AiyraAperto meus olhos na direção do endereço que Kiler me enviou, minha moto parada no acostamento. No geral parece ser só um estacionamento. Não sei o motivo de tanta cautela com relação ao que Kiler quer de mim, mas sinto como se eu estivesse prestes a entrar em um vespeiro.A sensação só piora conforme me aproximo.Decidida a acabar com tudo isso eu ligo a minha moto novamente e paro no estacionamento, ao lado do de um carro que se assemelha muito ao de Kiler.Desço da minha moto, retiro meu capacete e ando até a janela do carro. Dou uma breve batida no vidro e me encosto no carro, vendo Kiler sair dele. Sua altura, postura rígida e cabelos escuros são os mesmos, mas há algo em seu olhar que não estava lá antes. É doloroso, primitivo e carregado de culpa.Kiler olha para mim, não da forma fria que ele sempre fazia, mas de verdade. Ele também se deixa mostrar e isso me confunde, pois eu já estava me habituando a ideia de ficar enojada por ele.— Você realmente veio. — Ele diz, um
Aiyra — O que mudou, Klaus? — Pergunto, minha voz tremendo com o panorama que se ilumina a minha frente.Eu posso morrer agora. Nunca mais verei os rostos dos meus filhos ou poderei dizer a Ethan o quanto eu o amo.Nós poderíamos ter nos entregado ao desejo mais cedo, ter nos envolvido nos braços um do outro ... Por Deus, como eu queria ter o feito.Eu não estaria aqui agora, temendo pela própria vida e me arrependendo de não ter aproveitado o contato do homem que amo.Klaus parece hesitar, algo em seu olhar se torna muito perturbador de se ver.— Eu realmente não a odeio Aiyra, mesmo que tenha ficado muito irritado por você ter levado Isobell de mim. Por sua causa ela voltou pra aquele lugar maldito e isso nem é o pior nessa bagunça toda. — Ele abaixa um pouco a mão com a pistola — Quando soubemos da sua morte, eu estava pronto para deixar para lá e seguir com merda que se tornou minha vida, eu imaginava que Isobell teria fugido e que em algum momento ela me procuraria, mas não. Ela
AiyraSinto as palmas de minhas mãos suarem um pouco, sentindo o conhecido sabor do medo em minha boca.O carro que Ethan me deu tem um motor potente e acelero sem pena, a estrada parcialmente deserta a minha frente me disponibilizando isso. Já estou a duas horas nessa viagem e por todo esse tempo o veículo cinza, um conversível simples, não sai da minha cola. No início ele tentava ser mais discreto, se mantendo a algumas quadras de distância, mas à medida que deixamos a cidade movimentada e entramos em áreas mais isoladas, ele ficou mais ousado e eu diria até que se diverte cada vez que eu acelero para me manter mais distante.É ele. Tenho certeza.Nenhum outro, iria ser tão idiota ao ponto de arriscar ser revelado.Farrey quer me caçar, como o grande filho da puta que ele é.Respiro fundo e firmo bem minhas coxas, impedindo que elas tremam ainda mais.Foi arriscado pegar o carro e vir até o interior, mas era preciso.Faz menos de uma semana que enterramos Kiler. Não foi um enterro
AiyraO silêncio da casa quando retorno é total. Ethan me disse que levaria as crianças para ficar com meu pai mais cedo e isso talvez seja o motivo para tanta calma.Caminho pelos corredores, indo direto para o quarto. Abro a porta, vendo Ethan lá sentado, as duas mãos juntas na frente do corpo e olhar perdido.Ele me vê e se levanta. Me envolvo em seus braços antes de sequer dizer qualquer coisa. Há uma parte em mim aliviada por ter me livrado da minha maior ameaça, mas há também um gosto ruim, como se uma parte boa de mim, estivesse faltando.— Acabou. — Digo e ele me aperta em seus braços.— Eu sinto muito por isso. Quem deveria ter estado lá era eu. Você merecia paz e eu não pude te proporcionar isso. — Ethan confessa. Esfrego meu rosto em seu peito, seu cheiro me enviando uma onda de puro prazer.— Você me proporciona muito mais do que imagina. Não deixe seus pensamentos irem por esse caminho, querido. Farrey era meu dilema e é algo que agora está definitivamente no passado. —
