CAPÍTULO 72 Valéria Muniz — Por que o carro parou? — perguntei ao motorista dos Cardoso, ao perceber que demorou para continuar o trajeto. — Moço? Além de não ouvir a resposta que eu esperei, percebi que apenas a minha porta foi aberta, e já entendi que começaria tudo de novo. Alguém me puxou pelo braço, e pelo movimento mais brusco, eu sabia que não reconheceria o cheiro... não era o mesmo de antes, seu perfume era cítrico, mas também não era nenhum conhecido. — ME SOLTA! O QUE ESTÁ FAZENDO COMIGO? — comecei a me debater e a tentar me soltar, o dia já estava para escurecer mas ainda havia a luz. No terceiro movimento, o pior aconteceu... os meus óculos caíram e fiquei ainda mais no escuro, sem poder ver absolutamente nada. — ME SOLTA, ME DEIXEM VIVER EM PAZ, POR FAVOR! — com todas as forças joguei meu corpo de um lado para outro, enquanto gritava. — Se não colaborar terei que te dopar pra levar até Ezequiel! — a voz era masculina, parecia
CAPÍTULO 73 Valéria Muniz Fiquei apavorada ao tocar a roupa que a mulher me entregou. — Moça, eu não costumo usar roupas que mostrem as pernas, me arruma uma camiseta e uma calça, por favor! — ouvi a mulher gargalhar. — Você exige demais, daqui a pouco Ezequiel se enche de você! — me ajoelhei sobre a cama. — Então é possível? Se eu irritá-lo ele me deixa em paz? — Provavelmente... — ela respondeu, e de repente... — Pare de assustar a minha convidada, Luciana! — estremeci ao ouvir uma voz masculina atrás de mim, apertando a roupa sobre o meu corpo. — Ezequiel... veio mais cedo? — a moça que estava comigo perguntou, e fiquei em alerta, “o velho havia chegado!“ — Nos dê licença, Luciana! Quero conversar com a fujona. — engoli seco, sem conseguir ver uma fresta de luz, que dirá o rosto do velho que havia me sequestrado. — Sim, senhor! — disse a moça, que agora sei que se chama Luciana. Estranhei que a voz que falava comigo não parecia
CAPÍTULO 74 Valéria Muniz Peguei a maior roupa que encontrei naquele closet e aceitei a ajuda da Luciana... tenho fé que esse homem irá me ouvir e me deixar voltar para meu tenente. Quando a porta abriu, eu tive medo, mas não me deixei abater. Ouvi os passos de Ezequiel vindo em minha direção, e permaneci imóvel. — Você é linda, Valéria! Essa roupa caiu muito bem em você. — passei as mãos pelo tecido, tentando imaginar como seria — Segure no meu braço para que eu possa direcioná-la até o local que mandei preparar — fiquei com muita vergonha, e neguei a segurar no braço de outro homem que não fosse o Théo — Como vai saber o caminho até o banquete que preparei, se não segurar em mim? — mesmo estando encabulada, acabei cedendo. Sem graça, segurei levemente naquele homem de caráter duvidoso, agora tendo certeza que ele não é nenhum velho, tem o braço bem firme, parece alto como o Theodoro. Ele colocou a sua mão sobre a minha, mas tirei, então não colo
CAPÍTULO 75 Theodoro Almeida No avião da família do Vicente, eu estava inquieto. O tempo parecia não passar, e a minha cabeça estava dando voltas, tentando imaginar a cada segundo, como a Valéria estava. — Calma, Theodoro. Estamos levando a equipe de seguranças. — Vicente tentou me fazer se acalmar. — Acontece que agora estaremos sob território deles. As leis são diferentes, as regras que conhecemos não existe! Se procurarmos pela polícia, corremos os riscos de estarem por trás disso. Cairemos em uma emboscada, e daí não teremos outra chance de encontrar a Valéria. — passei a mão na cabeça. — E, a família dela? — indagou. — Não são confiáveis..., mas será a primeira opção. Pelo que a Valéria já me contou sobre o lugar, penso que sei onde é... — Como sabe? Já esteve lá? — É o bairro mais próximo de onde me refugiei após a guerra, não deve ser difícil de encontrar. — imagens de destruição me vieram à mente, mas logo balancei a cabeça e d
