LumaDepois do café da manhã, Rosa chegou com uns envelopes nas mãos e então os dois foram para o canto de sempre cochichar. Passa-se pouco mais de uma hora e então vejo Rafael se aproximando de mim com um dos envelopes em mãos. O sorriso no rosto dele, indica que é algo que esperava muito, o que pode ser um péssimo sinal para mim.Ele vem agindo de maneira estranha ultimamente. Achei que quando caísse em suas mãos, ele tentaria me tomar a força e seria agressivo e ciumento, porém, ele tem sido carinhoso e atencioso. O que é muito estranho.— Como está, meu amor? — O homem se senta ao meu lado — Em breve estará livre e terá todo o conforto que desejar.Sem saber o que falar, encaro-o em silêncio, enquanto ele retira alguns documentos de dentro do envelope. Há todo tipo de documento que se possa imaginar: passaporte, identidade, certidão... certidão de casamento?Ele ergue o documento com um sorriso ladino. Seguro-o e leio os nomes. Não conheço as pessoas que estão ali. Jean Costa e An
Gabriel(5 dias depois do desaparecimento da Luma)Hoje de manhã, levei meu filho até a piscina do meu condomínio. Bom para ele e para mim. Cinco dias sem Luma e sem notícia alguma, isso está nos deixando loucos. O problema é que da mesma maneira que não consigo afastar meus pensamentos por muito tempo, percebi que meu filho também não. Por várias vezes, o vi sozinho em um canto, sem interagir com nenhuma criança.No fim do dia resolvo levá-lo para comer na praça de alimentação do shopping. Tento me controlar para não passar a minha aflição para ele, mas o garoto parece estar submerso em seus pensamentos.— Não está com fome? — pergunto quando o vejo remexer na comida sem levar nada à boca.O menino suspira e responde a seguir.— Não muita. Sinto falta da minha mãe.Eu preciso ser forte por ele. Estendo a mão até seus cabelos curtos e o acaricio.— Eu também sinto falta da sua mãe, filho. Mas nós precisamos comer para estarmos fortes quando ela precisar de nós.O menino balança a cab
Gabriel(5 dias depois do desaparecimento da Luma)— Não pode ser ela — afirmo ainda encarando a cena grotesca.O delegado se aproxima de mim e me puxa para longe do carro.— Venha, Gabriel. O corpo será removido e levado para autopsia e necropsia.— Não, quero ficar aqui.— As cenas a seguir podem ser fortes demais.— Eu não me importo, delegado, quero ficar.Já estou em um estado de desespero que não me importo mais com o que verei, tudo o que eu quero é estar perto, ver tudo e participar do que puder.Meus olhos continuam firmes sobre o corpo que pode ser da minha mulher, mas o meu coração continua negando. Ele diz que não é Luma ali sentada naquele banco.— Tudo bem, então. Mas terá que sair da frente, vai atrapalhar o trabalho dos outros.Viro-me e vejo que há homens atrás de mim, esperando que eu saia para começar o trabalho. Me afasto apenas o suficiente para permitir que trabalhem, mas fico ali, observando e acompanhando cada passo.A porta do carro é removida, os fios que pre
Gabriel(9 dias depois do desaparecimento da Luma) Me levanto imediatamente, após a ligação do delegado.— O que foi, pai? — Meu filho me encara confuso.— Preciso sair, é urgente. Vou te levar pra casa.— É sobre a mamãe? Eu quero ir!Abaixo-me e coloco a mão sobre seus joelhos.— É sobre sua mãe, sim. Mas você ainda é muito jovem pra entender as coisas, por isso quem vai lá ouvir o que o delegado tem a dizer sou eu, mas prometo te contar tudo.— Será que eles encontraram a mamãe? Ou será que o exame saiu e não era ela a pessoa morta no carro? — Seus olhos brilham em preocupação.— Eu adoraria que fosse uma dessas notícias, Kayo, mas eu realmente não sei. Vamos, pause o jogo, depois você continua de onde parou.— Promete que vai me contar tudo, pai? Mesmo se for ruim?— Prometo, filho. — Meus olhos se enchem de lágrimas diante a coragem do menino.Dou um beijo em sua testa e me levanto. Vou ao quarto rapidamente colocar uma roupa mais formal e logo deixo o apartamento, levando meu f
