– Sim. Eu adoro o jogo. Sempre jogo a noite depois da escola.
– Que demais cara! Você j**a outros jogos? Tipos desses online?
– Jogo alguns, as vezes jogo Lengue Of Lengeds.
– Legal. Me manda uma solicitação depois? Assim podemos jogar juntos – disse empolgado, parecendo muito feliz em encontrar outra pessoa que gostasse de jogos como si.
– Com certeza. É difícil encontrar outra que goste de jogar LOL – ele olha para o professor, se certificando de que ele não estava olhando. Ele se vira um pouco para trás, para poder conversar melhor com Danilo – E o que mais gosta além de jogos? Gosta de animes?
– Sim, adoro animes, mangás... Eu ouvi que você gosta de desenhar. Posso ver um desenho seu? Se não tiver problemas, é claro.
– Claro, tranquilo – ele pega seu celular e abre em algumas imagens de seus desenhos, mostrando ao colega de classe seus trabalhos de mangá, fantasy art e entre outros estilos de desenhos. Eram lindos, e, embora Abel não fosse nenhum profissional, estava estudando tutoriais na internet e praticando todos os dias.
Afinal essa era sua maior paixão! E, ao que parece, Danilo gostou muito de seus desenhos, o elogiando muito.
Não era a primeira vez que o elogiavam por seu talento, mas certamente nunca fizeram com tanta empolgação, o que, para o jovem de cabelos coloridos, era muito bom.
Mesmo que estivesse tímido, Danilo lhe pareceu muito gentil e animado. Os dois rapazes continuaram a falar um com o outro durante a aula, cochichando para que o professor não os ouvisse. As vezes falavam de animes, bandas de rock e sobre a escola. Abel gostou do novo colega, era um rapaz extrovertido e divertido, e até lhe elogiou pelo cabelo tingido, dizendo que ele parecia um personagem de desenho animado.
Abelardo estava feliz de ter feito um provável amigo. Pelo menos ele não ficaria tão sozinho nos seus primeiros dias de aula.
De longe, a umas três fileiras de distância, Dante o olhava discretamente.
Não sabia o porquê, mas algo naquele rapaz chamou sua atenção. Via que ele conversava com o outro rapaz, que nem sabia o nome, pois não era bom em lembrar-se dos nomes dos colegas, pois não interagia muito com eles. De qualquer modo, esse tal de Abelardo, ou Abel, lhe parecia um tanto estranho, vendo a aparência dele. Mas seja pelo visual peculiar ou pelo jeito todo tímido dele de falar, algo em Abel lhe intrigou.
Por fim, o ruivo se encheu de ficar encarando aquele rapaz. Sua cabeça ainda doía e sentia sono, então preferiu deixar suas curiosidades de lado e dormir um pouco na carteira, mesmo a contragosto do professor Carlos.
O novo ano começou mal para Dante.
***
Hora do almoço.
Abel pega seu almoço improvisado de dentro da mochila, que era apenas um lanche de salame com alface e tomate e um suco de laranja, e decide que almoçaria na escadaria que dava para o segundo andar, já que ali não circulava muita gente. Como sempre, esse era seu plano de se manter longe de encrencas e ficar sozinho com seus próprios pensamentos. Mas, antes que fosse para un lugar de sossego, Danilo aparece na frente dele, acabando com seus planos originais.
– Oi de novo Abel! – disse enrolando seu braço em volta do pescoço do menor – Quer almoçar comigo?
– S-Sério? Não tem problema? – perguntou inseguro.
– Claro que não! Vem comigo.
Encorajado pela energia positiva do novo amigo, Abel o acompanha até a lanchonete do lugar. Estava cheia, o que deixou Abel meio desconfortável, já que era um novato. Mas Danilo, vendo o receio do colega, decide ajuda-lo.
– Vem cara, quero te apresentar a alguém.
O amigo o leva até uma mesa afastada da porta do refeitório, onde estava sentado uma morena muito bonita de cabelos longos e olhos cor de caramelo, comendo um pudim.
– Oi Danilo!
– Oi Laura, minha fofa. Quero que conheça o Abelardo, novo aluno da minha classe.
– Ah legal! Muito Prazer Abelardo.
– O prazer é meu. E pode me chamar só de Abel, é mais fácil de lembrar –diz sorrindo tímido, trocando risadas com os dois colegas. Os três se sentam na mesa, e o rapaz percebe que Danilo e Lura se sentavam bem juntos, colados um no outro. Então, movido pela curiosidade, ele pergunta: – Vocês são namorados?
