LumaO sol brilhava no céu azul, enquanto caminhávamos de mãos dadas pelo parque. As risadas de Kayo ecoavam pelo ar e nos contagiava com sua alegria. Gabriel teve a brilhante ideia de fazermos um piquenique, só nós três.Minha mãe me ajudou a preparar uma cesta com todas as comidinhas favoritas de Kayo. Nos acomodamos em uma toalha xadrez estendida sob uma árvore frondosa, e as risadas de meu filho e sua empolgação pelo dia anterior continua.Depois de descrever como Gabriel havia o ensinado a montar o cavalo e a dar voltas com ele, o menino continuava animado, descrevendo feliz sobre as suas últimas descobertas na escola. Ele contava detalhes sobre a aula de ciências e como tinha resolvido uma questão complicada na aula de matemática.Gabriel sorria orgulhoso, escutando cada palavra com atenção.— Uau, Kayo, você é incrível! — Exclamou Gabriel. — Tenho certeza de que vai ser um cientista famoso ou um matemático brilhante no futuro!Eu só poderia sorrir e concordar, a face orgulhosa
Gabriel— Hum, que cheirinho bom é esse? — fala meu filho ao entrar no apartamento da mãe. Acho isso estranho, deveria ser o nosso apartamento, mas Luma não quer.— A vovó fez um jantarzinho maravilhoso pra você — A senhora vem da cozinha e dá um abraço apertado no neto. — Como foi o passeio?— Muito bom, sabia que meu pai faz malabarismo com laranja?— Eu não sabia, não. É mesmo?— É, e ele me ensinou.— Que legal, meu neto. Agora vai tomar um banho, só vai jantar depois de limpinho e cheirosinho.— Tá bom — Ao responder, o menino segue em direção ao quarto.— Vocês dois estão com cara de pais babões — ela comenta e nós rimos.— Kayo é um bom garoto — respondo.— Mas até onde irá todo esse amor? — Sinto preocupação na voz de Luma. Seus olhos ainda estão no caminho que o garoto percorreu.— O que quer dizer, minha filha?— Ah, mãe. Como ele irá reagir ao saber a verdade? O que ele pensará de mim?— Mas você não precisa contar a ele — sua mãe segura em sua mão.— O pior é que preciso.
LumaA noite foi linda, se eu pudesse, faria o tempo parar bem ali. Tudo estava perfeito: deitada nos braços de meu amor, cansada e saciada por uma noite maravilhosa; uma aliança de noivado brilhando em meu dedo; meu filho dormindo em seu quarto e feliz da vida pelo dia que teve com o pai e pela festa de aniversário; minha mãe e meu irmão comigo. Tudo tão perfeito, e prestes a ruir se a conversa que tiver com meu filho for mal.— Por que tem uma ruguinha bem aqui no seu nariz. — Gabriel apontou para o meu rosto e eu sorri.— Estava pesando.— Pensando em quê?Sinto seu dedo afastar um fio de cabelo que estava grudado em meu rosto.— Em como tudo está tão perfeito e quando amanhecer eu vou ter uma conversa com Kayo que pode estragar tudo.Ele me puxou para mais perto de si e me apertou.— Não fica sofrendo antecipado, tá. Isso não é legal. Você nem sabe como ele vai reagir e fica sofrendo. Ele foi tão compreensivo comigo, achei que ia me encher de perguntas do tipo: por que me abandono
GabrielVer a Luma se quebrando daquela maneira fazia meu coração sangrar. Ela fez tudo o que pôde pelo menino e agora ele tem essa reação ao saber o que aconteceu, como sua mãe ganhou a vida por anos. Eu sei que é algo difícil de entender, principalmente para um pré-adolescente, mas ainda assim, tenho certeza que ela desejava que seu filho tivesse uma reação um pouco melhor.Kayo é um bom garoto, tenho certeza que ele irá compreender e aceitar, mas até lá, eu vou ficar com a minha noiva e dar a ela tudo o que precisa.— Estou aqui, meu amor, pode chorar. Coloca pra fora toda essa tristeza, depois que nosso filho entender o que aconteceu, nós três faremos uma viagem linda. — Tento acalmá-la, mas ela continua soluçando.Sua cabeça está apoiada em minhas pernas, faço carinho em seu couro cabeludo, alisando seus fios loiros enquanto soluça.— Perdi meu filho pra sempre, Gabriel.— Não, Luma. Não perdeu, não.— Você viu o jeito que ele falou comigo? Viu o desrespeito, a raiva?— Eu vi, mas
