Eu sabia.
Compreendia muito mais do que ela poderia imaginar. Conhecia suas angústias, traumas e dores assim como a minha própria existência. Conhecia Ariela e sua bagagem, mas jamais poderia lhe contar. Vi suas feições mudarem de ira infantil a uma extrema frustração pessoal. O peso do relacionamento com a mãe, a mescla dos sentimentos e a certeza de estar sozinha, sem alguém para compartilhar o peso sobre seus ombros.
Meu corpo ganhou vida antes mesmo que minha mente entendesse o que acontecia, a puxei para os meus braços e tudo o que queria era arrancar de dentro de Ariela a sensação de abandono, solidão. Naquele instante, nada mais tinha a importância do que a necessidade que sentia em ser tudo o que aquela doce e bem humorada menina confusa precisasse.
Estava me tornando a escória da minha espécie. Preso a um sentimento que nem ao menos entendia, do
Sinceramente, não sei ao certo o que meu corpo realmente queria. Me alimentar, tendo Alin bem ao meu lado e uma casa só para nós dois parecia quase um crime, um desperdício, mas, por outro lado, meu estômago ganhou vida e reclamava audivelmente, matando-me de vergonha. Resolvi deixar a decisão nas mãos dele, implorando aos céus para que ele resolvesse alimentar minha barriga e depois todo o meu corpo. Alin me encarava, quase brincando com a situação, e eu me contorcia, desesperada para que cedesse.Tentei conter o riso.— O que quer comer? — ele perguntou soltando-se dos meus braços e, como se estivesse com dificuldades para manter um raciocínio logico perto de mim, andou até o sofá, jogando seu corpo sem nenhum cuidado.Imitei seu ato e me sentei ao lado dele, não tão colada ao seu corpo. Estava com medo de que antes mesmo que vivesse o meu
Sede.Não encontrava outra forma para descrever o que sentia. Todo o meu corpo se transformou em terra árida, sedento, rachado, desejoso de uma única gota para umedecer e irrigar cada pedaço do meu ser. Ariela não me decepcionou, seu corpo explodiu em meus lábios e seu gozo me atingiu como uma torrente de água fresca em dias ensolarados. Já não continha quem era. Diante dela, minha vulnerabilidade vinha à tona, despindo-me e revelando todas as minhas faces.Ela me olhava e o desejo que via em seus olhos não servia para facilitar o meu controle. Sei que ouvia os sons guturais que ecoavam do meu peito por todo o seu apartamento, seus olhos focavam em meus dedos em garras quase rasgando o tecido do sofá, nem mesmo minhas feições consegui controlar, deixando à mostra meu lado mais selvagem.Eu a queria.Muito mais do que o néctar raro que somente su
Sei que vai parecer muito clichê, frase típica de quem está no começo de um novo relacionamento, mas jamais vivi algo sequer parecido com isso. Alin me levou ao limite do meu corpo, passamos a noite nos perdendo e nos encontrando, saciando um desejo que nem ao menos sabia que existia, não com aquela intensidade.Após ele me abraçar e me envolver apertado entre os seus braços, levantou do sofá comigo em seu colo e, como se conhecesse cada espacinho do meu apartamento, caminhou sem pressa para o meu quarto e, durante o curto trajeto, seus olhos não deixaram os meus em momento nenhum. E eu? Bem, fiquei clamando a Deus e pedindo com todas as minhas forças para que eu não me apaixonasse. No decorrer da noite, passei a pedir para que conseguisse ao menos disfarçar o que estava sentindo, mas agora, assim, deitada em seu peito, nossos corpos nus enroscados, seus dedos frios deslizando suave entr
