CAPÍTULO 1
Quando Melissa conseguiu colocar o último bezerro no curral o sol já se escondia lentamente no horizonte, anunciando que a noite já estava se aproximando. Enxugou o suor do rosto com os punhos da camisa que usava todos os dias para se proteger do sol e respirou fundo. Desde que assumira o controle da fazenda, aquela era a sua rotina: acordava às cinco horas da manhã, tirava o leite das três vacas e depois as levava para o pasto junto com os três bezerros e o reprodutor. Em seguida seguia para o roçado, voltando ao meio-dia. No período da tarde ficava na residência principal da fazenda, cuidando do lar e da horta nos fundos do casarão, sempre acompanhada pela cadela siberiana pérola, presente que ganhara do sogro.
A solidão só não era infinita porque em um casebre próximo dali, residia o sogro. Após a morte do marido, ela tentara várias vezes sem êxito trazê-lo para morar com ela. Todas as noites antes de dormir, Melissa visitava Severino na tentativa de se sentir próxima de alguém e, ao mesmo tempo, doar um pouco de atenção para o sogro que a cada dia ficava mais distante do mundo real. Sua mente idosa vagava com mais frequência no universo imaginário. Com quase noventa anos era difícil conseguir coordenar as ideias, mas o estado de saúde dele havia piorado após a morte do filho.
Ela ainda lembrava aquele terrível dia. Era um domingo como outro qualquer, apenas com uma pequena diferença: Manoel ainda não havia voltado para casa. Ela não aceitava conviver com um homem que tinha uma amante no pequeno povoado de Silvestre, localizado entre Pernambuco e Paraíba. Apesar de ser governada por dois governos diferentes, a população vivia como se fossem um só povoado, exceto na época das campanhas políticas, onde cada estado tentava conquistar a confiança dos eleitores com os seus respectivos candidatos e colégios eleitorais. Melissa ouvia aquela história todas as vezes que o marido recebia na fazenda os aliados do Partido do qual era filiado.
Passava do meio-dia quando encontraram o corpo do coronel no Pé do serrote, onde era localizada a igreja de pedra, um local idolatrado por fiéis em busca de milagres, e ponto turístico da região. A notícia da existência da igreja de pedra era secular. Contava a lenda que os primeiros habitantes daquelas terras foram os índios e, foram eles os arquitetos da obra de pedra. Aquele que tivesse coragem suficiente para visitá-la em noite de lua cheia, presenciaria um dos espetáculos mais belos da natureza. O fenômeno misterioso logo se espalhou nas redondezas, diziam que em noite de lua cheia os espíritos dos índios ocupavam a igreja e quem fosse até lá numa noite dessas, seria amaldiçoado pelo resto da vida. O mesmo ambiente que era adorado pelos fiéis durante o dia, era evitado durante a noite.
A polícia fora acionada e quatro horas depois chegou ao local. Da sede da fazenda até a igreja existia um percurso de três quilômetros, e para chegar ao local era preciso fazer um contorno de mais dois quilômetros para descer até onde estava o corpo. O coronel Vargas estava irreconhecível. Só foi possível revelar a identidade da vítima através da cédula de identidade que estava num dos bolsos da camisa e um rosário de pérolas que carregava no pescoço. Todos que trabalhavam com o coronel foram intimados a depor, bem como a sua esposa. Após os interrogatórios, Melissa foi indiciada como autora do crime. Ela se arrependeu amargamente por ter falado a verdade.
Todas as vezes que Melissa lembrava o caso não conseguia prender as lágrimas. Perante as autoridades despiu-se de uma forma como nunca fizera antes, talvez porque não aguentava mais sofrer.
Ela tinha sido casada durante dez anos com o coronel Manoel Vargas, homem rico e principal liderança política da região, que tinha trânsito livre e negociações com figurões dos dois estados.
— Quando se conheceram? — o delegado perguntou.
