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Capítulo Quatro

O dia amanheceu frio e nublado, para a alegria inexistente de Laura Isabelle, cujas feições estavam ainda mais amargas ao constatar que precisaria se cobrir até as orelhas.

Choramingou mais uma vez ao se lembrar que ali era um lugar onde suas blusinhas, shortinhos, saias e vestidos pareciam ter se aposentado para sempre em suas gavetas.

Ela detestava profundamente o frio.

Merda de lugar estúpido!

Ainda se perguntava por que era tão difícil assim decidir morar em um lugar ensolarado quando percebeu que era segunda feira, o primeiro dia de aula.

O primeiro estúpido dia de aula, que estupidamente significava que realmente teria que se vestir e sair de casa, que era justamente o que vinha evitando fazer desde que saiu a primeira vez.

Não queria ir para a escola principalmente por teria que eventualmente interagir com alguém, e na sua opinião a pessoa que inventou que todos eram obrigados a interagir uns com os outros era uma pessoa extremamente amargurada que queria pôr fim a própria vida.

Não entendia por que era tão difícil assim fingir que ela não existia e deixa-la em paz.

Gemendo de frustração, Laura se ergueu da cama, se encolhendo ao sentir o clima gelado estúpido diretamente em seus pés descalços. Se arrastou para o banheiro, fez tudo no ritmo mais lento e desanimado possível e se arrumou de qualquer forma enquanto praguejava contra as coisas idiotas da vida, que era basicamente tudo o que existia.

Nem se deu ao trabalho de escovar os cabelos, apenas os jogou para trás e torceu para que caíssem de uma forma normal.

Trajando jeans, a primeira camisa que encontrou — que até mesmo tinha uma manchinha branca na ponta —, meias fofas, coturnos, casaco e touca, desceu para o café da manhã idiota.

Beatrice e Edward também não estavam no melhor humor. Não se falavam e lançavam olhares feios na direção um do outro, porém estavam estupidamente bem arrumados.

Claro que haviam iniciado o dia com alguma briga idiota, o que só reforçava o pensamento de Laura sobre como era um dia a ser evitado.

Tudo era tão estúpido. Apenas regras para se colocar as etiquetas que classificam que tipo de ser humano você é, então te colocam em uma jaula empoeirada junto com outros seres humanos desesperados por um pouquinho de atenção e um petisco a mais. Te jogam comida de péssima qualidade e você precisa brigar para sobreviver.

E assim seria por toda sua vida estúpida.

Laura era apaixonada pelo sentimento de fazer algo importante e se moldar diante das coisas aos quais acreditava. Sem rótulos, sem fórmulas, sem alienações. Apenas ela, sua alma e sua mente se expandindo ao universo.

Pode-se dizer que sentia borboletas no estômago ao pensar nisso.

Mas tinha também tanta desesperança que nem se atrevia a olhar além da beirada de seus desejos por liberdade.

— Você não vai tomar banho? — Edward perguntou, encarando a irmã mais velha com uma careta no rosto indicando que esperava que estivesse fedendo e não ousaria se aproximar.

Irmãos era o tipo de lixo tóxico que só faz você sentir raiva, mas também era o tipo de lixo que você se apegava e protegia.

No entanto, Laura tinha que dar a ele um desconto por estar com uma aparência sonolenta, entediada, desalinhada e com a roupa completamente amassada.

— Já banhei — respondeu, e então Beatrice se voltou para os pais de maneira raivosa.

— Eu não acredito que Laura tem um banheiro só para ela! — a caçula se queixou, o rosto vermelho de raiva porque ela sempre era privilegiada.

Só ali Laura se tocou que nenhum dos dois havia reparado em onde havia tomado banho durante todo aquele tempo em que estavam na cidade. E ainda por cima estava saindo como a filha privilegiada em um gesto aparentemente de tentar ser comprada e amansada pelos pais.

