Zane Quimby - Alpha A vela tremeluzia sobre a mesa de madeira, projetando sombras dançantes nos manuscritos que eu havia espalhado por toda parte. O nome de Elaris aparecia mais vezes do que eu esperava, e o que mais me surpreendia era o fato de que Davian, com toda a sua habitual cautela, tinha se mostrado obcecado por esse reino e, principalmente, por essa garota em específica. Elaris... Elaris era um nome que, de alguma forma, ecoava nos cantos escuros da história daquele reino, mas os detalhes eram vagos, envoltos em mitos e suposições. Eu não entendia o que Davian via nela, o que o fazia ficar tão envolvido a ponto de ignorar os perigos claros que cercavam aquele nome.Suspirei, me inclinando sobre os pergaminhos. Havia referências a uma profecia, algo que envolvia uma figura feminina, uma ameaça que aquele reino queria apagar a todo custo. Mas os registros eram incompletos, rasgados, como se alguém tivesse deliberadamente removido partes da história. Eu estava começando a sent
Elaris StinsEu devia fazer alguma coisa. Dizer alguma coisa. Qualquer coisa.Mas tudo que consegui fazer foi ficar ali, parada, encarando Davian como se estivesse congelada no tempo.Ele também não se mexia. Só me olhava, com aquele rosto que nunca parece tão confiante quanto ele tenta fingir. Por um momento, pensei em dizer algo idiota, tipo "você vai ficar aí pra sempre?" ou "quer que eu te empurre?", mas as palavras simplesmente não saíram.E, pra ser honesta, talvez uma parte de mim não quisesse que ele saísse de cima de mim.Eu me sentia vermelha, em chamas. — Elaris… — a voz dele saiu baixa, meio hesitante, como se ele tivesse medo de continuar.Eu senti meu coração dar um salto, mas consegui balançar a cabeça e cortar o que quer que fosse aquele momento estranho.— Davian, levanta. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas talvez fosse porque eu estava tentando convencer a mim mesma também.Ele piscou algumas vezes, como se tivesse voltado à realidade, e finalmente
Davian DeaneEu li aquelas palavras mais uma vez. E depois outra. E outra.Mesmo assim, minha cabeça não conseguia aceitar o que estava ali, preto no branco. Era como se cada linha que Zane tinha me mostrado fosse mais absurda que a anterior.— Isso não pode estar certo… — murmurei, passando a mão pelos cabelos, que já estavam completamente bagunçados. — Não pode.— Certo ou não, tá aí. — Zane cruzou os braços, encostado na cadeira com aquela expressão cansada, mas séria. — E acredite, Davian, eu chequei as fontes.Olhei pra ele, ainda incrédulo.— Elaris não merece isso. — Minha voz saiu mais rouca do que eu queria, e a raiva que estava subindo no meu peito não ajudava em nada. — Tudo isso… essa profecia, essa história de castigo… não tem nada a ver com ela.Zane suspirou, balançando a cabeça.— Eu sei que não parece justo, mas é assim que funciona, Davian.— Funciona? — Minha risada saiu amarga, quase um rosnado. — Funciona pra quem? Pra quem tá no topo, talvez. Pra quem acha que po
Astris Tudo estava perfeito.Minha vida, meu reino, meu futuro… cada pedaço estava exatamente onde deveria estar. Depois de tudo que suportei, de tudo que fiz para chegar até aqui, finalmente havia ordem.Ou, pelo menos, eu pensei que havia.Foi quando a porta do meu quarto se abriu com um estrondo.— Minha senhora! — o mensageiro disse, dobrando os joelhos em uma reverência apressada. — Trago notícias urgentes.Eu suspirei, irritada, deixando o cálice de vinho de lado. Não podia nem aproveitar minha paz por uma tarde?— Que tipo de notícias urgentes? — perguntei, com a voz afiada. — Que justificam invadir meus aposentos desse jeito?O homem levantou a cabeça, os olhos baixos e começou a falar rápido demais, como se quisesse acabar com aquilo o mais rápido possível.— É sobre a alcateia que acolheu a sua irmã. Eles… descobriram coisas.Minhas sobrancelhas se ergueram e a irritação que estava começando a diminuir voltou a ferver.— Que tipo de coisas? — perguntei, me levantando lentam