Melissa ainda refletia sobre aquela pergunta. Poderia facilmente mentir, mas, saturada por tanta dor, fechou os olhos e se permitiu percorrer novamente a estrada que a tinha levado até ali. Ela havia nascido numa pequena cidade chamada Santo Antonio, localizada na região semiárida do país. Quando se tornou adulta deixou a família para se aventurar nas noites de uma cidade vizinha, onde trabalhou como profissional do sexo por dez anos. Resolveu abandonar a prostituição quando conheceu o coronel.
— Por que você se prostituiu? — o delegado continuou o interrogatório após ouvir a história de Melissa.
Ela fez uma pausa e retrocedeu um pouco mais em sua triste história:
— Não conheci meu pai e quando estava com dez anos minha mãe fugiu com um amante, deixando para traz a mim e ao meu irmão mais velho, que acabou sendo adotado por um padre. Fui morar com uma tia que me humilhava e jamais tratou-me como parente. Eu fazia todo o trabalho doméstico em troca de um colchão para dormir e um prato de comida, proveniente das sobras que ficavam na mesa. Não tinha permissão para sair de casa e nem frequentar a escola. Naquele ano eu estava cursando a 4ª série Primária — contava enquanto as lágrimas banhavam a sua face e o choro entre soluços interrompeu o relato. O delegado esperou pacientemente ela se recompor para continuar o interrogatório.
— Por favor, Senhora Melissa, continue o relato — ele pediu.
Ela respirou pausadamente e continuou contando sua sofrida saga:
— Certo dia, quando minha tia mandou-me fazer algumas compras no mercado, aproveitei a oportunidade e não voltei mais para casa. Sai correndo rua afora, só parando quando cheguei à beira da pista. Entrei no primeiro carro que parou. Naquela noite conheci fisicamente o primeiro homem de minha vida, assassinando o sonho de ter minha primeira noite de amor somente após casar-me com um homem que eu amasse verdadeiramente — ela contava, lembrando que sequer soube o nome do homem que a possuiu ainda virgem. — Fui deixada numa cidade desconhecida, que mais tarde soube que se chamava Torrões. Não conhecia nada e nem ninguém naquela cidade estranha. Perambulei pelas ruas até encontrar um bordel que ficava localizado depois da linha férrea e onde vi-me obrigada a desenvolver a função de prostituta. Com o pouco que eu ganhava comprava roupas e alimentos. Não pagava aluguel, já que morava no local de trabalho. Nessa época, voltei para a sala de aula, concluindo com êxito o Segundo Grau numa escola estadual.
O delegado ouvia tudo com atenção, enquanto Melissa trazia à tona as suas piores recordações:
— Neste período, fui ameaçada várias vezes por esposas furiosas, de maridos que encontravam em meus braços aquilo que julgavam lhes faltar em casa. Mesmo vivendo na luxúria sexual, eu sonhava com um lar e em formar uma família. Tal chance surgiu quando um homem alto, chapéu cobrindo a cabeça e botas de vaqueiro, entrou no ambiente e escolheu-me para passar a noite inteira ao seu lado. Eu jamais tinha visto tanto dinheiro na vida. Depois daquela noite, ele passou a visitar-me toda sexta-feira. Tornei-me exclusividade dele, e mesmo diante de muitas solicitações de outros clientes, não podia aceitar mais ninguém, ele pagava por seus serviços exclusivos. Isso começou a despertar raiva nas outras garotas, que começaram a pressionar-me a abandonar o bordel. Resisti a todo custo, porque se abandonasse a casa noturna, perderia o dinheiro do coronel. Foram seis meses de exclusividade e neste período soube que o nome dele era Manoel Vargas, ou simplesmente Coronel Vargas. Com cinquenta e cinco anos, viúvo há três anos, e o dono de uma grande fazenda e vários empreendimentos. No final do sexto mês fui convidada a morar com ele. Não pensei duas vezes e na madrugada daquela mesma noite deixei para trás a pequena, mas belíssima cidade de Torrões, e subi a Serra das Almas, passando por Silvestre e terminando o percurso na Fazenda Cedro. Um mês depois nos casaram civilmente no Cartório de Registro Civil da cidade de Torrões. Finalmente realizei o sonho de ser uma mulher de respeito, dona de casa e casada com um homem maravilhoso. Faltava realizar o último sonho: ser mãe. Estava tentando engravidar e muitas vezes pensei que havia conseguido, mas logo a felicidade se desmanchava, tal qual gelo sob o sol. Até então não tinha do que reclamar, mas a minha paz começou a ser ameaçada quando vi a primeira marca de batom no colarinho de uma camisa do meu esposo. Nada disse, pensei que era um fato isolado, mas estava enganada, as marcas de batom se tornaram frequentes e quando pedi informações o coronel não gostou de minha atitude, então tivemos nossa primeira briga. Depois disso, outras brigas se sucederam e ele começou a dormir em Silvestre, alegando compromissos políticos no dia seguinte. A situação se arrastou até que, não suportando mais a situação, montei no cavalo que ganhei de presente de casamento, e segui para o povoado. Era dia de feira livre e reconheci o cavalo dele. Não demorou muito para encontrá-lo num bar por trás da estátua do Padre Cícero. Desci do cavalo e sem raciocinar entrei no bar, onde, para minha surpresa, encontrei meu marido nos braços de uma mulher de pele branca, alta e loira. Antes que tomasse a iniciativa fui abordada pelo coronel — dizia enquanto via as imagens passear em sua mente.
