Davian DeaneEu li aquelas palavras mais uma vez. E depois outra. E outra.Mesmo assim, minha cabeça não conseguia aceitar o que estava ali, preto no branco. Era como se cada linha que Zane tinha me mostrado fosse mais absurda que a anterior.— Isso não pode estar certo… — murmurei, passando a mão pelos cabelos, que já estavam completamente bagunçados. — Não pode.— Certo ou não, tá aí. — Zane cruzou os braços, encostado na cadeira com aquela expressão cansada, mas séria. — E acredite, Davian, eu chequei as fontes.Olhei pra ele, ainda incrédulo.— Elaris não merece isso. — Minha voz saiu mais rouca do que eu queria, e a raiva que estava subindo no meu peito não ajudava em nada. — Tudo isso… essa profecia, essa história de castigo… não tem nada a ver com ela.Zane suspirou, balançando a cabeça.— Eu sei que não parece justo, mas é assim que funciona, Davian.— Funciona? — Minha risada saiu amarga, quase um rosnado. — Funciona pra quem? Pra quem tá no topo, talvez. Pra quem acha que po
Astris Tudo estava perfeito.Minha vida, meu reino, meu futuro… cada pedaço estava exatamente onde deveria estar. Depois de tudo que suportei, de tudo que fiz para chegar até aqui, finalmente havia ordem.Ou, pelo menos, eu pensei que havia.Foi quando a porta do meu quarto se abriu com um estrondo.— Minha senhora! — o mensageiro disse, dobrando os joelhos em uma reverência apressada. — Trago notícias urgentes.Eu suspirei, irritada, deixando o cálice de vinho de lado. Não podia nem aproveitar minha paz por uma tarde?— Que tipo de notícias urgentes? — perguntei, com a voz afiada. — Que justificam invadir meus aposentos desse jeito?O homem levantou a cabeça, os olhos baixos e começou a falar rápido demais, como se quisesse acabar com aquilo o mais rápido possível.— É sobre a alcateia que acolheu a sua irmã. Eles… descobriram coisas.Minhas sobrancelhas se ergueram e a irritação que estava começando a diminuir voltou a ferver.— Que tipo de coisas? — perguntei, me levantando lentam
Elaris Stins.Eu acordei com a luz da manhã entrando pelas frestas da janela. Por um momento, fiquei ali, deitada, tentando me lembrar do sonho que tive. Tudo que restava era uma sensação de calor e segurança, algo raro nos últimos tempos.Espreguicei-me lentamente e saí da cama, o chão de madeira rangendo sob meus pés. Conforme desci as escadas, o som da vida cotidiana começava a se fazer presente: pássaros cantando lá fora, o vento suave balançando as árvores… e o silêncio estranho vindo da cozinha.Quando entrei no cômodo, parei no batente da porta.Davian estava lá, encostado na bancada, encarando o nada. Seus braços cruzados e a expressão no rosto dele eram… diferentes. Ele parecia perdido em pensamentos, algo que não era exatamente incomum, mas, naquele momento, havia algo mais.— Está tudo bem? — perguntei, minha voz cortando o silêncio.Ele se virou tão rápido que quase derrubou a caneca na bancada.— Elaris! — Ele deu um passo para trás, claramente surpreso.Eu franzi a testa
Elena Winsly Quimby Acordei no meio da noite com uma sensação estranha, como se alguém estivesse sussurrando no fundo da minha mente.“Elaris está em perigo.”A voz era suave, mas carregada de uma autoridade que não podia ser ignorada. Ela era, ao mesmo tempo, uma ordem e um aviso, como um trovão sussurrado diretamente na minha alma e eu reconhecia bem aquela voz.Me sentei na cama, os olhos arregalados.— Quem está aí? — perguntei, minha voz rouca no silêncio do quarto.Mas eu já sabia quem era.Antes que eu pudesse questionar mais alguma coisa, meu corpo começou a se mover sozinho. Era como se minhas pernas tivessem ganhado vida própria, guiadas por uma força maior. Os cabelos soltos caíam pelas minhas costas, brilhando com uma luz prateada que eu não conseguia entender. Meus olhos ardiam, mas não de um jeito doloroso. Era como se estivessem iluminados por dentro, refletindo o brilho da lua.Não lutei contra aquilo. Não havia por que lutar.Quando saí de casa, o mundo ao meu redor
