Martina e Laura permaneceram sentadas uma ao lado da outra em silêncio pelo que pareceu uma eternidade.
Havia muita coisa se passando por suas cabeças, inclusive a busca por um plano para o que fazer se tudo desse errado.
Martina suspirou quando algo que não a agradava e com certeza não agradaria a Laura surgiu em sua mente.
— Laura, eu sei que gosta de liberdade, eu também gosto, e sei que odeia toda essa coisa, mas eu acho melhor você não andar por aí sozinha — umedeceu os lábios, olhando uma Laura que não a olhava de volta — isso eu quero dizer na escola. Não queremos correr o risco dele se aproximar e começar essa coisa de te contaminar, certo?
Laura não respondeu imediatamente. Não queria admitir que concordava e sentia-se ficando presa e acuada, mas tinha que confessar que estava com medo. O que tinham lido a amedrontou.
Toda a ideia de não ter escolha e ser levada para a escuridão a assustava. Ela se lembrava perfeitamente de estar lá,
Considerando o visível risco, Clara e Gabriel chegaram ao acordo com as adolescentes que reforçariam as coisas em torno das duas e que Laura não deveria estar sozinha em hipóteses alguma dentro do racional. Gabriel estava visivelmente abalado sobre os acontecimentos, mas se manteve como se toda a tempestade emocional dentro dele tivesse passado, tentando agir do modo mais racional possível e usando a lógica. Talvez tivesse um pouco em comum com a filha quanto a fingir que nada estava acontecendo. Ele não havia encontrado ninguém em sua caçada. Ninguém lobo, ao menos. O que viu tinha sido muito pior. Ao se deitar com a mulher aquela noite, ele narrou para ela em murmúrios: — Ela estava ali, aquele mesmo vestido daquela noite completamente sujo de seu sangue. Estava destruída definitivamente, a marca em seu pulso... — fungou — e tinha o cheiro dele. — Oh, Gabe! — Eu jamais me esqueceria do cheiro dele — o homem continuou — ou de como ele vem cad
Como tudo estava? Depende. Considerando que ninguém havia sido morto ainda, as coisas estava bem. Porém, também considerando que ninguém havia sido morto ainda, as coisas estavam mal. Não conseguiram contar quantas fadas da noite haviam sido reunidas. Enquanto Martina lidava com dois lobos de poderes acumulados tomados de garotas inocentes, Laura e as meninas tentavam lidar com o resto da bagunça. Não tinha muito o que Zuri e Davine pudessem fazer. Piper nem ao menos tinha seu poder desenvolvido. Laura respirou fundo, tentando se lembrar de tudo o que havia aprendido. O ar. Não sabia se isso funcionaria, mas espalmou as mãos na direção daquelas criaturas e chamou pela visão que tinha com névoa a envolvendo. Quando chegou, imaginou que tornava o ar denso, impenetrável. Sua parede de vidro. — Eu preciso de vocês — sibilou Laura por cima dos cânticos, que haviam mudado, mas para algo pior ainda — não acho que consi
Alguns anos depois Laura se sentia esgotada, no auge do estresse. Jamais imaginaria que esse era o dia dela, um dos mais importantes e significativos de sua vida, um marco cheio de felicidade, se não estivesse aos cuidados da mãe naquele momento, se arrumando enquanto falava ao telefone. — Como assim o cano estourou? Do nada? — Sim, senhora. Do nada — o homem do outro lado do telefone disse com receio — estávamos arrumando o outro cômodo quando ouvimos um estouro. Não sabemos o que aconteceu. — E que espécie de profissional é você que sequer consegue descobrir como um cano estoura? — reclamou — você não deveria ser o encanador? — Sim senhora — ela podia ouvir o tremor na voz do homem com quem conversava. — Laura, calma! — Clara pedia, mas ela estava puro nervos, já acreditando que tudo daria errado. Tinha uma ansiedade difícil de controlar apesar da medicação e da terapia. Vira e mexe ela voltava e tinha que re
A vida é uma constante surpresa mergulhada em mudanças frequentes. Às vezes nos despertamos e nos damos conta de que nada é como pensamos que seria, muito pelo contrário, muitas vezes tudo parece estar errado e sentimos que nunca vamos nos encaixar em lugar algum no mundo. A vida era diferente quando Laura não era nascida, nos tempos tão jovens de seus pais Clara e Gabriel Ortiz. As coisas mudaram de forma surpreendente conforme ela crescia, tanto literal quanto figurativamente. Tudo sempre mudava quando ela menos esperava. E Laura odiava essas surpresas e mudanças. Queria viver mergulhada no mesmo mar de certezas e constantes firmes e previsíveis. Crescer, ganhar campeonatos de softball pela escola, ter amigos, se apaixonar por um cara ou uma garota legal, ter marcos de tempo semelhantes às de quaisquer outros no mundo. Ainda assim, pode-se dizer que ela realmente tentou muito, no começo de tudo, quando a primeira surpresa veio e eles tiveram que partir para
