Desço pelo elevador, pego meu carro na garagem e cumprimento o porteiro ao passar por ele.Antes de sair do meu apartamento, joguei na internet algumas empresas próximas. Salvei o endereço de três delas, se eu visitasse as três hoje e não obtivesse nenhuma resposta positiva, então procuraria por outras. Alguma empresa deveria estar precisando de uma secretária, assistente, auxiliar... qualquer coisa do gênero.Ligo meu carro e vou em direção a primeira. Ao entrar na empresa, vi que se tratava de uma confecção. A secretária me recebeu muito bem, mas quando disse que estava em busca de emprego me analisou e respondeu com uma pergunta: “Você sabe costurar?”— Não, mas eu posso aprender — respondi — talvez um emprego de auxiliar de costura, com o tempo com certeza aprenderei o ofício.— Em qual área a senhora tem experiência? — Feita a pergunta, descobri que não tenho nada para apresentar.Não tenho formação, nem o terceiro ano do ensino médio cheguei a concluir. E o único trabalho que ex
Gabriel— Sai daqui agora, Amanda — ordeno e ela me encara com seus olhos injetados de ódio.— Não vou sair assim, acha que vai me colocar pra fora como um cachorrinho? — Me encara com a raiva transbordando em seu olhar. — Se não se casar comigo, perderá tudo, meu querido.— Prefiro voltar pra roça e cuidar dos meus cavalos a me casar com você — falo apontando um dedo na cara dela.— Não é bem assim, acha que esse “tudo” apenas se refere a sua riqueza? — ela ri de uma forma estranha — Não, meu querido. Eu não estou sozinha nessa e você pode perder muito mais do que seu rico dinheirinho — zomba.— Do que está falando? — meu tom sai baixo, quase um sussurro.— Da sua amada, é claro. Acha que não adivinhei esse cenário? — Encaro meu pai indignado.— Pai, você está colocando a vida de Luma em perigo?Meu pai levanta as mão e responde.— Isso é novidade até para mim, Gabriel. Eu não estou sabendo de nada, inclusive até disse a ela que desisti de tentar separar vocês dois. — Ele coça a cab
LumaEstava sentada nas cadeiras duras e frias da delegacia há umas duas horas quando finalmente me permitiram ligar para alguém. Imediatamente liguei para Gabriel.Não queria preocupar ainda mais a minha mãe e dar motivos para meu filho se envergonhar de mim.Quando parei o carro, muito assustada, fui tratada como uma criminosa. Com as armas apontadas para mim, os policiais faltaram virar meu carro do avesso a procura de armas e drogas, mas quando notaram que o que eu dizia parecia ser a verdade, me conduziram respeitosamente até a delegacia. Mas ainda assim, demoraram a me autorizar a ligar para alguém.Eu só sabia chorar.No depoimento que dei, expliquei que um carro estava me seguindo havia alguns quilômetros, até mostrei em meu aparelho que havia recebido uma chamada naquele horário de um número restrito.Ao contar a eles, notei que ganhei um pouco de credibilidade e passei de suspeita a vítima. Agora eles estavam tentando descobrir quem era a pessoa que me seguiu; o carro usado
GabrielVi nos olhos de minha sogra que ela pôde antecipar o que viria a seguir.— Ah, minha filha. Mas agora eu preciso ir fazer a janta... — A mulher tentou se esquivar da conversa.— Mamãe, a senhora não precisa se preocupar com essas coisas aqui em casa. — Luma começou a se aproximar da cama — Eu sei que tenho deixado as coisas nas mãos da senhora, mas não precisa se preocupar com isso.Ela se senta na cama e segura a mão de sua mãe.— O que o Gabriel quer falar parece ser muito importante, depois a gente vê o que faz pra janta.Os olhos desesperados de Nádia pousaram em mim, como se eu fosse sua última escapatória, mas se dependesse de mim, terminaria com tudo isso hoje mesmo.— Sobre o que vocês querem conversar comigo?Eu também me aproximo e me sento ao lado da Luma.— Sua filha foi perseguida hoje — inicio a conversa —, foi levada para a delegacia e o caso está sendo investigado, mas eu sei quem armou isso para ela.— Do que estão falando? Não consigo entender. — Seus olhos f
LumaCom tudo o que aconteceu desde o escândalo na festa de aniversário de meu filho, eu estava me sentindo vulnerável. O fato de ter que revelar ao meu filho o meu passado, me deixou ainda mais frágil diante de tudo que eu precisava enfrentar. E isso deu a Kayo a possibilidade de agir da maneira que vem agindo.Entendo que é difícil para um menino de onze anos cuja mãe sobreviveu por uma década ganhando dinheiro usando o próprio corpo, que não é fácil para ele me comparar com as mulheres peladas que ele e os amigos ficavam vendo pela internet. Mas ele tem que compreender uma coisa: eu sou a mãe aqui.Desde cedo que ele vem me ignorando, me tratando com frieza, mas cansei de ficar esperando que o menino olhe na minha cara.Estou diante de seu quarto. Gabriel e minha mãe já foram para a cozinha, e eu pretendo resolver isso aqui bem rápido. Giro a maçaneta e entro no quarto de meu filho.— O que você quer? — pergunta com frieza, como se fosse o homem da casa e mandasse em alguma coisa.