– Somos sim – disse Danilo, rodeando a cintura da garota – É meio evidente, eu acho. A gente não se desgruda por nada, só durantes as aulas.
– Sim. Percebi o modo como vocês estão juntinhos – ele solta uma risadinha um tanto maliciosa, e o casal enamorado ria com os rostos corados.
– Ah sim – disse Laura, segurando a mão do parceiro e a beijando, recebendo em troca outro beijo em seus lábios – Nós namoramos já faz um ano. Você tem namorada Abel?
– Ahhhhh... Bem não, não tenho. Na verdade, eu não sou desse time, se é que me entende?
– Espera. Então... Você é gay? – perguntou Laura surpresa.
– Sim. Algum problema?
– Nenhum problema – disse Danilo, sincero –Eu meio que suspeitei no começo, mas não queria parecer preconceituoso.
– Eu também suspeitei um pouco pela sua aparência. Desculpa a gente.
– Sem problema – disse Abel, dando uma mordida no seu lanche – Já estou acostumado com isso. Eu admito que meu visual é bem delator, às vezes. Vocês não seriam os primeiros a desconfiar de mim.
– Humm e você não tem problemas em admitir isso? Você sabe... Não é todo mundo que aceita as preferências dos outros, o que, na minha opinião, é pura ignorância.
– Tenho meus receios, é claro. Mas não tenho problemas com isso... Para ser bem sincero, eu fiquei preocupado que vocês fossem me menosprezar por isso. Mas é como dizem "Prefiro ser odiado por quem sou, do que ser amado pelo que não sou".
– É um pensamento muito maduro Abel – disse Laura, sorrindo meiga – Gostei de você. Sempre quis um amigo gay!
– Hehe Obrigada, eu acho – Abel riu da afirmação, achando engraçada.
Era incrível. Não podia ser melhor!
Ele, que tinha tanto medo de ser mal visto por ser gay, agora tinha dois colegas que não tinham preconceito com relação a sua sexualidade. Claro que, como qualquer pessoa normal, ele teria de conhecer melhor seus dois colegas, mas, por enquanto, estava tudo indo muito bem. Daria o benefício da dúvida desta vez. E pelo restante do almoço, eles riram e almoçaram tranquilamente, conversando sobre banalidades e se conhecendo melhor. Laura e Danilo eram um casal bem amoroso mesmo, sempre de mãos dadas, sempre dando comidinha na boca um do outro e dando beijinhos nos lábios e no rosto... Abel nunca acho que existisse esse tipo de casal tão apaixonado e meloso ainda nos dias atuais. Era bem fofo, um romance bem açucarado. Ria em seus pensamentos privados e comia o restante de seu lanche.
Até que, de repente, o novato olha para o refeitório e vê ao longe um garoto ruivo sentado em uma mesa do outro lado do ressinto, junto com outros três caras grandes e assustadores. Todos tinham uma aparência de roqueiros, com roupas escuras, jaquetas, botas, correntes e outros artigos interessantes. O jovem ruivo não tinha tantas coisas de rock, mas certamente sua aparência era intimidade... E sexy.
Ele era lindo. Abel sempre amou ruivos, e aquele era muito bonito mesmo!
– Hey... Danilo – chamou.
– Sim?
– Quem é aquele? O ruivo do casaco escuro do Mettalica?
Danilo olhou para trás de Abel, na direção em que o mesmo apontava, do outro lado do refeitório. Quando seus olhos bateram no tal ruivo, seu sangue congelou.
– Você tá falando no Dante Martinez?
– Dante? Quem é?
– Ele é da nossa sala. É melhor não se envolver com ele.
– Por que?
– Ele é encrenca – disse Laura – Tira notas ruins, é cabeça quente e já se meteu em brigas aqui na escola.
Pegou cinco detenções só ano passado e é conhecido como o maior mulherengo daqui.
– Humm... – ele fica recoso com certeza, e com sentimentos conflitantes dentro de si.
Isso não era bom. Era seu completo oposto!
Abel sempre se comportava nas aulas e tirava excelentes notas. Mas, se esse tal Dante era tão ruim como seus dois amigos diziam, então ele teria que tomar cuidado com esse sujeito. No entanto, apesar de preocupado com esse tipo de gente, tinha que admitir que o outro era muito lindo.
