A festa já estava começando e Emma foi em busca de seus primos e namorado. Logo os encontrou perto da fogueira. Yanni, seu primo mais novo, estava sentado, quase deitado, apoiado pelos cotovelos e gargalhando como louco. Ela sentiu vontade de rir só de velo daquele jeito. Arion, seu primo mais velho, estava sentado com as pernas cruzadas e olhando com um rosto sério para seu irmão. Julian estava mexendo na fogueira, o que exatamente ele estava fazendo ela não sabia, mas parecia que fora ele quem a acendeu pouco tempo atrás.
— Posso saber o motivo de toda essa alegria? - Ela perguntou e colocou as mãos na cintura.
— Quem é você? - Yanni perguntou. - Você é muito bonita, minha prima não é bonita desse jeito.
— Deixa de ser idiota, Yanni. - Ela disse enquanto sentava de frente para os primos. Não demorou muito e Julian ocupou o lugar ao lado dela.
— Você vai sujar o vestido. - Ele disse.
— Também não é assim, não é, Julian. - Ela disse com uma expressão séria no rosto.
— Eu só disse. - Ele levantou as mãos pro alto em sinal de rendição, e foi motivo para Yanni cair na gargalhada novamente.
— Esse aí tá lascado.
— E então. - Disse Emma tentando começar uma conversa normal com seus primos. - Como está minha tia?
— Ela está bem. - Quem respondeu foi Arion. - Ela não quis vir por causa de nossa irmãzinha. A viagem é muito longa pra um bebê de 3 meses. Pelo menos foi isso que ela falou, mas as duas estão bem.
— Oh! Eu quero conhecer minha priminha. Assim que eu puder, vou vê-la.
— Aproveita e dorme lá em casa. - Yanni falou. - Se ao amanhecer, você ainda acha-la adorável e fofa e todas essas coisas, você merece um prêmio. - E voltou a rir.
Arion repreendeu o irmão com o olhar, e mudou de assunto.
— O que tem de bom pra fazer aqui na sua aldeia?
— Nada! - Emma respondeu franzindo os lábios. - Esse lugar não tem absolutamente nada. Pra não morrer de tédio, treinamos em um campo aqui perto todos os dias de manhã. Não é como na sua aldeia que tem tantas coisas pra ver.
— Podemos explorar a floresta. O que você acha? - Arion deu a ideia.
— Não! É perigoso. - Respondeu Julian.
— Não acredito! Você acredita nas bobagens que falam? - Emma disse cruzando os braços.
— Não acredito. - Ele disse imediatamente.
— Mas... - Emma o instigou a dizer mais.
— Mas pode ser perigoso - respondeu como se quisesse dizer: " Não vai e ponto final." E essa entonação deixou Emma brava.
— Dizem que a floresta é mal assombrada e que seres de outro mundo vivem lá. Que pessoas já foram mortas ou desapareceram na floresta. É isso que as pessoas falam e Julian está com medo. - Ela disse olhando pra ele, um olhar de desafio.
— Bobagem! Assombrações não existem e seres de outro mundo também não. - Disse Yanni.
— Mas pessoas morreram ou desapareceram. Isso é verdade e ninguém sabe o verdadeiro motivo. - Completou Julian.
— Podemos ir com calma. Iremos armados e qualquer coisa de diferente a gente volta. Esta é a mesma floresta que cerca a minha aldeia. As pessoas caçam nela, fazem até piquenique ou tomam banho no rio, e ninguém nunca disse nada do tipo. - Arion disse.
— Está certo, então. - Decidiu Emma. - Amanhã de manhã iremos explorar a floresta. Se você não quiser não precisa vir, Julian. - Ela o provocou.
— É claro que eu vou. Não vou deixar você com esses irresponsáveis. - Ele observou Arion o olhar de lado, mas não disse nada.
Notando a tensão no ar, Emma decidiu mudar de assunto.
— Estou cheia de fome. Vamos comer?
Todos se levantaram ao mesmo tempo e foram em direção à mesa.
