– Então você é a Condessa – falei, mantendo meu olhar fixo em Patrícia, tentando captar qualquer reação.
– Sim – respondeu ela, sem hesitar.
Eu respirei fundo, ponderando por um momento antes de perguntar:
– Vai me explicar isso? Como é que Dom Luiz deixou a herança para você depois de você acabar com os negócios dele?
Patrícia suspirou, mantendo a compostura.
– Esse é outro assunto complicado. Prefiro que você mesmo leia a carta que ele me deixou – disse ela.
– Tudo bem, onde está? – perguntei, com o tom mais seco do que o necessário.
Ela se virou, caminhando até uma gaveta próxima. Com movimentos precisos, tirou uma carta cuidadosamente guardada e a estendeu para mim. Peguei o papel, mas ao invés de ler imediatamente, fiz questão de começar em voz alta. Queria observar cada mudança em sua expressão enquanto eu lia. Esse era o meu jogo, e eu precisava entender exatamente o que estava acontecendo ali.
"Mia Bambina Patricia,
Sinto ter partido sem termos conversado pessoalmente, mas saiba que eu entendi o que você fez e o porque fez, estava preservando aqueles que ama e entendo isso melhor do que você pode imaginar.
Eu nem sempre fui este homem que hoje assusta as pessoas, sem amor ou compaixão, para que você entenda o que vou te pedir, preciso antes que entenda minha história, que entenda que eu também amei alguém e que este amor do meu passado foi o que preservou uma única parte boa dentro de mim e que por causa desta parte eu morri feliz.
Aos vinte anos me apaixonei por uma mulher muito poderosa, foi ela quem me ajudou a ter meu primeiro negócio na Itália, juntos nós construímos um pequeno império e acredite, tudo isso trabalhando honestamente. O problema é que ela era muito rica e eu estava apenas começando a enriquecer, e a família dela não aprovava nosso relacionamento por isso escondemos durante cinco anos, depois fomos descobertos e então fugimos por mais cinco anos, foi quando ela engravidou.
O nome dela era Catarina, estávamos muito felizes de começar nossa família e acabamos nos descuidando, a família dela nos encontrou e a levou embora, quando voltei para casa aquela tarde, só encontrei esta metade do medalhão que ela usava, a mesma que estava no envelope que te entregaram, ela havia deixado para trás para que eu soubesse que havia sido levada a força. Ela desapareceu, então comecei a me envolver com as pessoas que mais tinham informações no país, a máfia.
Para me iniciar neste novo mundo eu precisei cometer pequenos delitos, e aos poucos me envolver com coisas maiores, até que estava a frente de um negócio de narcóticos. Eu já tinha algum poder na época, então mandei sequestrar os pais de Catarina para saber onde ela estava e descobri que haviam mandado ela para o Brasil. Eu estava muito perdido, mas decidi então ir para o Brasil também e expandir meus negócios lá até encontrar Catarina.
Quando a encontrei foi tarde demais, ela tinha morrido no parto e haviam dado meu bebê para a adoção, segundo a parteira ela não usava mais o cordão com o medalhão, havia pedido que desse ao bebe assim que ele nascesse.
Fiquei arrasado e iniciei uma busca pela criança que não teve fim, isso me deixou amargurado e a única coisa que amenizou minha dor foi eu decidir adotar uma criança também, assim adotei Hector, o filho da minha empregada.
Alguns anos depois descobri que Catarina na verdade estava viva e que havia se casado com outro homem obrigada por seus pais, tentei procurá-la para conversar mas ela já não era a mesma, disse que não me amava mais, perguntei sobre a criança e ela disse que tudo o que sabia é que era uma menina, eu fiquei enfurecido por ter perdido o amor da minha vida e uma noite quando a vi com seu marido, acabei tirando a vida dele, foi por isso que nunca mais pisei na Itália. Catarina nunca mais falou comigo, mais tarde ela se tornou a Condessa de Montebello.
Sabendo que eu tinha uma filha, eu a procurei por muitos anos. Quando finalmente a encontrei ela tinha doze anos e era muito feliz com sua família adotiva, decidi apenas observá-la até que tive a ideia de me aproximar, mas de uma forma que ela não saberia de nada. Cuidei dela de perto por alguns anos, mas quando a perdi de vista, também perdi o controle sobre o que acontecia com ela e ela acabou sofrendo muito, nunca me perdoei por tê-la colocado naquela situação, então por alguns anos eu me afastei.