Clara sorriu pequeno para a filha mais nova e serviu o café da manhã, sendo cercada pelos filhos e marido, que observava com um ar divertido como a mulher lidaria com a situação.

— Bom dia para vocês também — ela disse, ainda sorrindo.

— Bom dia, mamãe — Edward a respondeu, dando um beijinho no rosto da mãe antes de se acomodar.

Não é que não estivesse irritado, apenas era apegado a mãe e respondia a seus carinhos adequadamente.

— Bom dia — Laura resmungou apaticamente enquanto tomava seu lugar.

Beatrice ainda estava irritada, então não respondeu e bateu o pé:

— Mãe, não é justo!

— Sente-se, Bea — Clara ordenou e a filha obedeceu de maneira aborrecida — comam ou vão se atrasar.

— Mãe... — Beatrice começou a reclamar, mas Clara a interrompeu:

— Fizemos o que é melhor para cada um, Bea — disse entre uma mordida e outra — além disso, aquele quarto é de Laura antes mesmo de ela nascer. Moramos aqui quando Laura era bebê.

A filha mais velha do casal ergueu uma sobrancelha para a informação nova. Nunca haviam voltado para algum lugar que já tivessem morado. Eram piores que fugitivos da polícia, e isso porque já havia descartado a possibilidade de os pais estarem envolvidos em alguma atividade ilegal.

Sua vida ao menos seria mais interessante se seus pais fossem fugitivos internacionais. Sabe, esse tipo de bobagem que adolescente pensa.

— Por que fomos embora e estamos voltando agora? — perguntou.

— Coma — foi a resposta de Clara, seu olhar deixando claro que não diria mais nada sobre aquele assunto.

Laura começou a comer e Edward já devorava suas panquecas, mas Beatrice empurrou o prato de longe, a expressão de uma birra tomando sua face e seu lado infantil ainda presente a tomando.

— Estou sem fome — resmungou.

— Querida... — Gabriel tentou intervir, mas Clara o parou com um aceno negativo com a cabeça.

— Se não quer comer, não coma. Ed, quer as panquecas de Bea?

O garoto antes com um traço de mau humor se animou, já puxando o prato da irmã caçula.

— Oh, se quero... — balbuciou, já derramando calma sobre o alimento.

Laura suspirou, cutucando com o garfo suas panquecas idiotas destruídas por estar cutucando-as involuntariamente. Levou um pedaço ou outro a boca, suspirando com o gosto estupidamente bom que tinham.

— Qual é o problema, Laur? — Gabriel perguntou, tomando um gole de seu suco de laranja em seguida e fazendo uma careta porque preferia café.

Laura suspirou novamente.

— Nada, papai — murmurou sem tirar os olhos de seu prato.

— Não sei por que está com essa cara de bunda — Beatrice resmungou — não tem que dividir o banheiro com ninguém.

— Ai, Bea, cale a boca — a mais velha bufou, irritada com a irritação estúpida da irmã.

— Não sei por que recebeu um banheiro se nem toma banho — Beatrice alfinetou, decidida a descontar toda sua raiva na irmã mais velha.

— Tire as ceras do ouvido, Bea! — Laura bateu as mãos na mesa ao lado do prato — aquela merda de quarto já era meu. Eu não pedi por essa droga...

— Laura... — Clara a repreendeu.

— Se você quer ficar com ele, então fica, porra! — disparou contra a irmã, ignorando a repreensão da mãe.

— Não vá se fazer de vítima — Beatrice aumentou o tom de voz e assim como Laura estava quase gritando — desde sempre você recebe toda a atenção e tudo de melhor. Não passa de uma idiota que vive de drama para arrancar de mamãe e papai o que eles poderiam dar a Ed e a mim.

— Bea... — Gabriel a repreendeu, sendo ignorado com sucesso.

Edward olhava da irmã mais nova para a mais velha como se estivesse surpreso pelo assunto vir à tona.

