Querida eu do futuro, hoje foi um dia, apenas um dia, nada demais, nada de menos, sabe quando nada acontece? Pois é, estou nesse momento deitada na minha cama, olhando para as paredes brancas do meu quarto, imaginando nada. Puff. Você deve ficar de saco cheio quando ler essa carta que fiz para você, mas, o que devo fazer? Hoje eu não sinto absolutamente nada, apenas esse vazio imbecil que insiste em andar comigo, bom, pelo menos ele nunca me abandonou. Você já deve ter entendido que eu sou demasiadamente melancólica, mas, querida eu, o que eu devo fazer? Não tenho amigos para sair, e nem gosto de sair, na verdade, eu gosto, mas os lugares que eu gosto as pessoas que eu conheço não gostam. As meninas da faculdade sempre falam em baladas, clubes, bares, eu não gosto desses locais, uma vez eu até fui em uma balada, mas mal cheguei e já quis voltar para casa, um lugar lotado, música muito alta, não que eu não gosto de música, porque eu amo ouvir um bom som, mas não naquele ambiente com um
Querida eu do futuro, hoje o meu coração amanheceu chorando, e eu não entendo o porque, acho que por tudo, acho que por nada, não dá para saber ao certo, não dá para ter certeza, ele já sofreu tanto, sentiu tanto, como ter certeza? Só sei que ele está pequenininho, mas pequeno do que poderia ser possível, anatomicamente falando. Sinto o meu peito arder, ao mesmo tempo em que minha caixa torácica retumba tão violentamente que sinto que meu coração vai sair pela boca, engulo em seco em uma tentativa de fazê-lo voltar novamente. Sono? Não sei o que é isso, a minha mente não me deixa dormir, e quando durmo, bom, acordo assutada, as noites costumam serem o meu horror, quando a escuridão aparece, e todos vão dormir e eu fico terrivelmente só, eu me sinto feliz, pois posso deixar minha máscara de garota forte cair, em contrapartida, também me sinto imensamente escura, tanto quanto a noite. Querida eu, eu fui quebrada demais, e por mais que tente, eu não consigo ser melhor, não consigo parar
Kate entra em casa aos tropeços, sente seu coração cada vez mais acelerado, um formigamento nas mãos, suor escorre pelo seu pescoço, a sensação é de morte, o medo lhe trava as pernas, e um desespero lhe corrói ao sentir o gosto salgado das lágrimas. Ela sempre fora capaz de controlar suas crises, mas agora, sozinha no apartamento que divide com os irmãos, com tanta coisa gritando em sua mente, ela mal consegue controlar a si mesma antes de se estatelar no chão.Kate sente seu corpo se escorregando na parede, e segundos depois sente a frieza do piso encontrar a sua pele. O medo ainda está muito persistente, o coração não para de galopar em seu peito, um cansaço suplicante se apodera de seu corpo, e, deitada no chão daquele vazio apartamento, se sente como uma criança implorando para que a mãe venha lhe salvar.Mas Kate não é uma criança.E ninguém virá lhe salvar.A constatação do pensamento lhe corrói as entranhas, aquela dor parece triplicar, e no fundo do seu ser, ela começa a acred
Querida eu, pensei muito antes de vir aqui te escrever mais uma vez, dado que sei que você não lerá essa carta, porém, estou precisando desabafar, não coloquei o "futura" acho que o motivo é óbvio. Confesso que gostaria de saber qual seria a sua reação ao ler essa e as anteriores, mas acredito que você estaria tão quebrada que nem mesmo iria se dar ao trabalho de relembrar todas essas frustrações. Não é novidade vir lhe falar que estou me sentindo vazia. Mas agora é diferente, o meu vazio não é apenas aquele do qual eu sentia, agora é muito pior, cruel até, querida eu, é muito triste quando alguém se decide por colocar fim a própria vida, acho que ninguém deveria fazer isso, ainda mais quando se é tão jovem. Era para eu ter muitos sonhos pela frente a serem conquistados, muitos abraços, muitas gargalhadas, muitos tudos. Mas, querida eu, nem tudo na vida sai como deveria ser, e a gente sabe muito bem disso. Eu queria tanto não fazer isso, queria tanto esquecer o meu passado, superar, s