Um dia eu vi uma notícia a respeito dela e decidi que era hora de trazê-la de volta para casa, mesmo que ela não soubesse quem eu era, eu a queria perto de mim, usei de todos os artifícios que pude, mas foi o dia mais feliz da minha vida quando ela voltou para casa.
Sinto muito mia bambina, queria ter tido a coragem de dizer que eu era realmente seu pai, me perdoe por ter feito Hector se aproximar de você, na época pareceu uma boa ideia, voce seria da minha família sem saber quem eu era, também não se envolveria nos negócios sujos, mas eu não imaginava o mal caráter que Hector era e como te faria sofrer.
Você deve estar furiosa e confusa, pode ser que esteja se perguntando sobre Catarina, ela morreu no ano passado, deixando o título de condessa para a nossa filha que deverá realizar um teste de DNA para comprovar sua identidade.
Patricia, quero te pedir que faça o teste de DNA, desta forma você poderá desfrutar do Título de Condessa de Montebello.
Poderá receber também a sua parte na herança como minha filha legítima se quiser, mas isso vai depender de como você vai lidar com essas revelações e vou entender se optar por deixar as coisas como estão.
Mas o que tenho para te pedir diz respeito à única outra pessoa que amei além de você e Catarina, o Giovanni. Com a prisão de Hector e a minha morte ele ficará perdido, a minha sobrinha abriu mão da guarda dele quando ele ainda era um bebê então Giovanni não tem mais ninguém no mundo. Sei que não tenho o direito de te pedir isso, mas eu gostaria que você e o Vinicius fossem os tutores dele.
Sim, eu sei que você ama o Vinicius e que cedo ou tarde acabarão juntos, dava para saber desde que eram apenas crianças em um concurso de dança. Então se ele aceitar façam isso pelo Giovanni, ele merece ser criado por pessoas boas.
Tinha muito mais que eu gostaria de falar mas só posso dizer mais uma vez que sinto muito mia bambina."
Fiquei em silêncio por um tempo, analisando as reações de Patrícia enquanto lia a carta. Observava cada movimento seu, tentando identificar o que ela estava pensando. Depois de alguns minutos, decidi começar com as perguntas.
– Certo, esse menino... O... – comecei.
– Giovanni? – ela interrompeu.
– Sim. Onde está?
– Em uma escola para superdotados na Europa – respondeu, de maneira calma.
– Hum. A proteção que você precisa se estende a ele? – indaguei, ainda buscando entender a extensão do problema.
– Não será necessário – disse Patrícia, com um leve sorriso que parecia indicar que a escola era mais do que aparentava ser. Percebi que havia algo ali, mas deixei para depois. Afinal, eu tinha minhas suspeitas sobre a tal escola ser a mesma onde sou professor.
– Certo. E o Vinicius? – perguntei, mudando de foco.
– Creio que não esteja em perigo – ela respondeu, tentando evitar qualquer profundidade na conversa.
– Não, não. Quero saber da relação de vocês – insisti.
Ela hesitou. Algo naquela pergunta parecia desconfortável para ela.
– Não acho que seja relevante – respondeu, quase ríspida.
– Acredite, faz toda a diferença. Você logo vai entender. Te incomoda falar dele? – continuei, observando o impacto das minhas palavras.
– De forma alguma – disse Patrícia, mas eu podia perceber que havia uma tensão ali.
– Então me responda a pergunta – retruquei, de maneira mais firme.
– Não precisa ser estúpido – rebateu, visivelmente irritada.
Eu ri, mas não com humor.
– Não imaginava que você era tão sensível. Está visivelmente abalada. Você ainda o ama? Dom Luiz acreditava que fosse um amor eterno. Quem sabe você também ache.
– NÃO! – Patrícia respondeu, sua voz subindo em uma explosão de emoções. – O problema é que eu confiei nele, tá bom? Depois do Hector, eu não confiava em mais ninguém, mas ele conseguiu se aproximar de mim por ser um amigo antigo e eu confiei… mas não deu certo, ok?
– Tudo bem, não precisa se exaltar, Patrícia – disse, tentando suavizar a conversa. – Já entendi.
Mas ela continuou, sem pausa.
– E se você quer mesmo saber, nós nem nos falamos. Ele vê as crianças na casa da minha mãe. Não temos nenhum contato, nenhuma chance de voltarmos, se é o que te preocupa.
Assenti, absorvendo suas palavras.