De certa forma se ressentia da atenção que Laura recebia, no entanto, entendia que o drama da irmã não era fingimento e não tinha o intuito de chamar a atenção. Já tinha visto ela chorar sozinha mais vezes do que poderia contar e todas as vezes em que se encontrava entre eles dava um jeito de parecer que nada tinha acontecido.

Então talvez a frustração fosse em dobro para ele. Dava razão aos pais por se preocuparem, ficava frustrado por ninguém conseguir resolver os problemas dela e também por se sentir um pouco negligenciado se fosse comparar toda a atenção, o que sabia não ter lógica, já que a irmã realmente precisava.

— E você não passa de uma garotinha mimada chorando por atenção — Laura rebateu — pare de choramingar, você não tem mais três anos.

— Olha quem fala, justamente quem vive de birras — o rosto de Beatrice estava vermelho de raiva.

Não era que os irmãos não se enfrentassem, mas há tempos não tinha algo tão intenso.

— Ah, sério? — perguntou Laura com seu humor ácido e irônico enquanto revirava os olhos — quem está fazendo birra desde que acordou mesmo?

Beatrice se ergueu, a cadeira caindo com violência no chão atrás de si. Bateu as mãos em punho sobre a mesa, se inclinando na direção da irmã, que involuntariamente se encolheu na cadeira.

— Vá se...

— Beatrice! — Clara a repreendeu em voz alta antes que terminasse sua sentença — sente nessa cadeira agora e cale sua boca. Pelo amor de Deus, olhe o tamanho de vocês!

Laura olhou pelo canto dos olhos para o prato do irmão apenas para se certificar de que teria acabado o café e encontrou tudo limpo.

— Pai, podemos ir? — ela pediu, lançando seu melhor olhar cachorrinho para o homem a sua frente.

Os ombros de Gabriel caíram, derretidos com sua expressão meiga e olhos marejados.

— Claro, Laur — disse — peguem suas coisas, crianças.

Três cadeiras se arrastaram quando as duas garotas e o rapaz se ergueram.

— Espere, Bea — Clara interviu e a mais nova permaneceu no lugar, os ombros caindo — Ed, não vá se banhar em perfume. Laura, penteie esse cabelo, está parecendo uma sem teto.

Os dois grunhiram, mas seguiram caminho.

Edward esperou a irmã no corredor.

— Não fique chateada — o garoto murmurou — Bea está nervosa desde que acordou. Não é justo descontar em você, mas ela não fez por mal.

Laura assentiu, evitando pensar melhor no assunto porque sabia que a irmã tinha certa razão.

Sem saber o que fazer a partir dali ambos seguiram para seus quartos, onde Laura desembaraçou os cabelos, demorando mais tempo do que deveria porque sentia o coração querendo pular pela boca.

Edward esperou pela irmã mais nova, que escutou de cabeça baixa os pais pedirem que não fosse tão dura com Laura e então subindo para pegar seu material, até que foi interceptada direto para o quarto do irmão.

— Ed, meu Deus, esse quarto fede! — resmungou, torcendo o nariz.

O rapaz girou os olhos. Iria rebater, mas não tinha tempo.

— Olha, Bea, eu sei que está chateada com tudo isso, eu também estou frustrado, mas a Laur não está de drama — ele foi direto ao ponto.

Beatrice fechou a cara.

— Por que está defendendo-a? Ela...

— Ela está mal — a interrompeu — de verdade. Eu a vejo chorar às vezes, mas depois agir como se nada estivesse acontecendo. Eu realmente acho que as coisas estão mesmo difíceis para ela.

Beatrice o encarou, um tanto em dúvida quanto ao que estava dizendo, até concluir que dizia a verdade, porque não tinha o menor motivo para defender a irmã.

Assentiu.

— Por que não me disse antes?

— Não achei que fosse tão tapada a ponto de não perceber que nossa irmã está definhando e papai e mamãe não estão conseguindo fazer nada para ajudar.

