— Onde está o restante do tecido da sua saia, Natalie?
Mia segurou uma risada ao ver a cara que seu marido fazia enquanto fitava a vestimenta da filha deles. Claro que ele ainda não se conformava com o uniforme minúsculo, menos ainda com as roupas que a garotinha começava a se vestir. Aquele era um dia em que eles poderiam ir livre, por ser sexta-feira, e por isso ela se vestia com algo que era a cara dela. Uma saia de cintura alta cor-de-rosa e uma camisa branca de manguinha com babados. Estava linda, mas para o seu marido ciumento, isso não era o mais importante.
— Pela forma como ela está grossa hoje, ela deve ter comido.
— Some da minha frente, Thomas.
Ele soltou uma gargalhada.
— Você se lembra de que vamos juntos para o colégio, não é, maninha?
— Se você não sair daqui, eu juro que vou te infernizar até chegarmos lá. Maninho.
Tudo que o gêmeo dela fez foi dar de ombros.
— Eu vou enlouquecer.
Mia segurou uma nova risada, fitando ao marido, que não tinha a melhor das expressões no rosto.
— Quando eu disse que ia pagar pelos meus pecados com esses dois adolescentes, eu não achei que seria essa sofrência. Daqui a pouco eu vou ser internado, Mia, e a culpa vai ser dos nossos filhos.
— Eles vão melhorar, querido.
— Quando se casar e deixar essa casa? Porque eu acho que só assim eles amadurecem.
— O senhor falando em casamento, papai?
Liam se virou rapidamente para a filha.
— Você está proibida de pensar nisso pelos próximos... dez anos.
Natalie revirou os olhos.
— Voltando ao que realmente importa aqui, que saia curta é essa?
Natalie suspirou baixinho.
— Papai, ela nem está assim tão curta.
— Está mostrando mais do que deveria, está curta.
Sabendo que teria de apelar, Natalie se virou para quem poderia salvá-la naquele momento.
— Mamãe?
— Querido, nós combinamos que você não ia ficar em cima dela por causa da escolha dela sobre as roupas que ela veste. Inclusive sobre as saias e os vestidos.
— Mas olha só isso!
Natalie deu um gritinho quando o pai puxou sua saia. Envergonhada. E surpresa.
— Isso chama a atenção dos adolescentes abusados e cheio de testosterona.
Claro que a filha dele corou.
— Liam.
— Já é difícil ter que aceitar que minha filha está crescendo...
— É a vida, ela é uma adolescente. Vai começar a namorar em breve.
— Por cima do meu cadáver.
Mia respirou fundo.
— Nós já conversamos sobre isso. Ela vai namorar, você vai aceitar, porque você a ama, e a quer feliz. E me quer ver feliz.
Era uma ameaça, ele soube disso na mesma hora.
— Agora vamos ao desjejum.
— Amém.
— Que vontade de tacar fogo nessas saias.
Apesar de ele ter apenas murmurado, ambas as mulheres puderam escutar, mas não responderam, afinal, não mudaria em nada os sentimentos de Liam Kavanagh.
