A vida é uma constante surpresa mergulhada em mudanças frequentes. Às vezes nos despertamos e nos damos conta de que nada é como pensamos que seria, muito pelo contrário, muitas vezes tudo parece estar errado e sentimos que nunca vamos nos encaixar em lugar algum no mundo.
A vida era diferente quando Laura não era nascida, nos tempos tão jovens de seus pais Clara e Gabriel Ortiz. As coisas mudaram de forma surpreendente conforme ela crescia, tanto literal quanto figurativamente. Tudo sempre mudava quando ela menos esperava.
E Laura odiava essas surpresas e mudanças. Queria viver mergulhada no mesmo mar de certezas e constantes firmes e previsíveis. Crescer, ganhar campeonatos de softball pela escola, ter amigos, se apaixonar por um cara ou uma garota legal, ter marcos de tempo semelhantes às de quaisquer outros no mundo.
Ainda assim, pode-se dizer que ela realmente tentou muito, no começo de tudo, quando a primeira surpresa veio e eles tiveram que partir para um outro estado. E tentou também na segunda, assim como na terceira, até que ser pega de surpresa com mudanças frequentes deixou de ser algo tolerável em sua mente e tudo se tornou uma grande bola de estresse.
Sabia que não tinha o que fazer, tinha que estar com os pais e os irmãos mais novos, Edward e Beatrice, mas tinha momentos em que achava que chegaria ao limite e explodiria.
E então, como em um passe de mágica, o mundo parou. Todo o conceito de surpresas e mudanças também foram ressignificadas. Quando se viu frente a frente com um mundo estranho e o sentido totalmente diferente de estar viva, não conseguiu acreditar no que via.
Bom, era tudo muito pior do que Laura esperava.
Laura até queria ter um jeito mais filosófico e genial de dizer, mas não havia nada que cobrisse a imensidão que se mudar era além de: uma grande e fedida bosta. Se mudar é uma puta sacanagem da vida, sobretudo quando ela acontece várias e várias vezes como se alguém estivesse com o dedo apertando o botão de repetir sem a menor prudência. Laura tinha certeza que a vida no momento estava sentada em sua poltrona suprema acima de tudo no universo com o controle da televisão do mundo sintonizada no canal Ortiz, sem sombra de dúvidas rindo de sua irritação com aquele momento que havia adorado criar. Comeria pipoca com bastante manteiga por cima, lambendo os dedos nojentos antes de pegar refrigerante e beber um longo gole. Não se surpreenderia se todo o universo estivesse rindo naquele instante, a observando como se estivesse em um cinema e ela fosse uma das atrizes principais de um filme de comédia. “Como acabar com a vida de uma adolescente em menos de 5
Ela devia saber que sair de madrugada para tirar fotos não era uma boa ideia, mas naquele momento era a única coisa que a acalmaria, assim, seguiu na ponta dos pés descalços para o lado de fora do que seria sua nova casa. Também deveria ter imaginado que era um ato quase suicida sair de casa naquele horário descalça e usando apenas uma fina blusa de frio comprida sobre um shortinho de flanela e a primeira blusa de alcinhas que encontrou. Ainda assim, saiu numa pressa desesperada que a privou de procurar qualquer outra coisa para vestir, como o juízo, por exemplo, e Laura podia sentir o clima frio a congelando, porém podia respirar, coisa que não conseguia fazer naquele quarto sufocante. Havia acordado no meio da noite com o coração palpitando forte em seu peito e seu despertar acabou o fazendo parar subitamente e voltar a bater descompassado como se tivesse sido pego em flagrante em meio a uma fuga. Arfava e seus olhos queimavam em lágrimas, sua cabeç
Não havia sido um sonho. Bom, fora o detalhe óbvio de que tudo havia sido mesmo um sonho, sua realidade naquele lugar continuava a mesma. Assim que Laura abriu os olhos, sentindo-os arder com o primeiro contato do dia com a claridade, imaginou-se em seu antigo quarto e logo pensou em colocar um biquíni, jogar um vestido por cima, arrumar a bolsa com alguns itens críticos e ir para a praia. Estava precisando pegar um pouco de cor e embora nunca ficasse bronzeada ao menos aquilo diminuiria sua palidez mórbida. Sua semelhança com um defunto a irritava, mas como boa parte das coisas a irritava, não seria interessante entrar nessa discussão. E então, os olhos cinzentos encontraram aquela nova disposição de móveis, tornando sua mente uma confusão. Poderia estar ainda sonhando, porque tudo estava pintado de acordo com o que vinha insistindo há tempos, mas... Quem mudou seu quarto durante a noite? Ele até parecia menor... Aquilo a fren
