Não sabia há quanto tempo estava escovando Ágape, com os pensamentos próximos a qualquer coisa que estivesse além das montanhas de Giliade, pensando em tudo enquanto tentava não pensar em nada. Evangeline era péssima com essas coisas. Em ignorar acontecidos. Eles ficavam rebobinando em sua cabeça, de segundo em segundo, incansavelmente.
A conversa com Ravenna sobre casamento, o acontecimento na estalagem Craig's, a morte de seu pai, a luta com o Órganon, a Falange Mensageira, o Decreto, a discussão com sua mãe, a recente conversa estranha com George... era como se estivesse revivendo cada momento, enquanto os trovões anunciavam mais uma tempestade se aproximando do Norte, lançando avisos barulhentos que faziam o pobre Ágape se encolher de encontro
Ofrio acertou o rosto de Evangeline como se longos dedos em garras estivessem se prendendo á sua pele, multiplicando sua apreensão.Seu coração se apertou ao constar que dessa vez, teria de deixar Ágape para trás. O Corcel era seu único aliado, no entanto, não contaria com seu apoio para aquilo. Evangeline sentiu tanto por isso, que nem mesmo teve coragem de se dirigir até o estábulo pela última vez."Não vai ser a última. Céus... você não vai morrer. Vai apenas retalhar alguns medíocres".A noite estava quase tão cheia de sombras quanto seu coração.
-Uma montanha? ― a voz de Evangeline soou perplexa em meio à noite escura ― Eu menti para George, enganei minha família, e fugi de casa para pular de umamontanha??? ― ela se afastou do desfiladeiro, encarando o Conjurador com certa dose de desconfiança. — Você tem algum problema mental, não tem?Ele fez um aceno debochado com as mãos.— Ora, não exagere Srta. Travis. Está sendo dramática.O vento frio acertava seu rosto com força, chicoteando seus cabelos em todas as direções. O ar estava um tanto rarefeito, considerando a altitude na qual se encontravam no momento, e a névoa branca lá em baixo criava ondula&ccedi
PARTE IIVOZES VELADASVozes veladas,veludosasvozes,Volúpiasdos vilões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes, Dos ventos, vivas, vãs,vulcanizadas."Cruz e Souza.***A<
Ravena encarou a carta com os olhos apertados.Como podia ter sido tão tola a ponto de acreditar em Evangeline?Se havia algo em que a irmã menor era boa, era em responder com disposição a aquele chamado interno que parecia consumi-la.Ela soube, desde que olhara nos olhos de Evangeline pela primeira vez. Mesmo que naquela época, fosse jovem o bastante para não entender muitas coisas, entendia que as chamas que ardiam naquelas grandes e redondas íris verdes brilhantes, só podiam significar uma coisa: um destino obscuro e cruel. Perigo. Idiotice extrema. Burrice em alto grau. Insanidade severa.Sentimentos explosivos.E não importava quantas vezes ela tentasse impedir: Evangeline se encarregava de descartar cada uma das suas vãs tentativas com um ar de quem encararia até o próprio diabo caso ele a desafiass
“Se aturem até o Duelo de Fogo. Os Cinco que passarem, serão dignos, independentemente da situação nos Registros de Miriad. Depois disso, não importa o que vocês pretendem fazer um com o outro.” _ Arena havia dito.Evangeline havia remoído as palavras da Falange a tarde toda.Ela já sabia muito bem o que faria com o maldito Figthwide depois. Depois que vencesse o Duelo acima de todos os outros, conquistasse sua gloria, recuperasse a honra de sua família e humilhasse o filhinho de satã na frente de toda a nação Falange.Ela o enterraria.E faria o mesmo com cada Falange que ousasse tocar no nome Travis com desonra.— Eu deveria saber! — Mona a recriminava por todo o caminho de volta até a casa. — Você apenas quer vingança! Me usou para chegar at&eacut
Ravena estava cabisbaixa, encarando o chão envergonhada, depois de contar os últimos acontecimentos para sua mãe.Em frente a lareira, as chamas iluminavam o olhar sombrio da mesma, que não se desviara do fogo por nem mesmo um segundo. Estática, ela piscava em sua cadeira de balanço, que agora também parecia ter se paralisado no tempo.Seus cabelos grossos e de um vermelho intenso e escuro estavam fortemente amarrados em coque no alto da cabeça desde que Robert se fora. Era como se ela quisesse se certificar que a dor e o incomodo físico a fizessem esquecer-se da dor e o incomodo psicológico. E agora, ela tinha que vir com mais notícias, talvez ainda piores.Pela deusa.Ela gostaria de assassinar sua irmã.— Evangeline não pode voltar para Miriad. — foi a única coisa que sua mãe disse, como s
Com um grito mudo, Evangeline saiu do pesadelo como se tivesse submergido para a superfície de aguas lodosas e escuras. Aos poucos, a realidade do quarto modesto foi se distribuindo diante de seus olhos, e o suor que empapava a gola da camisola deixou de ter muita importância.Malditos sonhos sem significados. Ela odiava odiá-los.Havia encontrado um modo de conceder redenção ao nome de sua família, mas ainda não encontrara um modo de conceder redenção a sua própria alma.Que o inferno queimasse!Acordar todos os dias como se estivesse saltando do inferno estava se tornando especialmente torturante. Ela sempre sentia que não descansara o bastante. Era como entrar em coma e sair dele. Não havia o sentimento genuíno de descanso que o sono deveria proporcionar.A porta de seu quarto improvisado se abriu, e a cabeleira impecável
O enorme pedestal montado em frente ao extenso campo da Academia Elementar era formidável. Suas estruturas de metal impressionavam, mas certamente, não tanto quanto a estatueta em bronze de um punho fechado. E em frente a ele, cinco grandiosos tronos reluzentes estavam postos, onde figuras poderosas e solitárias se sentavam.Tudo naquele mundo, no seu mundo, parecia ter o propósito de ser extremamente alto, extremamente brilhante, extremamente afiado ou extremamente extremo de algum modo. Essa, foi uma das peculiaridades que Evangeline detectou assim que emergira naquele lago gelado. E tudo isto a fascinava de um modo que ela honestamente... odiava. Aquele mundo havia os cuspido para fora como feno velho, amassado e imprestável. Então, por que ela tinha que se sentir tão miseravelmente conectada com tudo aquilo?Os Últimos Filhos se cutucavam numa maré atordoant