Marcela segurou o celular com firmeza contra a orelha, ouvindo o cúmplice do hospital com crescente indignação. A notícia de que Roberto havia dado ordens para permitir a entrada de Samuel, Diego e Penélope a qualquer hora a deixou furiosa tanto quanto a ordem anterior. O controle escorregava por seus dedos trêmulos a cada palavra proferida.
— Como esse traidor ousa? — sibilou faiscante de raiva. — O que afinal está tramando?
Do outro lado da linha, o médico, pago para contar tudo o que ocorria com Roberto, tentou minimizar a situação, dizer que, afinal, se tratada do filho, da nora e do neto de um homem em fase terminal. O que só aumentou a raiva e descontrole de Marcela.
— É inaceitável! — gritou transtornada. As dobras dos dedos estavam embranquecidas pela pressão contra o aparelho. — Aquela mulher e o bastardo não passam
Os corredores do hospital eram um labirinto de branco e luzes fluorescentes, o eco de passos apressados e o zumbido constante da atividade médica marcando cada parte. Nada que fosse captado por Marcela enquanto andava apressada por eles, atenta somente às indicações repassadas pelo funcionário que pagou para vigiar o que acontecia com seu ex-marido.Marchou determinada em direção ao quarto dele, ignorando tudo e todos pelo caminho. A equipe de funcionários do hospital tentou detê-la, mas não estava disposta a ouvir ou aceitar qualquer tipo de impedimento. Empurrou enfermeiros e ignorou os que pediam calma, determinada a chegar ao quarto de Roberto. Finalmente, quando chegou à porta, a raiva queimava em seus olhos. Irrompeu no quarto, sem bater ou pedir permissão.Prostrado pela medicação, visivelmente fraco e debilitado, através do nevoeiro, Roberto observou apáti
O encontro com Roberto não ocorreu da forma que Penélope desejou. Ainda mais debilitado do que quando o visitou nas primeiras horas da manhã, Roberto caiu em sono profundo, induzido pelos remédios que tentavam aliviar seu sofrimento, poucos minutos após entrarem no quarto.A decepção transformou-se em um amargo alívio quando na madrugada do dia seguinte a mansão – e provavelmente toda Cezário – amanheceu com a notícia de que Roberto Freitas faleceu durante o sono.Não conseguiu que ele contasse a verdade sobre o passado, mas, ao levar Samuel na visita, proporcionou ao homem que a ajudou quando mais necessitou um raio de alegria em seus momentos finais.~*~O sol da manhã invadia o quarto, criando uma atmosfera de luz e calor. Lá fora, o céu estava incrivelmente azul e o ar fresco sussurrava promessas de um dia agradável. A manhã
O sol começava a declinar no horizonte, pintando o céu em tons alaranjados, quando Diego, Penélope e Samuel caminharam em direção ao carro estacionado nas proximidades do cemitério. A atmosfera pós-fúnebre pairava no ar, pesando sobre os três, o silêncio unindo suas almas em luto.Ao alcançar o veículo e destrava-lo, Diego voltou-se para Samuel, que segurava firmemente o retrato de Roberto contra o peito, para ajudá-lo a se ajeitar no banco de trás.Foi quando ouviu seu nome ser chamado por uma voz feminina. Ergueu o olhar e viu Tereza caminhando até eles.Penélope também olhou para a figura imponente, a viúva de Luiz, com a qual ela tinha pouco contato e apenas por e-mail, é só porque Tereza Mendez Freitas, como advogada, cuidava de diversos assuntos legais da fábrica.Depois de palavras de pesar e luto, Tereza indicou
Após Penélope fechar a porta da imponente biblioteca, isolando-os dos olhos e ouvidos curiosos dos empregados da mansão, Tereza Mendez Freitas pediu que Diego e Penélope se sentassem.Penélope ocupou uma cadeira ao lado de Diego, enquanto a Mendez Freitas com ar de autoridade, ocupou a poltrona atrás da escrivaninha. Da sua bolsa, retirou a pasta, que parecia ter um peso simbólico quase tão grande quanto seu conteúdo: os desejos finais de Roberto Freitas.Solene, Tereza abriu o documento, a expressão serena se movendo do papel para as duas pessoas a sua frente.— Roberto solicitou que as informações sobre suas vontades fossem divididas em duas partes — alertou, esclarecendo: — A primeira parte será somente do interesse dos dois, sendo alguns termos lidos separadamente. A segunda parte será revelada daqui três meses com a presença de Ma