— O que faz aqui? — ele perguntou raivoso. Antes que respondesse recebeu um golpe abaixo dos seios que a jogou porta afora. Foi agarrada pelos cabelos e seu rosto ficou na altura dos olhos do agressor. — Mulher minha tem que ficar em casa, e não frequentando cabaré — gritou o coronel. — Monte o cavalo e vá para casa, mais tarde conversamos.
Ela desejava falar, mas a dor e a vergonha a impediram de proferir qualquer som. Os espectadores a ajudaram montar no cavalo e eles rumaram de volta para a fazenda.
— O que aconteceu depois? — perguntou o Delegado.
Melissa continuou a passear pelas dolorosas recordações:
— O coronel Vargas retornou para casa três dias depois do ocorrido. Eu já estava recuperada da violência que recebera e ansiosa para contar que ele seria pai. Mas nada aconteceu como imaginei. O coronel me ignorou e passou a dormir no povoado quase todas as noites, ficando em casa em raras exceções, quando estava recebendo algum amigo na fazenda. Não demonstrou alegria quando soube que seria pai. Eu sabia que nunca fora pai porque a primeira esposa era estéril. A princípio não entendi o porquê do desinteresse dele pelo filho que estava em meu ventre, mas com o passar dos dias soube que a amante dele estava no sétimo mês de gravidez. Chorei durante toda a noite. No outro dia quando ele apareceu fui pedir explicações e num ato impensado chamei a amante dele de meretriz. Ao ouvir minhas palavras, ele esbravejou que tinha me conhecido num cabaré e que eu não tinha moral nenhuma para avaliar ninguém. Sentindo-me traída, insisti que ele deixasse a outra e chamei-a novamente de meretriz. Ele não controlou mais a raiva e partiu para cima de mim, desferindo vários golpes, jogando-me no chão e em seguida dando-me inúmeros chutes na barriga. Bateu a porta e saiu. Eu, ensanguentada, gritei por socorro. Estava perdendo o meu filho, mas, sabia que era tarde demais. Ouvi o trote do cavalo em disparada e só tive notícias dele quando soube de sua morte.
— E como a Senhora sobreviveu? — o delegado quis saber.
— Fui ajudada pelos empregados da fazenda.
***
Dois anos haviam se passado desde esse episódio. Ficou presa durante sessenta dias, e por ser réu primária, esperava o julgamento — marcado para acontecer dentro de dois meses — em liberdade. Na missa de primeiro aniversário de morte do coronel ela encontrou a amante e seu filho, e soube mais tarde que ela se chamava Verônica e que o menino tinha o mesmo nome do pai.
