*Ponto de vista de Alícia*
Ja faz alguns anos que cheguei nessa ilha, aqui eu finalmente tive paz, encontrei meu propósito em cuidar de agentes que se aposentam. A espionagem é na maioria das vezes muito eficaz para manter a paz, no entanto o preço é alto para muitos agentes secretos que, quando tem sua identidade revelada, não podem simplesmente continuar a vida como uma pessoa normal, então, a fundadora da nossa agência, Catarina, pensou em um lugar onde essas pessoas tivessem a chance de recomeçar: nossa ilha.
Logo que eu soube desse lugar, me enchi de curiosidade, eu estava cursando psicologia e meu trabalho de conclusão de curso foi sobre stress pós traumático, o que acomete grande parte dos agentes que acabam indo para a ilha, pensei que eles precisariam de algum acompanhamento, pensei que para mim também seria um recomeço ja que estava perdidamente apaixonada desde a adolescência por um homem que agora era casado e provavelmente nem se lembrava da minha existência.
Só que o que eu sinto por ele é tão intenso, que decidi não me relacionar com mais ninguém, não cabia mais ninguém na minha vida, ele era a pessoa... o único e se não fosse com ele, eu não queria mais ninguém. Sim, eu sei que posso ser muito intensa, exagerada até, mas essa sou eu e essa foi a minha escolha por isso me aposentei da agência precocemente e me tornei uma peça importante no trabalho da ilha, a pessoa que acolhe os recem chegados, que os ajuda no processo de recomeçar sua vida de forma mais leve.
Aqui na ilha, todos tem sua função, é uma pequena comunidade analógica, pela nossa própria segurança. Usamos equipamentos antigos da agência, de antes da internet. Usamos apenas o sistema de rádio para que o pessoal de fora nos avise da chegada de suprimentos e de novos moradores ou no caso de alguma emergência. Fora isso, não temos contato com o mundo exterior.
Nós plantamos, temos alguns animais e também produções artesanais de diversas coisas... muitos que chegam acabam descobrindo novos talentos por aqui... as vezes me sinto como se vivesse séculos atrás, especialmente quando vejo um sapateiro, um oleiro, um ferreiro e um ourives, todos com seu comercio numa mesma praça que também abriga uma pequena padaria, uma igreja e um armazém de cereais.
As vezes me sento na praça para observar como está a adaptação do pessoal e me surpreendo como a vida ficou mais simples sem toda a tecnologia que tínhamos fora daqui. As pessoas conversam mais, as crianças sabem brincar e até inventam brincadeiras... e sim, temos crianças! As pessoas chegam aqui na ilha, se casam, tem filhos... vida que segue!
E por falar em crianças, elas me adoram, e eu aprendi a amá-las também, tanto que acabei me tornando professora delas, afinal, com a chegada das crianças, precisávamos de uma escola e nossa comunidade não para de crescer, então construímos uma pequena escola onde eu dou aulas para uma turminha toda tarde.
Se eu me arrependo de ter largado tudo na Europa e ter vindo para cá? Quase em nenhum momento. A única pendência, a única coisa que me incomoda, é ter deixado meu grande amos para trás, eu não achava que a esposa dele era uma boa pessoa, na verdade nem sei o que ele viu nela, mas poderia ser só implicancia minha não é mesmo?
Acontece que ha alguns anos, uma pessoa chegou na ilha e acabou me dando notícias de que a esposa dele havia falecido. Meu coração disparou e eu quase não consegui terminar o atendimento. Naquele momento eu queria voltar atrás, queria voltar e encontrá-lo...ele estava disponível e eu estava isolada do resto do mundo. Aquilo me abalou muito, acabei ficando doente pois minha imunidade diminuiu, tive que ficar no nosso pequeno hospital e tomar soro pois estava desidratada (provavelmente o fato de eu chorar sem parar durante um dia todo também tenha cooperado para isso).
O arrependimento esta me corroendo por dentro, penso que eu evoluiria rapidamente para uma depressão caso não tivesse sido surpreendida por uma nova moradora que chegou na ilha... minha mãe.
Corri na areia fofa da praia quando o barco dela chegou e em seu abraço eu senti o conforto que precisava. Ela me acolheu, me ouviu... era a primeira moradora a chegar ali de quem eu não precisava cuidar, pelo contrário, ela havia chegado para cuidar de mim, cuidar de todos. Ela não era uma agente qualquer, era uma pessoa importante da agência, respeitada por todos, tanto que naquela noite fizemos uma grande festa para recebê-la.
Com a chegada da minha mãe, consegui finalmente colocar minhas emoções no lugar, inclusive porque ela me contou muitas coisas que estavam acontecendo lá fora e que me fizeram pensar que eu realmente tinha tomado a decisão certa em vir para cá. Hoje estou bem, até conformada em viver sozinha embora sempre tenha alguém me sondando ou um novo morador que não me conhece, tentando a sorte comigo.
