Magnus
O silêncio do quarto era interrompido apenas pelo som baixo das páginas virando.
Abri os olhos devagar, piscando algumas vezes para ajustar minha visão à penumbra do ambiente. A luz fraca do abajur projetava sombras suaves, tornando tudo mais acolhedor do que deveria ser.
Então, eu a vi.
Gabriela estava sentada na poltrona perto da cama, enrolada em uma coberta fina, com as pernas dobradas sobre o assento. Os cabelos caíam suavemente sobre os ombros, e seu olhar deslizava atentamente sobre as páginas do livro que segurava.
Ela parecia tão absorta na leitura que não percebeu que eu estava acordado.
E meu coração reagiu de um jeito estranho.
Uma pontada. Um aperto no peito. Como
MagnusO calor da água morna envolvia meu corpo, enquantoos olhos de Gabriela, intensos e cheios de desejo, se fixavam nos meus.Ela estava ali,imersa na banheira, envolta apenas pela espuma, os cabelos loiros úmidos caindo sobre os ombros.Sua pele brilhava sob a luz baixa do banheiro, e seu sorriso carregava uma provocação que eu sentia até a alma.Ela era minha.E eusabia disso naquele momento.A espuma cobria seu corpo de maneira estratégica, deixando-me apenas com vislumbres do que eu já conhecia de cor.Minhas mãos deslizavam por sua pele macia, sentindo cada arrepio que ela não conseguia conter.Ela mordeu o lábio inferior –aquela maldita mordida que sempre me fazia perder o controle."
MagnusGabriela ainda estava aninhada contra meu peito, sua respiração quente e ritmada contra minha pele. Seu corpo se encaixava no meu como se pertencesse ali, e por um instante,eu quis me perder naquela sensação.Ela era conforto.Era presença.Mas, ao mesmo tempo, era o próprio caos dentro de mim.Minha mente ainda era um campo minado, cheio de buracos onde lembranças deveriam estar. Mas o desejo de tê-la comigo não exigia lembranças.Era instintivo.Ela suspirou suavemente e se afastou apenas o suficiente para me encarar. Seus olhos eram um oceano de sentimentos, uma mistura de ternura e dor."Você precisa descansar," murmurou, deslizando os dedos pelo meu rosto, afastando uma mecha do meu cabelo."Não quero dormir," resmunguei, segurando seu pulso, sentindo o calor da pele dela.
GabrielaA teoria nunca se compara à realidade.Durante anos, estudei casos como o de Magnus, entendi cada fase da recuperação, cada bloqueio, cada momento de negação. Sabia que poderia acontecer. Sabia que era um processo. Mas sentir na pele era completamente diferente.Eu estava sendo rejeitada pelo homem que eu amava, e, mesmo entendendo o motivo, a dor era lancinante.Assim que entrei no banheiro do quarto, fechei a porta atrás de mim e deslizei as mãos pelo rosto, tentando manter a compostura. Mas no instante em que encarei minha própria imagem no espelho, a barreira desabou.Os olhos vermelhos, inchados pelo cansaço. As olheiras profundas denunciando as noites em claro. Meus ombros pareciam pesados, como se o peso daquela semana tivesse dobrado sobre mim.Um soluço escapou antes que eu pudesse conter.Mordi o lábio com força, tentando sufocar o c
LeonardoO silêncio da casa era acolhedor e ao mesmo tempo perturbador.Quando abri a porta, o cheiro amadeirado familiar me envolveu, mas algo parecia fora do lugar. Talvez fosse apenas minha mente exausta tentando encontrar alguma normalidade em meio ao caos que minha vida havia se tornado.Subi as escadas lentamente, o peso da responsabilidade impregnado em cada passo. Eu deveria me sentir aliviado por finalmente tirar Magnus do hospital, por poder dizer a Amber que em dois dias estaríamos longe dali, longe do alcance de Martina. Mas, ao invés disso, havia um nó no meu peito. Um aperto desconfortável que eu não sabia explicar.Ao chegar ao quarto, encontrei Amber sentada na beira da cama, as mãos repousando sobre a barriga, um movimento lento e inconsciente, como se estivesse acalmando as meninas. Seu olhar estava perdido na janela, observando o horizonte como se procurasse uma resposta para algo que nem
AmberO telefone estava em minhas mãos há pelo menos cinco minutos. O nome de Gabriela brilhava na tela, e meu dedo pairava sobre o botão de chamada, hesitante.Sabia que precisava falar com ela, mas também sabia que essa conversa poderia ser difícil. Desde que deixou o hospital e voltou para a casa da mãe, Gabi se fechou em um silêncio doloroso. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Apenas o vazio de sua ausência.Respirei fundo e apertei o botão.O telefone tocou três vezes antes que ela atendesse."Amber?" Sua voz soou cansada, baixa.Meu peito apertou imediatamente."Oi, Gabi…" Tentei soar leve, mas meu tom já carregava a preocupação que me consumia. "Como você está?"Do outro lado da linha, o silêncio foi longo demais."Eu estou… bem." Sua resposta foi hesitante, frágil.F
LeonardoO jato pousou suavemente na pista privada, mas o aperto no meu peito só aumentava. Eu deveria me sentir aliviado por finalmente estar de volta a Colorado Springs, longe de Positano e dos riscos que aquela cidade carregava para nós. Mas, no fundo, eu sabia que a guerra ainda não havia acabado.Assim que o avião parou completamente, soltei o cinto e passei a mão pelo rosto, tentando afastar a tensão que dominava meu corpo. Olhei para o lado, vendo Amber ajeitar-se no assento. Suas mãos repousavam sobre a barriga, um gesto inconsciente de proteção às nossas filhas. Seus olhos encontraram os meus e, mesmo que ela tentasse esconder, eu conseguia ver a preocupação refletida ali."Finalmente em casa", murmurei, mais para mim do que para ela.Amber assentiu, mas não disse nada. Apenas deslizou os dedos suavemente pela pele esticada da barriga, como se estivesse tentando se acalmar.Atrás de nós, Magnus soltou um suspiro pesado, claramente exausto.
AmberTerminei de dobrar a última peça de roupa e a guardei na gaveta, soltando um longo suspiro. Estávamos de volta. A casa, mesmo com sua grandiosidade, parecia diferente, como se o peso de tudo o que vivemos nos últimos meses tivesse se alojado entre suas paredes.Minhas mãos deslizaram para minha barriga, sentindo o leve movimento das meninas. Eu queria que esse fosse um recomeço. Eu queria acreditar que agora estávamos seguros.Mas quando Leonardo entrou no quarto, o semblante carregado, soube imediatamente que algo estava errado."Amber, preciso que se sente", ele disse, a voz firme, mas carregada de algo que não consegui decifrar de imediato.Franzi o cenho, minha mão instintivamente apertando a cama ao meu lado antes de finalmente me sentar."O que foi?" perguntei, meu coração acelerando de imediato. "As crianças estão bem?"Leonardo res
AmberO silêncio na sala era pesado, como se cada palavra trocada entre nós ainda pairasse no ar. Minha mente girava, tentando absorver tudo o que minha mãe—Uria Bayer—havia acabado de me contar.Ela se levantou do sofá, me lançando um último olhar carregado de expectativa. Mas eu não conseguia retribuir. Ainda não sabiao quesentir."Eu sei que você precisa de tempo,"ela disse, ajeitando a alça da bolsa no ombro."Mas estarei aqui, sempre que estiver pronta para conversar."Não r