***
Algum tempo depois, Julian puxou Emma pela mão.
— Venha, vamos procurar seu pai. Quero falar sobre nosso noivado. Já esperei demais.
— Vamos. - Sorriu e o acompanhou.
Não demoraram muito para encontrar seu pai sentado com alguns amigos conversando e bebendo cerveja.
— Pai! - Emma chamou. - Preciso falar com o senhor.
Ele pediu licença e se aproximou da filha. Com a mão livre, ela pegou a mão do pai e o puxou para um canto pouco iluminado e com menos pessoas.
— Na verdade sou eu que quero falar com o senhor, senhor Benjamin. - Disse Julian, um pouco nervoso, mas firme. - Como o senhor sabe, sou amigo de Emma desde a infância, namoramos há dois anos e o senhor sabe que desejo torná-la minha esposa, mas ano passado me disse que se pudesse esperar mais um ano, permitiria que nos tornássemos noivos. Então, aqui estou eu. Vim pedir a mão de sua filha em casamento.
— Sei. Eu me lembro disso! - Benjamin coçou a barba loira. - Você realmente gosta da minha filha, rapaz?
— Sim senhor.
— Então não deve pedir a mim, e sim a ela. Se Emma aceitar o pedido, eu os abençoo.
Emma olha ao redor, seu coração palpitando de emoção. As luzes suaves da decoração de aniversário iluminam o ambiente, e os olhares curiosos de alguns poucos amigos e familiares estão fixos nela. Seu namorado, com um sorriso nervoso, se ajoelha diante dela, segurando uma caixinha delicada em suas mãos trêmulas.
Julian fala com a voz embargada.
— Emma, meu amor, desde o momento em que você entrou em minha vida, tudo mudou. Cada dia ao seu lado foi uma aventura mágica, cheia de risos, desafios e um amor que cresce a cada instante. Hoje, no dia do seu aniversário, na presença do seu pai, a pessoa que sempre desejou te ver feliz, eu quero fazer uma pergunta muito importante. Emma Collins, você aceita ser minha companheira para todo o sempre? Aceita compartilhar comigo cada amanhecer, cada lua cheia e cada capítulo desta jornada incrível?
Emma prende a respiração, os olhos brilhando com lágrimas de felicidade. Ela olha para o pai, que a observa com ternura, seu rosto refletindo a confiança e aprovação.
— Meu amor, não existe nada que eu deseje mais do que compartilhar minha vida com você. Cada risada, cada lágrima, cada desafio. Aceito com todo o meu coração, e prometo te amar para sempre - responde Emma emocionada.
O namorado coloca delicadamente o anel no dedo de Emma, e aplausos e lágrimas de alegria enchem o ambiente. O pai de Emma se aproxima, envolvendo os dois em um abraço caloroso.
— Estou além de feliz por testemunhar esse momento - fala Benjamin emocionado - Vocês são feitos um para o outro, e sei que juntos enfrentarão qualquer desafio que a vida possa trazer. Que este amor seja eterno, assim como a luz da lua que ilumina nossos caminhos.
Os olhou com intencidade e continuou.
— Mas escute uma coisa, rapaz. Minha filha é meu bem mais precioso, é minha única filha e a lembrança viva da minha esposa. A respeite e não a faça sofrer ou irei me decepcionar com você.
— Nunca a farei sofrer. Prometo. - Julian respondeu estendendo a mão para selar o compromisso e Benjamin apertou sua mão.
— Tudo bem, então.
Emma abraçou o pai fortemente, beijando sua bochecha e declarando sua felicidade.
— Obrigada, pai. - Ela estendeu a mão para Julian e o puxou. - Eu já volto.
Emma arrastou Julian para fora do quintal. Indo em direção a uma subida que dava em um pequeno morro que ela gostava de ir de vez em quando. Saindo do alcance das lamparinas e da fogueira que iluminava a festa, tudo o que iluminava o caminho deles era a lua cheia.
— Onde estamos indo, minha linda noiva?
— Você já vai ver.
