Thomas estava achando aquilo muito estranho. Era para Bryan entrar e seguir para sua sala. Mas não. Ele fingiu apenas. O que ele queria com aquilo? Não pensou duas vezes antes de seguir ele. Pediu para sua irmã não se preocupar, já que ela também não estava entendendo o motivo de o irmão do meio ter seguido por outro caminho, e a deixou ali. Se tivesse que receber falta, que seja. O mais importante ali era seu irmão, que vinha se comportando de forma estranha há alguns dias. Primeiro um segredo que Natalie insistia em descobrir qual era e agora ele fingindo assistir aula para ir sei lá onde. Não era longe o local que Bryan parou. Era a lanchonete na rua de cima do colégio deles. Rapidamente reconheceu a pessoa que se sentou com ele. Era a antiga professora dele. A conheceu no dia em que ela compareceu junto a psicóloga e a assistente social para entregar Bryan para seus pais. Estavam todos reunidos para levar o novo membro da família para casa. Achou estranho uma professora estar ali, mas não disse nada. Era uma criança ainda na época. Não acha que fosse muito importante, então ignorou. Agora pensava que sim, era. Porque aquela mulher estava ali li com seu irmão do meio. O que ela fazia na cidade? E por que se encontrava as escondidas com Bryan? Se aproximou um pouco mais a fim de escutar o que diziam.
— Seus pais não devem estar sabendo que está me encontrando.
— Eles acham que estou em aula.
— Você é muito esperto para um garoto de nove anos.
— Você conseguiu descobrir algo a mais sobre as pessoas que me abandonaram?
— Sim. Eu encontrei sua mãe.
— Encontrou?
— Sua mãe quer te conhecer, Bryan.
Thomas entrou em choque ao escutar aquelas palavras.
— Ela está muito entusiasmada em vê-lo.
— Mas... você mesma disse que foi ela quem me abandonou.
— Ela está muito arrependida.
Silêncio. E Thomas achou que seu irmão estivesse pensando. Arrependida. Ele sabia como era descobrir quem são os pais de verdade. A genitora dele nunca se importou com ele ou com Natalie. Ela nunca os amou. Os deixou com o pai e só voltou quando achou que poderia ganhar alguma grana com isso. Se essa mulher estava procurando Bryan, então talvez era por também estar atrás de algum benefício. Ele era filho de alguém muito poderoso na cidade. Tinham posses. Tinham nome. Eram muito ricos. Estava óbvio o motivo daquela mulher procurar pelo filho.
— Ela chega na cidade em duas semanas. Está entusiasmada em poder estar com você. Mas... ela não acha que seus pais devem saber sobre isso, porque eles podem não querer que esse encontro aconteça.
— Eu já escondi dos meus pais que eu estou procurando por ela. Não posso esconder que vou vê-la.
— Então você quer vê-la.
Silêncio.
— Ou está com dúvidas?
Demorou um pouco, mas ele respondeu:
— Desde que me entendo por gente eu me pergunto o motivo de ter sido abandonado. De meus pais não me querer. O que eu fiz de errado? Isso me marcou muito. Mesmo depois de eu ter sido adotado pelos meus pais, que são incríveis, eu continuava pensando nas pessoas que me colocaram nesse mundo. Eu nunca vou poder seguir em frente se eu... não fazer algo sobre isso. Mas ao mesmo tempo... eu sinto... me pergunto... se apenas saber sobre eles não é o bastante. Me encontrar com eles pode me trazer mais dor? Não é? E se eu encontrar algo que me faça me sentir pior?
— Você tem uma história, Bryan, e é importante descobrir sobre ela. Como você mesmo disse, assim, você pode seguir em frente.
— Eu preciso pensar.
— Tudo bem. Está no seu direito, querido.
Thomas franziu o cenho ao escutar aquelas palavras. Mais especificamente a última. Havia algo ali. Um tom diferente. Algo estava errado. Mesmo assim se pôs a se mover, afinal não queria ser visto. Se escondeu e então seguiu seu irmão até a escola. O porteiro o deixou entrar para assistir as outras aulas. Sua sorte era que os alunos podiam entrar no segundo período sem problemas. Passou pelo portão só depois que ele sumiu de suas vistas, subindo os degraus para seguir para sua sala, que ficava no segundo andar. Cumprimentou o porteiro e seguiu para a própria sala pensativo.
— E então, Thomy?
Se sentou, soltando a mochila no chão ao lado do seu pé.
— O que descobriu?
Thomas soltou um longo suspiro.
— Você vai me deixar inquieta e preocupada? Diz logo.
— Você não vai acreditar no que vou dizer.
— Ai, não, é ruim?
— Talvez.
— Diz de uma vez, irmão.
— Kanavagh.
