onde tinha surgido isso?Mas, infelizmente, era verdade. E
E bem quando Simon pensava sobre o padeiro atraente, o bendito entrava pela porta com seu enorme sorriso.– Bom dia meu amor!– Já disse para não me chamar assim!– Ah relaxa um pouco! Sabe que eu só estou te provocando um pouquinho. A propósito, trouxe mais uns pães e rocamboles pra você e Dante.– Você e esses seus doces... Daqui a pouco vai querer nos engordar com eles para depois nos cozinhar no forno, não é?– Sabe que você não resiste aos meus rocamboles de chocolate e framboesa, admita – os dois adultos riram daquilo e se sentaram no sofá. O loiro deixou a sua cesta em cima da mesa de centro e ambos pegaram um rocambole quentinho, provando com muito prazer.– Tem razão, não resisto – Simon s
A vida não poderia estar melhor para Abel, naquele momento.Mesmo com os estranhos sonhos que teve com Dante, o adolescente estava decidido a se focar em outras coisas mais importantes.Danilo e Laura perceberam que o amigo estava bem focado nos estudos, sendo um aluno dedicado, fazendo amizade com os professores e sempre sendo o primeiro a entregar os deveres e atividades. E sempre com uma excelente qualidade. A maioria dos alunos nem se preocupava em dar atenção a tais detalhes, mas Abelardo surpreendia a todos com a sua facilidade em resolver problemas, escrever redações e responder as perguntas orais.Muitos já o chamavam de “Queridinho dos Professores”, mas o mesmo nem se importava.Seus dois amigos enamorados chegaram a perguntar se ele estava bem, se ele não estaria exagerando na dose de perfeccionismo dos deveres,
E, enquanto trabalhava, o mais velho se recordava de lembranças da época de faculdade, quando conheceu Rodrigo. Ele entrou para estudar advocacia, assim como o pai fizera quando tinha sua idade, antes dele se afogar na bebida com a partida de sua mãe. Simon era um jovem introvertido e, no começo, teve dificuldade em fazer amizade com os outros alunos. Seus pais estavam trabalhando muito, tendo de deixar Dante – que na época tinha três anos de idade – sob os cuidados da avó deles, para que o mesmo pudesse cursar a faculdade. Seu grande objetivo era, mais que tudo, ajudar a sua família com o que fosse possível e nunca deixou de frequentar um dia sequer das aulas, ou de entregar qualquer trabalho. Sempre dedicado, Simon tentava sempre deixar as tensões das brigas de suas pais em casa, se concentrando nos estudos.Então, certo dia, ele estava andando em um corredo
Simon se achava um louco, mas Rodrigo se culpar por seu momento de fraqueza– Ro... Rodrigo... – tentou se explicar.– Me perdoe... – disse Rodrigo em um sussurro arrastado, enquanto lagrimas começavam a escorrer por seu rosto – Me... Me desculpe eu... – ele nem terminou a frase. Saiu correndo da cozinha direto para a sala, sai pela porta e indo embora.– Rodrigo! – Simon tentou alcançar o outro, mas ele já se foi. Quando sai de seu apartamento, via a porta do elevador no final do corredor se fechar, e, com isso, Rodrigo sumira de sua vista.Meu Deus... O que ele fez!?Ele beijou seu melhor amigo e não sabia o motivo disso. Parecia que algo o moveu a fazer tal coisa, como que controlando seus impulsos. Se odiava tanto naquele momento! Ele ainda ficou parado na porta de entrada, pensand