Aperto o botão do elevador com um sorriso bobo nos lábios. Nem acredito que consegui. Vendi minha primeira letra. Não renderá tanto quanto eu gostaria, mas ainda assim é um sonho. Mal vejo a hora de poder contar para ele.
August e eu temos estado distantes a alguns meses. Depois do anúncio do noivado, não sei… parece que tudo se tornou real demais para nós. O relacionamento é longo, acho que é normal passar por isso. Pelo menos, é o que repito para mim mesma.
Hoje, entretanto, será diferente. Contagiada de alegria como estou, sei que poderemos passar um tempo legal juntos. Nos perder um no outro, sempre fomos bons nisso.
A porta do elevador se abre e saio por ela, apressada. Pego a chave em minha bolsa e destranco a porta do apartamento. Deixo minhas botas na entrada, junto ao meu casaco. Passo pela sala em tons de verde-claro, estranhando o silêncio. É raro eu vir aqui a essa hora, mas sei que ele geralmente só trabalha a tarde.
Minha mão segura a maçaneta, mas paro, meu sorriso esmorecendo devagar. Gemidos roucos, vindo lá de dentro. Abro a porta, mesmo querendo correr dali.
O quarto com as cortinas escuras, bem espaçado, me lembra das diversas noites que passamos aqui. Juntos, nos amando. A cama grande no centro do quarto, mostra o que eu tanto temia.
A mulher loira, com a cintura fina e quadris largos, se movimenta frenética sob o corpo de August. Essa expressão dele... quantas vezes, eu já não a vi?
O maxilar forte tensionado, os olhos castanhos semifechados, perdidos no próprio prazer. Os cabelos escuros estão revoltos. De seus lábios, um rouco gemido sai, enchendo o quarto. A mulher manobra o meu noivo, como tantas vezes, eu mesma o fiz.
Levo a mão aos lábios. Minha visão se tornando turva pelas lágrimas. Mais um gemido preenche o ambiente, mas dessa vez é angustiado, sofrido e é meu.
August abre os olhos e seu rosto se desvia para o ponto do quarto, onde estou.
— Aiyra... — ele pausa, se levantando e jogando a mulher para o lado.
Seu corpo alto e esguio vem em minha direção, a ereção morrendo.
Dou um passo para trás, enojada com sua imagem.
— Você não tinha o direito… — murmuro, a raiva suplantando as lágrimas — Como pode estragar o que tínhamos desse jeito? Como pode me destruir, desse jeito?
August paralisa, o rosto sendo tomado pela culpa.
— Não era para ser assim… — Ele diz, o olhar se desviando para o chão.
— Isso é o máximo que consegue? — rosno, me aproximando de seu rosto.
Nossos olhares se cravam um no outro. O que quer que ele esteja vendo em meu rosto, o faz se retrair, com lágrimas enchendo os olhos. E isso é o máximo que aguento. Estou cheia dessas decepções. De ser ferida por quem eu mais amo. August, foi uma doce ilusão por um tempo.
— Me escute bem. Eu vou passar por essa porta e você não virá atrás de mim, não me ligará e em hipótese alguma, vai tentar me achar depois de hoje. Se o fizer, eu juro que irá se arrepender. — Lhe digo, as palavras sendo despejadas devagar.
August abre os lábios, mas os fecha em seguida. Meu olhar o cala. Ele me conhece e sabe que eu digo a verdade. Passo a mão no rosto, secando as lágrimas e observo seus traços uma última vez.
Viro-me indo em direção a porta do quarto, mas paro antes de passar pelo limiar.
— Eu teria ido até o inferno por você. — Sussurro para ele, antes de sair.
Meus passos apressados ecoam pelo apartamento. Não vejo mais nada, pois agora as lágrimas descem com vontade. Calço minhas botas, as mãos trementes as derrubando. Termino e pego meu casaco, tentando me acalmar. Abro a porta do apartamento e quase trombo com Ethan, que iria bater à porta.