Ambos se viraram para o professor.
— Minha aula está sendo chata por acaso?
— Perdão.
— Perdoados. Mas prestem atenção, é matéria de prova.
Ambos anuíram e o professor se virou de costas para eles.
— Você vai me contar no intervalo, Thomy. Não consigo esperar mais que isso.
O primogênito de Liam não conseguiu sequer escutar direito as palavras dos professores. Nada fazia ele parar de pensar no que viu e ouviu. E se perguntava se devia contar a seu pai, já que era uma situação complicada. Como ele ou sua mãe se sentiriam ao saber que Bryan estava procurando pelos pais biológicos? Ele compreendia os sentimentos do irmão, principalmente depois de ouvir suas palavras e a dor nelas, mas ainda assim, não conseguia deixar de pensar que ele estava indo atrás de uma história que poderia sim ser um atraso na vida dele.
Há quatro anos atrás ele foi adotado por Liam e Mia. Os conheceu em um dia complicado. Foi perigoso e por pouco não se machucou de verdade. Tudo que teve foi uma torsão no pé por conta da queda. Depois de se perder e escorregar no meio da rua, encontrar o casal foi a melhor parte de seu dia. Mia era extremamente carinhosa. Um doce. Ela cuidou dele de um jeito que o surpreendeu. Ele era órfão. Nunca sentiu nada parecido antes. De qualquer um. Liam era diferente, e ainda assim, sentiu nele uma segurança que ele jamais sentiu com outra pessoa. Bryan sempre foi desconfiado, mesmo com quase cinco anos. Diferente de outras crianças de idades semelhantes, Bryan era extremamente desconfiado com quem quer que fosse. Mas não com os Kavanagh. E quando descobriu que eles o queriam como filho, se sentiu tão bem, que achou que fosse um sonho. Já tinha cinco anos quando foram buscá-lo. Toda a família. Em um único dia ele conheceu seus cinco irmãos. Ele, que sempre foi sozinho, tinha uma grande famíl
Liam achou estranho quando seu advogado ligou para falar sobre Bryan. Por que ele teria algo a falar sobre seu filho? Não entendeu o motivo, mas mesmo assim foi de encontro a ele. Pediu para que a esposa buscasse as crianças sozinha, e seguiu ao centro da cidade. Almoçaria por lá com Finn. Ele parecia preocupado no telefone, o que fazia com que Liam só pensasse que havia algo de errado. Achou melhor não preocupar Mia, já bastava ele. Ela estava grávida e não podia com emoções fortes, ainda mais quando estava entrando no sexto mês de gestação. Para tornar a situação mais complicada, havia o fato de que Bryan vinha escondendo algo deles. Isso estava fazendo Mia ficar angustiada e consequentemente não o deixar em paz até que ele conseguisse descobrir o que estava acontecendo com o garotinho deles. Quando conheceu Bryan, já sabia que ele tinha uma carga muito pesada mesmo sendo uma criança. Ele tinha quase cinco anos. Foi abandonado pelos pais e vivia em um orfanato. Estudava em uma esc
— Onde está nossa filha? Mia sabia que o marido questionaria sobre a mais velha no instante em que percebesse a falta dela. O que foi de imediato. Ele se aproximou já a procura da menina. O que já era esperado. Já estava preparada para as perguntas, e talvez, muito provavelmente, o ciúme. Porque Natalie não tinha saído sozinha. Ela foi acompanhada com Ezra. Ele tinha uma cisma com o sobrinho deles desde que Mattew começou a colocar caraminholas em sua cabeça.— Saiu. Foi ao cinema com Ezra. Eles vão se encontrar com nossos sobrinhos. — Hum. — O papai está com ciúmes da garotinha dele. — Eu sou a garotinha dele! — Eu que sou! — Ninguém merece. Bryan riu, principalmente quando Mark se pronunciou. — Você está muito parecido com seu pai, vamos mudar isso, querido. Liam franziu o cenho e Bryan riu novamente. — A senhora deveria agradecer por ele não ser como o Thomy, mamãe. Mia levou a mão direita ao queixo, pensativa. — Ela deve estar se lembrando de quando nosso filho
— Quem é você, e o que fizeram com a minha filha? Natalie tinha um sorriso contagiante nos lábios enquanto olhava para seus pais e irmãos. Ela sabia que seria um choque para todos, mas a decisão tinha sido tomada há muitos dias, e ela achou que já estava na hora de colocar em prática. Por que não, afinal? Já tinha todo o dinheiro necessário, não precisando assim, usar o do seu pai. Não que ela não usasse o cartão sem limites dele, mas ela preferiu usar sua mesada que juntou por alguns meses. — Querida, você está tão linda. — Agora me pareço com você, mamãe. Ainda sorrindo, Mia a beijou no rosto, tocando os cabelos antes negros, agora cor-de-rosa. No mesmo tom que os dela. Ela pintou também as sobrancelhas, afinal ficaria estranho se ela pintasse apenas os cabelos. A mudança tinha sido chocante, mas a mãe ficou muito emocionada. — Misericórdia, minha irmã está parecendo aquelas bonecas estranhas que ela tinha quando criança. — Ah, e eu também me pareço com essas bonecas estra
