Bryan se sentia culpado. Culpado por esconder coisas do pai e culpado por querer saber mais sobre seus pais biológicos. Culpado por querer ver a mulher que o colocou no mundo para lhe fazer questionamentos, como o motivo de ela não querer ele. Ela o abandonou, mas agora queria vê-lo. Conhecê-lo. Será que ela nunca quis abandoná-lo? Será que ela foi obrigada? Será que ela o amou e ainda o amava? E por isso agora estava a sua procura? Mas se era realmente isso, como que levou nove anos para encontrá-lo? Não fazia sentido, mesmo para um garotinho de nove anos. Os sentimentos dentro de si eram conturbados. Ele achava que tinha o direito de conhecer aquela mulher, mas também achava que não tinha o direito de magoar os únicos pais que ele conhecia naquele mundo. Os únicos que lhe deram amor, carinho, que lhe cuidou com zelo. Ele nunca foi tratado diferente de seus irmãos. Se lembrava de como sua mãe o colocava para dormir com o mesmo carinho que com os outros filhos. Os beijos, a atenção, o
Liam tinha uma pasta com tudo que precisava saber sobre aquela mulher. Finn tinha feito um ótimo trabalho. Nem precisou contratar um investigador particular. Mia estava ao seu lado lendo o relatório. E assim como imaginou, a professora não era apenas uma simples professora. Ela tinha motivos para se interessar por Bryan. Era sua tia. Biológica. Irmã de seu pai. Um homem poderoso que quando soube que a mulher com quem se relacionava estava grávida, não só não acreditou que o filho era dele como também não tinha desejo de se tornar pai. E então a mulher ficou só. Grávida e sozinha. O bebê nasceu e ela o abandonou no corpo de bombeiros. E desapareceu no mundo. Mas ela não era uma mulher qualquer. Ela tinha posses. Não tinha família, mas era de família de classe-média. Então por qual motivo escolheu dar a criança, e agora, anos depois, o queria de volta? Essa era a única resposta que ainda não o tinham. Mia se sentia inconformada. Enojada. Tanto com o pai de seu garotinho quanto com a m
Mia entrou no quarto, acendeu a luz, e então viu o filho do meio puxar o edredom até a cabeça. Se lembrava de quando era Thomas. Ele também odiava claridade. Bem, isso só veio a mudar depois de quase dois anos que já estava acostumado com a sua nova família. Mesmo quando ele morava no orfanato, ele odiava escuro. Ela e o marido descobriu o quanto quando ele teve seu primeiro surto por se ver no escuro. Foi um desespero. Eles nunca tinham visto ele tão apavorado. A situação foi mudando, ele foi mudando, crescendo, amadurecendo, e se sentindo mais seguro. E desde então a claridade o irritava logo de manhã. Principalmente quando sabia que tinha que despertar para ir para a escola. E ele não era o único a reclamar de ter que acordar tão cedo para sair de casa. Se aproximou, sentando-se na cama e colocando uma das mãos sobre a cintura de seu garotinho, chamando-o baixinho, como fazia todos os dias com cada um de seus filhos. O escutou reclamar, e riu quando o viu se mexer, tampando os ou
— Kavanagh, você deve estar sabendo toda a matéria de prova, certo? Thomas revirou os olhos, se jogando na cadeira, fazendo-a ficar com apenas as duas pernas de trás sobre o piso. Os braços estavam cruzados, e ele tinha a feição de tédio como sempre. Aquela era simplesmente a aula mais chata, com a professora mais irritantemente tediosa, e ele sempre fazia questão de ignorá-la completamente. Até porque, ele fazendo algo ou não, ela chamaria sua atenção. Aquela mulher tinha um certo problema com ele, que ele não conseguia compreender. Minto, ele compreendia. Aquilo com toda a certeza era falta de macho. — Depende. — De que? — Se a matéria for de aritmética, aí estou ferrado. — Muito engraçado. Os amigos dele, minto, a sala inteira, tinha achado engraçado, porque riam. — Menos um ponto no boletim. — Como se você fosse me deixar passar na sua matéria. — Bem lembrado, comigo você não passa a não ser que faça uma boa prova. — Nem se eu fizer uma prova, vamos ser sinceros aqui