Eles subiram o morro e ao chegar ao topo a jovem se viu de frente para a lua cheia. A brisa da noite soprava entre seus cabelos e a luz prateada da Lua iluminava seu rosto e a revigorava. Era maravilhoso.
— É lindo. - Julian finalmente falou.
— Sempre venho aqui a noite. É ainda mais lindo que durante o dia.
Julian se sentou e puxou Emma pra se sentar em seu colo.
— Venho quando preciso pensar ou quando quero ficar sozinha. É um lugar especial pra mim. Por isso quis compartilhar ele hoje com você. - Se virou para ele.
— Obrigado! - disse.
Ele alcançou seu rosto com as mãos, a acariciou e depois segurou firme seu rosto a trazendo para mais perto, para um beijo. O primeiro do casal após se tornarem noivos, e este a fez se lembrar do primeiro e especial beijo de Emma, aquele dado ao mesmo homem que a beijava. Aquele tinha sido tão sonhado com este em que se tornaram noivos.
O beijo envolvente do rapaz a deixava totalmente entregue, as línguas se exploravam com mais vigor e o choque dos lábios quase a fazia se esquecer que sua festa estava acontecendo logo abaixo.
O casal ficou ainda um tempo lá, sentados, namorando e conversando. Nem sentiram o tempo passar.
— Temos que ir. - Emma disse se levantando e ajeitando a saia do vestido. Ela segurou a mão de Julian e o arrastou de volta para a festa.
Quando chegaram, Emma viu a avó aflita andando pelo quintal, provavelmente a sua procura.
— Emma, minha querida, onde você estava? - Dona Elis se aproximou aflita da neta. - Temos que fazer a cerimônia dos presentes, já está tarde. As crianças já estão dormindo. Daqui a pouco as pessoas vão querer ir embora.
— Fui levar Julian no meu lugar especial, vovó! Papai já contou a novidade? – Emma estava com um sorriso largo no rosto. - Estamos noivos.
— Sim, querida. Seu pai me contou. Fico feliz por vocês. – Mas apesar das palavras tranquilas, a idosa agarrou a mão da neta e a levou em direção a cadeira enfeitada no meio do quintal.
— Peço a atenção de todos, por favor! - Dona Elis diz em voz alta e estendendo as mãos para cima. - Hoje é o 18º aniversário da minha neta, Emma, e todos vocês estão aqui para comemorar essa data com ela. - As pessoas aplaudiram, felicitando a aniversariante.
— Na minha família... - Continuou Dona Elis. - Fazemos uma pequena cerimônia de entrega de presentes nessa data. Como a minha filha, mãe de Emma, é falecida, eu darei o presente em nome dela. Depois o pai, e então quem mais quiser presentear a aniversariante pode se aproximar.
Elis se aproximou da neta com uma caixa nas mãos e disse somente para sua neta:
— Minha querida, na nossa família há uma joia que passamos de mãe para filha. Eu recebi de minha mãe e entreguei para a sua quando ela fez dezoito anos. Quando ela faleceu, a joia voltou para minhas mãos e estou te entregando agora. É simples, mas é importante.
Emma abriu a caixa e dela retirou uma pedra azul redonda de tamanho médio, mas não era pesada. Ela parecia ter outras cores intrincadas mas a que mais sobressaía era a azul. O colar que fixava à pedra era de um couro fino trançado fortemente.
— Obrigada, vovó! - Uma lágrima saiu rolando em seu rosto quando ela lembrou que deveria ser sua mãe a entregar-lhe essa joia de família. A idosa a abraçou, sabendo exatamente o que ela estava pensando.
— Não tire esse colar. Ele vai proteger você. Sempre! Entendeu? - Emma confirmou com a cabeça e pendurou o colar.
Depois de sua vó, foi a vez de seu pai. Ele lhe deu um arco e flechas novinho, com uma aljava cheia de flechas. O metal da ponta reluzia, Emma ficou maravilhada. Seu arco e flechas já estava muito usado e ela amou o presente.
— Obrigada, pai. – A jovem se levantou e o abraçou.
