Laura acordou se sentindo um tanto estranha, como se fosse despertada por um gosto amargo na boca ou uma perna formigando. Não sabia dizer exatamente o que era aquilo até se flagrar olhando o celular para desligar o alarme e percebeu que ainda estava no meio daquela semana de energia caótica em que se meteu por culpa dos pais.
Ela não queria se manter admitindo que estava gostando, então se limitou a culpar os pais como vinha fazendo desde que percebeu a sequência nada aleatória entre os próprios sentimentos e as mudanças constantes.
Se flagrou repetindo os momentos que passou até ali com a turma de Zuri, sobretudo a tão inconveniente Martina que insistia em ter sua companhia.
Estava refletindo sobre a possibilidade de voltar a dormir e ignorar que eventualmente teria que ir à escola apenas para adiar a situação que estava vivendo porque não podia gostar de tudo aquilo. Tinha que se lembrar do quanto doeria quando tivesse que ir embora.
Nada parecia s
Laura se flagrou incrivelmente animada para ir a aula aquela manhã. No final da semana anterior esteve bem menos angustiada com sua mudança para aquele lugar horrível e se deu ao desfrute de permitir a aproximação de Martina e companhia, mas ainda era estranho, meio diferente. Ela ainda não esteve em um bom clima para dizer que estava gostando daquela coisa de estar entre tantas pessoas — ainda que geralmente fosse apenas Zuri, Davine, Piper e Martina — até porque ainda tinha na cabeça que ficaria ali por pouco tempo. E bem, aquela euforia súbita a havia atingido aquela manhã acima de seus medos e suas tristezas, a deixando de certa forma paralisada. Aquela cidade estava mexendo com seus ânimos da maneira mais estranha possível. Desse modo, Laura sorriu assim que compreendeu estar acordada, abriu os olhos, piscando lentamente para que se acostumasse com a luz do ambiente, e se permitiu observar as estrelas em seu teto por algum tempo. Eram tão
Ainda que tenha tentado ignorar, a ideia de entrar em acordo com Martina e ir ao treino mexeu intensamente com Laura e a atormentou por todo o horário. Daquela vez, Martina tinha ido embora depois do horário de educação física e Laura ficou sozinha no pátio aguardando os irmãos e refletindo sobre o assunto. Estava acostumada a se despedir das pessoas, mas o softball sempre foi o ponto mais sensível para ela, onde tinha se encontrado. Ter que partir e deixar para trás seu time e todas as conquistas e momentos tinha sido doloroso e traumático demais para ela e não sabia se aguentaria passar por aquilo de novo. Mas mesmo que estivesse com a cabeça cheia com isso, Laura ficou feliz quando sentiu um calor mínimo tocar sua pele enquanto estava recostada em uma parede tentando não ter uma dor de cabeça e crise de ansiedade com aquele assunto complicado. Ao abrir os olhos, um raio tímido de sol queimou sua íris clara com graça e a aqueceu. Era quase como se d
A primeira coisa que despertou seus sentidos foi o barulho. Bipes Conversas. Algumas coisas sendo arrastadas. Laura abriu os olhos por meio segundo e tudo estava claro a ponto de queimar sua mente, com isso, fechou-os novamente. Podia ouvir a voz de seus pais ao longe se misturarem no que pareciam cochichos poderosos. O mais bizarro talvez fosse o fato de que pareciam uma só pessoa, mas ela conseguia entender que eram os dois. O que estava acontecendo com sua cabeça? — Você foi lá? Lá onde? — Fui. — Está tudo limpo? — Como se nada tivesse acontecido. Como se que nada tivesse acontecido? E nisso, Laura descobriu ter a incrível capacidade de sentir vertigem mesmo no escuro de seus olhos fechados e sua consciência foi ficando cada vez mais distante. Gabriel e Clara estavam tão preocupados quanto suas vozes demonstravam, mas não tomavam o cuidado de s
O que despertou Laura naquela manhã de segunda feira não foi seu despertador, muito menos sua mãe ou alguma discussão entre os irmãos, mas um vibrar constante debaixo de sua cabeça sobre o travesseiro. — Hm... — a adolescente gemeu ao se notar acordada a apalpou a cama até encontrar a fonte de incômodo. Abriu os olhos minimamente e os sentiu lacrimejar com a luz do aparelho que piscava com o nome de Martina na tela. As duas estavam muito mais próximas desde a noite na emergência do hospital e Laura por algum motivo que ela mesma desconhecia contou para Martina sobre a conversa estranha com seus pais. A jovem recebeu apoio incondicional para insistir no assunto com os pais — mesmo que à toa — e Martina ouvia cada palavra que dizia com uma atenção e interesse infindáveis. Laura suspirou, ainda tão imersa no sono que seu rosto não esboçou o sorriso que sentia em seu interior. Laurtiz Laura