Gabriel Algumas horas na estrada e estou próximo da cidade onde cresci no interior. Tenho muitas lembranças deste lugar, boas e más. Os amigos, as brincadeiras, a escola... e meu grande amor.Luma fez parte da minha adolescência, foi minha primeira namorada e meu primeiro amor, mas a maldade e ambição das pessoas nos afastaram. Hoje compreendo tudo o que aconteceu, e o preço que pagamos pela ambição alheia, a nossa separação, mas vou acabar com tudo isso, doa a quem doer.Resolvo seguir direto para conversar com meu sogro, pois sei que a conversa pode ser longa e cansativa. Depois posso ir até a fazenda e tomar um café com dona Ana e comer um de seus bolos deliciosos.Dirijo em direção a casa de Mário, o pai da Luma. Mas a essa hora ele deve estar na lida.Passo pela roça onde ele trabalha e o vejo preparando a terra de uma área para o plantio. Salto do meu carro e o chamo:— Mário!O homem encosta a enxada no chão e procura por quem lhe chamou, mas olha para o lado oposto. Por isso,
Chego na fazenda e ao caminhar para a cozinha, sinto o cheirinho da comida bem temperada de dona Ana. Sinto saudade das comidinhas simples do interior.— O cheiro tá bom, hein.Entro falando.— Gabriel, meu fio, que saudade — A senhora vem na minha direção enxugando a mão molhada em um pano de prato e o joga sobre o ombro antes de me abraçar.Sinto seus braços rechonchudos me envolverem e eu abraço a senhora baixinha. Ela se afasta e me analisa.— Está com uma carinha bem melhor desta vez, está tudo bem na cidade?— Tem muita coisa acontecendo por lá, coisas que não são muito boas. Mas estou feliz porque me acertei com Luma e conheci meu filho.Dona Ana arregala os olhos.— Seu fio? O menino é mesmo seu?— É sim, toda aquela história com Rafael, desde a traição até eles terem ficado juntos por muitos anos, era tudo mentira.— Senta aí, Gabriel, vou pegar um pedaço de bolo procê e ocê vai me contar tudinho.Dou uma risada pela curiosidade da senhora e eu começo a contar tudo desde o mo
Luma Por volta das 8h da manhã, o povo em minha casa começa a se movimentar. Ouço conversas e risadas abafadas pela porta fechada. Resolvo me levantar.Fico deitada na cama sem pegar no sono novamente depois do que aconteceu. Me levanto algumas vezes para olhar pela janela, mas parece não ter nada do lado de fora.Uma garoa começa a cair, deixando a calçada e estrada molhada, as pessoas caminham com guarda-chuva e isso atrapalha ainda mais para que eu possa identificar alguém ali parado, espionando o meu apartamento.Logo hoje que eu tinha decidido ir em busca de uma escola nova para Kayo e de um emprego.Vou até o banheiro do meu quarto me arrumar e quando chego na cozinha, estão todos sentados à mesa preparando seu café da manhã.— Bom dia — falo e todos me respondem, inclusive meu filho.— Bom dia, mãe. — Seus olhos estão direcionados para a mesa, mas é um começo.— João, será que você poderia sair com kayo à procura de uma escola, por favor? — peço ao meu irmão, pois meu filho nã