Seus olhos âmbar descem por meu rosto, a expressão passando por surpresa e depois ficando enfurecida. E é por seu olhar que percebo. Ele sabia. Claro, é irmão de August, como não saberia?
— A quanto tempo, Ethan? — lhe pergunto, a voz estrangulada.
Ele passa a mão por seu cabelo negro, o maxilar se tensionando. Ethan sempre fora um dos caras mais lindos que já vi, tanto por fora, quanto por dentro. Ele era meu amigo, meu confidente e me deixou acreditar nessa farsa.
— A alguns meses. — Ele me responde, direto como sempre foi.
— Por que não me contou? Alertou… qualquer coisa… — um soluço irrompe em minha garganta.
Ethan se aproxima de mim, os braços grandes e reconfortantes tentando me aparar. Afasto-me com brusquidão, fechando os punhos ao ponto de doer as articulações.
— Eu tentei Aiyra… Deus sabe o quanto eu tentei. — Sua voz forte, se eleva.
— Deveria ter tentado mais. Se fosse o oposto, eu preferia você com raiva de mim, a te ver sendo enganado como eu fui. — O repondo.
— Por favor, Dakota… — ele usa meu apelido, tão usado desde crianças, seu rosto ficando pálido.
— Não. Nunca mais me chame assim. Pra mim já deu, Ethan! Quero que você e seu irmão vão para o inferno. — grito e passo por ele, com brutalidade.
Sua mão envolve meu pulso, me parando. Seu toque tão conhecido, traz lembranças dos anos em que éramos só adolescentes, passando pelas dificuldades juntos. De alguma forma, saber que Ethan mentiu para mim, dói mais do que saber que August estava transando com outra. Ethan era meu amigo. Ele e Lavínia estavam lá quando perdi minha mãe. Não importava o que acontecesse, o quanto, crescidos estávamos, nós sempre apoiávamos, mutualmente.
— Por favor, não me afaste. Sei como você age quando está magoada. Não faça isso comigo. — Ele pede, a voz oprimida pela emoção.
— Eu não posso, Ethan. — Eu o encaro, minha voz nada mais que um sussurro — Quando olho para você agora, só o que sinto é esse sentimento de traição. Eu… sinceramente não posso.
Muitas coisas passam por seu olhar. Dor, raiva, afeto e finalmente aceitação. Ethan me solta, dando um passo para trás.
— Vou estar aqui Aiyra, como sempre estive. Passe o tempo que for. Me perdoe por não ter dito, mas saiba que vou sempre estar aqui por você. — Ele me diz, um sentimento poderoso se revelando em seu olhar.
Afasto-me afoita e confusa. Ele nunca me mostrou essa parte de si e não sei bem como entendê-lo agora, a dor em meu peito me impede de sequer tentar.
Saio, os sentimentos, meros pedaços do que já foram, mas com a certeza de que vou me levantar. Já passei por coisas piores e não deixarei esse sentimento enganoso me derrubar de novo. Jamais.