— Ed! — resmungou, fechando a cara por um segundo enquanto tudo vinha a sua mente e ela chegava à conclusão de que não estava sendo muito justa — o que acha que podemos fazer?

Edward deu de ombros.

— Não sei — admitiu — e por isso fico na minha. Talvez você devesse fazer o mesmo.

Beatrice fez beicinho enquanto considerava o que o irmão tinha dito, até que assentiu.

— Tudo bem — concordou, suspirando depois — e... uh, também vou pensar em algo que possamos fazer.

Edward assentiu, e percebendo que não havia mais o que falar, Beatrice saiu do quarto, indo para o dela, onde pegou a mochila e saiu, dando de cara com a irmã também saindo do quarto.

As duas se olharam, sem graça, e desviaram o olhar para o chão.

— Desculpe, eu juro que não queria... — disseram juntas, se interrompendo ao perceber e erguendo o olhar uma para a outra.

Laura abriu os braços e a irmã se jogou neles, tomando um tempo juntas.

Gabriel e Clara cochichavam, ainda na mesa de café.

— Eu sei, eles são realmente um saco quando estão na adolescência — Clara comentou com o marido, bebericando de seu suco antes de acrescentar mais açúcar.

Gabriel deu de ombros.

— Ainda mais com tudo tão próximo de acontecer. Ainda bem que não...

Se calou sobre o olhar rigoroso da mulher.

— Você sabe muito bem que sim — disse rigorosamente — não é algo que dê para fugir, você sabe disso, tentamos ao máximo e não deu certo, você sabe que não.

Gabriel suspirou.

— Não concordo com isso. Deu certo, isso é natural, não vem dela ser...

Ele se calou ao ouvir passos e logo os filhos desciam as escadas empurrando uns aos outros.

— Vamos indo — disse.

— Bom primeiro dia, vocês — Clara desejou — bom trabalho, querido.

Os quatro saíram porta afora. Laura interrompeu uma possível discussão dos irmãos mais novos sobre quem iria no banco da frente antes mesmo que iniciasse ao tomar a iniciativa de ocupar o lugar sem rodeio algum e os dois ocuparam lados opostos do banco de trás, lançando a ela olhares feios antes de se concentrarem na janela.

Não demoraram para chegar, visto que a escola era muito perto e poderiam ir andando se não fossem tão preguiçosos pela manhã. Estudariam em uma daquelas escolas que tinha o ano escolar dos três, precisando, portanto, de uma só viagem.

Se despediram do pai de forma um tanto mal humorada e se separaram assim que puseram os pés para fora do carro.

Laura, recuperando todo o humor horrível e má vontade de estar naquele lugar enquanto seu coração batia tão acelerado que a sufocava, lançou a mochila por cima do ombro e se arrastou, olhando para baixo. Foi até a secretaria, pegou o horário e o número de um armário vago e se arrastou novamente para o pátio para chegar até o bloco de salas de aula ainda sem erguer o olhar.

Se tivesse sorte, passaria despercebida pelos alunos que se acumulavam e interagiam com amigos que provavelmente conheciam desde que estavam no útero e chegaria na primeira aula a salvo de interações estupidamente desnecessárias.

Seus olhos registraram rapidamente que a escola possuía uma construção antiga de tijolos pequenos e alaranjados, típico de cidade pequena que não precisava de grandes estruturas.

— Laura! — ouviu uma voz vagamente conhecida chamar e seu cérebro ironizou seus pensamentos confusos a alertando que só poderia ser Zuri.

Quem mais conhecia naquele lugar estúpido, afinal?

Considerou fingir não ter ouvido, mas estava ao lado da garota, então se forçou a erguer os olhos e encará-la, corando ao se deparar com um grupo de pessoas.

Zuri estava impecável, claro. Arrasava em um jeans claro e justo e uma blusa de mangas curtas cor de suco de goiaba. Seu sorriso irritantemente bonito não a largava, claro.

