– Lembra que eu disse que estava procurando pela Condessa? – comecei, encarando-a.
– Sim – respondeu Patrícia, com calma.
– Se você sabe quem sou, também sabe que preciso manter as aparências. Além disso, preciso me unir a pessoas poderosas para resolver algumas questões pendentes.
– E o que isso tem a ver comigo? – ela perguntou, levantando uma sobrancelha.
– Você já disse o que precisa desse acordo. E o que eu preciso é da sua cooperação.
– De que forma? – insistiu, desconfiada.
– Um casamento – declarei, sem rodeios.
Ela riu alto, me pegando de surpresa.
– Desculpa, achei que tinha ouvido você dizer casamento – respondeu, ainda com um sorriso debochado.
Senti a irritação subir. Que mulher não ia querer se casar com um homem como eu? Só estava sozinho porque queria. Mantive minha compostura.
– Eu disse. Mas não fique convencida, são só negócios.
– Convencida? – ela repetiu, indignada. – Você acha que está me fazendo uma grande proposta, né? Por que motivo acha que eu ficaria lisonjeada com um absurdo desse?
– Porque você é uma mulher sozinha com dois filhos – respondi, tentando manter um tom neutro.
– E por acaso isso me torna uma mulher louca pra casar com o primeiro maluco que se acha um grande partido? – rebateu, com uma ferocidade que poucos ousariam mostrar para mim.
– Eu não estou fazendo um pedido romântico, Patrícia – rebati, tentando deixar claro.
– Ah, isso eu já percebi quando você começou a me insultar, Kevin – ela disse, cruzando os braços. – Eu não preciso disso, nem preciso mais de você. Esquece o que te pedi, vou dar conta de tudo sozinha como fiz até aqui. Sou tão capaz que você passou o último ano me procurando e não soube quem eu era. Eu posso fazer o que eu quiser.
Eu respirei fundo, tentando controlar minha frustração.
– Patrícia, eu me expressei mal. Não quis te ofender, mas você me tira da razão. Parece que está sempre debochando do que digo. Normalmente, as pessoas se cuidam ao falar comigo, mas você…
– Eu o quê? – ela perguntou, me encarando diretamente, sem desviar o olhar.
– Você não tem filtro. Me trata como qualquer outra pessoa – confessei, ainda tentando entender o porquê disso me afetar tanto.
– Mas você é uma pessoa como as outras... ou pensei que fosse... um ser humano – ela respondeu, com um tom que misturava desafio e simplicidade.
Eu toquei o ombro de Patrícia, que já havia se virado para sair. – Já disse que sinto muito. Você pode me escutar um minuto? – pedi, tentando conter a urgência na minha voz.
Ao encostar na pele dela, senti algo que não conseguia explicar. Era como se, por um instante, eu estivesse vivo de uma forma que há muito não sentia. Patrícia, mesmo ofendida, parou. O toque pareceu convencê-la de que precisava ouvir o que eu tinha a dizer.
– Tudo bem, Kevin. Vou me sentar nessa poltrona e te escutar – disse ela, com uma voz tranquila, mas firme. – Mas, por favor, não insulte minha inteligência ou capacidade.
Eu me senti um tanto envergonhado.
– Está bem – respondi, sentando-me em um pequeno banco de frente para a poltrona dela, tão próximo que podia sentir sua presença. Olhei diretamente nos olhos dela, tentando transmitir a seriedade do que estava prestes a dizer. – Patrícia, eu preciso de você – comecei, mas ao sentir meu coração saltar, fiquei sem jeito e corrigi. – Digo, da Condessa. Eu preciso me unir à Condessa para descobrir o que houve com minha esposa. Preciso da verdade sobre o acidente, entende?
– Então é sobre isso? – ela perguntou, com um tom que misturava curiosidade e cautela.
– Sim. Não se preocupe, eu não vou me aproximar de você a não ser para manter as aparências com a imprensa. Só preciso que acreditem que vamos nos casar em alguns meses. Isso também te beneficia, pois vai justificar minha proteção. Permanecemos casados por um ano e, depois de tudo resolvido, cada um segue seu caminho.