Três anos depois...AiyraO ronco do motor da minha moto ressoa uma última vez antes de deixá-la morrer. Tiro o capacete, meus pesados cabelos, caindo em minha cintura. Deixo-a estacionada na parte de trás da cafeteria, olhando para sua cor prata, vibrante. Faz meses que troquei minha antiga moto por essa. Doeu trocá-la, foi o meu primeiro veículo, mas uma Harley sempre foi um sonho para mim.Agora com as contas um pouco mais organizadas, me permiti a essa compra. Mesmo ganhando bem com a venda das minhas composições, as dívidas do meu pai estavam tão acumuladas, que nem trabalhando o dia inteiro na cafeteria e lucrando com as músicas, eu conseguia respirar aliviada.Agora faltam poucas parcelas. Meu pai não conseguirá me ferrar de novo. Desde que mamãe faleceu, ele tem sido um completo irresponsável. Se afundou na bebida, nos jogos e nas dívidas. Os credores batiam tanto a nossa porta, que ficou difícil esconder da vizinhança.Aos dezesseis anos, eu já trabalhava em dois empregos, ma
AiraIsso foi bom. Perigosamente bom.— Porra… isso foi surreal. — ele diz, a voz arrastada e um sorriso satisfeito nos lábios.— Fico feliz em agradar, querido. — Respondo, sorrindo de volta.Ele se move em minha direção, um olhar que eu conheço bem. Olhar de quem quer abraçar. Um sinal de alerta gigantesco soa em minha cabeça. Certo, essa é a hora de ir embora.Levanto-me de supetão, deixando-o a meio caminho, confuso e um pouco constrangido.— Tenho que ir. — Digo, enquanto procuro as minhas roupas.As encontro perto da entrada e visto peça por peça.— Nossa, mas já? Se quiser pode dormir aqui… — ele oferece, um pouco sem jeito.— Não esquenta, com a moto, em menos de quinze minutos estou em casa. — Digo, enquanto passo a camisa pelo pescoço.— Desculpe… fiz algo errado? — Dylan pergunta, os olhos escuros me analisando.— Ah, meu querido, pelo contrário. — Aproximo-me, deixando um leve beijo em seus lábios. — Você foi perfeito. Só não tenho o costume de dormir fora de casa. Posso t
EthanAs luzes dos prédios em volta, tornam-se pequenos pontos brilhantes na cidade. Alongo o pescoço, desviando o olhar da visão panorâmica a minha frente. Hoje foi um dia cansativo.Sento-me na cadeira de couro e ignoro as diversas fichas na tela do meu notebook. Trinta e seis compositores e nenhum mostrou trabalhos bons o suficiente para o álbum. Vangory Turker, a nova queridinha do país, uma cantora de extremo talento, mas também extremamente exigente, foi bem clara em afirmar querer alguém que capitasse a sua essência.Aiyra seria o ideal, se ela não fosse tão teimosa! Posso não ser sensível o suficiente para capitar a essência que Vangory tanto fala, mas tem um motivo para meu pai ter me posto na presidência de todos os estúdios nossos, do país.Sei do que as pessoas precisam e manejo os problemas que surgem com rapidez. As diversas especializações que fiz também contam, claro.Agora como posso fazer aquela mulher teimosa perceber que a proposta que fiz não é uma desculpa para m
Aiyra — Ele fez o quê? — Live guincha, a voz alta ressoando pela cozinha. Pego um cupcake que ela me passa e o mordo sem cerimônia. O recheio de amora com nozes, enchendo minha língua. Repasso tudo que aconteceu ontem. Minha chegada ousada na boate, as ameaças do Farrey, como eu encontrei Ethan e como por um momento eu esqueci que estava magoada. Por um instante, sua mera presença me fez lembrar da época em que conversávamos sobre tudo. E como os sentimentos ruins, tem suas formas desgraçadas de nos mostrar a cara, todas as lembranças de como me senti ferida e traída, vieram à tona. Não consegui sequer tocar no assunto do contrato. O que foi aquele beijo? Merda! Eu quase gemi em seus braços. É o Ethan, pelo amor de Deus! — Eu sabia! Cara, eu tava certa. — Live me tira dos pensamentos. — Você sabia do quê? — Indago, não entendendo o sorriso bizarro em seu rosto. — Eu sempre suspeitei que Ethan tinha uma queda por você... parece ser bem mais que isso, então. — Ela fala, os olhos