O mundo é um lugar injusto às vezes.
Então, nesse momento, Dante e seus colegas se levantam da mesa onde estavam e vão até a saída, assustando alguns outros alunos por quem passavam por eles. Estavam rindo e falando bobagens, a maior parte da conversa voltada para as coisas que fizeram na noite passada. Dante nem estava tão afim de falar da festa, pois, só de recordar, a dor de cabeça da ressaca voltava em pontadas fortes em sua cabeça. Enfiou as mãos no bolso do casaco quando, de repente, ele sente um par de olhos lhe observando fixamente. Foi quase um sexto sentido, um instinto dizendo para que olhasse para trás. Sentindo um arrepio na espinha, ele vira o rosto e olha na direção das cadeiras ao fundo.
E vê o novato Abel ao longe, o olhando.
Aquela troca de olhares foi estranha, mas, de alguma forma, intensa. Por milésimos de segundos, eles fixaram seus olhares um no outro, enquanto todos os alunos andavam e conversavam sem a menor preocupação. Dante, apesar de intrigado por ver o aluno de ante o observando, permaneceu com sua expressão indiferente. Já Abel, parecia curioso sobre aquele olhar penetrante do ruivo sobre si. Era estranho e, ao mesmo tempo, fascinante. Mas, quando a consciência bateu em sua mente, percebeu que aquela situação era constrangedora demais. Rapidamente, desviou o olhar para o lado e continuou comendo seu lanche, de modo desajeitado e com um leve rubor no rosto, por ter sido pego olhando outra pessoa tão descaradamente.
Dante achou peculiar, mas não deu importância. Ele se vira e sai do refeitório.
Abelardo termina seu lanche e passa a beber seu suco de laranja, pensando no que deu em si. Ele foi pego olhando outro cara no seu primeiro dia de aula! E pior, ele estava com o rosto vermelho de vergonha, parecendo um morango maduro. Sorte que mais ninguém notou, mas e Dante? Será que ele percebeu? Esperava que não.
De todo modo, o estrago estava feito. Era uma situação tão vergonhosa... Quando o sinal toca, ele e seus dois amigos se levantam e vão para a sala.
O dia seria bem agitado.
Ao meio dia e meio, depois das aulas, Abel acompanha seus dois novos amigos para o andar de baixo e esperar sua carona na frente do portão da escola. Laura e Danilo estavam ao seu lado, conversando normalmente, falando sobre como a escola funcionava, como eram os alunos e professores, e o que podia ou não fazer. Afinal, sendo um novato, o jovem Gonçalves tinha que ficar ciente das regras para que não irritasse a direção ou seus colegas.Seguir regras era essencial. E desde que se conhecia por gente, as regras foram feitas com um único propósito: garantir a ordem e controlar o caos, independentemente de qualquer coisa e sem exceção.Já era uma da tarde, quando então, o adolescente lembrou-se de algo importante.– Ah não!– O que foi? – perguntou Laura, surpresa.
Teria de lidar com isso, mas, por hora, queria apenas relaxar.– E o que aconteceu de novo?– Nada de mais, entrou um aluno novo na escola.– Um aluno novo?– Sim, um tal de Abel... E eu acho que ele é gay.– Dante! – disse repreendendo o caçula – Não pode ficar julgando as pessoas assim. Tem ideia do quanto isso pode ser ofensivo?– Mas eu disse que só "Acho" que ele é gay. Ele tem cabelo tingido de duas cores diferentes, parece emo e tem cara de menina. Dá para se suspeitar um pouco, não acha?– Mesmo assim. E mesmo que ele fosse gay, qual o problema?– Nenhum. Não me importo com isso.– Acho bom. Saiba que somos livres para sermos quem desejamos ser, não importa nossas escolhas. Deve-se respeitar a todos Dante, isso é o mais importante – disse sábio.O ruivo reviro
– MAS O QUE ESTÀ FAZENDO AQUI??!!Aquilo só podia ser algum tipo de piada doentia. Só podia!– D-Dante? Você é o irmão do amigo do Rodrigo?– Claro que sim – falou como se fosse obvio – Meu irmão falou que o Rodrigo tinha recomendado você para ser meu tutor e eu concordei.– E porque maldição você aceitou?! – fez a pergunta, consternado. Em resposta, só recebe um sorriso perverso do outro, o que fez um arrepio percorrer por sua espinha. Agora podia entender perfeitamente o motivo de Dante ter o observado na escola quase que o tempo todo, o porquê de ele parecer o analisar por inteiro. Dante não veio para a aula só por interesse em estudar ou fazer lição de casa.Mas sim um plano calculista para foder com s