Estava na mesma posição que havia dormido: de bruços, os braços presos debaixo do corpo, o celular ao lado do rosto. Piscou os olhos lentamente enquanto ganhava consciência e sentia os dedos formigarem com a falta de circulação sanguínea, mas não se sentia desconfortável o bastante para se mexer até que a luz do celular incomodou seus olhos. Gemendo, Laura livrou uma das mãos que estava sob a barriga e bloqueou a luminosidade com a palma, mas o sentiu vibrar e suspirou, virando o aparelho em sua direção e sentindo os olhos lacrimejarem com a ardência provocada pela luz. Martina. Bom dia, Laurtiz! Queria te avisar que te joguei um feitio quando você dormiu sem se despedir de mim e agora você está perdidamente apaixonada pela minha pessoa. E Laura riu, seu riso soando baixo pela sonolência e por ter escondido o rosto no travesseiro e não notou que atendeu o telefone com a chamada de Martina Lopez até que ouviu sua voz. —
Foi em uma segunda-feira que o equilíbrio de Laura se tornou um problema grave. Não é que o fim de semana tenha sido livre de acidentes, porque seu equilíbrio algumas vezes parecia mudar junto com a lua, embora Laura nunca tivesse parado para contabilizar. O negócio é que a inércia do fim de semana a poupou de diversos acidentes. Laura ainda se sentia mergulhada em seu sono quando se deu conta da hora de levantar, mas não estranhou quando caiu diretamente de costas no chão ao se virar no colchão. Era apenas o segundo dia seguido que isso acontecia. Gemendo, Laura levou um tempo até conseguir se desvencilhar das cobertas para finalmente conseguir se levantar, mas antes mesmo que o fizesse, seu celular vibrou, indicando o que ela já sabia por hábito. — Marbs — foi a primeira coisa que falou ao levar o telefone ao ouvido, ainda sentada sobre as cobertas, a diferença de temperatura eriçando seus pelos e enrijecendo seus mamilos. — Ugh! Eu
Laura nem sabia por que estava em estado de choque. Quer dizer, Martina sempre dizia que estava apaixonada por ela. Talvez fosse o fato de que colocar em palavras tornava tudo tão real que confrontava os sentimentos que vinha fugindo de interpretar e isso a sufocava. E Martina nem estava exigindo nada. Sabia disso. Não esperava uma resposta. Não buscava por retorno. Mais uma coisa que Laura sabia era que Martina estava ciente de que algo também estava acontecendo com ela, mesmo que não soubesse colocar em ordem o que era tudo aquilo. Ainda assim, Laura desceu aquela noite para o jantar e comeu em silêncio, não correspondendo as provocações dos irmãos e sendo evasiva com as perguntas dos pais até que resolveram que não era o melhor dia da primogênita e talvez fosse melhor deixar que tivesse seu momento. Havia pensamentos demais rondando a cabeça de Laura e isso a deixava com uma vertigem chata e uma leve dor de cabeça. Até deixou na cama e proc
Sábado pareceu chegar mais rápido que o esperado e Laura estava exultante, o que era bem esquisito para ela. Olhava de um lado a outro em seu quarto se certificando que estava tudo certo desde que a mãe ajeitou um colchão ao lado de sua cama pela manhã. Algo em sua consciência diria que Martina diria estar decepcionada pelo colchão, mas ela tirava sarro por tudo. — Laur toda nervosa porque a namoradinha vem aqui em casa — provocou Edward quando viu que a irmã não estava comendo sequer metade do que havia em seu prato. Laura, que antes encarava a comida quase intocada, ergueu os olhos para o irmão e bufou. — Ela não é minha namorada — corrigiu, apesar de saber que de nada adiantaria. — Para conseguir que a chame para vir aqui em casa deve ser algum tipo de feiticeira — disse Beatrice após engolir uma porção de aspargos. — Não sei que feitiço ela fez, mas gosto dela — comentou Gabriel, atraindo o olhar da filha mais velha. — Papa