Aiyra Fito o contrato a minha frente com o coração palpitando no peito. É quase duzentos mil. Tem compositor que ganha isso em um ano inteiro. Bato as minhas unhas longas e que precisam passar pela manicure, na mesa. Ethan e um produtor, conversam baixinho sobre um artista que está fazendo exigências demais do estúdio. Aproveito a pausa, para ler o contrato com calma. É sim muito dinheiro, mas eu terei que ficar disponível pelo tempo que durar a produção do álbum. Se levar muito mais tempo que eu preciso, terei que pedir um adiantamento. Qualquer despesa por locomoção, alimentação ou hospedagem, caso haja a necessidade de viajar é por conta deles. Quando Ethan disse que precisava de mim por tempo integral, não estava brincando. Passo os olhos pelo nome do cantor e minha respiração trava na garganta. — É a Vangory... É a porra da Vangory, Ethan! — grito, incapaz de conter a alegria. Vangory é simplesmente uma das cantoras de mais sucesso no país. Se eu trabalhar no álbum dela, nã
Aiyra Sinto a mão de Ethan envolver meu rosto, com carinho. O calor de sua mão me faz querer esfregar a face em sua palma. Ignoro os alertas que surgem em minha mente. Meu corpo inconscientemente, tomando as rédeas. Abro minhas pestanas e encontro o seu olhar ferido no meu. Empáticos, furiosos e céus... desejosos como nunca. — Eu daria tudo para lhe tirar essa dor, Dakota. — Ele sussurra, o polegar acariciando meu maxilar. — Faz de mim quem sou Ethan, eu sei lidar com elas. — Confesso e inclino meu rosto em sua palma, aspirando seu cheiro. Meu pequeno gesto incendeia o olhar de Ethan, que desce por meus lábios com uma fome, que faz eu juntar as coxas com o tesão se intensificando. Ele nem me beijou e minha calcinha já está ficando molhada. — Está difícil pausar, Dakota. — Ethan rosna e se aproxima. Trocamos as respirações, as minhas se tornando erráticas. Todo pensamento lógico, fugindo e só deixando a luxúria tomar conta. O observo engolir em seco, sua mão segurando minha nuca c
Ethan“A lua se infiltra pela janela, iluminando o quarto e a ela. Sua pele parece ainda mais deliciosa a essa luz. A calcinha pequena e preta é a única peça de roupa que veste e pretendo tira-la em breve. Seus longos cabelos escuros, espalhados pelo travesseiro. Minhas mãos passeiam pela pele sedosa, parando nos seios arredondados. Os mamilos escuros e rígidos, implorando por minha boca. Passo a língua ao redor deles, ouvindo sua voz melodiosa, soltar um gemido rouco. Ah caralho... como ela é linda.Chupo com força o mamilo, dando uma lambida suave, logo depois. Mato toda minha vontade, sugando seu seio com fervor. Ela arqueia as costas, suas pernas se abrindo para mim, em um convite silencioso.Desço minha mão por sua barriga, meus dedos insanos por sentir sua pele. Alcanço sua boceta, ponho sua calcinha para o lado e encontro-a molhada para mim. Um som desesperado sai de minha garganta. Um gemido, um rosnado, eu não sei. Essa mulher me transforma em um doente, um viciado em tocar
Aiyra Ethan vai diminuindo a distância entre nós, seu olhar agora da cor do mel. Ele leva a mão até o meu pescoço com suavidade, os dedos leves, trazendo arrepios por minha pele. Ele sobe o toque, travando-o em minha nuca, o aperto firme, quase duro.Tensiono-me, a excitação disputando com o nervosismo. Caramba... é isso, eu vou realmente transar com o Ethan. Meu amigo de infância, irmão do meu ex-noivo, e o cara mais quente que eu já experimentei.Ele passa o nariz pela pele de meu pescoço, aspirando. Estremeço em seu aperto, o corpo em chamas. Caralho... ele nem me beijou e já estou encharcada por ele. Seu perfume inunda meus sentidos, marcando-o como dele. Agora, ainda que se passem anos, sempre que sentir esse perfume, lembrarei dele, desse momento e do quanto eu o quis dentro de mim.— Sabe o quanto eu já quis te foder, Dakota? — ele murmura em meu ouvido, quase rosnando.Nego com a cabeça, minha voz emudecida pelo desejo. É incrível que Ethan consiga ser tão devasso, qua