Ele, apesar de ir mal nas provas, não era nem um pouco burro. Ao contrário, ele era muito inteligente! Seu único problema era talvez encontrar alguma motivação para estudar, pois não via graça nisso e não via sentido a forma como os professores queriam empurrar a matéria goela baixo dos alunos, então não conseguia se concentrar direito. Mas isso não o tornava menos inteligente, e queria provar isso ao outro, que parecia subestima-lo um pouco. Achava isso irritante, o fato de as pessoas terem essa má impressão dele logo de cara, embora concordasse que parte da culpa era dele.Mas, ainda sim, acha isso um saco.O de cabelos bicolores parecia ser igual aos outros. E, com sua personalidade destrutiva, não demoraria para ele se cansar do ruivo e manda-lo embora.Era sempre assim.Dei
Quando a refeição acabou, os dois rapazes voltaram para a sala.– Bom... – disse Abel – Acho que por hoje já está bom. Por que não aproveitamos e nos conhecemos melhor?– Tá me chamando pra um encontro? É isso? – disse brincado e rindo da cara de vergonha e raiva do menor.– Não idiota! Eu quis dizer....conversar e....– Hahahahaha! Eu sei bobo! Só estava brincando! – ele então se senta no sofá de novo, despretensioso como sempre – Começa você.– O que?– Me faça uma pergunta, eu respondo e depois eu te faço uma pergunta, e por aí vai. Entendeu o jogo?– Ah sim... Er... Pois bem, o que você gosta de fazer?– Gosto de futebol, vídeo games e de ir a festas. E você?– Eu gosto de desenhar, ler, escrever... E cozin
Na volta para casa, Dante se perdia em pensamentos fantasiosos.Encostado a janelo do carro do irmão, estava a pensar nesse encontro de hoje com seu colega de classe tão peculiar. Esse tal de Abelardo Gonçalves era muito estranho, pensava ele. O garoto tinha toda aquela coragem e firmeza para repreende-lo e o chamar de vários nomes ruins, sem se intimidar com sua presença. E, ao mesmo tempo, ficava com vergonha ou raiva com muita facilidade, por causa de piadinhas bobas e provocações. O ruivo não negava por achar o outro extremamente fofo quando ficava com o rosto vermelho de vergonha."Parecia um moranguinho". Pensou com um sorriso."Mas o que?! De onde raios ele tirou esse pensamento?!Credo... Ele agora estava pensando que o outro era fofo? De onde tinha surgido isso?Mas, infelizmente, era verdade. E
E bem quando Simon pensava sobre o padeiro atraente, o bendito entrava pela porta com seu enorme sorriso.– Bom dia meu amor!– Já disse para não me chamar assim!– Ah relaxa um pouco! Sabe que eu só estou te provocando um pouquinho. A propósito, trouxe mais uns pães e rocamboles pra você e Dante.– Você e esses seus doces... Daqui a pouco vai querer nos engordar com eles para depois nos cozinhar no forno, não é?– Sabe que você não resiste aos meus rocamboles de chocolate e framboesa, admita – os dois adultos riram daquilo e se sentaram no sofá. O loiro deixou a sua cesta em cima da mesa de centro e ambos pegaram um rocambole quentinho, provando com muito prazer.– Tem razão, não resisto – Simon s
A vida não poderia estar melhor para Abel, naquele momento.Mesmo com os estranhos sonhos que teve com Dante, o adolescente estava decidido a se focar em outras coisas mais importantes.Danilo e Laura perceberam que o amigo estava bem focado nos estudos, sendo um aluno dedicado, fazendo amizade com os professores e sempre sendo o primeiro a entregar os deveres e atividades. E sempre com uma excelente qualidade. A maioria dos alunos nem se preocupava em dar atenção a tais detalhes, mas Abelardo surpreendia a todos com a sua facilidade em resolver problemas, escrever redações e responder as perguntas orais.Muitos já o chamavam de “Queridinho dos Professores”, mas o mesmo nem se importava.Seus dois amigos enamorados chegaram a perguntar se ele estava bem, se ele não estaria exagerando na dose de perfeccionismo dos deveres,