Liam chegou à escola, Bryan já o esperava na porta. Ele tinha os braços cruzados e olhava descrente para Thomas e Belle, que namoravam perto dele. Não tão perto, mas perto. Se fosse o pai da menina ali, ele já estava empurrando seu filho e puxando a filha dele para longe do namorado, e Liam não julgaria, porque ele também tinha uma filha. Ter uma filha namorando não devia ser fácil. Ele agradecia aos céus por Natalie estar solteira. Já bastava um filho namorando. Não que fosse o mesmo que ter uma filha namorando. Com certeza não era. Querendo ou não, era diferente. As pessoas compreendendo isso ou não, era muito diferente. Ora, era sua garotinha. A viu nascer, a viu crescer, acompanhou seu amadurecimento, aí vem um garoto sei lá donde e a tira de si. Era muito injusto. Sentia ciúmes sim. Que pai não sentiria? Era divertido ver Bryan olhar daquela forma para o irmão e a namorada. Era sempre o mesmo olhar. Todas as vezes havia também o momento em que ele revirava os olhos. Várias veze
Liam chegou em casa escutando uma cantoria. Era os trigêmeos. Difícil não identificar, além disso, eles eram os únicos em casa com a esposa naquele momento. Eles diziam a mesma coisa, como se estivesse lutando por algo. Era até engraçado. Mia devia estar enlouquecendo. Ele estaria. Os pequenos haviam saído mais cedo da escola, e ficado mais de uma hora sozinhos com a mãe. Trocou um olhar com Bryan, e seguiu para fora do carro, escutando seu filho do meio dizer que se negava a entrar dentro de casa. Tinha medo de os trigêmeos estarem em volta de uma fogueira, fazendo igual a índios. E o pai riu, claro. De certa forma, era bem isso que se podia imaginar enquanto escutava Mavi, Maevi e Mark cantarolando. “Queremos pizza. Queremos pizza. Queremos pizza”. Puxou seu filho pela mão, adentrando a casa. Encontrou os trigêmeos no corredor andando um atrás do outro, fazendo um círculo enquanto cantarolavam. — Posso voltar para a escola? — Você vai tirar esse uniforme e eu vou dar um jeito
Já fazia onze anos desde a chegada de Mia naquela casa. Onze anos que a vida de todos mudou completamente, inclusive de Thomas e Natalie. Eles tiveram a sorte de ela aparecer na vida deles. Porque foi quando eles conheceram uma mãe de verdade. Algo que desejavam, mesmo que não admitissem em voz alta. Thomas era quem mais escondia aqueles sentimentos, e só percebeu que deveria fazer algo sobre isso quando teve uma conversa sincera com a única mãe que ele reconhecia naquela vida. Foi aí que ele decidiu que era hora de aceitar seu pai com alguém. Mas não com qualquer uma. Só tinha uma escolha. E ela era sua babá. O que teria acontecido se seus planos não tivessem dado certo? Ele não teria Mia como mãe, não teria mais irmãos e principalmente, teria talvez Freya como mãe. Só de pensar ele se arrepiava por inteiro. Após colocar o uniforme de sempre, pegou a mochila em cima da cama e saiu, mas não sem antes dar uma olhada na fotografia em família que havia em cima da mesa de cabeceira. Sua
— Thomas, você pode levar Bryan hoje? Os trigêmeos vão entrar na escola no segundo período por causa do médico. — Claro, mãe. — Eu vou dirigir. — Nem sobre meu cadáver, maninha. — Sobre ele ou não, eu vou dirigir. Você dirigiu a semana inteira e o papai prometeu que eu poderia pegar o carro hoje. — O pai prometeu, não eu. Liam e Mia trocaram um olhar cansado. — Tem certeza de que estou seguro com esses dois? — Olha só. Estão fazendo Bryan se preocupar. – Mia diz. – Filho, deixe sua irmã pegar o carro hoje. Qual o problema? Ela dirige tão bem. — Vamos então perguntar ao cachorro que ela quase atropelou semana passada se ele confiaria nela como motorista. — Não seja implicante, Thomas. – Liam pediu. — Aquilo não foi culpa minha. Ele apareceu do nada na minha frente. — Que explicaçãozinha meia boca. — Pai. Pode me levar por favor? Eu não vou aguentar isso aí, não. — Thomas, pelo amor de Deus, seu irmão de nove anos precisa que você seja um pouco menos implicante. S