Depois ela recebeu presentes dos primos e de outros aldeões. Enfeites de cabelo, brincos, tecidos, sapatos, flores... No final da cerimônia, ela estava cansada. Se despediu de todos e foi dormir.
Porém, não esperava que durante o sono ela tivesse um sonho que no começo foi maravilhoso, mas o que lhe aguardava no final a deixaria aflita.
" Ela estava sentada no alto do morro onde tinha ido mais cedo com Julian. A lua cheia estava ainda mais brilhante. Ela estava envolvida em seus braços carinhosos. Era maravilhoso se sentir protegida. O vento suave no seu rosto, a luz prateada da lua, tudo estava perfeito, até que um vento forte soprou e ela sentiu frio, a lua cheia estava escurecendo pela borda, como em um eclipse. Ao olhar para o lado em busca do noivo, Julian não estava mais lá, a jovem encontrava-se sozinha e com medo. Muito medo. Isso pesava em seu estômago e frio gélido percorria seu corpo. Uma sensação de estar sendo observada surgiu e a cada instante que passava, aumentava mais.
De repente todo o cenário muda. Emma se encontra em um lugar etéreo e misterioso. A neblina envolve seu corpo, enquanto seus passos a levam através de um cenário enigmático. Ela sabe que está em um sonho, mas sente uma presença poderosa ao seu redor. Em meio à névoa, um lobo majestoso, branco como a lua, surge diante dela. Seus olhos brilham com uma sabedoria ancestral, e sua voz ressoa em sua mente.
— Emma, filha dos lobos, chegou o momento de conhecer uma parte da sua missão. Eu sou o guardião das tradições perdidas, o mensageiro da deusa da lua que guiará seus passos.
Emma observa com fascínio para o lobo branco, mas a confusão lhe toma. “Filha dos lobos?” Ela se questiona.
— Quem é você?
O Lobo Branco ergue a cabeça com altivez.
— Sou o espírito ancestral dos lobos, aquele que desperta em momentos de grande importância. A deusa da lua concedeu-lhe um dom, mas sua missão vai além disso, Emma. Você também é responsável por resgatar as tradições esquecidas da sua família e restaurar o equilíbrio entre as dimensões.
— Que tradições? E como posso encontrar algo que desconheço?
O Lobo Branco se aproxima lentamente.
— Siga os sinais do passado, os fragmentos que foram esquecidos com o tempo. As respostas que busca estão entrelaçadas na história da sua família. Procure os pergaminhos antigos, as histórias contadas pelos mais velhos, as lendas esquecidas. Neles você encontrará pistas que a guiarão em sua jornada.
— Histórias antigas? Pergaminhos? - Ela estava confusa - Mas onde eu posso encontrar essas coisas?
O lobo branco balança a cabeça antes de desaparecer gradualmente na neblina.
— Espere, espere, por favor. Não vá embora?
O lobo já havia sumido na neblina.
Emma girou ao seu redor, e não havia nada nem ninguém, somente árvores e trepadeiras. A lua agora estava ainda mais escura. A sensação de estar sendo observada estava ficando insuportável e a lua quase totalmente encoberta. Antes ela acreditava que quem a observava fosse o lobo branco, mas não. A sensação agora estava esmagadora. A moça saiu correndo, o desespero tomando conta dela. O frio aumentava, era como se de repente fosse começar a nevar, ela observava sua respiração no ar frio enquanto corria utilizando a pouca luz que restava para correr, até que tudo ficou escuro e uma mão gelada agarrou em seu braço, puxando-a com violência. O pânico tomou conta e ela não viu nem sentiu mais nada."
