Depois de muito caminhar por entre as muitas ervas e plantas medicinais, avó e neta caminharam para dois bancos de pedra que ficavam de frente um para o outro, bem no meio do canteiro. Elis se sentou em um e apontou para que Emma se sentasse no outro. A garota assim fez e olhou diretamente para sua avó que parecia esperar alguma coisa.— Você quer me contar alguma coisa, Emma?A jovem pensou um pouco.— Vovó, daqui a pouco as pessoas estarão aqui para seu jantar.— Não se preocupe com isso. Alguma coisa te perturbou, eu percebi. Quer me contar o quê?Então Emma contou. Tudo. E no final sua avó estava olhando com um ar sério para o rosto da neta.— E você acha que vai ser você, não é? E acha que não está pronta, que vai falhar. - Emma baixou a cabeça, ela ainda não tinha se permitido pensar na palavra "falhar". Se ela falhasse depois de tantas gerações, depois de pessoas que foram vitoriosas, seria vergonhoso e ela carregaria a culpa da ruína do mundo. A garota só conseguiu assentir pa
Depois daquele sonho desesperador, Emma não conseguia mais dormir. O medo de novas informações era nada perto do medo que ela sentiu no sonho e ainda sentia. Ela precisava saber mais. Sentou-se na cama, acendeu a vela que ficava ao lado; pegou o livro, colocou-o em seu colo e com um suspiro profundo, tomou coragem e o abriu. Passou pela página onde havia o desenho do amuleto e o que ela tinha lido com os primos. Na próxima página havia um desenho de montanhas e entre elas um castelo. Virando a folha, ela viu um texto que dizia:" No início, o deus das Sombras vivia em harmonia com os outros deuses. Os deuses viviam entre os mortais e eram venerados por eles. Esses deuses habitavam o alto das montanhas em um castelo, mas conviviam com os mortais e realizavam o seu trabalho. A deusa da Chuva era responsável pelas colheitas fartas, as crias saudáveis dos animais e também pelos filhos fortes dos aldeões, e por isso recebeu um templo em homenagem e reconhecimento pelos seus feitos. Seu tem
Emma disparou para a sala. Na porta, parado, estava Julian. Suas roupas, braços e rosto estavam sujos de fuligem. A garota sentiu um frio percorrer a espinha e um nó se formou em seu estômago.— Julian! O que aconteceu? Por que você está sujo de fuligem?— Seu pai está bem, Mel. Fique tranquila, mas sua casa pegou fogo.As pernas de Emma amoleceram e ela precisou sentar imediatamente. De medo, tristeza e alívio.— Meu filho, entre. Vá tomar um banho. Os meninos deixam roupa aqui, as roupas de Arion devem servir em você. - Disse dona Elis.Julian aceitou. Poucos minutos depois ele voltou para a sala limpo e com as roupas emprestadas que lhe serviram bem. O rapaz se sentou ao lado da noiva e pegou em suas mãos.— Eu vou fazer um chá para nós. Já volto. - Disse dona Elis indo em direção a cozinha.— Emma. Seu pai está seguro em minha casa. Minha mãe está cuidando dele e meu irmão a essa hora já chegou do trabalho. Não se preocupe. Vim direto pra cá porque não podia ficar lá e você aqui s
— Vai ficar tudo bem, Emma. - Disse Julian enquanto se aproximava dela. A jovem que ainda estava ajoelhada ao lado do pai desacordado, segurou a mão que o noivo estava lhe estendendo e se levantou.— Quero ir na minha casa, Julian! Tentar encontrar qualquer pista de quem fez isso.— Tem certeza?— Sim. Eu tenho.— Tudo bem. Eu vou com você.— Obrigada. Eu vou trocar de roupa. Você pode pegar alguma coisa pra gente comer no caminho e água?— Você não prefere comer antes de sair?— Não. Você pode comer se quiser, mas eu prefiro que você leve algo para mim.— Eu vou pegar, então.Assim que Julian saiu do quarto, Emma começou a trocar de roupa. Poucos minutos depois alguém bateu na porta. Era sua avó. Ela terminou de se ajeitar e abriu a porta. Seus primos estavam junto com Dona Elis, e estavam trazendo as malas de Emma. A garota não tinha levado tanta coisa, mas tinha trago quase todos os livros de sua avó, por isso as malas estavam bem pesadas..— Pensei que estivesse carregando você ne