Thomas estava achando aquilo muito estranho. Era para Bryan entrar e seguir para sua sala. Mas não. Ele fingiu apenas. O que ele queria com aquilo? Não pensou duas vezes antes de seguir ele. Pediu para sua irmã não se preocupar, já que ela também não estava entendendo o motivo de o irmão do meio ter seguido por outro caminho, e a deixou ali. Se tivesse que receber falta, que seja. O mais importante ali era seu irmão, que vinha se comportando de forma estranha há alguns dias. Primeiro um segredo que Natalie insistia em descobrir qual era e agora ele fingindo assistir aula para ir sei lá onde. Não era longe o local que Bryan parou. Era a lanchonete na rua de cima do colégio deles. Rapidamente reconheceu a pessoa que se sentou com ele. Era a antiga professora dele. A conheceu no dia em que ela compareceu junto a psicóloga e a assistente social para entregar Bryan para seus pais. Estavam todos reunidos para levar o novo membro da família para casa. Achou estranho uma professora estar ali,
Há quatro anos atrás ele foi adotado por Liam e Mia. Os conheceu em um dia complicado. Foi perigoso e por pouco não se machucou de verdade. Tudo que teve foi uma torsão no pé por conta da queda. Depois de se perder e escorregar no meio da rua, encontrar o casal foi a melhor parte de seu dia. Mia era extremamente carinhosa. Um doce. Ela cuidou dele de um jeito que o surpreendeu. Ele era órfão. Nunca sentiu nada parecido antes. De qualquer um. Liam era diferente, e ainda assim, sentiu nele uma segurança que ele jamais sentiu com outra pessoa. Bryan sempre foi desconfiado, mesmo com quase cinco anos. Diferente de outras crianças de idades semelhantes, Bryan era extremamente desconfiado com quem quer que fosse. Mas não com os Kavanagh. E quando descobriu que eles o queriam como filho, se sentiu tão bem, que achou que fosse um sonho. Já tinha cinco anos quando foram buscá-lo. Toda a família. Em um único dia ele conheceu seus cinco irmãos. Ele, que sempre foi sozinho, tinha uma grande famíl
Liam achou estranho quando seu advogado ligou para falar sobre Bryan. Por que ele teria algo a falar sobre seu filho? Não entendeu o motivo, mas mesmo assim foi de encontro a ele. Pediu para que a esposa buscasse as crianças sozinha, e seguiu ao centro da cidade. Almoçaria por lá com Finn. Ele parecia preocupado no telefone, o que fazia com que Liam só pensasse que havia algo de errado. Achou melhor não preocupar Mia, já bastava ele. Ela estava grávida e não podia com emoções fortes, ainda mais quando estava entrando no sexto mês de gestação. Para tornar a situação mais complicada, havia o fato de que Bryan vinha escondendo algo deles. Isso estava fazendo Mia ficar angustiada e consequentemente não o deixar em paz até que ele conseguisse descobrir o que estava acontecendo com o garotinho deles. Quando conheceu Bryan, já sabia que ele tinha uma carga muito pesada mesmo sendo uma criança. Ele tinha quase cinco anos. Foi abandonado pelos pais e vivia em um orfanato. Estudava em uma esc
— Onde está nossa filha? Mia sabia que o marido questionaria sobre a mais velha no instante em que percebesse a falta dela. O que foi de imediato. Ele se aproximou já a procura da menina. O que já era esperado. Já estava preparada para as perguntas, e talvez, muito provavelmente, o ciúme. Porque Natalie não tinha saído sozinha. Ela foi acompanhada com Ezra. Ele tinha uma cisma com o sobrinho deles desde que Mattew começou a colocar caraminholas em sua cabeça.— Saiu. Foi ao cinema com Ezra. Eles vão se encontrar com nossos sobrinhos. — Hum. — O papai está com ciúmes da garotinha dele. — Eu sou a garotinha dele! — Eu que sou! — Ninguém merece. Bryan riu, principalmente quando Mark se pronunciou. — Você está muito parecido com seu pai, vamos mudar isso, querido. Liam franziu o cenho e Bryan riu novamente. — A senhora deveria agradecer por ele não ser como o Thomy, mamãe. Mia levou a mão direita ao queixo, pensativa. — Ela deve estar se lembrando de quando nosso filho
