Rosa— Ah, Rosa, não acredito que vai receber uma amiga deste jeito — fala a mulher exuberante entrando e fechando a porta do quarto em seguida.— Eu não tenho amigas, você não é minha amiga.— Não devia falar deste jeito, fofa.Me irrito com seu modo de falar.— Fofa é o seu...— Olha como trata as visitas! — Estende um dedo cheio de anéis como repreensão. — Não vai me perguntar por que vim aqui?— Já perguntei.— Não — fala e se aproxima mais, a mulher parece uma cobra se rastejando e esperando a hora certa de dar o bote — Você me perguntou “o que eu faço aqui?”, é diferente. Eu faço uma visita, simples assim. — Deu de ombros. — Mas por que eu vim aqui você não perguntou.Suspiro fundo, me rendendo ao seu jeito estranho.— Tudo bem, por que veio aqui, Amanda? — pergunto jocoso, e ela sorri com seu sorriso de cobra, só falta a língua bifurcada.— Vim por vários motivos, um deles é mostrar como você é uma incompetente.— Veio me visitar ou me insultar?— Vim dizer a verdade. Tem algum
GabrielO que poderia significar a palavra dormir? Nesta noite eu simplesmente deletei esse significado da minha cabeça e passei a noite em claro. Ao chegar no quarto, achei o convite em cima do móvel ao lado da cama. Ali tinha a data do aniversário do meu filho, Kayo.Encaro a data, o garoto nasceu em pleno inverno e esta noite está fazendo jus a estação. Subi na cama do modo como estava quando Luma foi embora: arrasado, derrotado e confuso, além de vestindo apenas uma bermuda. Me cobri com o edredom que cheirava ao perfume dela.Coloquei o convite sobre o nariz e senti o seu cheiro ainda mais forte. Naquela posição passei a noite, encolhido, sentindo um frio que não haveria cobertor capaz de me aquecer. A vontade de ir até lá e buscá-la para os meus braços era esmagadora, mas eu sabia que não era o momento certo.Nice confirmou as informações que Luma havia me dado. Minha mente me dizia que ela foi injustiçada; sofreu sozinha com a ajuda de um estranho; foi expulsa pelo próprio pai,
LumaLogo pela manhã, recebo uma mensagem do Gabriel. Ele quer ver o filho depois que sair da empresa e conversar comigo. Não sei qual das duas partes da mensagem causam mais moleza em minhas pernas; frio no meu estômago e faz meu coração acelerar.Levo meu filho à escola e na volta me deparo com uma cena na cozinha que me chama a atenção: Nice e as outras meninas estão sentadas em volta da mesa.— Renião? — questiono, jogando a bolsa sobre a cadeira que restava vazia.— Uma bem desagradável — responde Nice.— Sobre o quê? Posso saber?— Sobre você — responde Janaína e eu a encaro sem entender nada. Na verdade o motivo começa a passar por minha cabeça, mas prefiro ouvir da boca delas.— Luma, eu tentei evitar, tentei explicar, mas não teve jeito. — Nice parece meio nervosa. Não sei o que esperar.Olho, confusa, para as faces presentes ali e vejo que algumas parecem descontentes, e Janaína é uma delas.— Sente-se, Luma. É melhor que seja agora, já que Kayo está para a escola.Em silênc
Meu filho está fazendo seu trabalho para a escola. Dou um beijinho avisando que estou indo trabalhar e ele me dá um abraço apertado.Caminho até a ala reservada à recepção dos clientes, que é bem separada da que usamos como uma casa normal, e então desço as escadas.O clima tem estado um pouco melhor que algumas semanas atrás, a temperatura esquenta durante o dia, aliviando o frio da noite e isso traz mais clientes até a mansão.O bar tem uns dois homens sentados, um de cada lado da moça jovem e sorridente. Nas mesinhas também já tem alguns clientes e eu vou até uma mesa onde Camila está.— Boa noite — cumprimento-a.— Boa noite, Luma. Me desculpa por hoje de manhã, vi que manteve a distância de todas nós durante o dia.— Você não fez nada, Camila, não precisa se desculpar.— Só queria te dizer que Nice andou segurando isso o máximo que conseguiu, as garotas estavam pressionando-a.— Eu faço ideia. Vi a cara daquelas três.— Eu não me importo, sei o quanto sofreu durante muitos anos.
