No instante em que ia virar a página de seu livro, ouve-se o som da porta do quarto se abrindo. Dela, aparece Dante com o olhar mais perdido que Abel já vira em toda a sua vida. O mesmo havia saído a uma hora atrás para respirar fundo do lado de fora da casa, mas, ao entrar de repente no recinto, Abelardo ficou com uma sensação estranha.
– Dante? Oi cara... Está tudo bem?
– Tudo...
Abel se endireita na cama, ficando sentado e vendo como o amigo parecia desorientado e retraído. A princípio pensou que ele estivesse apenas cansado, mas era evidente que ele continuava com a mesma distância de antes. Por instinto, ele se levanta e vai se aproximando do ruivo, querendo ver se eles estava bem mesmo.
– Está tudo bem mesmo? Não aconteceu nada, não é?
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Nem em um milhão de anos o jovem Gonçalves cogitaria uma opção tão absurdamente ridícula como aquela.Abandonar Dante seria o mesmo que arrancar um pedaço grande e dolorido de sua alma. Não mais pensando com a razão, e sim com o coração, ele simplesmente mandou tudo o que havia pensado e prometido a si mesmo pro inferno, lembrando daquilo aquilo que Rodrigo havia lhe dito: conquistar aquilo que queria. E Dante podia espanca-lo e xinga-lo de qualquer coisa, mas nada mudaria o que ele sentia por Dante.Então, em uma ação de extrema coragem, Abel, com o rosto vermelho e olhos fechados, vai se aproximando de Dante, um passo de cada vez. O outro não percebe, a princípio, o que o menor estava fazendo. Até que, em uma ação totalmente inesperada, Abel levanta a cabeça...E
Simon havia saído do quarto assustado, ao ouvir gritos vindo do quarto dos meninos.Ao sair pela porta, via Dante correndo apressado até a porta da frente e sair de casa noite adentro, para o meio da floresta.– Dante! – ouve-se a voz de Abel, indo atrás do ruivo.– Mas que diabos está acontecendo?! – perguntou Simon, assustado ao interceptar Abelardo – Pra onde o Dante foi?!– Eu não sei! Preciso ir atrás dele! – mas, antes que o jovem pudesse correr para a porta, ele é segurado por Simon.– Mas o que houve?! – diz Rodrigo, saindo apenas com uma toalha enrolada na cintura e com o cabelo molhado – Por que toda essa gritaria?– E-eu não posso dizer...– Abel... – tentou dizer Simon.
– A verdade, é que eu tinha vergonha de estar gostando de você desse jeito também... Eu tinha medo, de que você sentisse nojo de mim e se afastasse. Você se tornou meu melhor amigo, uma das pessoas mais queridas de minha vida, e não queria te perder... Mas, com o passar do tempo, não teve como não me sentir atraído por você e...Acho que acabei me apaixonando por você, Dante.Os olhos do ruivo se arregalaram, com um brilho intenso.Ouvira direito? Apaixonado? Isso era chocante para o ruivo, que nunca se sentiu tão feliz.– Não brinca com isso Abel, que eu estou com o coração na mão nesse momento...– Nunca brincaria com algo assim, bobão. Eu to apaixonado por você – disse sorrindo, com risos meigos e emocionados.<
No dia seguinte, todos acordaram cedo. Estavam ansiosos pela viagem de volta para casa.Os rapazes foram arrumando suas malas e suas mochilas, deixando todo o quarto arrumado e limpo. Depois de tomarem banho e comerem um delicioso café da manhã, desciam com as coisas para fora da casa e colocavam tudo dentro do porta-malas do carro de Simon.Foi uma viagem muito feliz e incrivelmente mágica. Com certeza os dois casais enamorados não a esqueceriam por um bom tempo.Logo estavam com tudo pronto, com os idosos gentis juntos para se despedir.– Foi um prazer em te conhecer Abel, muito mesmo! – disse a senhora Anna Barbosa, o abraçando forte e sorrindo com alegria, assim como o jovem de cabelos bicolores – Volte sempre que quiser meu querido.– Voltarei sim, com certeza! – ele a abraça mais, ri
– Pode deixar! – falou animado, rindo com os cabelos todos desalinhados. Ele ajeita os cabelos de novo, olhando então para Dante.O ruivo se aproxima de Abel, e, assim que Patrícia se distancia um pouco para continuar a falar com os outros dois adultos, Dante sorria e falava bem próximo do rosto do outro:– Eu... Nem sei como me expressar nesse momento... Eu ainda to meio perdido nas palavras... – eles soltam uma risada sem jeito, mas Dante continua – Bem... Obrigada. Por ter vindo com a gente e... Por tudo. Por estar comigo.– Sempre estarei. É o único lugar que quero estar – disse sincero, fazendo o maior corar como um tomate. Ele ficava tão fofo daquele jeito! – Você... Não quer ficar um pouco? E depois te acompanho até em casa? – deu o convite, que para o ruivo era bem tentador.
No dia seguinte, Abel esperava na praça de alimentação no shopping Morumbi, ouvindo suas músicas no celular.Tinha chegado cedo, como sempre, se distraindo com duas bandas Heavy Metal, enquanto esperava seus amigos Danilo e Laura chegarem, assim como Dante. Os quatro tinham combinado de se encontrarem ali para comer algo e dar uma volta no shopping, um convite feito por Danilo depois de ficar sabendo do retorno dos amigos da viagem a Penedo. Apesar de Abelardo querer ter um encontro a sós com o ruivo, sentia falta dos amigos de escola também.Lhe pareceu uma boa ideia sair um pouco e comer um lanche do McDonalds, e talvez, mais tarde, conversar a sós com Dante.E, no que levantava a cabeça para olhar para frente, via o bendito se aproximar da mesa em que estava sentado, sorrindo.– Bom dia baixinho.
E foi naquele momento tão lindo, que Dante dizia amoroso:– Te amo Abel, meu amado baixinho.Ouvir aquilo, fez Abel olhar o outro com surpresa em seus olhos. O brilho que surgia em seus olhos castanhos era tão adorável, e o coração parecia que ia explodir de tanta felicidade! Sorria maravilhado, tomando a iniciativa de beija-lo outra vez. Eles sentem a língua um do outro novamente, se entregando um pouco mais.– Você... Ainda quer vir a minha casa mais tarde? – perguntou Abel, sorrindo muito.Aquela pergunta foi como um gatilho para o ruivo. Ambos sabiam, naquele momento, que agora que estavam juntos e decididos a serem felizes juntos, eles não tinham nada a lhes impedir de fazer o que queriam. E, com um sorriso sedutor, Dante disse convicto:– Com certeza.***
Ele acorda com o barulho do despertador.Seis da manhã de segunda-feira.Aquele som estridente do aparelho lhe enchia os ouvidos, o irritando profundamente por tê-lo acordado tão cedo.O relógio ainda tocou por mais alguns segundos, antes do rapaz de dezesseis anos esticar preguiçosamente a mão até o criado-mudo e o desligar. Mas, como estava desorientado e muito cansado, ele simplesmente socou o relógio com um grunhido frustrado, o derrubando no chão e o desligando. Provavelmente o quebrando também.Bufou.Sua cabeça doía, assim como seu corpo. Mas o que ele esperava? Depois de uma saída com os amigos para um bar local na noite passada, não era surpresa que estivesse naquele estado. Claro que foi divertido, afinal, ele era assim.Dante Martin