Uma avalanche de sentimentos humanos me sobreveio, meu corpo naquele momento mergulhou em inseguranças e incertezas que não conhecia. Não consegui ficar imune ao que ouvia da cozinha, sabia que a notícia desestabilizaria Ariela, somente não estava preparado para uma reação tão extremista. Entendia o que a perda e a constante presença de sua mãe lhe causavam, afinal, suas angústias e medo alimentavam o meu ser e de mim fluía suas piores noites.— Minha menina... — A segurei mais forte contra o meu corpo, tentando de alguma forma aliviar a dor que ela sentia. — Ariela, acalme-se por favor.Ela nada disse, estava tão paralisada quanto eu. Todo o seu corpo denunciava que havia notado a minha relutância quanto às coisas que me dizia. Como poderia explicar que era a causa de seu desespero, mas também de seu prazer?— Fale comigo... &md
— Sério, precisamos levantar, tomar um banho e comer alguma coisa. Estou faminta!Gostava e muito da forma que Alin me distraía dos meus problemas pessoais. Adorei o jeito que me segurou em seu colo e sustentou o meu pequeno momento de surto. Sei que terei que lidar não só com o fato do meu pai estar morando com outra mulher, mas também por essa mulher ser “aquela” mulher. Mas para lidar com isso, teria que resolver as minhas batalhas, colocar ordem no meu eu interno e, sinceramente, estava muito mais gostosa a ideia dele do que a minha. Mas em algum momento teríamos que nos alimentar, nos vestir e sair à luz do sol, não dava para permanecermos pelados, com fome e fechados dentro do meu apartamento. Passamos quase o fim de semana todo assim, entre choro, transa, risadas, mais transa e mais risadas. Sabe quando você olha para uma pessoa e percebe que são bons demais juntos? Me sinto assim ne
Plenitude.Sempre busquei um significado real para essa palavra, mas somente encontrei quando meus lábios tocaram os de Ariela. Sentia-me pleno, em concordância com todos os meus anseios e desejos, repleto de uma sensação que somente ela poderia me dar.Os dias passaram tranquilamente, entramos em uma rotina e, quando me dei conta, já não conseguia mais sobreviver a um dia sem que a presença dela se tornasse real em cada detalhe. Ariela desenvolvia com maestria suas funções na empresa, atendia minhas necessidades profissionais, colocando ordem na agenda de compromissos, entretanto, era a hora do almoço que realmente ansiava. Não havia um único pedaço daquele escritório que nossos corpos não conhecessem, um único móvel ou parede. Todos os cantos estavam carimbados com o nosso suor. Agora sentia-me estranhamente sozinho, encarando a ponte He
Ar.Precisava de ar.Minha roupa grudava em meu corpo, o suor escorrendo por todos os meus poros e o medo que há um tempo não sentia, me engolia. Sentei na minha antiga cama, a única coisa que ainda estava no lugar de antes, todo o resto foi retirado e trocado por outro móvel. As coisas da casa da minha mãe não estavam mais nos lugares que sempre estiveram, suas pinturas não enfeitavam mais as paredes, os tapetinhos que combinavam perfeitamente com as cortinas, também pintados à mão, não existiam mais. Até mesmo a ordem das coisas dentro dos armários fora mudada.O banheiro do quarto dos meus pais agora abrigava coisas de outra mulher. O lado do guarda roupa que sempre foi dela, se via lotado de roupas que não conhecia. Tudo estava diferente. Sei que para outras pessoas que chegassem na casa dos meus pais e olhasse todos os cômodos, não veriam nada de d
Agora, mais do que nunca, entendia a mente perturbada daquela menina. Foram vinte e cinco anos sob o peso de ser o que não queria, servindo de alicerce para a família e tampando os buracos deixados pelos outros membros daquela instituição familiar. Sabia que a perfeição estava longe de Ariela, mas sua força para suprir as necessidades de todos ao seu redor era admirável. A troca de farpas entre eles deixou isso incontestável.Ariela me levou para o que antes chamava de quarto e a imagem real, estando fisicamente no cômodo, era ainda pior. As caixas empoleiradas em duas paredes oprimiam o espaço já limitado do ambiente. Sentamos na cama que mal comportava um corpo adulto – passaríamos a noite em um hotel, já estava decidido.— Ainda não acredito que está aqui. — Escutei minha menina fungar entre as palavras, chorava novamente. O fervor em prot