Rosa— O que é isso? — pergunta Luma, já prevendo que não deveria ser algo bom dentro daquele saco preto.— Você — meu irmão fala, jogando o pacote que carregava no chão.Assim que o embrulho bate no chão com um som seco, as bordas descem, revelando o corpo ali dentro.O grito vindo da garganta da Luma é tão agradável de ouvir. O terror contido nele me faz sorrir.— O que vocês vão fazer com esse... esse corpo? — A pessoa quando é fraca não tem jeito mesmo, já tá querendo chorar porque tem um corpo morto na frente dela.Eu não, sou diferente. Sou forte e determinada, e tenho certeza que com esse golpe, Gabriel vai cair direitinho na armadilha.— Esta noite você vai morrer, meu amor. — Rafael se aproxima dela, mas a mulher se afasta, erguendo as mãos como se estivesse com nojo. — Na verdade, a Luma vai morrer.Os olhos dela arregalam em compreensão e então leva a mão na boca.— Não, vocês não podem fazer isso.— Podemos e vamos fazer — falo — Aquele teu chilique de hoje mais cedo, nos
Capítulos de domingo liberado— Agora é só jogar gasolina em tudo — falo, indicando ao meu irmão o que fazer.— Vamos logo porque está ficando tarde e o jatinho que Amanda preparou pra nós tem hora pra sair. — Rafael lembra-me desta parte do plano: fugir. Eu não queria fugir, quero ficar e ter o Gabriel só pra mim.— Eu não quero fugir, Rafael — declaro ao meu irmão e vejo desespero em seus olhos. — Gabriel vai entender que tudo o que fiz foi por amor, eu sei que no fundo ele me ama.— Tá maluca, Rosa? Vai colocar tudo a perder com essa sua loucura, isso sim.— Pra você é fácil falar, vai ficar com Luma, mas eu não! Amanda quer ficar com o Gabriel, mas ele é meu.— Olha, depois discutimos isso. Vamos terminar essa parte do plano, ok! — Meu irmão aperta meu ombro em sinal de compreensão, mas eu sei que ele me acha doida e que eu nunca terei o amor da minha vida.— Tudo bem, vamos logo com isso.Ajudo-o a pegar os galões com gasolina e derramo em todo corpo da mulher enquanto meu irmão
Luma Perdi as contas de quantos dias estou aqui. No dia em que fui levada da casa abandonada onde estávamos escondidos, Rafael não teve a coragem de fugir sem a irmã.Chegamos a subir no jatinho, mas ele discutiu feio pelo telefone com alguém e acabou ficando, porém, não voltamos para o mesmo lugar.Ele colocou um capuz na minha cabeça e eu não faço ideia nem mesmo do caminho que tomamos. Só sei que agora estou em um ambiente muito diferente do que estava antes. O quarto onde fui colocada é luxuoso, com uma cama macia e cortinas finas de cor creme.Rafael me traz presentes, frutas, chocolates, comidas de restaurante fino... tudo para me conquistar. Jura todos os dias que vai me amar e diz que eu preciso começar a me acostumar com minha nova vida.Às vezes penso em entrar no jogo, deixá-lo acreditar que o aceito como meu marido e depois poderia fugir quando ele afrouxasse os cuidados comigo, mas para isso, eu teria que beijá-lo e não só isso.Muitas vezes penso que já fui pra cama com
— Graças a Deus! — Agradeço, dou a partida e saio disparada com a caminhonete.Saí com o carro bem no momento que Rafael iria me alcançar.— Vagabunda, desgraçada, quando colocar a mão em você, vai se arrepender do que fez.Vejo que estava em uma fazenda, uma muito bonita e gigantesca. Não a reconheço. Continuo acelerando a caminhonete, mas o caminho termina em uma porteira fechada. Sou obrigada a descer e ir até lá abrir. Meus dedos se atrapalham com o ferrolho, mas eu preciso arrastá-lo para me livrar daquele lugar. O ferro é pesado, mas consigo abrir o portão de madeira.Entro no carro e acelero, deixando a fazenda para trás.Ainda não posso comemorar. É cedo demais.A estrada de terra levanta poeira e à medida que vou percorrendo o lugar, começo a reconhecê-lo. Estou na cidadezinha do interior onde nasci? Não posso acreditar que Rafael me trouxe para cá.Ele me escondeu bem debaixo do nariz de todo mundo e nem vieram aqui investigar. Balanço a cabeça, incrédula. Mas não posso perd