E essa sou eu, Alicia, uma garota que vive feliz em uma ilha, cercada por crianças em uma comunidade acolhedora e pacífica... (eu sei, parece um filme) mas nem sempre eu tive paz... eu tive que esconder minha verdadeira identidade praticamente minha vida toda por causa da minha mãe ser uma agente importante, eu tenho uma irmã que nunca soube da minha existência e meu pai foi assassinado quando eu era criança... mas essa parte da história, vou ter que contar depois porque mais um barco esta chegando e tenho pessoas novas para receber.
— Oi Princesa. — Ele veio em minha direção com seu jeito sedutor de sempre.
— Eu não acredito nisso. — Falei pasma olhando para o agente que havia acabado de desembarcar e sorria para mim.
— Então não vou ganhar um abraço? — Ele me cobrou.
— Claro que vai, seu mané. — Abracei carinhosamente meu melhor amigo, o único amigo verdadeiro que ja tive na vida. — Que besteira você fez para ter que vir pra cá, hein?
—Longa história. — Ele respondeu e fomos em direção ao prédio principal, um antigo resort da ilha, que era onde os novos moradores eram recebidos.
Sou o Kevin Azevedo, conhecido como CEO das empresas da minha família, multimilionário e recluso. Há anos não converso com muitas pessoas além do meu irmão e assistente pessoal Nicholas, ele faz esse meio de campo entre eu e as demais pessoas para eu não precisar falar com ninguém mais, até porque não confio em ninguém... talvez na minha mãe Agatha e eu confiava na Catarina, minha mentora desde a adolescência, mas ela também se foi, não cheguei a tempo de salvá-la, foi envenenada por uma espiã inimiga. Aliás, esqueci de mencionar... sou um espião. Na adolescência, Catarina viu potencial em mim quando todos só viam problemas comportamentais, ela me recrutou para uma escola de gênios na Europa, que mais tarde descobri ser uma escola que ela mesma havia fundado e que treinava agentes secretos para trabalhar em um setor também secreto dentro da ONU. As pessoas se formavam naquela escola e retornavam à vida normal, eram cozinheiros, modelos, enfermeiros, médicos, artistas... não havia uma
– Quem é ela? – perguntei, mantendo meu olhar fixo na mulher ruiva.– Ela? Qual "ela"? Estamos cercados de mulheres. Aliás, é novidade você prestar atenção em qualquer uma – respondeu Nicolas, visivelmente surpreso.– Isso porque são todas superficiais, interesseiras ou mesmo insuportáveis – retruquei de forma direta.– Sei... Mas então, qual "ela" não é tudo isso? – disse ele, percebendo a direção do meu olhar. – NÃO CARA! Depois de dez anos sem nem olhar pra ninguém, você enxerga justo ela? Esquece.– Eu perguntei QUEM É ELA – reforcei, meu tom agora nada amigável.– Patrícia. A mulher mais inacessível do país nesse momento.– Ah, não percebi que era casada.– Não é, mas é ex-mulher do Hector Magli e mãe dos gêmeos do Vinicius Brown. Entre os dois relacionamentos, ela acabou com os negócios de Dom Luiz e destruiu metade do crime organizado de Minas Gerais.– E o que a torna inacessível?– Ela é mãe solteira de gêmeos, empresária, e está metida em algo obscuro que nem eu consigo ente
– Então você é a Condessa – falei, mantendo meu olhar fixo em Patrícia, tentando captar qualquer reação.– Sim – respondeu ela, sem hesitar.Eu respirei fundo, ponderando por um momento antes de perguntar:– Vai me explicar isso? Como é que Dom Luiz deixou a herança para você depois de você acabar com os negócios dele?Patrícia suspirou, mantendo a compostura.– Esse é outro assunto complicado. Prefiro que você mesmo leia a carta que ele me deixou – disse ela.– Tudo bem, onde está? – perguntei, com o tom mais seco do que o necessário.Ela se virou, caminhando até uma gaveta próxima. Com movimentos precisos, tirou uma carta cuidadosamente guardada e a estendeu para mim. Peguei o papel, mas ao invés de ler imediatamente, fiz questão de começar em voz alta. Queria observar cada mudança em sua expressão enquanto eu lia. Esse era o meu jogo, e eu precisava entender exatamente o que estava acontecendo ali."Mia Bambina Patricia,Sinto ter partido sem termos conversado pessoalmente, mas sai
– Lembra que eu disse que estava procurando pela Condessa? – comecei, encarando-a.– Sim – respondeu Patrícia, com calma.– Se você sabe quem sou, também sabe que preciso manter as aparências. Além disso, preciso me unir a pessoas poderosas para resolver algumas questões pendentes.– E o que isso tem a ver comigo? – ela perguntou, levantando uma sobrancelha.– Você já disse o que precisa desse acordo. E o que eu preciso é da sua cooperação.– De que forma? – insistiu, desconfiada.– Um casamento – declarei, sem rodeios.Ela riu alto, me pegando de surpresa.– Desculpa, achei que tinha ouvido você dizer casamento – respondeu, ainda com um sorriso debochado.Senti a irritação subir. Que mulher não ia querer se casar com um homem como eu? Só estava sozinho porque queria. Mantive minha compostura.– Eu disse. Mas não fique convencida, são só negócios.– Convencida? – ela repetiu, indignada. – Você acha que está me fazendo uma grande proposta, né? Por que motivo acha que eu ficaria lisonje