Quase todo o rebanho fora vendido, mas Melissa só ficou sabendo uma semana depois do acidente, quando um fazendeiro apareceu acompanhado de vários vaqueiros e mostrou as notas fiscais, levando o gado embora, ficando para ela apenas três vacas e um touro, além do cavalo que ganhara no dia do casamento. Para piorar a situação, os empreendimentos estavam registrados no nome de Verônica. Para ela, restara pouca coisa, apenas a fazenda, hipotecada no Banco, mas, por ser a principal suspeita ela não podia vender nada e nem deixar a propriedade, pelo menos até o resultado do julgamento.
CAPÍTULO 2 O sol emitia os primeiros raios da manhã quando Galeano saía do estacionamento da pousada de beira de estrada em que havia passado a noite. Calculara mal a distância e agora precisava voltar para a estrada. Estava ansioso para chegar, pois havia escutado muitas histórias interessantes sobre a igreja de pedra. Entre as muitas versões que ouvira, uma dizia que em noite de lua de cheia, focos de luzes coloridas dançavam no interior da igreja, e mesmo no ápice da alta temperatura o local era totalmente refrigerado. Não conseguia entender como era possível numa região semiárida, escassa de chuva e atingida pelo forte calor, existir um lugar imune às variações climáticas. Precisava descobrir o que estava por trás das lendas. Ligou o som do veículo e acelerou, verificando uma vez ou outra o mapa rodoviário. Olhou as anotações que pegara com algumas pessoas que encontrou ao longo da viagem e seguiu à risca todas as orientações. ***<
CAPÍTULO 3 Sentada na varanda, tomava café com leite, contemplando as luzes das cidades circunvizinhas. Pérola encolhida próximo dela. Era vantajoso morar no cume da serra, tinha toda a ribeira ao alcance dos olhos. Fora feliz, disso não tinha dúvidas. Mas, desde que o esposo arranjara uma amante, o descontrole visitou seu casamento. Aos quarenta anos não tinha mais ambições na vida. Agradecia muito ao falecido por ter sido resgatada da prostituição, mas, ao mesmo tempo, o culpava por tanto sofrimento. A esperança de ser absolvida era inexistente. Se pelo menos tivesse dinheiro para pagar um advogado particular. O único bem que tinha era uma fazenda falida que nem podia vender por causa da hipoteca. O frio acompanhado da névoa bailava dificultando a visão, impossibilitando continuar contemplando as luzes das cidades. Era hora da visita. Não demorou muito para chegar ao casebre onde encontrou o sogro na calçada, sentado no velho tambore
CAPÍTULO 4 Há três dias chegara à Silvestre. A chuva não dava trégua. Para não ficar alheio, passava o dia lendo no quarto, ou no salão, bebendo alguma coisa. Na noite anterior esteve com a moça que trabalhava na mercearia de Genaro, a mesma moça que lhe indicara a pensão no dia de sua chegada ao povoado. Estava lendo Pássaros Feridos de Colleen Mccllough quando uma voz desviou sua atenção. — Posso sentar-me aqui? — perguntou a recém-chegada. — Não há mesas vagas — complementou em seguida. Galeano desviou a atenção do livro e voltou seus olhos em direção a voz, reconhecendo a dona. — Fique à vontade — disse-lhe. A moça sentou-se de frente a ele e chamou a garçonete pelo nome. — Teresa! — não demorou muito e logo foi atendida. — Pois não, senhora — falou a garçonete. — Traga-me um café com leite. — É para já — a garçonete saiu e pouco tempo depois retornou com o pedido. —
CAPÍTULO 5 Melissa sentiu uma lágrima descer na face. Guardou a revista que encontrara naquela manhã junto de uns objetos obsoletos. Desde a noite anterior ficara preocupada com Severino. Percebeu que ele perguntava sobre fatos acontecidos há muitos anos e não conseguia lembrar assuntos recentes. Referia-se ao filho como se ele ainda estivesse vivo. Quando ele foi dormir, não conseguiu trocar de roupa. Ela o ajudou a vestir uma camisa de frio e a tirar os chinelos. Cada vez mais sentia a necessidade de saber mais sobre a doença que aos poucos devorava seu único amigo. Quando retornou ao casarão procurou incansavelmente pela antiga revista que continha um artigo explicando passo a passo o Mal de Alzheimer. Após ler novamente o artigo, teve certeza que o coronel Severino Vargas estava vivendo a segunda fase da doença. Talvez ela não estivesse ao seu lado quando ele adentrasse na terceira fase. Não conseguiu mais conter o choro. Escondeu o rosto
