Luma Por volta das 8h da manhã, o povo em minha casa começa a se movimentar. Ouço conversas e risadas abafadas pela porta fechada. Resolvo me levantar.Fico deitada na cama sem pegar no sono novamente depois do que aconteceu. Me levanto algumas vezes para olhar pela janela, mas parece não ter nada do lado de fora.Uma garoa começa a cair, deixando a calçada e estrada molhada, as pessoas caminham com guarda-chuva e isso atrapalha ainda mais para que eu possa identificar alguém ali parado, espionando o meu apartamento.Logo hoje que eu tinha decidido ir em busca de uma escola nova para Kayo e de um emprego.Vou até o banheiro do meu quarto me arrumar e quando chego na cozinha, estão todos sentados à mesa preparando seu café da manhã.— Bom dia — falo e todos me respondem, inclusive meu filho.— Bom dia, mãe. — Seus olhos estão direcionados para a mesa, mas é um começo.— João, será que você poderia sair com kayo à procura de uma escola, por favor? — peço ao meu irmão, pois meu filho nã
— Então eu acho melhor você falar e ir embora, não vou ser gentil e dizer que é bem vinda na minha casa porque você não é.— Nossa, quanta agressividade!Rosa se move em direção ao sofá e senta, como se fosse alguém da família, totalmente a vontade.— Olá, dona Nádia, achei que já teria voltado pra sua cidadezinha no interior a uma hora dessa.— E eu achei que estivesse internada a uma hora dessa. — Minha mãe rebate e eu seguro o riso.— Ah, não precisa se preocupar, eu estou bem. — Tenho que admitir que atua muito bem, a capacidade dela fingir que minha mãe estava preocupada com ela foi fenomenal.— Você já entrou, já sentou, agora pode falar o que veio fazer aqui? — Pressiono.— Ah, claro. Mas primeiro, dona Nádia, a senhora poderia arrumar um chazinho bem quentinho pra mim, por favor? Lá fora tá frio, hoje.Minha mãe me encara em uma pergunta silenciosa e eu aceno liberando-a para ir à cozinha fazer um chá para a lambisgoia.— Agora fala de uma vez. — Eu sei que ela só queria ficar
Gabriel No caminho, recebo uma ligação do irmão da Luma.— Alô!— Gabriel, já está vindo?— João? Sim, já estou a caminho e seu pai está comigo.— Ah, graças a Deus, pelo menos um notícia boa — sussurra o rapaz do outro lado.— O que está acontecendo?— Está um caos, aqui. O apartamento da Luma está revirado, minha mãe estava desmaiada quando cheguei, até o porteiro estava apagado... — suspira — Já chamei a polícia e estão vindo para cá.Soco o volante de raiva, tenho que chegar logo, mas o tempo de viagem é de pelo menos duas horas. E isso sem nenhum congestionamento e viajando rápido.— Obrigado por me avisar, me mantém informado. Como está meu filho?— Kayo está na Nice, Camila o levou pra lá assim que notamos que havia algo errado no apartamento.Queria muito afastar minha família daquele lugar, mas a cada dia percebo que isso será impossível. Dona Nice marcou a vida de Luma e não posso apagá-la assim.— Tudo bem. Devo demorar um pouco, ainda falta muita estrada pra percorrer, ma
LumaA primeira coisa que me dou conta é a dor de cabeça. Coloco as mãos, uma de cada lado, e me esforço para abrir os olhos. Por alguns segundos fico tentando entender onde estou e o que aconteceu, mas então toda a lembrança me invade como um soco no estômago.Fui tirada de dentro da minha casa, de onde acreditava estar segura. E agora estou em um cômodo sujo e escuro, fedendo a poeira e mofo.— Você acordou, meu amor — ouço a voz e logo meu coração se aperta.Rafael tentou me arrastar a força naquele dia na mansão e acredito que foi ele que me perseguiu dias atrás. Vulnerável como estou, tento não imaginar no que este homem é capaz de fazer.— Onde estou? — pergunto.— Longe, minha querida, muito longe. — Desta vez quem fala é a Rosa.Tento me virar, mas minhas mãos estão amarradas atrás de mim e isso impede meu movimento.— Vou te ajudar a se sentar, precisa comer. — Sinto as mãos grossas de Rafael, ele me segura pelos ombros e me puxa para cima. Com um pouco de esforço o ajudo a m
