CAPÍTULO 52
Uma semana havia se passado. Galeano e Melissa viviam como se estivessem em lua de mel. Carlos e a esposa haviam se tornado um bom exemplo de boa vizinhança. Nos finais de tarde ele aparecia para conversar com Galeano. Comportavam-se como se ambos se conhecessem há muito tempo. Tudo estava perfeito demais para ser verdade. Ele ficava alerta com possíveis obstáculos. Naqueles dias não voltara ao povoado, ficara por tempo integral na fazenda. Acreditava que tudo estava correndo bem, caso contrário Natanael sabia onde encontrá-lo. Porém, no final daquele dia a rotina foi alterada com a chegada do amigo policial. Era notícia ruim, disto Galeano não tinha dúvidas.
— Que ventos o trouxeram aqui meu amigo? Bons ou maus?
— Espero que esclarecedores — falou Natal nada amistoso.
Foi convidado a entrar e tomar assento à mesa de jantar. Ao final da refeição Galeano quis saber o real motivo da visita in
CAPÍTULO 53 O sol ainda não havia nascido quando Natanael se despediu da anfitriã, se colocando à disposição para qualquer eventualidade. Antes de subir na moto se voltou para o amigo — Passa em minha casa antes de viajar para a capital? — Tem a minha palavra. No máximo em uma semana estarei partindo para prestar contas ao chefe. — Você está bem? — Estou. — Não conseguiu aquilo que desejava? Não cumpriu sua missão, de salvar sua amada da condenação? — Você não achou Melissa excessivamente comedida? — Analisando bem, ela quase não comentou sobre o caso. — Meu amigo, talvez ela saiba mais coisas que supomos. — Tome cuidado para não cometer injustiças. — Não se preocupe. Qualquer novidade eu entro em contato. No minuto seguinte a moto levava embora o amigo, deixando-o realizado com o re
CAPÍTULO 54 — Tem certeza que realmente quer fazer isso? — Absoluta — respondeu Melissa. Era domingo, dia de feira livre. Quando ela passava as pessoas ficavam falando baixinho umas com as outras. Outros faziam gestos de admiração. Ainda lembrava o dia que estivera no povoado, foi para flagrar o marido nos braços de outra mulher e do enterro de Severino. Melissa manteve-se firme. Cabeça erguida. Rebolava provocante como se desfilasse numa passarela de moda. Faltavam poucos metros para chegarem ao destino desejado. Ele recordava das vezes que ali estivera. Nada comentou. — A casa é esta — apontou Galeano para a casa em questão. Com a mão direita ela fez um gesto para ele não avançar. Andou lentamente até o portão. O dedo tremia quando apertou a campainha. Esperou o tempo passar. Repetiu novamente a ação. Desta vez o portão foi aberto, saindo uma mulher acompanhada de um menino. Ela não teve dúvidas, era filho leg
CAPÍTULO 55 O amor pode nos tocar uma vez e durar por toda a eternidade. Na vida de uma pessoa os sentimentos passados ainda continuam existindo mesmo se o outro não retornar. Mais uma vez ela abriu as portas do coração e novamente naufragou no mar da desilusão. Naquele período do ano ela gostava de passear pelo campo florido. As gitiranas abraçavam os galhos das árvores com as ramas para exibir suas belas flores. O perfume natural a deixava embriagada e se permitia andar livremente no universo dos desejos. Sonhava acordada enquanto o vento envolvia seus cabelos. Adorava a vida no campo. Era livre como os pássaros, inocente como as abelhas colhendo o néctar das flores. Melissa havia encontrado a felicidade naquele lugar. Ficaria ali até o último dia de sua vida. Quem desej
CAPÍTULO 56 Ela o viu chegar. Permaneceu sentada num tronco de árvore que sucumbira pela força destrutível do tempo, enquanto pérola fora receber o visitante. A vegetação rasteira era como uma planície entre duas montanhas de árvores adultas cobertas pelas flores das jitiranas. As borboletas voavam em ziguezague. Passarinhos cantavam alegremente. No final do campo havia um riacho perene. Galeano nunca havia estado alí antes. Aliás, nunca notara aquele pedaço de chão pertencente à fazenda. — Eles haviam discutido naquela noite. Não foi culpa de ninguém. Ele não queria fazer mal algum. Era tão frágil. — Do que você está falando? — quis saber Galeano se sentando na outra extremidade do tronco enquanto ela continuava falando como se estivesse sozinha. — Foi Severino quem matou Manoel Vargas. — Como assim? — quis saber Galeano — Se você sabia a identidade do assassino por que não o entregou para a po