GabrielAs coisas que a Rosa falou ficaram na minha cabeça, me fazendo pensar em tudo o que aconteceu no passado. Por muitas horas as minhas tarefas da empresa ficaram em segundo plano, eu só conseguia pensar que o que aconteceu conosco destruiu não só a minha vida, mas também a vida da Luma.As mensagens que ela mandou pra mim contribuíram para o turbilhão de pensamentos que me invadia. Até mesmo o ciúme das colegas de trabalho, ela está enfrentando por minha causa. Estou decidido a dar um fim no sofrimento de Luma, é o mínimo que posso fazer por ela.Mas também ronda a minha mente o papel de Rosa e Rafael na nossa separação. Qual seria a intenção? Seria apenas com a intenção de nos deixar livres para que eles pudessem se aproximar ou há algo maior por trás de tudo isso?Como somente um sanduíche na hora de almoço, na minha sala mesmo, e tento trabalhar um pouco antes de ir embora.Quando estou a caminho da mansão, paro em uma floricultura e compro uma rosa vermelha para ela. Hoje eu
LumaEm anos que trabalhei na mansão de Nice, nunca havia acontecido algo como aquilo. O desespero que tomou conta de mim no momento em que achei que seria arrastada para qualquer quarto e ser forçada a ter qualquer coisa com Rafael, me deixou em um estado que nem sei explicar.As lágrimas escorriam de meus olhos e eu sentia ânsia de vômito, puro nojo daquele homem que tudo o que queria era me humilhar. Mas o alívio que veio a seguir foi arrebatador, porém assistir Gabriel me defender com tanta ferocidade, deixou as coisas ainda mais estranhas entre nós.Afinal de contas, ele estaria com raiva de mim depois de tudo o que aconteceu? Estaria com ciúmes? Me culparia? Então, com medo de falar besteira, acabei ficando calada.Todo o tempo no hospital foi em silêncio, quebrado somente quando necessário, porém as palavras de Gabriel no carro e sua atitude me disseram que eu estava errada. Gabriel não era mais o mesmo garoto idiota que acreditou em um bilhete e em um flagrante armado. Agora e
Rosa— Rafael, você é burro demais. — Se raiva da burrice dos outros matasse, eu estaria morta.— Burro por quê? Fiz exatamente o que você falou.Reclama ele colocando gelo em cima do nariz inchado. Tive que levar meu irmão até o hospital pra colocar o nariz no lugar.— Não fez, não. Eu disse pra você seduzir a puta, lá. Não arrastá-la a força. E ainda saiu na briga com Gabriel. Sabe de quem ela está cuidando agora? Exatamente, do Gabriel, seu burro.Falo exasperada, jogando as mãos para o alto. Meu irmão não tem jeito, nem sei como ele fez tudo certinho no passado.— E você acha que ela iria cair na minha conversa? — se defende — Ela estava toda linda com um vestido vermelho bem decotado, você acha que ela se arrumou toda pra qualquer um?— Agora a gente tem que pensar em outra forma de você se aproximar dela.— Coloca uma coisa na sua cabeça, Rosa — Ele joga a bolsa de gelo no chão e vem na minha direção — A Luma não vai aceitar sair comigo por vontade própria, nem por dinheiro ela
LumaO fim de semana havia chegado e com ele a festinha de aniversário do meu filho. Gabriel e eu decidimos que deixaríamos o aniversário dele passar para que pudéssemos contar com calma. Não sabíamos como ele reagiria à novidade, e talvez isso pudesse atrapalhar sua tão esperada festa na piscina. O menino passou o mês inteiro falando sobre isso, seria injusto estragar toda sua expectativa.Mas a pedido do Gabriel, saí em busca de um apartamento. Ele queria que fôssemos morar com ele, mas isto está errado. Eu tenho reservas, não passei todos esses anos desperdiçando dinheiro. Posso muito bem nos sustentar até conseguir um trabalho decente. Foi difícil convencê-lo disso, mas no fim, consegui. Ele até me ajudou a encontrar um próximo ao prédio que ele morava.Mas agora a correria não era sobre a mudança, mas sim sobre a festa do meu filho.O salão alugado estava cheio de crianças correndo, os convidados ainda chegando e na piscina já tinha aqueles que não conseguem esperar, inclusive me