— Sério, precisamos levantar, tomar um banho e comer alguma coisa. Estou faminta!
Gostava e muito da forma que Alin me distraía dos meus problemas pessoais. Adorei o jeito que me segurou em seu colo e sustentou o meu pequeno momento de surto. Sei que terei que lidar não só com o fato do meu pai estar morando com outra mulher, mas também por essa mulher ser “aquela” mulher. Mas para lidar com isso, teria que resolver as minhas batalhas, colocar ordem no meu eu interno e, sinceramente, estava muito mais gostosa a ideia dele do que a minha. Mas em algum momento teríamos que nos alimentar, nos vestir e sair à luz do sol, não dava para permanecermos pelados, com fome e fechados dentro do meu apartamento. Passamos quase o fim de semana todo assim, entre choro, transa, risadas, mais transa e mais risadas. Sabe quando você olha para uma pessoa e percebe que são bons demais juntos? Me sinto assim ne
Plenitude.Sempre busquei um significado real para essa palavra, mas somente encontrei quando meus lábios tocaram os de Ariela. Sentia-me pleno, em concordância com todos os meus anseios e desejos, repleto de uma sensação que somente ela poderia me dar.Os dias passaram tranquilamente, entramos em uma rotina e, quando me dei conta, já não conseguia mais sobreviver a um dia sem que a presença dela se tornasse real em cada detalhe. Ariela desenvolvia com maestria suas funções na empresa, atendia minhas necessidades profissionais, colocando ordem na agenda de compromissos, entretanto, era a hora do almoço que realmente ansiava. Não havia um único pedaço daquele escritório que nossos corpos não conhecessem, um único móvel ou parede. Todos os cantos estavam carimbados com o nosso suor. Agora sentia-me estranhamente sozinho, encarando a ponte He
Ar.Precisava de ar.Minha roupa grudava em meu corpo, o suor escorrendo por todos os meus poros e o medo que há um tempo não sentia, me engolia. Sentei na minha antiga cama, a única coisa que ainda estava no lugar de antes, todo o resto foi retirado e trocado por outro móvel. As coisas da casa da minha mãe não estavam mais nos lugares que sempre estiveram, suas pinturas não enfeitavam mais as paredes, os tapetinhos que combinavam perfeitamente com as cortinas, também pintados à mão, não existiam mais. Até mesmo a ordem das coisas dentro dos armários fora mudada.O banheiro do quarto dos meus pais agora abrigava coisas de outra mulher. O lado do guarda roupa que sempre foi dela, se via lotado de roupas que não conhecia. Tudo estava diferente. Sei que para outras pessoas que chegassem na casa dos meus pais e olhasse todos os cômodos, não veriam nada de d
Agora, mais do que nunca, entendia a mente perturbada daquela menina. Foram vinte e cinco anos sob o peso de ser o que não queria, servindo de alicerce para a família e tampando os buracos deixados pelos outros membros daquela instituição familiar. Sabia que a perfeição estava longe de Ariela, mas sua força para suprir as necessidades de todos ao seu redor era admirável. A troca de farpas entre eles deixou isso incontestável.Ariela me levou para o que antes chamava de quarto e a imagem real, estando fisicamente no cômodo, era ainda pior. As caixas empoleiradas em duas paredes oprimiam o espaço já limitado do ambiente. Sentamos na cama que mal comportava um corpo adulto – passaríamos a noite em um hotel, já estava decidido.— Ainda não acredito que está aqui. — Escutei minha menina fungar entre as palavras, chorava novamente. O fervor em prot