CAPÍTULO 6 Parecia o cenário de um filme de faroeste. O vilarejo estava deserto, exceto por alguns cães passeando pela rua e bêbados cambaleando pelas calçadas ou adormecidos aos pés das paredes. Se não fossem os bares em pleno funcionamento, qualquer um diria que ali era um povoado fantasma. Galeano estacionou a moto sob a sombra da marquise da pensão. Antes de entrar olhou em volta. A poeira conduzida pelo vento o fez proteger os olhos com a mão. Por uma fração de minuto percebeu um vulto se esgueirando pelas sombras das residências. Assim como surgiu, também desapareceu. Focou o olhar na direção onde estava o vulto, mas havia desaparecido. Poderia estar sendo seguido, ele pensou. Rapidamente descartou a possibilidade. Entrou no salão da pensão, passando direto para o quarto. Naquela noite não desceu para jantar, informou à Carminha que não queria ser incomodado. Pouco tempo depois uma batida na porta o fez ficar alerta. Ficou em silêncio a
CAPÍTULO 7Aquele lugar era seu refúgio e fortaleza, amava incondicionalmente aquele lar. Muitas vezes se encontrava inundada em lágrimas pela real possibilidade de ser condenada e deixar aquele pedaço de chão para sempre. Sabia que as recordações lhe acompanhariam para qualquer lugar. Odiava-se por não tentar procurar alguma prova que ajudasse na defesa. A casa era enorme e nunca procurara pelo cofre que ficava escondido no escritório, aliás, para isto era preciso primeiro encontrar a chave. Ela nunca conseguiria arrombar aquela porta fabricada de cedro, a árvore mais resistente da região. Nos primeiros dias após a morte do esposo, procurou a chave como uma louca busca sair do sanatório. Depois de sucessivos fracassos, desistiu e se conformou com a situação. Ocupava o tempo cuidando do sogro e aproveitando cada minuto que lhe restava
CAPÍTULO 8 Quase não conseguira dormir. Mesmo fechando a porta do quarto à chave não se sentia segura com um estranho dormindo sob o mesmo teto. Melissa havia deduzido várias hipóteses de quem realmente era o recém-chegado. Ele poderia ser realmente quem disse ser, mas também poderia estar ali a mando de alguém que desejasse vê-la morta. Talvez fosse um policial disfarçado, investigando a sua real culpa pelo assassinato de Manoel Vargas. Quando acordou naquela manhã o visitante não se encontrava mais na sala, onde dormira no desconfortável sofá. Tomada por um impulso correu para o terreiro e constatou que a moto permanecia no mesmo lugar onde fora deixada no dia anterior. Deduziu que ele pudesse ter ido buscar um mecânico no povoado. Sentia-se estranha. Um sentimento irreconhecível tomava forma. Tentou não pensar nele, mas poucos minutos depois estava criando a imagem dele nas recentes lembranças. Resolveu ocupar a mente com os
CAPÍTULO 9 Era a capitã do próprio mundo, permitindo o naufrágio de toda a tripulação. Dona das sagradas paisagens que a mente inventara para enganar as besteiras de uma sociedade hipócrita comandando um sistema ainda mais hipócrita, regido por certas leis determinando que a liberdade deve sempre existir. Não era aplicado ao seu caso. Melissa constantemente se revoltava com as regras que a justiça lhe aplicara. Enquanto o veredito não saísse ela estava proibida de sair da própria casa. A solidão lhe consumia dia após dia. Muitas vezes agradecia a Deus por ter o sogro próximo, mesmo desmiolado era uma boa companhia. Em outras oportunidades culpava Deus por tanto sofrimento. Estava cansada e se pegara inúmeras vezes pensando em suicídio. Estranhamente, se sentia feliz com a presença do fotógrafo em sua casa. Não dissera nada a Severino. Desde cedo estava frustrada pela ausência dele. “Não posso ficar neste jogo de nervos e ne