Na manhã seguinte ao funeral, a luz suave da manhã invadiu o quarto através das cortinas semiabertas, despertando Penélope acordou antes do marido e de Samuel, deitado entre eles, uma mãozinha repousando sobre seu braço.Na noite anterior, insistira em ficar com eles o tempo todo, incluindo a hora de dormir. Notando que ele precisava do aconchego e segurança deles após o falecimento do amado avô, concordaram sem pestanejar.Observando o sono tranquilo do menino, como se não tivesse a menor preocupação no mundo, seu coração se encheu de um sentimento agridoce.Essa era a primeira vez que Samuel experimentaria a compreensão do luto. Em relação à mãe deles, ele jamais compreendeu, sendo limitado ao sentimento de falta, da busca para preencher os papéis que faltavam em sua vida: uma mãe e um pai. Agora seria diferente. O m
Um pequeno sobressalto a atingiu ao ter o braço agarrado por Lucas, cujo rosto estava contorcido de irritação.— Por que continua com aquele sujeito, Penélope? —questionou a voz carregada de descontentamento. — Eles não param de te trata como um objeto, uma incubadora para a fortuna deles. Você merece uma vida melhor do que essa.Penélope franziu o cenho, confusa com a reclamação sem sentido de Lucas. Tentou passar por ele, ignorando-o, mas o persistente aperto em seu braço a impedia.— Podemos voltar a ficar juntos, Penélope — ele ofereceu, parecendo desesperado. — Expulsar os Freitas da mansão e esquecer essa bobagem de dar todo o dinheiro para Diego, como Roberto desejava.— Lucas, me solte! — pediu sem entender a raiva e insinuações. — Me solte e pare com essas ideias sem sentido.Sua atitude irritou Lucas ainda mais, os dedos apertando o braço dela, a frustração transparecendo por cada poro. — Ideias sem sentido? Porra, tudo isso agora é seu! — gritou exasperado. — Chute esses m
O impacto das palavras de Lucas atingiu Penélope como um soco. Choque e incredulidade a invadiu. Roberto ter deixado, além da tutela de Samuel e controle dos bens do menino aos cuidados dela, cinquenta por cento de seu patrimônio era inimaginável.— Não pode ser verdade... Está brincando, certo? — Penélope perguntou confusa, alternando o olhar entre Lucas e Diego.— É óbvio que é mentira — Marcela se intrometeu apertando as mãos no laço do penhoar. — Uma mentira perversa. Roberto jamais daria a minha casa para essa mulherzinha.Captando a atenção de todos para si, Lucas negou se tratar de brincadeira ou mentira.— É a mais pura verdade. O documento que te entreguei, que pedi que lesse, é uma cópia do testamento — indicou fazendo Penélope lembrar-se do documento que largou na bolsa sem ler. — Lá está bem claro que seu casamento com Diego é só para...— Saia imediatamente da mansão!Irritado que a intromissão de Lucas em seu casamento chegou aquele ponto, Diego tentou empurrar o ex-namor
O desabafo caiu de formas diferentes em cada um dos três, aglomerando-se ao turbilhão de sentimentos e sensações que carregavam por causa do luto e do testamento.Imersa em indignação e incredulidade, Marcela se sentiu atacada e desafiada, defendendo com unhas e dentes a reputação de seu filho falecido.— Isso é completamente absurdo! Uma acusação séria e cruel! — exclamou furiosa diante da revelação que abalava suas crenças mais profundas sobre família. — Faça alguma coisa, Diego — exigiu chacoalhando o braço dele. — Ela está difamando a reputação do seu irmão.Permanecendo em silêncio, processando a informação, Diego fitou Penélope perguntando-se se mentia, mas o que encontrou foram olhos carregados de mágoa por ele. Ela desviou o olhar, os braços se cruzando a frente do corpo, se fechando para ele. E mesmo percebendo o quanto estava com raiva dele, e com certeza de Marcela, Diego não duvidou nem um segundo que dizia a verdade.— Fale alguma coisa! — Marcela comandou indignada com a