O dia amanheceu frio e nublado, para a alegria inexistente de Laura Isabelle, cujas feições estavam ainda mais amargas ao constatar que precisaria se cobrir até as orelhas. Choramingou mais uma vez ao se lembrar que ali era um lugar onde suas blusinhas, shortinhos, saias e vestidos pareciam ter se aposentado para sempre em suas gavetas. Ela detestava profundamente o frio. Merda de lugar estúpido! Ainda se perguntava por que era tão difícil assim decidir morar em um lugar ensolarado quando percebeu que era segunda feira, o primeiro dia de aula. O primeiro estúpido dia de aula, que estupidamente significava que realmente teria que se vestir e sair de casa, que era justamente o que vinha evitando fazer desde que saiu a primeira vez. Não queria ir para a escola principalmente por teria que eventualmente interagir com alguém, e na sua opinião a pessoa que inventou que todos eram obrigados a interagir uns com os outros era uma pessoa extrema
Davine quase rasgou o papel com os horários de Laura ao toma-lo para comparar com os dos outros, o que era uma merda, visto que Laura estava muito mais interessada em ser ignorada do que ser inserida, portanto, não queria saber quem estaria no mesmo ambiente que ela.Ela nem tinha ideia de como chegaram a esse ponto, quando tudo o que queria era encontrar uma escapatória daquele fuzuê.Aquele ato só provava que Laura estava certa ao julgar que a loira não tinha o menor respeito pelo espaço pessoal do outro.Qual é, ela tinha o direito de se manter isolada, não?Davine lançou um olhar por cima do papel e riu internamente com a expressão de filhotinho de cachorro bravo que ela tinha com suas grandes bochechas e olhos expressivos.Aquilo era divertido.— Vamos ver — disse ao capturar o papel.Zuri se juntou a ela e lançou um olhar divertido par
Aquele era um dia definitivamente estranho.A mente de Laura soube que era um dia diferente antes mesmo que abrisse os olhos, assim que o sol nasceu, em uma consciência completamente independente das vontades de seu corpo.Sentia-se tão confusa ao acordar que levou um segundo para que entendesse qualquer coisa, seus olhos claros alarmados vasculhando ao redor como se tivesse certeza de uma presença além da sua no quarto, o coração acelerado tentando convencê-la de que seu corpo congelado na mesma posição em sua cama não passava de um idiota que deveria ser ignorado enquanto fugiam.Se é que isso era possível.De qualquer forma, seu despertar prematuro talvez não fosse nada além do resultado de um dia e uma noite inteiros na cama em repouso, como havia acontecido no dia anterior.Estava muito bem acordada e seu corpo tenso relaxou a medida em que se deu c
Apesar de começar a apreciar a companhia das garotas, Laura se sentiu completamente aliviada quando teve a aula de geografia sozinha, não ousando tocar no próprio telefone porque precisava de um tempo para si mesma ou enlouqueceria com a demanda gigantesca por atenção que estar com tanta gente trazia. Sentou-se em uma mesa no meio da sala por costume e suspirou quando uma garota que aparentemente também não queria muito assunto sentou ao seu lado, se limitando a prestar atenção na matéria entediante que parecia ser lecionada na base da raiva pela professora que tinha o tom de voz furioso ao explicar as coisas. Talvez ela estivesse irritada que tão poucas pessoas escolheram aquela matéria para a grade curricular, ou talvez apenas odiasse dar aula. De qualquer forma, foi um período suficiente para que Laura relaxasse um pouco da tensão que sentia, estando um pouco mais disposta ao entrar na sala de biologia e se deparar com todo aquele grupo de alunos que tinha
Laura acordou se sentindo um tanto estranha, como se fosse despertada por um gosto amargo na boca ou uma perna formigando. Não sabia dizer exatamente o que era aquilo até se flagrar olhando o celular para desligar o alarme e percebeu que ainda estava no meio daquela semana de energia caótica em que se meteu por culpa dos pais. Ela não queria se manter admitindo que estava gostando, então se limitou a culpar os pais como vinha fazendo desde que percebeu a sequência nada aleatória entre os próprios sentimentos e as mudanças constantes. Se flagrou repetindo os momentos que passou até ali com a turma de Zuri, sobretudo a tão inconveniente Martina que insistia em ter sua companhia. Estava refletindo sobre a possibilidade de voltar a dormir e ignorar que eventualmente teria que ir à escola apenas para adiar a situação que estava vivendo porque não podia gostar de tudo aquilo. Tinha que se lembrar do quanto doeria quando tivesse que ir embora. Nada parecia s