Elena Winsly Quimby Quando a luz finalmente desapareceu dos meus olhos, meu corpo ficou tão leve que parecia prestes a desmoronar.A sensação de ser tomada pela presença da deusa era algo impossível de descrever. Era como ser puxada por uma correnteza de energia pura, incapaz de resistir, enquanto cada parte de mim deixava de ser minha.E agora, com a força dela indo embora, o vazio que ficou era quase insuportável.Minhas pernas fraquejaram e, antes que eu pudesse ir ao chão, senti braços firmes me segurarem.— Ei, cuidado! — a voz de Davian cortou o silêncio.Eu me apoiei nele sem resistência, minha respiração pesada enquanto tentava encontrar algum equilíbrio.— Obrigada por não me deixar cair de cara no chão — murmurei, tentando dar um tom leve à situação.— Não precisa agradecer — ele respondeu, com aquele tom prático de sempre. — Só fiz o mínimo.Antes que eu pudesse protestar, ele me guiou até uma cadeira próxima e me ajudou a sentar.Ao encostar minhas costas na cadeira, puxe
Davian Deane O cheiro suave do chá preenchia a cozinha enquanto eu mexia a colher na chaleira, o som tranquilo da água borbulhando quebrando o silêncio pesado que pairava no ar.Elena e Elaris conversavam baixinho perto da mesa, mas eu não estava realmente prestando atenção ao que diziam.Minha atenção estava toda nela.Elaris.Ela estava sentada com os ombros levemente curvados, os dedos inquietos brincando com a borda da caneca vazia à sua frente. Seu rosto, normalmente tão firme e decidido, estava marcado por uma expressão que eu não sabia se era confusão, tristeza ou pura exaustão. Talvez fosse um pouco de tudo.E, sinceramente? Não era difícil entender o porquê.Aquela garota tinha acabado de ouvir da própria deusa que sua família não apenas mentiu, mas também carregava um dos maiores crimes possíveis nas costas e que, por alguma razão cósmica, agora ela estava no centro de toda essa bagunça.Eu senti um aperto no peito só de pensar nisso.— Você está queimando o chá, Davian — a
Elena Winsly QuimbyA noite estava fria, o ar úmido tocando minha pele enquanto eu caminhava pela trilha que levava de volta para casa.Depois de tudo que aconteceu na casa de Davian, minha cabeça ainda estava girando, tentando processar as palavras da deusa e o peso que ela havia colocado sobre Elaris.Mas antes que eu pudesse me perder completamente nesses pensamentos, um vulto familiar surgiu no caminho à minha frente.— Elena!Antes que eu dissesse qualquer coisa, Zane já tinha cruzado a distância entre nós e me puxado para um abraço apertado, segurando meu corpo firme contra o dele.— Por mais que a deusa tenha me avisado… — a voz dele saiu baixa e aliviada ao lado do meu ouvido. — Eu ainda fiquei preocupado quando não te vi na cama.Eu ri suavemente, sentindo o calor familiar do abraço dele me envolver.— Você é fofo quando se preocupa, sabia?Ele bufou, mas não se afastou imediatamente.— Não espalha, tá? Tenho uma reputação para manter.— Segredo nosso.Nosso pequeno momento d
Dellan Receber uma carta de Zane já era algo raro.Receber uma carta dele pedindo ajuda, então? Era praticamente um evento histórico.Li e reli a mensagem várias vezes durante a viagem, tentando entender exatamente o que tinha levado meu amigo a pedir por mim depois de tanto tempo. Mas, honestamente? Não importava o motivo.Se Zane precisava de mim, eu iria sem pensar duas vezes.Cheguei ao território da alcateia logo ao anoitecer, as árvores altas se curvando sob o vento suave. Os lobos que guardavam a entrada me reconheceram imediatamente e acenaram em silêncio, me deixando passar.Quando finalmente avistei a casa principal, lá estava ele: Zane, com aquele ar tranquilo e decidido que sempre carregava, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao redor dele.E ao lado dele estava uma mulher, era Elena. Estava presente quando se casaram, fiquei um tempo no castelo, mas tive que voltar para minha casa, tinha trabalho a ser feito. — Dellan! — Zane me chamou com um sorriso no rosto enqua