Liam tinha apenas uma hora para se encontrar com aquela mulher e voltar a tempo para pegar seus filhos. Tinha que ser rápido. Confiava em Finn, mas ainda assim precisava agir à sua maneira. Era sobre seu filho, afinal de contas. Bryan era e sempre seria seu filho. E ninguém, nem mesmo a mãe biológica o tiraria de si e de sua esposa. Nunca quis saber quem era aquela mulher. Só o que soube era que ela abandonou Bryan quando ele era ainda um bebê. Mia não queria que procurassem nada sobre ela ou qualquer um de sua família. Tinha medo de perdê-lo de alguma forma. Mas agora Liam se arrependia de ter dado ouvidos a esposa, mesmo que a compreendesse. Se tivesse buscado sobre quem eram os pais de Bryan, talvez ele estivesse mais preparado naquele momento. Era difícil pensar que uma pessoa estivesse tão arrependida, que esperou nove anos para buscar pelo filho. Não foram nove meses, foram nove anos. O que houve para que ela o deixasse na porta do corpo de bombeiros? O que a fez desistir de um
Não queria pensar em Bryan e naquela confusão em que sua família estava entrando, mas foi impossível quando sentiu os bracinhos de ambas ao redor de si após a aula. Se lembrou do dia em que viu Bryan sentir medo pela primeira vez. Mesmo sem entender, se lembrou daquele dia. De como ele tremia em seus braços. De como ele apertava os olhos com força. De como ele fungava com o rosto afundado em seu pescoço. Foi logo na primeira noite dele em casa. Na nova casa dele. Ele não soube explicar o motivo. Não houve pesadelos. Apenas sentiu medo. Um medo inexplicável. E Liam ficou com ele durante toda uma noite, mesmo depois que ele finalmente adormeceu. Enquanto andavam pelas sessões preferidas de sua esposa, e também das crianças, Liam podia ver a eletricidade dos trigêmeos. E eles nem tinham comido doce naquele dia. A não ser pelo sorvete de mais cedo, mas mesmo assim já fazia horas que isso aconteceu. Eles adoravam ir ao supermercado. E quando podiam comprar seus doces, ficavam mais empolga
Bryan se sentia culpado. Culpado por esconder coisas do pai e culpado por querer saber mais sobre seus pais biológicos. Culpado por querer ver a mulher que o colocou no mundo para lhe fazer questionamentos, como o motivo de ela não querer ele. Ela o abandonou, mas agora queria vê-lo. Conhecê-lo. Será que ela nunca quis abandoná-lo? Será que ela foi obrigada? Será que ela o amou e ainda o amava? E por isso agora estava a sua procura? Mas se era realmente isso, como que levou nove anos para encontrá-lo? Não fazia sentido, mesmo para um garotinho de nove anos. Os sentimentos dentro de si eram conturbados. Ele achava que tinha o direito de conhecer aquela mulher, mas também achava que não tinha o direito de magoar os únicos pais que ele conhecia naquele mundo. Os únicos que lhe deram amor, carinho, que lhe cuidou com zelo. Ele nunca foi tratado diferente de seus irmãos. Se lembrava de como sua mãe o colocava para dormir com o mesmo carinho que com os outros filhos. Os beijos, a atenção, o
Liam tinha uma pasta com tudo que precisava saber sobre aquela mulher. Finn tinha feito um ótimo trabalho. Nem precisou contratar um investigador particular. Mia estava ao seu lado lendo o relatório. E assim como imaginou, a professora não era apenas uma simples professora. Ela tinha motivos para se interessar por Bryan. Era sua tia. Biológica. Irmã de seu pai. Um homem poderoso que quando soube que a mulher com quem se relacionava estava grávida, não só não acreditou que o filho era dele como também não tinha desejo de se tornar pai. E então a mulher ficou só. Grávida e sozinha. O bebê nasceu e ela o abandonou no corpo de bombeiros. E desapareceu no mundo. Mas ela não era uma mulher qualquer. Ela tinha posses. Não tinha família, mas era de família de classe-média. Então por qual motivo escolheu dar a criança, e agora, anos depois, o queria de volta? Essa era a única resposta que ainda não o tinham. Mia se sentia inconformada. Enojada. Tanto com o pai de seu garotinho quanto com a m