— Gente, essa é minha nova vizinha, Laura... ah... Horta? — Zuri a apresentou, um tanto confusa com seu sobrenome que, vamos lá, nem era tão difícil assim.

— Ortiz — Laura a corrigiu sem emoção alguma.

— Isso mesmo, eu sempre soube — disse de forma bem humorada e se voltou para os outros — se apresentem porque não sou nem obrigada.

Houve um revirar de olhos coletivo e Laura quase gostou de Zuri.

Falaram um a um.

Tinha Samuel Graham, que era um garoto alto demais e aparentemente muito tímido e estava ao lado de Maya Adams, a deixando muito mais baixa do que ela é, ambos tinham olhos castanhos e rosto fino, mas a garota tinha um longo cabelo castanho claro preso em um rabo de cavalo e ele tinha cabelos ondulados mais curtos e escuros.

E então tinha, Jewel Anderson, Leif Fisher e Neil Young, seguidos de Lewis Miller e Willy Leweir, que estranhamente eram namorados e tão parecidos de aparência quanto de nome de uma forma muito sinistra. Laura sabia que nunca conseguiria lembrar os nomes destes, mas eles não pareciam preocupados, apenas se apresentaram e se despediram, dizendo que tinham que falar com outros amigos.

A última a se apresentar era uma garota tão estonteantemente bela que Laura sentiu vertigem ao olhar. Era negra, mas em um tom bem mais claro que Zuri, tinha olhos castanhos debaixo de uma sobrancelha fina, nariz largo e pequeno, lábios volumosos. Toda pele a mostra, que era o rosto, ombros e busto, estava coberta por sardas acobreadas em um tom um pouco mais escuro que o ruivo acobreado de seus cabelos cacheados e volumosos.

Absurdamente linda, e Laura gastou tanto tempo a admirando que mal ouviu-a dizer:

-Sou Piper Hernandez e... Ah, ali estão elas, Zu — a garota baixinha apontou, fazendo Laura automaticamente se virar e procurar pelo que falava.

Zuri se voltou para onde Piper apontava e sorriu com o que viu. Finalmente chegaram.

Laura não sabia para onde Piper estava apontando. Quem estava ali?

Ah, curiosidade grande demais para segurar!

Olhou em volta, vendo um grupo de garotas de traços asiáticos diversos que riam com vozes muito agudas. Viu também um outro grupo de garotas tão próximas compartilhando alguma fofoca que pareciam se misturar e fundir umas nas outras. Ela desejou que fosse as duas garotas de cabelos castanhos que dialogavam calmamente em um canto, mas descobriu que não era nenhuma delas quando as duas estavam próximas o bastante para ficar óbvio que estavam indo em sua direção.

Duas garotas se aproximavam, rindo tão estupidamente de alguma coisa que Laura desejou morrer e ser enterrada ali mesmo para não precisar passar pela parte da interação. Eram um sinal claro de problemas e falta de respeito para com o espaço dos outros.

A maior tinha cabelos longos e loiros e lisos, olhos castanhos e corpo cheio de curvas. Parecia adulta demais para estar em uma escola, mas olhando de perto via que tinha o rosto de criança ao sorrir abertamente, mostrando o aparelho nos dentes.

Naquele mesmo momento estava comentando com a garota ao seu lado sobre ter pendurado um de seus irmãos na janela e visto o coitado rir até ficar roxo e perceber que não era uma brincadeira. Tudo porque o garoto havia pintado um de seus bonés favoritos com canetinha.

A menor, com traços latinos, curvas desproporcionais a sua magreza e rosto um tanto infantil demonstrando tanto timidez quanto traquinagem, estava dividida entre achar a história engraçada e achar penosa.

Tinha uma irmã mais nova e por mais que ela a irritasse algumas vezes, jamais conseguiria fazer coisa alguma contra ela.

Uma vez tentou trancar a garota no banheiro e disse que sairia um monstro do vaso sanitário, mas quando ela começou a chorar e gritar, se desesperou e a tirou de lá a abraçando e pedindo desculpas.