AiyraUm ano depoisLevanto de minha cadeira no escritório, a partitura em minhas mãos soando como um sino em minha cabeça. Pego meu violão com um pouco mais de avidez que o necessário, minhas chaves e saio do escritório com pressa.Passo pela cozinha, vendo as crianças brincarem com Isobell e deixo um beijo em cada um, saindo logo em seguida.Nem Isobell ou Heiko nunca mais tocaram no assunto do fim de Farrey e isso foi uma gentileza sem limites da parte deles. Existem noites em que eu sinto a culpa me corroer como ácido, mas logo Ethan está lá por mim, me enjaulando eu seu abraço e eu me aconchego na única prisão da qual eu nunca quero sair.Não importa o quanto machuque ou o que eu tenha que pagar por isso, sempre valerá a pena saber que minha família está bem.Heiko tem voltado com cada vez menos frequência aos Estados Unidos e Isobell tem ficado mais por aqui. Sinto que algo aconteceu entre eles e isso me preocupa, mas enquanto ela não estiver disposta em dividir, não serei eu a
Aperto o botão do elevador com um sorriso bobo nos lábios. Nem acredito que consegui. Vendi minha primeira letra. Não renderá tanto quanto eu gostaria, mas ainda assim é um sonho. Mal vejo a hora de poder contar para ele.August e eu temos estado distantes a alguns meses. Depois do anúncio do noivado, não sei… parece que tudo se tornou real demais para nós. O relacionamento é longo, acho que é normal passar por isso. Pelo menos, é o que repito para mim mesma.Hoje, entretanto, será diferente. Contagiada de alegria como estou, sei que poderemos passar um tempo legal juntos. Nos perder um no outro, sempre fomos bons nisso.A porta do elevador se abre e saio por ela, apressada. Pego a chave em minha bolsa e destranco a porta do apartamento. Deixo minhas botas na entrada, junto ao meu casaco. Passo pela sala em tons de verde-claro, estranhando o silêncio. É raro eu vir aqui a essa hora, mas sei que ele geralmente só trabalha a tarde.Minha mão segura a maçaneta, mas paro, meu sorriso esmo
Três anos depois...AiyraO ronco do motor da minha moto ressoa uma última vez antes de deixá-la morrer. Tiro o capacete, meus pesados cabelos, caindo em minha cintura. Deixo-a estacionada na parte de trás da cafeteria, olhando para sua cor prata, vibrante. Faz meses que troquei minha antiga moto por essa. Doeu trocá-la, foi o meu primeiro veículo, mas uma Harley sempre foi um sonho para mim.Agora com as contas um pouco mais organizadas, me permiti a essa compra. Mesmo ganhando bem com a venda das minhas composições, as dívidas do meu pai estavam tão acumuladas, que nem trabalhando o dia inteiro na cafeteria e lucrando com as músicas, eu conseguia respirar aliviada.Agora faltam poucas parcelas. Meu pai não conseguirá me ferrar de novo. Desde que mamãe faleceu, ele tem sido um completo irresponsável. Se afundou na bebida, nos jogos e nas dívidas. Os credores batiam tanto a nossa porta, que ficou difícil esconder da vizinhança.Aos dezesseis anos, eu já trabalhava em dois empregos, ma
AiraIsso foi bom. Perigosamente bom.— Porra… isso foi surreal. — ele diz, a voz arrastada e um sorriso satisfeito nos lábios.— Fico feliz em agradar, querido. — Respondo, sorrindo de volta.Ele se move em minha direção, um olhar que eu conheço bem. Olhar de quem quer abraçar. Um sinal de alerta gigantesco soa em minha cabeça. Certo, essa é a hora de ir embora.Levanto-me de supetão, deixando-o a meio caminho, confuso e um pouco constrangido.— Tenho que ir. — Digo, enquanto procuro as minhas roupas.As encontro perto da entrada e visto peça por peça.— Nossa, mas já? Se quiser pode dormir aqui… — ele oferece, um pouco sem jeito.— Não esquenta, com a moto, em menos de quinze minutos estou em casa. — Digo, enquanto passo a camisa pelo pescoço.— Desculpe… fiz algo errado? — Dylan pergunta, os olhos escuros me analisando.— Ah, meu querido, pelo contrário. — Aproximo-me, deixando um leve beijo em seus lábios. — Você foi perfeito. Só não tenho o costume de dormir fora de casa. Posso t