Emma se sentou na cama com um susto. O coração estava acelerado, sua camisa branca de dormir estava grudada ao corpo devido ao suor, seus cabelos estavam uma bagunça. Ela olhou para o lado e viu apenas o cabelo grisalho da sua avó espalhados no travesseiro da cama improvisada ao lado da sua.A jovem se levantou, o coração ainda batendo forte, a sua garganta estava seca. Ela foi até o jarro com água que ficava na cômoda do quarto e bebeu dois copos para saciar a sede. Parecia que tinha corrido do morro onde sonhara que estava há poucos minutos até seu quarto. Se sentou na cama e se lembrou do sonho, parecia tão real, não parecia um sonho comum que à medida que o tempo passa as lembranças vão sumindo, mas parecia que a cada minuto que passava a cena se reproduzia com mais detalhes em sua mente, como se ela tivesse vivenciado aquilo de verdade.Emma se deitou mas não conseguiu adormecer novamente por muito tempo, pensando sobre o sonho."Será que significa alguma coisa? Mas o quê? Por qu
— Quem é você? - Emma perguntou.— Quem sou eu, não importa, salvei sua vida. - A estranha respondeu.— Obrigada.— Meu nome é Isis. - A estranha suspirou impaciente. - Moro em uma aldeia do outro lado da floresta. Antes que você pergunte, eu estava aqui caçando, ou tentando. Vocês espantaram qualquer possível caça. - Fez uma cara de desgosto. - Então, quem são vocês?Emma analisou a estranha. Não tinha como saber se ela era de confiança, mas salvara sua vida. E também, o que eles estavam fazendo de tão importante ali? A garota deveria ter a sua idade, se fosse mais velha seria no máximo um ano. Seu cabelo era loiro platinado e trançado até abaixo da cintura. Ela era bonita e tinha um ar superior e confiante.— Eu sou Emma, esses são meus primos Arion e Yanni, e este é meu namorado Julian. Antes que você pergunte, estávamos apenas explorando a floresta. - Isis a estudou com calma e falou finalmente.— O que vocês pegaram?— O quê? - Emma se espantou.— Vocês pegaram algo aqui na flore
Emma dispara para o mercado onde havia encontrado Ethan no dia anterior. O trabalho com seu pai; a aventura na floresta e a noite em claro não foram o suficiente para aplacar a curiosidade e ansiedade que a tomavam. Portanto, antes que mais alguém na casa despertasse, além dela mesma, a jovem pegou o cavalo e foi de encontro ao único que poderia aplacar ao menos um pouco aqueles sentimentos.Ao chegar, ela caminha pelo mercado, seu olhar atento à procura de Ethan. Seu coração acelera quando finalmente o encontra, com um sorriso enigmático nos lábios.— Ethan! Que bom te encontrar novamente! Senti que precisava voltar aqui, algo me chamava de volta.— Emma, fico feliz que tenha seguido essa intuição. Eu tenho novidades para você. Encontrei algo sobre um objeto antigo, um medalhão ancestral, bem parecido com esse que você tem - Ethan apontou para o objeto que Emma recebeu de presente de sua avó no dia de seu aniversário - que pode estar diretamente ligado à sua busca por respostas.— Um
Alguns meses depois de receber de presente o amuleto de família, Emma já havia aprendido os padrões de seus sonhos. Eles ocorriam sempre por cinco dias na lua cheia, na noite do auge da lua e dois dias antes e dois dias depois. Ela agora estava se preparando para ir para a casa de sua avó, pois era aniversário dela e a jovem passaria a semana em sua casa. A viagem a estava deixando mais ansiosa do que costumava deixar nos anos anteriores, dessa vez a garota tinha algo a mais. Na conversa que teve com sua avó, no dia em que achou que a única explicação para tudo o que ela estava vendo fosse a loucura, sua avó disse algumas coisas que a tranquilizou: “— Querida. Sua mãe teve esses sonhos e eu também. Você não está ficando louca. Essa é uma pedra que está sendo passada de mãe para filha há várias gerações. Na primeira lua cheia que a recebi, tive sonhos como esses que você teve e sua mãe também. Depois os sonhos somem, devem ser lembranças de nossos antepassados. “Mas quando os sonhos
Emma abriu o baú que tinha lençóis e toalhas, mas quando os retirou, por baixo tinham muitos livros antigos. Ela retirou um a um e foi empilhando-os ao redor deles. Eram oito livros ao todo. A jovem pegou um muito grande com as páginas um pouco abertas, colocou no meio deles e o abriu. Era um livro de mapas. Muitos mapas dobrados no interior do livro, ele não era nem tão grosso como havia parecido, mas as folhas dobradas davam esse aspecto a ele.— É um livro de mapas. - Emma falou enquanto abria um deles.Eles o observaram. Uma floresta se estendia de ponta a ponta desde as montanhas onde o rio nascia até a outra cadeia de montanhas que separava a floresta do mar. O rio cortava a floresta desde sua nascente, atravessando-a por toda sua extensão até o mar. Haviam três clareiras, uma mais próxima das montanhas onde havia a nascente do rio, outra no meio da floresta, mas próxima ao rio e outra também próxima ao rio, mas já se aproximando das montanhas que separavam a floresta do oceano.