— Quem é você, e o que fizeram com a minha filha? Natalie tinha um sorriso contagiante nos lábios enquanto olhava para seus pais e irmãos. Ela sabia que seria um choque para todos, mas a decisão tinha sido tomada há muitos dias, e ela achou que já estava na hora de colocar em prática. Por que não, afinal? Já tinha todo o dinheiro necessário, não precisando assim, usar o do seu pai. Não que ela não usasse o cartão sem limites dele, mas ela preferiu usar sua mesada que juntou por alguns meses. — Querida, você está tão linda. — Agora me pareço com você, mamãe. Ainda sorrindo, Mia a beijou no rosto, tocando os cabelos antes negros, agora cor-de-rosa. No mesmo tom que os dela. Ela pintou também as sobrancelhas, afinal ficaria estranho se ela pintasse apenas os cabelos. A mudança tinha sido chocante, mas a mãe ficou muito emocionada. — Misericórdia, minha irmã está parecendo aquelas bonecas estranhas que ela tinha quando criança. — Ah, e eu também me pareço com essas bonecas estra
Liam tinha apenas uma hora para se encontrar com aquela mulher e voltar a tempo para pegar seus filhos. Tinha que ser rápido. Confiava em Finn, mas ainda assim precisava agir à sua maneira. Era sobre seu filho, afinal de contas. Bryan era e sempre seria seu filho. E ninguém, nem mesmo a mãe biológica o tiraria de si e de sua esposa. Nunca quis saber quem era aquela mulher. Só o que soube era que ela abandonou Bryan quando ele era ainda um bebê. Mia não queria que procurassem nada sobre ela ou qualquer um de sua família. Tinha medo de perdê-lo de alguma forma. Mas agora Liam se arrependia de ter dado ouvidos a esposa, mesmo que a compreendesse. Se tivesse buscado sobre quem eram os pais de Bryan, talvez ele estivesse mais preparado naquele momento. Era difícil pensar que uma pessoa estivesse tão arrependida, que esperou nove anos para buscar pelo filho. Não foram nove meses, foram nove anos. O que houve para que ela o deixasse na porta do corpo de bombeiros? O que a fez desistir de um
Não queria pensar em Bryan e naquela confusão em que sua família estava entrando, mas foi impossível quando sentiu os bracinhos de ambas ao redor de si após a aula. Se lembrou do dia em que viu Bryan sentir medo pela primeira vez. Mesmo sem entender, se lembrou daquele dia. De como ele tremia em seus braços. De como ele apertava os olhos com força. De como ele fungava com o rosto afundado em seu pescoço. Foi logo na primeira noite dele em casa. Na nova casa dele. Ele não soube explicar o motivo. Não houve pesadelos. Apenas sentiu medo. Um medo inexplicável. E Liam ficou com ele durante toda uma noite, mesmo depois que ele finalmente adormeceu. Enquanto andavam pelas sessões preferidas de sua esposa, e também das crianças, Liam podia ver a eletricidade dos trigêmeos. E eles nem tinham comido doce naquele dia. A não ser pelo sorvete de mais cedo, mas mesmo assim já fazia horas que isso aconteceu. Eles adoravam ir ao supermercado. E quando podiam comprar seus doces, ficavam mais empolga
Bryan se sentia culpado. Culpado por esconder coisas do pai e culpado por querer saber mais sobre seus pais biológicos. Culpado por querer ver a mulher que o colocou no mundo para lhe fazer questionamentos, como o motivo de ela não querer ele. Ela o abandonou, mas agora queria vê-lo. Conhecê-lo. Será que ela nunca quis abandoná-lo? Será que ela foi obrigada? Será que ela o amou e ainda o amava? E por isso agora estava a sua procura? Mas se era realmente isso, como que levou nove anos para encontrá-lo? Não fazia sentido, mesmo para um garotinho de nove anos. Os sentimentos dentro de si eram conturbados. Ele achava que tinha o direito de conhecer aquela mulher, mas também achava que não tinha o direito de magoar os únicos pais que ele conhecia naquele mundo. Os únicos que lhe deram amor, carinho, que lhe cuidou com zelo. Ele nunca foi tratado diferente de seus irmãos. Se lembrava de como sua mãe o colocava para dormir com o mesmo carinho que com os outros filhos. Os beijos, a atenção, o