Laura até queria ter um jeito mais filosófico e genial de dizer, mas não havia nada que cobrisse a imensidão que se mudar era além de: uma grande e fedida bosta. Se mudar é uma puta sacanagem da vida, sobretudo quando ela acontece várias e várias vezes como se alguém estivesse com o dedo apertando o botão de repetir sem a menor prudência. Laura tinha certeza que a vida no momento estava sentada em sua poltrona suprema acima de tudo no universo com o controle da televisão do mundo sintonizada no canal Ortiz, sem sombra de dúvidas rindo de sua irritação com aquele momento que havia adorado criar. Comeria pipoca com bastante manteiga por cima, lambendo os dedos nojentos antes de pegar refrigerante e beber um longo gole. Não se surpreenderia se todo o universo estivesse rindo naquele instante, a observando como se estivesse em um cinema e ela fosse uma das atrizes principais de um filme de comédia. “Como acabar com a vida de uma adolescente em menos de 5
Ela devia saber que sair de madrugada para tirar fotos não era uma boa ideia, mas naquele momento era a única coisa que a acalmaria, assim, seguiu na ponta dos pés descalços para o lado de fora do que seria sua nova casa. Também deveria ter imaginado que era um ato quase suicida sair de casa naquele horário descalça e usando apenas uma fina blusa de frio comprida sobre um shortinho de flanela e a primeira blusa de alcinhas que encontrou. Ainda assim, saiu numa pressa desesperada que a privou de procurar qualquer outra coisa para vestir, como o juízo, por exemplo, e Laura podia sentir o clima frio a congelando, porém podia respirar, coisa que não conseguia fazer naquele quarto sufocante. Havia acordado no meio da noite com o coração palpitando forte em seu peito e seu despertar acabou o fazendo parar subitamente e voltar a bater descompassado como se tivesse sido pego em flagrante em meio a uma fuga. Arfava e seus olhos queimavam em lágrimas, sua cabeç
Não havia sido um sonho. Bom, fora o detalhe óbvio de que tudo havia sido mesmo um sonho, sua realidade naquele lugar continuava a mesma. Assim que Laura abriu os olhos, sentindo-os arder com o primeiro contato do dia com a claridade, imaginou-se em seu antigo quarto e logo pensou em colocar um biquíni, jogar um vestido por cima, arrumar a bolsa com alguns itens críticos e ir para a praia. Estava precisando pegar um pouco de cor e embora nunca ficasse bronzeada ao menos aquilo diminuiria sua palidez mórbida. Sua semelhança com um defunto a irritava, mas como boa parte das coisas a irritava, não seria interessante entrar nessa discussão. E então, os olhos cinzentos encontraram aquela nova disposição de móveis, tornando sua mente uma confusão. Poderia estar ainda sonhando, porque tudo estava pintado de acordo com o que vinha insistindo há tempos, mas... Quem mudou seu quarto durante a noite? Ele até parecia menor... Aquilo a fren
O dia amanheceu frio e nublado, para a alegria inexistente de Laura Isabelle, cujas feições estavam ainda mais amargas ao constatar que precisaria se cobrir até as orelhas. Choramingou mais uma vez ao se lembrar que ali era um lugar onde suas blusinhas, shortinhos, saias e vestidos pareciam ter se aposentado para sempre em suas gavetas. Ela detestava profundamente o frio. Merda de lugar estúpido! Ainda se perguntava por que era tão difícil assim decidir morar em um lugar ensolarado quando percebeu que era segunda feira, o primeiro dia de aula. O primeiro estúpido dia de aula, que estupidamente significava que realmente teria que se vestir e sair de casa, que era justamente o que vinha evitando fazer desde que saiu a primeira vez. Não queria ir para a escola principalmente por teria que eventualmente interagir com alguém, e na sua opinião a pessoa que inventou que todos eram obrigados a interagir uns com os outros era uma pessoa extrema