– Eu não sei. Não estou à vontade com isso, nem me dou bem com você. Esse ano será insuportável. –Ela hesitou, claramente desconfortável.
Eu tentei suavizar a situação.
– Fora da vista, se você quiser, pode nem falar comigo. Eu entendo. Não sou muito sociável. Faz tempo que só converso com o Nick.
– Não é assim também... – ela disse, mas ainda parecia indecisa. – Mas é uma decisão complicada. Me dê licença uns minutos, está bem? Eu já retorno e então conversaremos.
Patrícia se levantou e saiu, indo para seu antigo quarto na mansão. Eu fiquei ali, esperando, não havia o que fazer além disso, a sorte estava lançada.
Depois de um tempo, me sentei na poltrona e olhei a foto de Emily no celular, quando dei por mim, estava conversando com a foto como se minha falecida esposa pudesse me aconselhar.
–Acho que estraguei tudo, eu não sou bom em falar com as pessoas, eu não consegui falar com ela Emily. Ela me deixa nervoso, não sei o que acontece, quando percebo já falei um monte de besteira. É lógico que ela é uma mulher incrível, e ela sabe disso, é extremamente segura, é inteligente e linda, mas Nick tinha razão, ela é Inacessível... Emily eu preciso descobrir o que houve pra poder seguir a diante mas já percebi que ela não tem interesse algum em mim... também, eu fui um idiota... não é como era com você, tudo era tão simples, você nunca questionou, confiava em mim...mas ela não confia em ninguém, já deixou claro... sinto muito Emily.
Parei de falar me sentindo um idi0ta e logo senti o perfume de Patrícia, ela havia retornado ao escritório, será que tinha ouvido o que eu estava falando um minuto antes?
— Está bem, eu aceito sua proposta. — Patrícia respondeu, enquanto olhava o celular em minha mão. Ela me perguntou, curiosa: — Essa é ela?
— Sim, era tudo tão simples com ela... — confessei, sentindo o peso da saudade.
— Tudo bem, nós dois temos muito a aprender um com o outro. No caminho, vamos descobrir os responsáveis pela morte dela e vamos salvar minha irmã.
— Sim, nós vamos. — concordei, determinado. — Penso que, após você anunciar sua identidade, eu poderia me aproximar e dizer que estamos noivos. Assim, pareceria que estou apenas marcando território, mas eles já saberiam que você está sob minha proteção.
— Pode ser. — disse Patrícia, distraída, olhando para fora da janela.
Aproximei-me para ver o que tanto atraía sua atenção lá fora, mas Patrícia se virou repentinamente, e ficamos muito próximos. Sendo um pouco mais alto que ela, Patrícia, em um impulso, encostou a testa em meu peito, e eu segurei em seus ombros. Ambos respiramos fundo, como se aquilo nos preparasse para o que viria.
— Vai dar tudo certo. — eu disse, levantando delicadamente o rosto dela para encarar seus olhos verdes.
— Confesso que agora estou com medo de fazer esse anúncio, vai mudar tudo. — ela admitiu, tremendo ligeiramente.
— Eu vou te apoiar. Você sabe o quanto é forte, não sabe? — reforcei, desejando que ela sentisse a confiança que eu tinha nela.
— Não tenho certeza. — ela admitiu, sentindo o peso da dúvida.
— Mas eu tenho. — respondi, engolindo seco, enquanto o momento nos envolvia. Estava prestes a dar um beijo em Patrícia, tão forte era a conexão que senti. Ela também parecia pronta para isso, mas, ao mesmo tempo, ambos recuamos, como se um instinto nos alertasse.
— Obrigada, então vamos lá! — disse Patrícia, disfarçando, enquanto tentava retomar a compostura.