No fim, acabou chorando mais que a irmã, que a consolou.

Mas entendia a amiga, ter tantos irmãos deve levar qualquer um a loucura e...

Uau, quem era aquela?

Parecia mau humorada e entediada, um tanto louca para sair dali, mas isso era compreensível já que estavam com Piper, Zuri e Maya, que eram, não havia outra forma de dizer, tão calmas que eram entediantes algumas vezes.

Ela era tão pálida quanto a lua, seus traços mais suaves que seus próprios traços firmes enquanto os traços suaves dela eram mais firmes que os seus traços firmes. Isso tinha sentido?

Era diferente de todas ali, não apenas pela pele excessivamente branca, mas por seu porte largo que tornavam suas curvas mais discretas, quase como um presente escondido ou uma dádiva a ser descoberta apenas por que fosse realmente digno.

Nossa, esse pensamento era tão louco que parecia o certo.

Quer dizer, haviam muitas garotas branquelas por aí, mas tinha certeza que não como ela. Era muito diferente. Tinha algo ali, não necessariamente físico, que chamava sua atenção.

E então, ela vira seus olhos em sua direção, mas sem lhe dar importância. A garota parecia relutante e insatisfeita em permanecer ali e aparentemente não queria conhece-la, mas não se moveu para ir embora, como se não soubesse exatamente como fazer isso.

E houve um choque tão grande quando mirou seus olhos cinzentos que não conseguiu mover seus olhos de lugar algum. Eles pareciam dominar sua alma e desvendar tudo ao seu redor. Ela não conseguia desviar o olhar, mas mesmo assim, a garota não a olhava diretamente, não tinham conexão.

Não sabia se queria ou não que a olhasse. Se sentia intimidada e fascinada.

Ela era tão linda que chegava a ser assustador.

Rezou para que não estivesse com cara de idiota, mas sabia que era impossível não estar. Aquilo era demais para seu psicológico, seu próprio corpo parecia em colapso. Queimava. Congelava. Entrava em curto circuito.

Pane no sistema.

— E aí, qual foi? — a maior perguntou ao chegarem ao grupo, não notando a presença de Laura.

A outra ainda a encarava, parecendo estar diante de uma assombração muito interessante. Estava muda e paralisada.

— Dav, essa é Laura Ortiz — Zuri a apresentou — Laura, essa é minha namorada, Davine Juliet...

— Jackson — Davine completou, fazendo sua voz grave soar e levando Zuri a revirar os olhos — o que? Eu tenho sobrenome!

— Uh... — Laura fez, constrangida com o olhar da garota menor, que sequer notava os cabelos castanhos esvoaçando.

Tentava ignorar, mas sentia seu rosto ficando vermelho e enquanto esta pensava no quão adorável a garota pálida desconhecida ficava ao estar corada, Laura se sentia cada vez mais constrangida e intimidada e olhava para qualquer outro lugar.

Não era todo dia que uma garota tão bonita a encarava firmemente daquele jeito. Era tão lisonjeiro quanto incômodo.

Era assim que faziam amizades naquele lugar?

Deus, Laura só queria ir embora! Queria sumir o mais rápido possível e que alguém tivesse misericórdia e fizesse aquela garota parar de encará-la.

Laura até tentou colocar sua melhor cara de má em ação, mas tudo o que conseguiu foi um sorriso bobo estupidamente charmoso e engraçado.

— Tina! — Zuri estalou os dedos em frente ao rosto da amiga, fazendo com que desse um ligeiro saltinho ao sair do transe e se perguntar se a esteve encarando por tempo demais.

Esperava que não tivesse irritado ela, porque tinha um magnetismo tão grande e intenso quanto a gravidade e ela realmente queria se aproximar e conseguir uma amizade tão fascinante.

— Ah... uh... Eu sou Martina — disse, lançando a ela um sorriso quase selvagem — Martina Lopez.

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