CAPÍTULO 56 Valéria Muniz Theodoro estava me tratando muito bem, isso eu não posso negar, mas o que me causou uma forte dor no peito e uma tristeza diferente, foi o fato de eu ter criado a ilusão de que estava em uma vida dos meus sonhos, e veio uma pessoa e chacoalhou tudo, me fazendo relembrar algo que não quero viver novamente. Encostei a cabeça na cabeceira da da cama, já que tive um dia movimentado, então lembrei de ter ouvido que teria jogo hoje, me preocupei, e não deu outra, começaram os fogos de artifício e em seguida ouvi um grito que já sabia o que era, Théo teve outro surto. Sentei na cama, procurei os óculos e a bengala e segui de onde vinha o som dos gritos. — AHHHH! AVANÇAR, TROPA! — ele gritou de repente, então tive certeza que estava acontecendo alguma coisa. Levantei, contei os passos ao sair do quarto, e parada ali, me concentrei no cheiro e no som. — ELES ESTÃO SE APROXIMANDO! — ao ouvir outro grito, percebi que vinha da cozinha, eu só precisava me concentrar
CAPÍTULO 57 Carla — AHHHHH, ME SOLTA, ME DEIXE IR! — continuei gritando até que me levaram até as celas, cheia de mulheres presas num lugar só, sem ter onde ficar, todas sentadas no chão, ou agarradas nas grades. — Já chega de show! — Você vai me colocar aqui? AQUI NÃO TEM LUGAR, ESTÁ LOTADO! — UÉ? VOCÊ NÃO FOI CORAJOSA E COVARDE PARA BATER NUMA CEGA? AGORA ESTÁ COM MEDO? POIS VAI FICAR AQUI, ESPERANDO A SUA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA OU ALGUÉM PAGAR SUA FIANÇA. E, DIGO MAIS... SE COMPORTE, PORQUÊ ELAS NÃO ESTÃO DE BOM HUMOR! — o homem simplesmente me obrigou a entrar, me empurrou e eu fiquei ali... morrendo de raiva, sem olhar pra dentro da cela, mas vendo a mesma cena catastrófica do outro lado do corredor. Os minutos foram passando, e não foram poucos, acabei ficando com dores nas pernas, me virei para dentro da cela. Percebi que estavam todas me olhando e comentando, e eu a ponto de matar um. — TÁ OLHANDO O QUÊ? CRIATURA INFELIZ, TODA
CAPÍTULO 58 Theodoro Almeida Eu não sei o que teria acontecido comigo se a Val, não estivesse ali. Alguns barulhos me tiram do meu estado normal, me levam novamente para a guerra, e normalmente não consigo sair de lá com facilidade, e ela conseguiu de novo. Essa mulher tem um brilho dentro dela, é diferente de outras pessoas. Sei que ela consegue sempre me trazer de volta, não vou mais dormir separado dela... só que o que ela disse sobre fazer terapia, é considerável. Disfarcei durante a conversa, porque tenho evitado que o quartel saiba, porém entendo que preciso, tem esse tipo de tratamento lá dentro. Cuidei para que descansasse, quando voltei do banho já havia dormido, apenas a cobri e me deitei do seu lado... “Ah, Val... mesmo brava, ainda é tão linda!“ Seu cheiro suave me faz querer ficar mais perto dela, e isso me ajuda a dormir rápido... diferente de antes, que sempre precisava de uma bebida, reparei que nunca mais bebi nada com álcool pra
CAPÍTULO 59 Theodoro Almeida Quando percebi que o semblante da Val mudou tanto, segurei na sua mão, só que ela não se conteve, e nem eu quis que ficasse calada, mas sofri junto com ela, com a sua pergunta, a sua dor, também era minha... — Então... posso nunca voltar a ver? — ela perguntou com as palavras pausadas, parecia que segurava o choro, e senti meu coração apertar, não queria que ela desanimasse da sua cura. Acariciei a sua mão, será que foi tão magoada assim? Que pensa que se o problema for emocional, não alcançará a cura? “Mas e eu? Não posso ajudar nessa cura? — Calma senhora, a gente ainda precisa avaliar bem, te passar por um especialista averiguar isso, podemos fazer a cirurgia de recuperação de retina, né... realocar a retina, e com fisioterapias oculares a senhora começar a enxergar com o óculos. — Viu só, minha menina? — virei ela pra mim, tentando olhar nos seus olhos para lhe transmitir confiança, mas como? Como mostraria o meu olhar p