*Ponto de vista de Alícia*Ja faz alguns anos que cheguei nessa ilha, aqui eu finalmente tive paz, encontrei meu propósito em cuidar de agentes que se aposentam. A espionagem é na maioria das vezes muito eficaz para manter a paz, no entanto o preço é alto para muitos agentes secretos que, quando tem sua identidade revelada, não podem simplesmente continuar a vida como uma pessoa normal, então, a fundadora da nossa agência, Catarina, pensou em um lugar onde essas pessoas tivessem a chance de recomeçar: nossa ilha.Logo que eu soube desse lugar, me enchi de curiosidade, eu estava cursando psicologia e meu trabalho de conclusão de curso foi sobre stress pós traumático, o que acomete grande parte dos agentes que acabam indo para a ilha, pensei que eles precisariam de algum acompanhamento, pensei que para mim também seria um recomeço ja que estava perdidamente apaixonada desde a adolescência por um homem que agora era casado e provavelmente nem se lembrava da minha existência.Só que o que
Sou o Kevin Azevedo, conhecido como CEO das empresas da minha família, multimilionário e recluso. Há anos não converso com muitas pessoas além do meu irmão e assistente pessoal Nicholas, ele faz esse meio de campo entre eu e as demais pessoas para eu não precisar falar com ninguém mais, até porque não confio em ninguém... talvez na minha mãe Agatha e eu confiava na Catarina, minha mentora desde a adolescência, mas ela também se foi, não cheguei a tempo de salvá-la, foi envenenada por uma espiã inimiga. Aliás, esqueci de mencionar... sou um espião. Na adolescência, Catarina viu potencial em mim quando todos só viam problemas comportamentais, ela me recrutou para uma escola de gênios na Europa, que mais tarde descobri ser uma escola que ela mesma havia fundado e que treinava agentes secretos para trabalhar em um setor também secreto dentro da ONU. As pessoas se formavam naquela escola e retornavam à vida normal, eram cozinheiros, modelos, enfermeiros, médicos, artistas... não havia uma
– Quem é ela? – perguntei, mantendo meu olhar fixo na mulher ruiva.– Ela? Qual "ela"? Estamos cercados de mulheres. Aliás, é novidade você prestar atenção em qualquer uma – respondeu Nicolas, visivelmente surpreso.– Isso porque são todas superficiais, interesseiras ou mesmo insuportáveis – retruquei de forma direta.– Sei... Mas então, qual "ela" não é tudo isso? – disse ele, percebendo a direção do meu olhar. – NÃO CARA! Depois de dez anos sem nem olhar pra ninguém, você enxerga justo ela? Esquece.– Eu perguntei QUEM É ELA – reforcei, meu tom agora nada amigável.– Patrícia. A mulher mais inacessível do país nesse momento.– Ah, não percebi que era casada.– Não é, mas é ex-mulher do Hector Magli e mãe dos gêmeos do Vinicius Brown. Entre os dois relacionamentos, ela acabou com os negócios de Dom Luiz e destruiu metade do crime organizado de Minas Gerais.– E o que a torna inacessível?– Ela é mãe solteira de gêmeos, empresária, e está metida em algo obscuro que nem eu consigo ente
– Então você é a Condessa – falei, mantendo meu olhar fixo em Patrícia, tentando captar qualquer reação.– Sim – respondeu ela, sem hesitar.Eu respirei fundo, ponderando por um momento antes de perguntar:– Vai me explicar isso? Como é que Dom Luiz deixou a herança para você depois de você acabar com os negócios dele?Patrícia suspirou, mantendo a compostura.– Esse é outro assunto complicado. Prefiro que você mesmo leia a carta que ele me deixou – disse ela.– Tudo bem, onde está? – perguntei, com o tom mais seco do que o necessário.Ela se virou, caminhando até uma gaveta próxima. Com movimentos precisos, tirou uma carta cuidadosamente guardada e a estendeu para mim. Peguei o papel, mas ao invés de ler imediatamente, fiz questão de começar em voz alta. Queria observar cada mudança em sua expressão enquanto eu lia. Esse era o meu jogo, e eu precisava entender exatamente o que estava acontecendo ali."Mia Bambina Patricia,Sinto ter partido sem termos conversado pessoalmente, mas sai