CAPÍTULO 76 Theodoro Almeida “De onde conheço esse rosto?“ — fiquei pensando, até que ouvi: — Quem é você? — a moça perguntou novamente e era estranho... me lembro do seu rosto, mas da sua voz não... (...) Dois anos antes: lembranças... (Dia em que as tropas encontraram Theodoro) — Soldado, precisamos partir! Aqui não tem o tratamento médico que você precisa, e seus olhos precisam de avaliação médica especializada. — ouvi o tenente das forças armadas me dizendo outra vez. — É que tem uma moça... — passei as mãos no rosto, tentando tirar os tampões que ela colocou — Tem uma moça, ela vem todos os dias, é quem tem me alimentado, me aquecido, me feito companhia... não posso ir sem avisá-la. — arranquei aquilo dos olhos, procurando por ela, mas só haviam homens, ali. — Soldado, provavelmente foi alguma alucinação. Quando nosso corpo está em perigo, às vezes a nossa mente nos distrai para que possamos aguentar! — o sargento me lembrou, mas neguei. — Não, ela veio, este
CAPÍTULO 77 Valéria Muniz — Eu não posso ficar, moço... se você é bom como diz, se o verdadeiro Ezequiel não existe mais, me deixe ir! — senti a sua mão se aproximando da minha, chegou encostar, mas tirei da mesa. — O meu coração tem dono, moço. — Entendo... foi uma pena termos nos conhecido só agora, mas não tem problema. Apenas fique tranquila e coma bem. Você não consegue ver, mas tem muita coisa gostosa aqui. O meu coração estava inquieto, e por mais que ele tivesse razão e a comida estivesse maravilhosa, eu não conseguia não pensar no meu tenente nem por um segundo. “Meu Deus, será que ele não teve alguma crise?“ “Como Theodoro vai me encontrar? Devo estar muito longe de casa.“ — Me conte sobre você, Valéria... — O que deseja saber? — Quem é você? Do que gosta? O que sonha? — fiquei incomodada com as perguntas, quem me garante que esse homem é mesmo bom? — Não tenha medo, só estamos conversando. “Bom, contar a ele não me fa
CAPÍTULO 78 Valéria Muniz Luciana veio organizar as coisas, e me mostrar como me locomover. — Luciana... é muito difícil fugir daqui? Como é o lugar? — Na verdade, é todo aberto. Ninguém vai te impedir se quiser ir, mas te aconselho a esperar. Ezequiel é um homem bom, deve estar preparando um lugar legal para você ir, ou algo do tipo. Não tenha pressa. — Eu só quero voltar pra casa... — Bom, se quiser ir embora, os portões estão abertos, mas nesse horário, cega e sozinha? Acho melhor esperar que ele te ajude. — Você tem razão. — me deitei na cama, fiquei quietinha, lembrando como é gelado dormir sozinha. Ouvi quando Luciana saiu, mas eu não tinha sono, fiquei me virando na cama a noite toda, até que fui vencida pelo cansaço e acabei pegando no sono. . Ao levantar pela manhã, fiz a minha higiene e percebi que a porta do quarto abriu. Depois de pensar muito, estava disposta a convencer Ezequiel de que ele deveria me levar pra
CAPÍTULO 79 Theodoro Almeida — Será que o endereço seria tão óbvio assim? — comentei com o Vicente ao nos aproximarmos do local. — Não sei, mas precisamos de um ponto de partida. — Talvez precisemos utilizar a arma, então deixe isso comigo, você pode se complicar. — o avisei. — Não tenho medo, fique tranquilo! — Os carros que alugamos pararam, eu e Vicente descemos, era um lugar com muros altos, olhando de fora parecia uma fábrica. — É melhor apertarmos o interfone e nos informar, ao invés de invadir. O local pode nem ser do velho. — comentei, Vicente assentiu. — Tem razão. — nos aproximamos e esperamos atendimento, até que um homem apareceu, na guarita. — O que querem? — Estamos à procura de: Valéria Muniz, a minha esposa! — falei encarando o homem. — Aqui, ela não está! Não recebi ninguém com esse nome. — olhei para o Vicente, a minha paciência havia acabado. — Olha só, cara... eu estou perguntando com educação, mas vocês me