CAPÍTULO 60 Valéria Muniz Fiquei muito assustada, o Théo saiu e essa mulher esnobe encostou em mim, me tratando como se eu fosse uma mendiga, mas coloquei a minha melhor roupa, aquela que Théo me deu, o que está acontecendo? Meu coração disparou, ao saber que não era bem vinda, parecia que estava pressentindo. Mas quando ouvi a voz do meu tenente, e senti a sua mão na minha, foi como poder respirar novamente, aliviou um pouco, mas a mulher insistiu: — Eu me recuso a frequentar um restaurante com pessoas que se vestem dessa maneira, esse é um restaurante sofisticado, no mínimo deveria ser exigido um esporte fino! O senhor é o dono, não é? Se quiser que pessoas como “eu” e minha família continuem frequentando aqui, terá que expulsá-los! — abri a boca em espanto, não gostaria de passar por tal humilhação, estávamos tão mal vestidos, assim? Ou seria eu acima do peso, sem muita beleza? — Théo... — puxei seu braço, querendo ir embora. — Senhorita Desi
CAPÍTULO 61 Valéria Muniz “Quem me dera, se pudesse olhar pra ele, como disse que olhei”... Suspirei ao tentar imaginar como ele é, como seria olhá-lo sair para trabalhar agora, me perdi em pensamentos lembrando do seu rosto que foi tocado pela minha mão, até que dei um leve saltinho ao ouvir: — Boa tarde! Como está a recém casada mais pensativa que já conheci? — Edineia me abraçou e me deu um beijo no rosto. — Boa tarde, Edineia! Senti a sua falta. — ouvi alguns barulhos suaves e vi seu vulto pela cozinha. Ela já estava organizando as coisas, eu gostaria de poder ajudar, então comecei a verificar devagar, com as mãos. — E, eu também! Desde o casamento estou guardando as coisas que vi para te contar! Não te falei nada naquela noite, e Val... você não faz ideia de como deixou o noivo! — as suas palavras me fizeram parar de fazer qualquer coisa, eram tão entusiasmadas que cheguei a puxar uma cadeira para ouvir. — Ah é? Como seria isso? —
CAPÍTULO 62 Valéria Muniz — Rosas... — falei baixinho, agora eu reconhecia bem o cheiro — No quintal da minha casa tinha, quando a minha mãe era viva... — senti o abraço dele mais forte. — E, porque depois, não? — tirou uma mecha do meu cabelo do rosto, mas esse era um assunto difícil de lembrar. — Aaron arrancou para me bater quando descobriu sobre os custos do oftalmologista, e como castigo, não permitiu que ninguém plantasse novamente, não sei se ficaram as marcas dos espinhos nas minhas pernas, nunca consegui ver, mas sei que sangrou. — Infeliz! Como esse cara consegue ser tão babaca, assim? No mínimo ele deveria ter pago os custos, e... Val, você nunca o denunciou? Não tem leis, lá? — Ele me ameaçava o tempo todo. Foi muito difícil aprender a sair de casa, para ir na consulta eu precisei fugir dele, precisei da ajuda de várias amigas, nem sabia andar na cidade. A minha melhor amiga me ajudaria se eu quisesse denunciar, mas nesse dia ele me a
CAPÍTULO 63 Theodoro Almeida — É claro que tenho sentimentos por você, Val! Tenho um carinho diferente, você é especial. — ela tinha um sorriso um pouco tímido, puxei a cadeira para que sentasse, me sentei quase de frente pra ela. — Carinho? Tipo como de irmã? Ou como tem por Anelise? — Dá na mesma, Val... — respondi de imediato. — Na mesma? — estranhei a pergunta. — Oras, Anelise é como uma irmã, e você... — parei no mesmo instante em que percebi o que eu estava dizendo. Desde quando, Anelise se tornou uma irmã? O que estava acontecendo comigo? — Eu, sou o quê Théo? — ela esperava por uma resposta e fiquei um pouco confuso. — Você é diferente, Val... ficará chateada se eu disser que não sei explicar? — negou. — Não, se apenas for sincero, é suficiente. — Juro que estou sendo. Eu não sei se te falaram mais coisas sobre Anelise, mas saiba que hoje, vejo-a de outra forma, “você” é a minha esposa, a mulher que tenho feito plano