Depois de muito caminhar por entre as muitas ervas e plantas medicinais, avó e neta caminharam para dois bancos de pedra que ficavam de frente um para o outro, bem no meio do canteiro. Elis se sentou em um e apontou para que Emma se sentasse no outro. A garota assim fez e olhou diretamente para sua avó que parecia esperar alguma coisa.— Você quer me contar alguma coisa, Emma?A jovem pensou um pouco.— Vovó, daqui a pouco as pessoas estarão aqui para seu jantar.— Não se preocupe com isso. Alguma coisa te perturbou, eu percebi. Quer me contar o quê?Então Emma contou. Tudo. E no final sua avó estava olhando com um ar sério para o rosto da neta.— E você acha que vai ser você, não é? E acha que não está pronta, que vai falhar. - Emma baixou a cabeça, ela ainda não tinha se permitido pensar na palavra "falhar". Se ela falhasse depois de tantas gerações, depois de pessoas que foram vitoriosas, seria vergonhoso e ela carregaria a culpa da ruína do mundo. A garota só conseguiu assentir pa
Depois daquele sonho desesperador, Emma não conseguia mais dormir. O medo de novas informações era nada perto do medo que ela sentiu no sonho e ainda sentia. Ela precisava saber mais. Sentou-se na cama, acendeu a vela que ficava ao lado; pegou o livro, colocou-o em seu colo e com um suspiro profundo, tomou coragem e o abriu. Passou pela página onde havia o desenho do amuleto e o que ela tinha lido com os primos. Na próxima página havia um desenho de montanhas e entre elas um castelo. Virando a folha, ela viu um texto que dizia:" No início, o deus das Sombras vivia em harmonia com os outros deuses. Os deuses viviam entre os mortais e eram venerados por eles. Esses deuses habitavam o alto das montanhas em um castelo, mas conviviam com os mortais e realizavam o seu trabalho. A deusa da Chuva era responsável pelas colheitas fartas, as crias saudáveis dos animais e também pelos filhos fortes dos aldeões, e por isso recebeu um templo em homenagem e reconhecimento pelos seus feitos. Seu tem
Emma disparou para a sala. Na porta, parado, estava Julian. Suas roupas, braços e rosto estavam sujos de fuligem. A garota sentiu um frio percorrer a espinha e um nó se formou em seu estômago.— Julian! O que aconteceu? Por que você está sujo de fuligem?— Seu pai está bem, Mel. Fique tranquila, mas sua casa pegou fogo.As pernas de Emma amoleceram e ela precisou sentar imediatamente. De medo, tristeza e alívio.— Meu filho, entre. Vá tomar um banho. Os meninos deixam roupa aqui, as roupas de Arion devem servir em você. - Disse dona Elis.Julian aceitou. Poucos minutos depois ele voltou para a sala limpo e com as roupas emprestadas que lhe serviram bem. O rapaz se sentou ao lado da noiva e pegou em suas mãos.— Eu vou fazer um chá para nós. Já volto. - Disse dona Elis indo em direção a cozinha.— Emma. Seu pai está seguro em minha casa. Minha mãe está cuidando dele e meu irmão a essa hora já chegou do trabalho. Não se preocupe. Vim direto pra cá porque não podia ficar lá e você aqui s