– Entendi. Ótimo. Fica bem mais simples nosso acordo.
Ela então me olhou diretamente, com as sobrancelhas ligeiramente arqueadas.
– E que acordo seria esse exatamente?
– Lembra que eu disse que estava procurando pela Condessa? – comecei, encarando-a.– Sim – respondeu Patrícia, com calma.– Se você sabe quem sou, também sabe que preciso manter as aparências. Além disso, preciso me unir a pessoas poderosas para resolver algumas questões pendentes.– E o que isso tem a ver comigo? – ela perguntou, levantando uma sobrancelha.– Você já disse o que precisa desse acordo. E o que eu preciso é da sua cooperação.– De que forma? – insistiu, desconfiada.– Um casamento – declarei, sem rodeios.Ela riu alto, me pegando de surpresa.– Desculpa, achei que tinha ouvido você dizer casamento – respondeu, ainda com um sorriso debochado.Senti a irritação subir. Que mulher não ia querer se casar com um homem como eu? Só estava sozinho porque queria. Mantive minha compostura.– Eu disse. Mas não fique convencida, são só negócios.– Convencida? – ela repetiu, indignada. – Você acha que está me fazendo uma grande proposta, né? Por que motivo acha que eu ficaria lisonje
*Ponto de vista de Alícia*Ja faz alguns anos que cheguei nessa ilha, aqui eu finalmente tive paz, encontrei meu propósito em cuidar de agentes que se aposentam. A espionagem é na maioria das vezes muito eficaz para manter a paz, no entanto o preço é alto para muitos agentes secretos que, quando tem sua identidade revelada, não podem simplesmente continuar a vida como uma pessoa normal, então, a fundadora da nossa agência, Catarina, pensou em um lugar onde essas pessoas tivessem a chance de recomeçar: nossa ilha.Logo que eu soube desse lugar, me enchi de curiosidade, eu estava cursando psicologia e meu trabalho de conclusão de curso foi sobre stress pós traumático, o que acomete grande parte dos agentes que acabam indo para a ilha, pensei que eles precisariam de algum acompanhamento, pensei que para mim também seria um recomeço ja que estava perdidamente apaixonada desde a adolescência por um homem que agora era casado e provavelmente nem se lembrava da minha existência.Só que o que
Sou o Kevin Azevedo, conhecido como CEO das empresas da minha família, multimilionário e recluso. Há anos não converso com muitas pessoas além do meu irmão e assistente pessoal Nicholas, ele faz esse meio de campo entre eu e as demais pessoas para eu não precisar falar com ninguém mais, até porque não confio em ninguém... talvez na minha mãe Agatha e eu confiava na Catarina, minha mentora desde a adolescência, mas ela também se foi, não cheguei a tempo de salvá-la, foi envenenada por uma espiã inimiga. Aliás, esqueci de mencionar... sou um espião. Na adolescência, Catarina viu potencial em mim quando todos só viam problemas comportamentais, ela me recrutou para uma escola de gênios na Europa, que mais tarde descobri ser uma escola que ela mesma havia fundado e que treinava agentes secretos para trabalhar em um setor também secreto dentro da ONU. As pessoas se formavam naquela escola e retornavam à vida normal, eram cozinheiros, modelos, enfermeiros, médicos, artistas... não havia uma
– Quem é ela? – perguntei, mantendo meu olhar fixo na mulher ruiva.– Ela? Qual "ela"? Estamos cercados de mulheres. Aliás, é novidade você prestar atenção em qualquer uma – respondeu Nicolas, visivelmente surpreso.– Isso porque são todas superficiais, interesseiras ou mesmo insuportáveis – retruquei de forma direta.– Sei... Mas então, qual "ela" não é tudo isso? – disse ele, percebendo a direção do meu olhar. – NÃO CARA! Depois de dez anos sem nem olhar pra ninguém, você enxerga justo ela? Esquece.– Eu perguntei QUEM É ELA – reforcei, meu tom agora nada amigável.– Patrícia. A mulher mais inacessível do país nesse momento.– Ah, não percebi que era casada.– Não é, mas é ex-mulher do Hector Magli e mãe dos gêmeos do Vinicius Brown. Entre os dois relacionamentos, ela acabou com os negócios de Dom Luiz e destruiu metade do crime organizado de Minas Gerais.– E o que a torna inacessível?– Ela é mãe solteira de gêmeos, empresária, e está metida em algo obscuro que nem eu consigo ente