Capítulo 9

Thomas estava achando aquilo muito estranho. Era para Bryan entrar e seguir para sua sala. Mas não. Ele fingiu apenas. O que ele queria com aquilo? Não pensou duas vezes antes de seguir ele. Pediu para sua irmã não se preocupar, já que ela também não estava entendendo o motivo de o irmão do meio ter seguido por outro caminho, e a deixou ali. Se tivesse que receber falta, que seja. O mais importante ali era seu irmão, que vinha se comportando de forma estranha há alguns dias. Primeiro um segredo que Natalie insistia em descobrir qual era e agora ele fingindo assistir aula para ir sei lá onde. Não era longe o local que Bryan parou. Era a lanchonete na rua de cima do colégio deles. Rapidamente reconheceu a pessoa que se sentou com ele. Era a antiga professora dele. A conheceu no dia em que ela compareceu junto a psicóloga e a assistente social para entregar Bryan para seus pais. Estavam todos reunidos para levar o novo membro da família para casa. Achou estranho uma professora estar ali, mas não disse nada. Era uma criança ainda na época. Não acha que fosse muito importante, então ignorou. Agora pensava que sim, era. Porque aquela mulher estava ali li com seu irmão do meio. O que ela fazia na cidade? E por que se encontrava as escondidas com Bryan? Se aproximou um pouco mais a fim de escutar o que diziam. 

— Seus pais não devem estar sabendo que está me encontrando. 

— Eles acham que estou em aula. 

— Você é muito esperto para um garoto de nove anos. 

— Você conseguiu descobrir algo a mais sobre as pessoas que me abandonaram? 

— Sim. Eu encontrei sua mãe. 

— Encontrou?

— Sua mãe quer te conhecer, Bryan. 

Thomas entrou em choque ao escutar aquelas palavras. 

— Ela está muito entusiasmada em vê-lo. 

— Mas... você mesma disse que foi ela quem me abandonou.

— Ela está muito arrependida. 

Silêncio. E Thomas achou que seu irmão estivesse pensando. Arrependida. Ele sabia como era descobrir quem são os pais de verdade. A genitora dele nunca se importou com ele ou com Natalie. Ela nunca os amou. Os deixou com o pai e só voltou quando achou que poderia ganhar alguma grana com isso. Se essa mulher estava procurando Bryan, então talvez era por também estar atrás de algum benefício. Ele era filho de alguém muito poderoso na cidade. Tinham posses. Tinham nome. Eram muito ricos. Estava óbvio o motivo daquela mulher procurar pelo filho. 

— Ela chega na cidade em duas semanas. Está entusiasmada em poder estar com você. Mas... ela não acha que seus pais devem saber sobre isso, porque eles podem não querer que esse encontro aconteça. 

— Eu já escondi dos meus pais que eu estou procurando por ela. Não posso esconder que vou vê-la. 

— Então você quer vê-la. 

Silêncio.

— Ou está com dúvidas?

Demorou um pouco, mas ele respondeu:

— Desde que me entendo por gente eu me pergunto o motivo de ter sido abandonado. De meus pais não me querer. O que eu fiz de errado? Isso me marcou muito. Mesmo depois de eu ter sido adotado pelos meus pais, que são incríveis, eu continuava pensando nas pessoas que me colocaram nesse mundo. Eu nunca vou poder seguir em frente se eu... não fazer algo sobre isso. Mas ao mesmo tempo... eu sinto... me pergunto... se apenas saber sobre eles não é o bastante. Me encontrar com eles pode me trazer mais dor? Não é? E se eu encontrar algo que me faça me sentir pior? 

— Você tem uma história, Bryan, e é importante descobrir sobre ela. Como você mesmo disse, assim, você pode seguir em frente. 

— Eu preciso pensar. 

— Tudo bem. Está no seu direito, querido. 

Thomas franziu o cenho ao escutar aquelas palavras. Mais especificamente a última. Havia algo ali. Um tom diferente. Algo estava errado. Mesmo assim se pôs a se mover, afinal não queria ser visto. Se escondeu e então seguiu seu irmão até a escola. O porteiro o deixou entrar para assistir as outras aulas. Sua sorte era que os alunos podiam entrar no segundo período sem problemas. Passou pelo portão só depois que ele sumiu de suas vistas, subindo os degraus para seguir para sua sala, que ficava no segundo andar. Cumprimentou o porteiro e seguiu para a própria sala pensativo. 

— E então, Thomy?

Se sentou, soltando a mochila no chão ao lado do seu pé. 

— O que descobriu?

Thomas soltou um longo suspiro.

— Você vai me deixar inquieta e preocupada? Diz logo. 

— Você não vai acreditar no que vou dizer. 

— Ai, não, é ruim?

— Talvez. 

— Diz de uma vez, irmão. 

— Kanavagh. 

Ambos se viraram para o professor. 

— Minha aula está sendo chata por acaso? 

— Perdão. 

— Perdoados. Mas prestem atenção, é matéria de prova. 

Ambos anuíram e o professor se virou de costas para eles. 

— Você vai me contar no intervalo, Thomy. Não consigo esperar mais que isso. 

O primogênito de Liam não conseguiu sequer escutar direito as palavras dos professores. Nada fazia ele parar de pensar no que viu e ouviu. E se perguntava se devia contar a seu pai, já que era uma situação complicada. Como ele ou sua mãe se sentiriam ao saber que Bryan estava procurando pelos pais biológicos? Ele compreendia os sentimentos do irmão, principalmente depois de ouvir suas palavras e a dor nelas, mas ainda assim, não conseguia deixar de pensar que ele estava indo atrás de uma história que poderia sim ser um atraso na vida dele.

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