Luma Estou cercada de loucos, posso afirmar. Os dois irmãos não saem daqui. Ás vezes discutem, ás vezes conversam confidencialmente no canto do cômodo. Como estou em desvantagem, procuro as palavras certas antes de falar qualquer coisa.Vivem falando de um plano perfeito elaborado por Amanda. Tento escutar, mas ainda não consegui entender nada de útil. Rafael e Rosa saíram há pouco tempo, provavelmente para buscar algo para comer e beber.Aproveito para andar pelo lugar e tentar encontrar uma forma de fugir, mas é em vão.Há um corredor e no final dele uma porta que, obviamente, está trancada. Também tem uma grande janela, mas ela está coberta por tábuas e não consigo ver nada do lado de fora. Eu tento, mas não consigo.Volto para o quartinho e nele também há uma janela, que está da mesma forma da anterior. Meus pulsos foram amarrados na frente do meu corpo para que eu pudesse comer e beber sozinha e, por isso, consigo erguer o braço e empurrar a madeira, tentando afastá-la o suficie
LumaDepois do café da manhã, Rosa chegou com uns envelopes nas mãos e então os dois foram para o canto de sempre cochichar. Passa-se pouco mais de uma hora e então vejo Rafael se aproximando de mim com um dos envelopes em mãos. O sorriso no rosto dele, indica que é algo que esperava muito, o que pode ser um péssimo sinal para mim.Ele vem agindo de maneira estranha ultimamente. Achei que quando caísse em suas mãos, ele tentaria me tomar a força e seria agressivo e ciumento, porém, ele tem sido carinhoso e atencioso. O que é muito estranho.— Como está, meu amor? — O homem se senta ao meu lado — Em breve estará livre e terá todo o conforto que desejar.Sem saber o que falar, encaro-o em silêncio, enquanto ele retira alguns documentos de dentro do envelope. Há todo tipo de documento que se possa imaginar: passaporte, identidade, certidão... certidão de casamento?Ele ergue o documento com um sorriso ladino. Seguro-o e leio os nomes. Não conheço as pessoas que estão ali. Jean Costa e An
Gabriel(5 dias depois do desaparecimento da Luma)Hoje de manhã, levei meu filho até a piscina do meu condomínio. Bom para ele e para mim. Cinco dias sem Luma e sem notícia alguma, isso está nos deixando loucos. O problema é que da mesma maneira que não consigo afastar meus pensamentos por muito tempo, percebi que meu filho também não. Por várias vezes, o vi sozinho em um canto, sem interagir com nenhuma criança.No fim do dia resolvo levá-lo para comer na praça de alimentação do shopping. Tento me controlar para não passar a minha aflição para ele, mas o garoto parece estar submerso em seus pensamentos.— Não está com fome? — pergunto quando o vejo remexer na comida sem levar nada à boca.O menino suspira e responde a seguir.— Não muita. Sinto falta da minha mãe.Eu preciso ser forte por ele. Estendo a mão até seus cabelos curtos e o acaricio.— Eu também sinto falta da sua mãe, filho. Mas nós precisamos comer para estarmos fortes quando ela precisar de nós.O menino balança a cab
Gabriel(5 dias depois do desaparecimento da Luma)— Não pode ser ela — afirmo ainda encarando a cena grotesca.O delegado se aproxima de mim e me puxa para longe do carro.— Venha, Gabriel. O corpo será removido e levado para autopsia e necropsia.— Não, quero ficar aqui.— As cenas a seguir podem ser fortes demais.— Eu não me importo, delegado, quero ficar.Já estou em um estado de desespero que não me importo mais com o que verei, tudo o que eu quero é estar perto, ver tudo e participar do que puder.Meus olhos continuam firmes sobre o corpo que pode ser da minha mulher, mas o meu coração continua negando. Ele diz que não é Luma ali sentada naquele banco.— Tudo bem, então. Mas terá que sair da frente, vai atrapalhar o trabalho dos outros.Viro-me e vejo que há homens atrás de mim, esperando que eu saia para começar o trabalho. Me afasto apenas o suficiente para permitir que trabalhem, mas fico ali, observando e acompanhando cada passo.A porta do carro é removida, os fios que pre