E lá estava eu, dentro de um avião, voltando para o lugar que enfim reconhecia como lar, com a batedeira planetária da minha mãe no meu colo e Alin ao meu lado, segurando minha mão.As brigas do meu feriado fracassado não pesaram tanto quanto o meu surto no restaurante. Estava me acostumando com os pesadelos. Não gostava, me apavoravam, mas eram sonhos, presos em um mundo que desconhecia. Mas ver a imagem dela ao meu lado, sussurrando em meu ouvido suas desaprovações, ditando o que deveria e como deveria falar. Bem, isso sem dúvida alguma estava muito além do que poderia entender.Alin permaneceu, mesmo com toda a loucura que presenciou, continuava ao meu lado, acariciando os nós dos meus dedos, passando a segurança que eu precisava, mas seus pensamentos não estavam ali. Passou minutos quieto, olhos focados no nada, nitidamente viajando dentro de si.— Fico me
— Traga-me agora o imprestável que ousou a chegar perto dela! — Meu reino reagia ao meu estado de espírito. As paredes tremeram ao som da minha voz, que ecoava por todos os cantos, apavorando os seres que existiam somente para me servir.Em segundos a minha ordem foi atendida. Ajoelhado em minha frente estava a criatura desprezível que levou minha menina àquele mundo.— Mestre, misericórdia — implorou sem me olhar nos olhos. — Escorreu pelas paredes a angústia que o mestre projetou sobre ela. Impossível conter o desejo de conhecê-la e experimentar seu desespero.— Impossível? — Quase não consegui sentir meu corpo, como se estivesse reagindo ao ódio que me dominava, imaginar Ariela em meu reino, sem minha proteção.Segurei a criatura pelo pescoço, sentindo as garras penetrando sua pele putrificada, vendo-o engasgar-se e
— Dona das minhas emoções! — Senti a falta de controle dominando o tom da minha voz. — Dani, o cara me chamou de descontrolada — gritei, ouvindo a risada dela como resposta.— Não consigo nem imaginar porque ele pensou isso sobre você, tão calma, tão contida. — Minha amiga ironizava do outro lado da linha.Precisava falar, xingar, jogar alguma coisa na parede. Quando Alin simplesmente se levantou, jogando sobre os ombros palavras ofensivas enquanto saía, levou com ele o meu melhor, deixando somente mágoas e ódio que consumiam minha alma. Jamais chame uma mulher de louca ou descontrolada. Passamos por tantas coisas, carregamos tantas emoções e responsabilidades, e dizer que somos loucas é como invocar o próprio Satanás. Isso não deve acontecer.— Sei que nesse momento parece que estou mesmo descontrolada, mas você
Por onde ela andava?Já estava decidido. Através do sonho, apresentaria o meu mundo para Ariela, meu verdadeiro eu, e então ela poderia decidir até onde iria mergulhar naquela relação. Jamais contaria sobre minha necessidade de emanar sua dor, mas estaria ao lado dela para ajudar a fechar as feridas, mesmo que fosse o responsável por abri-las novamente.Mas não a encontrei. Ela não estava deitada em sua cama, dormindo em meio a dor como fez nas últimas quatro semanas. Não chorava, nem mesmo sofria minha ausência. Não estava em casa, precisando de mim.Minha mente percorreu cada canto daquela ilha. Como se Ariela estivesse em uma bolha que a protegia da minha presença, não conseguia encontrá-la. Passei a noite mergulhado na mais intensa loucura. Coloquei todas minhas criaturas à sua caça, virei o mundo de cabeça para baixo, mas n&ati
Alin estava parado na porta do meu apartamento me esperando. Claro que meu sábado havia sido incrível de muitas maneiras, Ben era um homem sensacional, divertido, leve, bem humorado e impulsivo, loucamente impulsivo. Após uma noite de conversa, nascer do sol, um dia inteiro na praia, pensei que poderia me deixar levar. Acreditei que se ele tentasse me beijar, seria simples, retribuiria o beijo e me encontraria em seus lábios. Me enganei.Ainda que suas mensagens durante todo o meu trajeto de volta para casa mexessem comigo de algumas formas, bastou Alin me olhar daquele jeito que todas as minhas certezas sumiram. Sua presença e a necessidade que exalava de seus poros preenchiam todo o vazio criado com sua ausência.Entramos e tudo o que precisava era me manter longe o suficiente para controlar meu desejo de pular em seu colo, beijar sua boca e me entregar como se não houvesse amanhã, mas fui forte. Forte até