Eles estavam voltando da floresta, já havia passado a hora do almoço e estavam famintos. Emma ia um pouco a frente e parou de repente. Julian se aproximou.— O que foi?— Olhe! - Ela sussurrou apontando para a lateral da casa de Julian, e o rapaz viu uma figura totalmente vestida de preto. Parecia vestida da cabeça até os pés com uma espécie de roupão, e um capuz cobria sua cabeça. Mas ao mesmo tempo que parecia real, poderia parecer algo vindo dos contos de terror. Ao se mover, não parecia andar, mas deslizar, e da mesma maneira que aparecera, sumiu. — O que foi aquilo? - Julian falou.— Não faço a menor ideia. - Ela respondeu.— Por que vocês pararam? - Perguntou YanniEmma contou aos primos o que viram.— Será que pode ser a mesma pessoa que colocou fogo na sua casa? - Falou Arion.— Pensei nisso. - Emma respondeu.— Teremos que ficar mais atentos depois disso, vamos montar grupos de vigia durante a noite. - Falou Arion. – Julian, você e seu irmão vigiam a casa durante um período
Ao ver os primos carregando o livro sob os braços, Emma teve certeza de que os garotos haviam encontrado algo.— Ai, Yanni para de bobeira e fala logo - disse ela.— Então, descobrimos algo sobre as luas e outra coisa que você vai gostar, mas ele não! - respondeu o garoto, apontando na direção de Julian.— Fala logo, tô ficando louca aqui.Yanni se sentou no chão colocando ali o livro que Emma tinha lido mais cedo. Arion se sentou do lado, colocando no chão o livro de mapas. Yanni abriu o livro procurando o que queria e ao achar apontou.— Aqui, um pouco mais à frente de onde você estava lendo, fala toda aquela história do alinhamento dos planetas com a lua e dos 300 anos que a gente já sabe, e fala também que no dia seguinte à lua cheia, o portal começa a se abrir. Por isso a lua escurece, é o portal se abrindo. - Ele olhou para Emma, logo em seguida voltou para o livro e continuou. - Quando a lua estiver totalmente escura, o portal estará totalmente aberto, e é só então que O Sombri
Ela pegou os livros e se retirou. Julian, vindo logo atrás dela, tomou os livros de suas mãos.— Eu levo.— Oh, que cavalheiro! — Sempre fui - disse sorrindo para a noiva.Ao chegarem ao quarto, dona Elis estava terminando de trocar os emplastros do pai de Emma.— Podem entrar, já estou terminando.— Pensei que a senhora já estivesse dormindo, vovó.— E eu estava, mas acordei e vim trocar os emplastros. Se ficarem secos perdem o efeito curativo, mas já vou voltar para a cama. E vocês dois também precisam dormir, vão acordar cedo amanhã. Vou tentar colocar aqueles dois para dentro também. Se virarem a madrugada acordados, vão acabar caindo do cavalo.— Boa sorte, vovó. Aqueles dois são dois cabeças duras.— Ah, eu peço na gentileza, se não funcionar eu pego a correia.Emma riu das palavras da avó. Sabia que era tudo só ameaça, mas ninguém nunca a desafiou o suficiente pra ter certeza de até onde ia a tolerância de dona Elis. Julian colocou os livros na cômoda que ficava perto da cama,
Ísis repreendeu a irmã para que não saísse àquela hora. Já era final de tarde, em breve começaria a escurecer.— Fique tranquila, minha irmã. - Dizia Kiara. - Quantas vezes entrei nessa floresta a essa hora? Hein? Conheço cada canto perfeitamente. Sou capaz de voltar para casa no escuro, você sabe.— Sei que é capaz, Kiara. - Replicou Ísis. - Mas não é prudente. Existem estranhos por aí, já colocaram fogo na aldeia, podem estar escondidos ainda e sabe-se lá o que podem fazer.Kiara vestiu sua capa bege, pegou seu cesto, e foi em direção aos degraus de pedra por onde ela teria acesso a parte superior da caverna de sua aldeia. Depois de subir os degraus, ela ainda andaria por um caminho de pedras até que a grama começava a nascer e o terreno se tornava cada vez mais verde e iniciava uma descida até uma região mais plana com plantas mais altas. Uma região onde os morangos, a fruta preferida de Kiara, crescia em abundância, e ela sempre ia até ali para colhê-los, sempre de manhã bem cedo