Elaris Stins.Eu acordei com a luz da manhã entrando pelas frestas da janela. Por um momento, fiquei ali, deitada, tentando me lembrar do sonho que tive. Tudo que restava era uma sensação de calor e segurança, algo raro nos últimos tempos.Espreguicei-me lentamente e saí da cama, o chão de madeira rangendo sob meus pés. Conforme desci as escadas, o som da vida cotidiana começava a se fazer presente: pássaros cantando lá fora, o vento suave balançando as árvores… e o silêncio estranho vindo da cozinha.Quando entrei no cômodo, parei no batente da porta.Davian estava lá, encostado na bancada, encarando o nada. Seus braços cruzados e a expressão no rosto dele eram… diferentes. Ele parecia perdido em pensamentos, algo que não era exatamente incomum, mas, naquele momento, havia algo mais.— Está tudo bem? — perguntei, minha voz cortando o silêncio.Ele se virou tão rápido que quase derrubou a caneca na bancada.— Elaris! — Ele deu um passo para trás, claramente surpreso.Eu franzi a testa
Elena Winsly Quimby Acordei no meio da noite com uma sensação estranha, como se alguém estivesse sussurrando no fundo da minha mente.“Elaris está em perigo.”A voz era suave, mas carregada de uma autoridade que não podia ser ignorada. Ela era, ao mesmo tempo, uma ordem e um aviso, como um trovão sussurrado diretamente na minha alma e eu reconhecia bem aquela voz.Me sentei na cama, os olhos arregalados.— Quem está aí? — perguntei, minha voz rouca no silêncio do quarto.Mas eu já sabia quem era.Antes que eu pudesse questionar mais alguma coisa, meu corpo começou a se mover sozinho. Era como se minhas pernas tivessem ganhado vida própria, guiadas por uma força maior. Os cabelos soltos caíam pelas minhas costas, brilhando com uma luz prateada que eu não conseguia entender. Meus olhos ardiam, mas não de um jeito doloroso. Era como se estivessem iluminados por dentro, refletindo o brilho da lua.Não lutei contra aquilo. Não havia por que lutar.Quando saí de casa, o mundo ao meu redor
Elena Winsly Quimby Quando a luz finalmente desapareceu dos meus olhos, meu corpo ficou tão leve que parecia prestes a desmoronar.A sensação de ser tomada pela presença da deusa era algo impossível de descrever. Era como ser puxada por uma correnteza de energia pura, incapaz de resistir, enquanto cada parte de mim deixava de ser minha.E agora, com a força dela indo embora, o vazio que ficou era quase insuportável.Minhas pernas fraquejaram e, antes que eu pudesse ir ao chão, senti braços firmes me segurarem.— Ei, cuidado! — a voz de Davian cortou o silêncio.Eu me apoiei nele sem resistência, minha respiração pesada enquanto tentava encontrar algum equilíbrio.— Obrigada por não me deixar cair de cara no chão — murmurei, tentando dar um tom leve à situação.— Não precisa agradecer — ele respondeu, com aquele tom prático de sempre. — Só fiz o mínimo.Antes que eu pudesse protestar, ele me guiou até uma cadeira próxima e me ajudou a sentar.Ao encostar minhas costas na cadeira, puxe
Davian Deane O cheiro suave do chá preenchia a cozinha enquanto eu mexia a colher na chaleira, o som tranquilo da água borbulhando quebrando o silêncio pesado que pairava no ar.Elena e Elaris conversavam baixinho perto da mesa, mas eu não estava realmente prestando atenção ao que diziam.Minha atenção estava toda nela.Elaris.Ela estava sentada com os ombros levemente curvados, os dedos inquietos brincando com a borda da caneca vazia à sua frente. Seu rosto, normalmente tão firme e decidido, estava marcado por uma expressão que eu não sabia se era confusão, tristeza ou pura exaustão. Talvez fosse um pouco de tudo.E, sinceramente? Não era difícil entender o porquê.Aquela garota tinha acabado de ouvir da própria deusa que sua família não apenas mentiu, mas também carregava um dos maiores crimes possíveis nas costas e que, por alguma razão cósmica, agora ela estava no centro de toda essa bagunça.Eu senti um aperto no peito só de pensar nisso.— Você está queimando o chá, Davian — a