Para todos aqueles que amei, me perdoem!Mãe, pai, irmãos, avós, futuros sobrinhos... Eu amo vocês. Jamais se esqueçam disso.Pensei em deixar essa mensagem no Facebook, mas não sabia se teria menso coragem de fazer isso. Já imaginaram? Vocês vê isso tudo lá, e depois? Como iria me explicar? Logo eu, que sempre fui "pé no chão".Liza, você lembra do dia que eu fiquei nervosa sobre o aumento dos boletos? Tu foi lavar louça e eu entrei para dentro do quarto, você me perguntou se eu resolvi sobre eles e eu disse que tinha que esperar... Eu sempre achei melhor esperar. Mas não é sobre isso que eu quero falar, eu só lembrei disso porque foi nessa hora que eu peguei papel, caneta, coloquei Maria Gadu no notebook, com a música "oração do tempo" e vim escrever esse monte de palavras que vocês nem vão entender.Só quero que vocês saibam que não foi culpa de ninguém, foi eu que não nasci para nada, sabe? Não tenho amigos, trabalho, não consigo me encaixar em nenhuma situação, amo os meus livros
Dez anos depois.Querida eu do passado! Que surpresa, não é? Quando que você imaginou que eu estaria aqui? Confesso que senti muito medo quando li sua última carta, medo do que você iria fazer, da sua triste decisão. Mas, que bom que tudo ocorreu de modo diferente, que bom que você não apagou o nosso, mesmo que fraco, brilho. Querida eu do passado, é até engraçado estar escrevendo para você, mas tem tanta coisa que eu preciso te contar, parabenizar, principalmente. Você lutou tanto, por mim, e hoje eu estou aqui, viva. Viva. E só para que você saiba, essas quatro palavras são verdadeiras, eu estou viva de verdade. Querida eu, depois daquele dia que encontramos o Davi, nós duas nos encontramos também, passado, presente e futuro, e foi tão, tão bom. Foi bom porque nos entendemos, sofremos, nos confundimos e por mais difícil que foi, nós três, juntas, tomamos uma decisão. A decisão de tentar de novo. Mas, querida eu, você não tem ideia do quanto foi difícil. Não faz ideia
Ela era uma criança igual a cem mil outras crianças, brincava, sorria, criava histórias, menina aventureira e muito curiosa. Igual a todas as outras pessoas de sua idade, exceto, por não se sentir como se pertencesse de fato a tudo aquilo.— Venha Kate, vamos brincar. — Luiza, a coleguinha de infância a chama.— Vamos. — ela atende prontamente.As meninas brincam do (trisca), pique-esconde, cola, e várias outras brincadeiras infantis. Em um dado momento a garotinha parou e ficou em pé, encostada na parede de sua sala vendo os outros coleguinhas brincando para lá e para cá, a menina estava tão distraída que nem viu que um garoto mais velho havia se aproximado dela.— Ei, menina do olhão. — fala tentando provocar. Kate, que nem mesmo assustada abaixa a guarda, arregala os olhos ainda mais para ele, na intenção de mostrar que s
Kate, com lágrimas nos olhos levanta a saia, e tentando ignorar todos os comentários ofensivos abaixa a cabeça e ruma para sua casa. Mas antes ela sente um par de olhos lhe observando, quando ela olha vê Liza a encarando com um olhar culpado e um pouco envergonhado.No Caminha para casa, Kate reflete sobre tudo o que aconteceu. Ela não consegue entender o porquê de sua irmã não a ter defendido, ela é sua irmã mais nova, por mais que Liza tivesse aquele jeito grosso com ela em casa, Kate continuava sendo sua irmã, e como tal, não merecia a proteção dela?— Kate, já chegou? — sua mãe pergunta ao perceber que alguém adentrou pela porta.— Sim, mãe. — a menina responde ainda chateada.— Vem aqui me ajudar com Bernardo enquanto eu termino o almoço. — Amália pede já agoniada por o almoço estar atrasado e o seu filho mais novo estava muito traquino naquele dia.— Vem Ber. — A menina chama sem ânimo, Bernardo olha para ela e sai correndo em sua direção. Kate ob