CAPÍTULO 1 Quando Melissa conseguiu colocar o último bezerro no curral o sol já se escondia lentamente no horizonte, anunciando que a noite já estava se aproximando. Enxugou o suor do rosto com os punhos da camisa que usava todos os dias para se proteger do sol e respirou fundo. Desde que assumira o controle da fazenda, aquela era a sua rotina: acordava às cinco horas da manhã, tirava o leite das três vacas e depois as levava para o pasto junto com os três bezerros e o reprodutor. Em seguida seguia para o roçado, voltando ao meio-dia. No período da tarde ficava na residência principal da fazenda, cuidando do lar e da horta nos fundos do casarão, sempre acompanhada pela cadela siberiana pérola, presente que ganhara do sogro. A solidão só não era infinita porque em um casebre próximo dali, residia o sogro. Após a morte do marido, ela tentara várias vezes sem êxito trazê-lo para morar com ela. Todas as noites antes de dor
CAPÍTULO 2 O sol emitia os primeiros raios da manhã quando Galeano saía do estacionamento da pousada de beira de estrada em que havia passado a noite. Calculara mal a distância e agora precisava voltar para a estrada. Estava ansioso para chegar, pois havia escutado muitas histórias interessantes sobre a igreja de pedra. Entre as muitas versões que ouvira, uma dizia que em noite de lua de cheia, focos de luzes coloridas dançavam no interior da igreja, e mesmo no ápice da alta temperatura o local era totalmente refrigerado. Não conseguia entender como era possível numa região semiárida, escassa de chuva e atingida pelo forte calor, existir um lugar imune às variações climáticas. Precisava descobrir o que estava por trás das lendas. Ligou o som do veículo e acelerou, verificando uma vez ou outra o mapa rodoviário. Olhou as anotações que pegara com algumas pessoas que encontrou ao longo da viagem e seguiu à risca todas as orientações. ***<
CAPÍTULO 3 Sentada na varanda, tomava café com leite, contemplando as luzes das cidades circunvizinhas. Pérola encolhida próximo dela. Era vantajoso morar no cume da serra, tinha toda a ribeira ao alcance dos olhos. Fora feliz, disso não tinha dúvidas. Mas, desde que o esposo arranjara uma amante, o descontrole visitou seu casamento. Aos quarenta anos não tinha mais ambições na vida. Agradecia muito ao falecido por ter sido resgatada da prostituição, mas, ao mesmo tempo, o culpava por tanto sofrimento. A esperança de ser absolvida era inexistente. Se pelo menos tivesse dinheiro para pagar um advogado particular. O único bem que tinha era uma fazenda falida que nem podia vender por causa da hipoteca. O frio acompanhado da névoa bailava dificultando a visão, impossibilitando continuar contemplando as luzes das cidades. Era hora da visita. Não demorou muito para chegar ao casebre onde encontrou o sogro na calçada, sentado no velho tambore
CAPÍTULO 4 Há três dias chegara à Silvestre. A chuva não dava trégua. Para não ficar alheio, passava o dia lendo no quarto, ou no salão, bebendo alguma coisa. Na noite anterior esteve com a moça que trabalhava na mercearia de Genaro, a mesma moça que lhe indicara a pensão no dia de sua chegada ao povoado. Estava lendo Pássaros Feridos de Colleen Mccllough quando uma voz desviou sua atenção. — Posso sentar-me aqui? — perguntou a recém-chegada. — Não há mesas vagas — complementou em seguida. Galeano desviou a atenção do livro e voltou seus olhos em direção a voz, reconhecendo a dona. — Fique à vontade — disse-lhe. A moça sentou-se de frente a ele e chamou a garçonete pelo nome. — Teresa! — não demorou muito e logo foi atendida. — Pois não, senhora — falou a garçonete. — Traga-me um café com leite. — É para já — a garçonete saiu e pouco tempo depois retornou com o pedido. —