Para todos aqueles que amei, me perdoem!Mãe, pai, irmãos, avós, futuros sobrinhos... Eu amo vocês. Jamais se esqueçam disso.Pensei em deixar essa mensagem no Facebook, mas não sabia se teria menso coragem de fazer isso. Já imaginaram? Vocês vê isso tudo lá, e depois? Como iria me explicar? Logo eu, que sempre fui "pé no chão".Liza, você lembra do dia que eu fiquei nervosa sobre o aumento dos boletos? Tu foi lavar louça e eu entrei para dentro do quarto, você me perguntou se eu resolvi sobre eles e eu disse que tinha que esperar... Eu sempre achei melhor esperar. Mas não é sobre isso que eu quero falar, eu só lembrei disso porque foi nessa hora que eu peguei papel, caneta, coloquei Maria Gadu no notebook, com a música "oração do tempo" e vim escrever esse monte de palavras que vocês nem vão entender.Só quero que vocês saibam que não foi culpa de ninguém, foi eu que não nasci para nada, sabe? Não tenho amigos, trabalho, não consigo me encaixar em nenhuma situação, amo os meus livros
Dez anos depois.Querida eu do passado! Que surpresa, não é? Quando que você imaginou que eu estaria aqui? Confesso que senti muito medo quando li sua última carta, medo do que você iria fazer, da sua triste decisão. Mas, que bom que tudo ocorreu de modo diferente, que bom que você não apagou o nosso, mesmo que fraco, brilho. Querida eu do passado, é até engraçado estar escrevendo para você, mas tem tanta coisa que eu preciso te contar, parabenizar, principalmente. Você lutou tanto, por mim, e hoje eu estou aqui, viva. Viva. E só para que você saiba, essas quatro palavras são verdadeiras, eu estou viva de verdade. Querida eu, depois daquele dia que encontramos o Davi, nós duas nos encontramos também, passado, presente e futuro, e foi tão, tão bom. Foi bom porque nos entendemos, sofremos, nos confundimos e por mais difícil que foi, nós três, juntas, tomamos uma decisão. A decisão de tentar de novo. Mas, querida eu, você não tem ideia do quanto foi difícil. Não faz ideia
Ela era uma criança igual a cem mil outras crianças, brincava, sorria, criava histórias, menina aventureira e muito curiosa. Igual a todas as outras pessoas de sua idade, exceto, por não se sentir como se pertencesse de fato a tudo aquilo.— Venha Kate, vamos brincar. — Luiza, a coleguinha de infância a chama.— Vamos. — ela atende prontamente.As meninas brincam do (trisca), pique-esconde, cola, e várias outras brincadeiras infantis. Em um dado momento a garotinha parou e ficou em pé, encostada na parede de sua sala vendo os outros coleguinhas brincando para lá e para cá, a menina estava tão distraída que nem viu que um garoto mais velho havia se aproximado dela.— Ei, menina do olhão. — fala tentando provocar. Kate, que nem mesmo assustada abaixa a guarda, arregala os olhos ainda mais para ele, na intenção de mostrar que s
Kate, com lágrimas nos olhos levanta a saia, e tentando ignorar todos os comentários ofensivos abaixa a cabeça e ruma para sua casa. Mas antes ela sente um par de olhos lhe observando, quando ela olha vê Liza a encarando com um olhar culpado e um pouco envergonhado.No Caminha para casa, Kate reflete sobre tudo o que aconteceu. Ela não consegue entender o porquê de sua irmã não a ter defendido, ela é sua irmã mais nova, por mais que Liza tivesse aquele jeito grosso com ela em casa, Kate continuava sendo sua irmã, e como tal, não merecia a proteção dela?— Kate, já chegou? — sua mãe pergunta ao perceber que alguém adentrou pela porta.— Sim, mãe. — a menina responde ainda chateada.— Vem aqui me ajudar com Bernardo enquanto eu termino o almoço. — Amália pede já agoniada por o almoço estar atrasado e o seu filho mais novo estava muito traquino naquele dia.— Vem Ber. — A menina chama sem ânimo, Bernardo olha para ela e sai correndo em sua direção. Kate ob