Capítulo de domingo de manhã LumaQuando cheguei na cozinha, meu filho estava comendo um bolo feito por sua avó. Assim que me sentei à mesa, ele não disse nada, somente pegou seu pedaço de bolo com sua xícara de café e saiu do cômodo.Uma tristeza gigantesca invadiu meu coração, e se ele já não estivesse em pedacinhos, com certeza ficaria.— Filha, o que aconteceu pra Kayo reagir assim?Minha mãe ainda não sabia que eu tinha contado a ele toda a verdade, então revelei.— Ah, mãe. Tive que contar a ele o que a Rosa disse na festa e que tudo o que ela falou era verdade.— Ai, minha filha, eu sinto muito.Apoio o cotovelo sobre a mesa e a cabeça na palma de minha mão.— É, mãe, meu coração está partido.Ouço passos e minha mãe também, ficando atenta se a pessoa que se aproximava era Kayo ou outra pessoa, mas era o Gabriel.Continuo na mesma posição, sentindo o peso da minha dor.— Você está bem? Posso mesmo sair? — ouço sua voz.Aceno, concordando. Estou de olhos fechados tentando segu
Desço pelo elevador, pego meu carro na garagem e cumprimento o porteiro ao passar por ele.Antes de sair do meu apartamento, joguei na internet algumas empresas próximas. Salvei o endereço de três delas, se eu visitasse as três hoje e não obtivesse nenhuma resposta positiva, então procuraria por outras. Alguma empresa deveria estar precisando de uma secretária, assistente, auxiliar... qualquer coisa do gênero.Ligo meu carro e vou em direção a primeira. Ao entrar na empresa, vi que se tratava de uma confecção. A secretária me recebeu muito bem, mas quando disse que estava em busca de emprego me analisou e respondeu com uma pergunta: “Você sabe costurar?”— Não, mas eu posso aprender — respondi — talvez um emprego de auxiliar de costura, com o tempo com certeza aprenderei o ofício.— Em qual área a senhora tem experiência? — Feita a pergunta, descobri que não tenho nada para apresentar.Não tenho formação, nem o terceiro ano do ensino médio cheguei a concluir. E o único trabalho que ex
Gabriel— Sai daqui agora, Amanda — ordeno e ela me encara com seus olhos injetados de ódio.— Não vou sair assim, acha que vai me colocar pra fora como um cachorrinho? — Me encara com a raiva transbordando em seu olhar. — Se não se casar comigo, perderá tudo, meu querido.— Prefiro voltar pra roça e cuidar dos meus cavalos a me casar com você — falo apontando um dedo na cara dela.— Não é bem assim, acha que esse “tudo” apenas se refere a sua riqueza? — ela ri de uma forma estranha — Não, meu querido. Eu não estou sozinha nessa e você pode perder muito mais do que seu rico dinheirinho — zomba.— Do que está falando? — meu tom sai baixo, quase um sussurro.— Da sua amada, é claro. Acha que não adivinhei esse cenário? — Encaro meu pai indignado.— Pai, você está colocando a vida de Luma em perigo?Meu pai levanta as mão e responde.— Isso é novidade até para mim, Gabriel. Eu não estou sabendo de nada, inclusive até disse a ela que desisti de tentar separar vocês dois. — Ele coça a cab
LumaEstava sentada nas cadeiras duras e frias da delegacia há umas duas horas quando finalmente me permitiram ligar para alguém. Imediatamente liguei para Gabriel.Não queria preocupar ainda mais a minha mãe e dar motivos para meu filho se envergonhar de mim.Quando parei o carro, muito assustada, fui tratada como uma criminosa. Com as armas apontadas para mim, os policiais faltaram virar meu carro do avesso a procura de armas e drogas, mas quando notaram que o que eu dizia parecia ser a verdade, me conduziram respeitosamente até a delegacia. Mas ainda assim, demoraram a me autorizar a ligar para alguém.Eu só sabia chorar.No depoimento que dei, expliquei que um carro estava me seguindo havia alguns quilômetros, até mostrei em meu aparelho que havia recebido uma chamada naquele horário de um número restrito.Ao contar a eles, notei que ganhei um pouco de credibilidade e passei de suspeita a vítima. Agora eles estavam tentando descobrir quem era a pessoa que me seguiu; o carro usado