Seis anos depois.Amália nunca estivera mais errada. Os sonhos ruins nunca são apenas sonhos ruins, eles são coisas ruins, situações ruins, avisos ruins.Hoje faz seis anos que Kate foi tocada pela primeira vez de maneira insolente, faz também seis anos que sua mãe lhe disse que sonhos ruins são apenas sonhos ruins. Mas o dela se tornou pesadelo real, João continuou a tocar.Naquela segunda tarde ele colocou a mão em sua pele abaixo de sua calcinha, na tarde seguinte ele separou seus lábios vaginais com um maldito dedo, na próxima tarde ele enfiou o dedo, e assim continuou. Sempre que terminava ele pedia para a menina não contar para ninguém, e depois dava lhe um doce, assitia um filme, dava um presente, qualquer coisa que lhe agradasse e que viesse a ser usado para mudar o rumo das conversas com a mãe. Como a menina chegava animada com algo, Amália não desconfiava de nada, e
A vida é mesmo uma incógnita, coloca no mundo quem não quer ser colocado e tira quem não quer ser tirado. Kate esperou por mais de uma hora para ver o efeito dos remédios e finalmente encontrar a paz, mas desistiu ao ver que possivelmente a potência dos medicamentos eram fracas e o seu objetivo não fora alcançado. Desanimada, ela percebe que a vida lhe deu outra oportunidade. Ou um grande chute na bunda. A menina se despede dos peixinhos e do rio, e faz sua volta em silêncio para casa. Ela não percebe, mas ao se virar e seguir seu curso, as águas sempre calmas formam pequenas ondas, e os peixes pulam mais felizes, como se todos tivessem parado para vê o resultado da besteira que aquela ingênua menina esteve prestes a fazer.— Kate, meu amor. Venha aqui por favor! — ao adentrar a casa ela se surpreende com sua mãe lhe chamando.— Sim, mãe? — fala desanimada.— Kate. — Amália diz limpando uma lágrima dos olhos. — a minha querida, me d
Kate pegou seus livros do chão rapidamente e desceu correndo para sua casa, Davi ficou a olhando arrependido, pensou em ir atrás dela, mas resolveu, por fim, ir para sua casa. O garoto se sentia um idiota, e de fato ele era.— Kate, aconteceu alguma coisa? — João pergunta ao ver a menina chegando nervosa.— O quê? — ela se assusta ao ver que o homem estava na casa. Kate, com tudo o que aconteceu acabou se esquecendo que ele estaria em sua casa fazendo almoço.— Por que você está tão nervosa? — João a questiona preocupado.— Não foi nada. — ela fala tomando um copo de água.— Pequena, o que aconteceu? — ele insiste.— Já disse que não foi nada. — fala se afastando de seu toque e indo em direção ao seu quarto.— Kate, volte já aqui e me fale o que aconteceu. — João fala a pegando pelo braço.— Me solta, eu já disse que não foi nada. — ela responde se
Um mês se passou e eles não tiveram notícias de Amália, Adolfo preocupado com a falta de atenção da esposa fez algumas ligações para parentes próximos dela, mas ao ser ignorado por uns e enrolado por outros, acabou desistindo de procurá-la. Bernardo estava cada vez mais calado, ele não brincava como de costume, desligava o rádio que tinha em cima do armário quando a irmã ligava e não se comunicava direito mais com ela. Adolfo trabalhava muito para dar conta da casa e de pagar a faculdade de Liza e Maurício, esses dois ligavam sempre para saber como tudo estava indo, dava palavras de forças para o pai e falavam que a mãe um dia voltaria. Adolfo não acreditava nisso, mas ficava quieto para os caçulas não sofrerem mais do que já estavam sofrendo. Tudo estava muito complicado, ele sabia que o casamento não estava indo bem, mas n&